'Racismo é recorrente', diz delegado de combate a crimes virtuais no Rio

Semana teve ataques racistas a atriz Taís Araújo por perfis na Web.

Vítima relembra ataques e especialista insiste em registro nas delegacias.


Henrique Coelho e Marcelo Elizardo
Do G1 Rio
Atriz Taís Araújo é vítima de comentários racistas em rede social (Foto: GloboNews)
Ataques racistas a Thaís Araújo na internet tiveram enorme repercussão
(Foto: GloboNews)
Na mesma semana em que a atriz Taís Araújo foi vítima de ataques racistas em sua página em uma rede social, a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática reconhece que os crimes de ódio racial veiculados pela internet são mais recorrentes do que se imagina. Mais de 30 perfis de Rio e São Paulo, investigados por injúria racial e formação de quadrilha, devem ter seus sigilos quebrados  a partir desta segunda-feira (9). Os autores podem pegar até 8 anos de prisão.
Delegado Alessandro Thiers é o responsável pela investigação do caso da atriz Taís Araújo (Foto: Henrique Coelho/G1)
Thiers é o responsável pela investigação
(Foto: Henrique Coelho/G1)
O delegado titular da DRCI, Alessandro Thiers, afirmou que diariamente casos de injúria racial e racismo chegam à unidade. Segundo ele, é um dos crimes mais recorrentes entre mais de 1300 casos registrados em 2015. O caso de Taís Araújo apenas ganhou mais repercussão.
“É uma questão de educação. Em pleno 2015 você ter que se preocupar com pessoas irresponsáveis que ficam postando coisas na internet. A internet é uma necessidade pro trabalho, para o lazer, é um facilitador da vida. As pessoas têm apenas que ter um uso consciente da internet, serem mais responsáveis quando forem postar qualquer tipo de comentário na internet. E verificar que qualquer comentário pode gerar consequências, inclusive criminais”, salientou o delegado, em entrevista ao G1.

Modelo foi fotografada de costas e ironizada na web por desconhecidos (Foto: Reprodução/Facebook)Modelo foi fotografada de costas e ironizada na web por desconhecidos 
(Foto: Reprodução/Facebook)

Thiers explica que, com o advento da internet, o que se publica nas redes sociais ganha uma dimensão “incalculável”, e explica que o uso da internet para prática de crimes é um agravante pena. "Se a injúria for praticada por meio que facilite a sua divulgação, a pena aumenta em um terço", explica ele.

Outros casos
Segundo o delegado, há dois tipos de perfis responsáveis pelos ataques. “Existe aquele internauta que age sozinho e aquele que se junta com outros para a prática do crime”, disse o delegado, durante entrevista coletiva sobre o caso envolvendo a atriz.

A modelo, dançarina e cantora Milleni Bezerra Moreira também foi vítima de ofensas racistas em uma rede social em julho de 2015. Um internauta tirou fotos de Milleni dentro de um ônibus e ironizou: "Nunca vi um smurf com Black Power". Em um dos comentários, o me"Ele me pediu desculpas, a família dele também, mas nem dei bola. As desculpas deles não pagam os dois dias que fiquei em casa, deitada na cama, chorando. Isso me abalou muito, mas me fez aumentar a minha luta. Teve gente que me xingou mais, mas muitos me apoiaram", desabafou a estudante, em entrevista ao G1.

Segundo ela, a repercussão mostra que o problema é o seu cabelo, e não a cor do cabelo. "Se uma menina de cabelo liso o pintasse de azul, ninguém chamaria ela de Smurf. Mas como meu cabelo é de negro, é de crespo, ele incomoda", analisa.

Também em julho, a jornalista Maria Júlia Coutinho foi o alvo. Na ocasião, o Ministério Público solicitou à Promotoria de Investigação Penal que acompanhasse o caso, com rigor, junto à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI).

Um dos suspeitos, de 15 anos, foi identificado poucos dias depois pela polícia de São Paulo. O adolescente vai responder por ato infracional e pode sofrer alguma medida socioeducativa.

Para chegar ao jovem, policiais rastrearam as imagens com as mensagens ofensivas e fizeram buscas nas redes sociais para identificar as páginas dos envolvidos.

Orientações
Segundo Juliana Cunha, coordenadora Psicossocial do Safernet, que gerencia a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, explica que a denúncia feita pelas próprias vítimas é muito importante para uma real dimensão do problema, e sugere que vítimas se resguardem: "Guardem tudo que puder ser usado como prova, e façam registro em uma delegacia. É primordial", afirma.

Tão importante quanto a denúncia, de acordo com Juliana, é não dar voz a páginas que incentivem crimes de ódio. "Não compartihe páginas que incentive crimes e mensagens de ódio e preconceito. Denunciem através dos meios cabíveis", orienta a coordenadora.

Confira o desabafo de Taís Araújo após os comentários racistas
"É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar. Na última noite, recebo uma série de ataques racistas na minha página. Absolutamente tudo está registrado e será enviado à Polícia Federal. Eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que eu senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça.

Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu! Por ironia do destino ou não, isso ocorreu no momento em que eu estava no palco do teatro Faap com o “Topo da Montanha”, um texto sobre ninguém  menos que Martin Luther King e que fala justamente sobre afeto, tolerância e igualdade. Aproveito pra convidar você, pequeno covarde, a ver e ouvir o que temos a dizer. Acho que você está precisando ouvir algumas coisinhas sobre amor.
Agradeço aos milhares que vieram dar apoio, denunciaram comigo esses perfis e mostraram ao mundo que qualquer forma de preconceito é cafona e criminosa. E quero que esse episódio sirva de exemplo: sempre que você encontrar qualquer forma de discriminação, denuncie. Não se cale, mostre que você não tem vergonha de ser o que é e continue incomodando os covardes. Só assim vamos construir um Brasil mais civilizado.A minha única resposta pra isso é o amor!"

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