ABANDONADA (Crônica) em dia de sábado


         Em tempos de pandemia e isolamento social, somente uma "pane" ocorrida no Celular, para tirá-la de casa. Com as enxurradas de informações que nos bombardeiam diuturnamente e, por todos os lados, acabou esquecendo os dois últimos dígitos da senha do aparelho. Pior que isso aconteceu logo que acabara de digitar quatro números mais duas letrinhas, ao baixar um App de Cartão, que foi lhe exigido uma senha para, poder acessar em segurança. "Essas tecnologias ajudam muito, mas nessas horas dão dor de cabeça"!! Exclamou para si mesma, muito chateada por ficar sem acesso até conseguir resolver...
       Era sábado de manhã, quando uma amiga lhe convidou para sair. Apesar do momento turbulento, aceitou. Afinal, nem todo mundo pode ficar enclausurado em casa, mesmo porque algumas coisas se quebram, está sempre faltando algo. Apesar de que, nesse momento, muitas pessoas só saem para comprar alimentos ou medicamentos... "Que mal há em colocar aquela calça justa, uma blusa bem confortável, enfim, se arrumar, colocar o batom e perfume preferidos e sair, respirar outros ares, olhar as vitrines mesmo através das vidraças"?... pensou, já em frente ao espelho.
      Caía uma chuvinha fina e gelada. As várzeas às margens da estrada estavam sem visibilidade. Até parecia estar em outra Região.
    Ao chegar na Cidade de destino, as duas ficaram impressionadas e um tanto preocupadas vendo a movimentação das pessoas. O movimento de carros e outros veículos estava bastante intenso. Foi bem dificil encontrar vaga no estacionamento. Porém, com esse vai e vem de Decretos governamentais que um dia abre, n'outro fecha, no dia seguinte abre novamente, e depois, fecha parcialmente, só poderia dar nisso!
   Os camelôs aos gritos, anunciavam os melhores preços, disputavam clientes, na tentativa de vender máscaras, meias, capinhas para celular e inúmeros outros importados. Se antes da pandemia, caminhar nas calçadas já era difícil, imaginem agora com o desemprego, onde muitos perderam seu 'ganha pão', principalmente os trabalhadores informais.
   Após deixar o 'tumulto' para trás, resolveram entrar na lanchonete de uma panificadora, para tomar um lanche. Pelo menos puderam ficar um pouco mais à vontade, sem maiores preocupações. Os responsáveis pelo estabelecimento adotaram uma dinâmica diferente para o atendimento. Mexeram no layout, limitaram o acesso (do público) a 20% no interior da lanchonete, além da obrigatoriedade do uso de máscaras para toda clientela.
  Depois de conversarem bastante e descontraidamente, chegou o momento de 'levantar voo'. Pagou a conta sozinha, tendo em vista que a amiga não aceitou que contribuísse com o combustível.
       Na calçada, uma mulher aparentando ter no máximo 37 anos,  vestida com roupas simples, de olhar abatido e fisionomia triste aguardava os passantes e os clientes, para ver se conseguia alguns trocados. Talvez trabalhasse antes como faxineira ou algo semelhante. Talvez vendesse salgados, tapioca, bolo pé de moleque ou milho assado na esquina. No entanto, o que mais a impressionou além dessas cenas que passaram em sua cabeça, foi a ausência da 'máscara'. Sim. Aquela mulher era a única que estava 'desprotegida' desse objeto ou desse item até certo ponto importante, mas não deixa de ser também de 'repressão'. Pensou em sair rapidinho, dá umas voltas e encontrar nas proximidades algum vendedor, onde pudesse comprar umas duas máscaras e doar àquela senhora. Mas os camelôs estavam distante, em outro ponto da Cidade. Daí, por ter ainda algumas coisas para resolver, acabou desistindo da boa ação. Saiu do local carregando o pensamento sobre a mulher, da qual, nada ficou sabendo além do que estava visível: sem máscaras e, aparentemente desprotegida de tudo.



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