DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE
A Solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar
a mistério que se esconde por
detrás de “um Deus em três pessoas”; mas é um convite a contemplar o Deus que é
amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer
comungar nesse mistério de amor.
A primeira leitura sugere-nos a
contemplação do Deus criador. A sua bondade e o seu amor estão inscritos e
manifestam-se aos homens na beleza e na harmonia das obras criadas (Jesus
Cristo é “sabedoria” de Deus e o grande revelador do amor do Pai).
A segunda leitura convida-nos a
contemplar o Deus que nos ama e que, por isso, nos “justifica”, de
forma gratuita e
incondicional. É através
do Filho que
os dons de Deus/Pai se derramam sobre nós e nos oferecem
a vida em plenitude.
O
Evangelho convoca-nos, outra
vez, para contemplar
o amor do
Pai, que se manifesta na doação e na entrega do Filho
e que continua a acompanhar a nossa caminhada
histórica através do Espírito.
A meta final desta
“história de amor” é a nossa inserção plena na comunhão com o
Deus/amor, com o Deus/família, com o Deus/comunidade.
ALELUIA– cf. Ap 1,8
Aleluia. Aleluia.
Glória ao Pai e ao Filho e ao
Espírito Santo, ao Deus que é, que era e que há-de vir.
EVANGELHO – Jo 16,12-15
Naquele tempo, disse Jesus aos
seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis
compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a
verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e
vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é
meu e vo-lo anunciará.
Tudo o que o Pai tem é meu. Por
isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».
AMBIENTE
Estamos no contexto da última
ceia e do discurso de despedida que antecede a “hora” de Jesus.
Depois de
constituir a comunidade
do amor e
do serviço (cf.
Jo 13,1-17) e de
apresentar o mandamento fundamental que deve dar corpo à vida dessa comunidade
(cf. Jo 15,9-17), Jesus vai definir a missão da comunidade no mundo: testemunhar acerca de Jesus, com a
ajuda do Espírito (cf. Jo 15,26-27).
Jesus avisa,
no entanto, que o caminho
do testemunho deparará com a
oposição decidida da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o
mundo (cf. Jo 16,1-4a); mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele
ajudá-los-á e dar-lhes-á segurança
no meio da perseguição (cf.
Jo 16,8-11). De
resto, a comunidade em marcha pela história encontrar-se-á muitas
vezes diante de circunstâncias históricas novas, diante
das quais terá
de tomar decisões
práticas: também aí
se verá a presença do Espírito, que ajudará a
responder aos novos desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da
mensagem de Jesus (cf. Jo 16,12-15).
MENSAGEM
O tema fundamental desta leitura tem, portanto, a ver com a
ajuda do Espírito aos discípulos em caminhada pelo mundo.
Jesus começa
por dizer aos discípulos que há muitas
outras coisas que eles
não podem compreender de momento (vers. 12). Será o “Espírito da
verdade” que guiará os discípulos para
a verdade, que
comunicará tudo o
que ouvir a
Jesus e que interpretará o que está para vir (vers.
13). Isto significa que Jesus não revelou tudo o que havia para revelar ou que
a sua proposta de salvação/libertação ficou incompleta?
De forma nenhuma. As palavras de
Jesus acerca da ação do Espírito referem-se ao tempo da existência cristã no
mundo, ao tempo que vai desde a morte de Jesus até à “parusia”. Como será
possível aos discípulos, no tempo da Igreja, continuar a captar, na fé, a
Palavra de Jesus e a guiar a vida por
ela? A resposta de Jesus é: “pelo
Espírito da verdade, que fará com que a minha proposta continue a ecoar todos
os dias na vida
da comunidade e no
coração de cada
crente; além disso,
o Espírito ensinar-vos-á a
entender a nova ordem que se segue à
cruz e à ressurreição e a discernir, a
partir das circunstâncias concretas diante das quais a vida vos vai colocar,
como proceder para continuar fiel às minhas propostas”. O Espírito não
apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de Jesus seja sempre
a referência da comunidade em caminhada pelo mundo e que essa comunidade saiba
aplicar a cada circunstância nova que a vida apresentar, a proposta de Jesus.
Aonde irá
o Espírito buscar
essa verdade que
vai transmitir continuamente
aos discípulos? A resposta é: ao próprio Jesus (“receberá do que é meu e
vo-lo anunciará” – vers. 14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia
com os discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do
Espírito: realizar a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela
história.
A última expressão deste texto
(vers. 15) sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão
atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus
e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.
ATUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes
desenvolvimentos:
♦ O
Espírito aparece, aqui,
como presença divina
na caminhada da
comunidade cristã, como essa realidade que potencia a fidelidade
dinâmica dos crentes às propostas que o Pai, através de Jesus, fez aos homens.
A Igreja de que fazemos parte tem sabido estar atenta, na sua caminhada
histórica, às interpelações do Espírito? Ela tem procurado, com a ajuda do
Espírito, captar a Palavra eterna de Jesus e deixar-se guiar por ela? Tem
sabido, com a ajuda do Espírito, continuar em
comunhão com Jesus?
Tem-se esforçado, com
a ajuda do
Espírito, por responder às
interpelações da história e por
atualizar, face aos novos desafios que o mundo lhe coloca, a proposta de Jesus?
♦ Sobretudo,
somos convidados a contemplar o mistério de um Deus que é amor e que, através
do plano de
salvação/libertação do Pai,
tornado realidade viva e
humana em Jesus, e continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes,
nos conduz para a vida plena do amor e da felicidade total – a vida do Homem
Novo, a vida da comunhão e do amor em plenitude.
♦ A
celebração da Solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de compreender e
decifrar essa estranha charada de “um em três”. Mas deve ser, sobretudo, a
contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto, comunidade. Dizer que há
três pessoas em Deus, como há três pessoas numa família – pai, mãe e filho – é
afirmar três deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o
Espírito são três formas de apresentar o mesmo Deus, como três fotografias do
mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é, também, negar a fé. A
natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um Deus comunidade,
expressa-se na nossa linguagem
imperfeita das três
pessoas. O Deus família torna-se trindade de pessoas
distintas, porém unidas. Chegados aqui, temos de parar, porque a nossa
linguagem finita e humana não consegue “dizer” o mistério de Deus.
Dehonianos
Postado por Semeando a Paz
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