O drama de refugiados pelo olhar e traços de seis artistas de rua brasileiros

Seis conhecidos artistas de rua brasileiros participaram de um evento em Londres onde foram convidados a criar ilustrações comentando a crise dos refugiados na Europa.
Paulo Ito, Thiago Goms, Ícone K e outros três artistas vieram à capital britânica por uma iniciativa de uma plataforma - a Cause2Create - que está juntando profissionais de mídia e artes em atividades de apoio a causas humanitárias.
As ilustrações deverão, em breve, ser comercializadas. Parte da renda será distribuída a ONGs de ajuda a refugiados - o restante do dinheiro ficaria com os próprios criadores, que não cobraram para produzir as peças.
Veja os seis trabalhos:

Mulher de burca que chora, cercada por espadas e estrelasImage copyrightBOZÓ BACAMARTE/C2C
Image captionInspirado nos traços do cordel, Bozó faz uma analogia à bandeira da União Europeia

Bandeira

Daniel Ferreira da Silva, o "Bozó", nasceu em Olinda (PE) e transformou a xilogravura popular em sua principal identidade visual. Influenciado por artistas de rua como Os Gêmeos, Bansky e Samico, ele gosta de explorar histórias, crenças e supertições nordestinas.
Para o lançamento da plataforma criativa, Bozó fez uma analogia à bandeira da União Europeia. Parte das estrelas que compõe o círculo foram substituídas por facas e uma muçulmana usando hijab aparece chorando no centro. Os traços, contudo, remetem aos da literatura de cordel.

'Sejam bem-vindos'


Familia diante de muro no qual um arame diz Image copyrightPAULO ITO/C2C
Image captionIto explora contraste entre a retórica receptiva de muitos governos e a realidade para os refugiados que tentam se estabelecer em diferentes países da Europa

Paulo Ito é o artista por trás da famosa imagem estampada no portão de uma escola no bairro Pompéia, em São Paulo, na qual um garoto negro chora ao constatar que em seu prato há apenas uma bola de futebol.
Ex-aluno de artes da Unicamp, a ilustração de Ito para o projeto em Londres tras uma família se deparando com um muro com os dizeres "welcome" ("bem-vindos" em iglês), uma alusão à contradição enfrentada por imigrantes e refugiados que chegam à Europa e são recebidos, ao mesmo tempo, por ondas de xenofobia e promessas de que serão bem recebidos.

Inocência perdida


Gato armado como se fosse um rebelde do ISISImage copyrightTHIAGO GOMS/C2C
Image captionBicho meio gente de Goms remete uma certa inocência dos que se armam para ir à guerra santa

Uma das principais marcas do artista paulistano Thiago Goms são os animais com personalidades humanas.
O gato criado por Goms parece assustado, mas exibe uma atitute peculiar. Se parece com um soldado da chamada guerra santa, com o olhar assustado e inocente de um jovem combatente.

Lado bom


Barco com pêssegos navegandoImage copyrightSANTVS/C2C
Image captionSantvs resgata a tradição síria de exportar pêssegos como metáfora para os barcos repletos de imigrantes

Apaixonado por ilustrações, Celo Santvs busca inspiração na arte espiritual de países como Índia, Nepal, Marrocos e Peru.
Na sua ilustração, ele focou em um lado pouco lembrado hoje da cultura dos refugiados sírios. Ao invés de imigrantes, o barco de Santvs transporta damascos. A fruta foi difundida pelos descendentes de sírio-libaneses que imigraram para o Brasil.

Ponto cego


Mulher abraçada a criança no chão e, atrás dela, a figura da morte com um avião ao fundoImage copyrightJOÃO PIROLLA/C2C
Image captionPirolla salienta o "ponto cego" da guerra tecnológica que usa drones e destroi sem olhar nos olhos de quem está sendo dizimado

Autodidata, João Pirolla, de São Paulo, é conhecido pelo seu trabalho mais sombrio. Fez capas de HQ, ilustrou livro de contos do Sherlock Holmes, além de storyboard pro mercado publicitário e pra cinema.
Em sua ilustração, Pirolla chama atenção sobre as vítimas inocentes de conflitos armados.

Dor e esperança


Obra de arte que mistura cores e palavrasImage copyrightÍCONE K/C2C
Image captionAs palavras "pain" e "hope", dor e esperança em inglês, se destacam no trabalho de Ícone K sobre os refugiados

Ícone K se define como ardoroso fã do grafite. "Comer, beber e fazer grafite" é seu lema de vida, dedicada aos muros de São Paulo desde 1997, em especial na Zona Leste da cidade.
Nesse grafite, ele justapõe as palavras "pain" e "hope" (dor e esperança) com cores e manchas de tinta - dando uma cara urbana, quase de musical hip hop, ao drama diário da famílias que deixaram o que tinham em busca de um futuro incerto.
BBC

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