domingo, 28 de outubro de 2018

“Com Bolsonaro, o Brasil volta a ser campeão do mundo”

As esperanças de mudança dos seguidores do ultradireitista contrastam com o desejo de virada dos partidários de Haddad, em uma jornada eleitoral sem incidentes

Um eleitor de Fernando Haddad oferece uma flor a um eleitor de Jair Bolsonaro
Um eleitor de Fernando Haddad oferece uma flor a um eleitor de Jair Bolsonaro, durante a jornada de segundo turno em um colégio eleitoral de São Paulo.  REUTERS


Rio de Janeiro / São Paulo / Recife 

Faz 16 anos que o Brasil não levanta a taça de campeão do mundo de futebol, quando a seleção canarinho, com dois gols de Ronaldo, derrotou a Alemanha na Copa da Coreia e Japão. Desde então, a pentacampeã não conseguiu chegar perto do troféu nas quatro Copas seguintes, que coincidiram com o auge mundial e posterior declínio do país. Para Fernando, envolto em uma bandeira brasileira, todo isso vai mudar a partir deste domingo. Enquanto beija compulsivamente uma réplica de papelão do troféu, no qual duas figuras sustentam a Terra, esse homem de 56 anos repete convencido: “Com Bolsonaro, o Brasil volta a ser campeão do mundo”.
A fé que o candidato ultradireitista desperta em seus seguidores conseguiu até mesmo espantar o mau agouro que o número 17 significou para os brasileiros nos últimos quatro anos. O número que os eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) têm de digitar na urna ao votar lembra o Brasil 1 x 7 Alemanha nas semifinais da Copa de 2014, um abalo histórico. "Se nem o Bolsonaro fizer nada, já sei que não votarei em ninguém nunca mais", afirma o esperançoso Autemir João de Oliveira, caminhoneiro de 36 anos, que chegou a dizer que se o militar não ganhar, "com certeza é fraude". "E aí a gente cai no pau, vamos para a briga", afirmou, contundente. 
Os eleitores de Fernando Haddad (PT), por sua vez, também tiveram de deixar de lado a superstição em torno do 13, já que é o número de seu candidato. Uma tarefa nada difícil para eles em sua tentativa de evitar a vitória de Bolsonaro apontada pelas pesquisas. Tanto que a médica Sayonê Andrade de Moura, de 32 anos, de Salvador, não hesitou em mudar seu turno no plantão do hospital para poder votar “pela esquerda”. Moradora de São Paulo há seis anos, ela nunca havia votado na cidade. Mas agora seus motivos são transcendentais: “Tenho medo de reviver o período mais escuro de nossa história”, explica emocionada, vestindo uma camiseta com o lema feminista “Lute como uma garota”.
Bem distinta era a camiseta de Selma Lúcia, que esperava na entrada da escola da vila militar do Rio em que pouco depois votaria Bolsonaro. O rosto estampado do candidato, com uma mancha vermelha simulando sangue em seu nome, ocupa a camiseta dessa dona de casa de 53 anos, que antigamente optou por Lula. “Foi uma decepção, olhe como está o país, a segurança está terrível, a educação em frangalhos. Se continuarmos votando no mesmo partido, vamos levar o país à ruína. Não sei se Bolsonaro vai conseguir, mas precisamos dar a ele um voto de confiança”, disse ela enquanto aguardava o candidato juntamente com cerca de 50 simpatizantes. A presença de meios de comunicação era quase o dobro. Finalmente, Bolsonaro entrou pela porta de atrás da escola. Protegido por um forte esquema de segurança, com um colete à prova de balas —o candidato foi esfaqueado e ficou três semanas no hospital durante a campanha—, o político ultraconservador só acenou por alguns segundos para seus seguidores, que o aclamavam como se fosse um astro do rock, e saiu sem falar com os jornalistas.
Longe dali, em Brasília Teimosa, na periferia de Recife, Flávio Cândido, de 43 anos, foi votar com toda sua família. Todos se mostravam esperançosos de que os prognósticos das pesquisas fossem revertidos e Haddad vencesse. “Estou emocionado, meu voto é pela democracia e pelo amor”, disse o eleitor. “Brasília Teimosa é assim graças a Lula, e Haddad também trabalhará por nós.” Esse bairro foi o primeiro lugar que Lula visitou depois de ser eleito. Um motivo de orgulho também para Gisele Regina, de 26 anos, outra eleitora do candidato do Partido dos Trabalhadores. “A corrupção não começou com o PT”, disse, sobre as críticas feitas pelos adversários. “E não vai acabar, mas é preciso lutar pelas conquistas sociais”, acrescentou.
A esperança de virada dos partidários de Haddad contrasta, em todos os colégios, com a de mudança manifestada pelos seguidores de Bolsonaro. No colégio Santo Agostinho, em São Paulo, transformado em centro de votação para brasileiros de outros Estados, Flavia Cobb, de 51 anos, administradora de empresas, é contundente: “Estou cansada de escândalos, de corrupção, é muito emocionante participar deste dia. Sou muito patriota, quero uma mudança”.
Com informações de Javier LafuenteJoana OliveiraNaiara Galarraga e Marinha Rossi.
El País

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