Esqueçamos o resto, por enquanto, e falemos de amor, mesmo sendo de amor "que não foi"


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Ridículas Cartas de Amor


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A academia de dança não abriu naquele dia. No portão,
uma faixa de tecido preto, indicava  luto, em virtude da perda prematura de um dos professores. 

Habilitação vencida justamente quando o motorista entrou em uma licença para acompanhar a esposa que estava prestes a dar à luz. 
"Josué tem razão de sobra, afinal, trata-se de seu primeiro filho, após a ocorrência de dois abortos espontâneos", pensou.
Tão jovem e louco por criança, igual a ele não conhecia ninguém. 
"Ora, porque me preocupa a família do motorista? Ele é tão somente um funcionário, e de quebra, recém-contratado." 
Ligou o som, pôs uma música romântica em alto volume e começou a lavar as escadas. Haviam passado o final de semana viajando. Sua auxiliar não ia demorar a chegar para lavar a garagem. Estava querendo ser generosa e dar aquela 'mãozinha', visto que não poderia sair sozinha enquanto não renovasse a habilitação. 
Sua ida às aulas de dança, contribuíam cada vez mais para lhe deixar mais disposta e com alta estima melhor! 
Dançou ouvindo a canção, cantando e rindo de felicidade. 
Continuou o trabalho enquanto aguardava sua ajudante e confidente. A distância em que a mesma reside, justifica certos atrasos. De repente já estava lavando a garagem... 

Surpreendentemente encontrou junto ao portão, do lado de dentro, uma folha de papel, um pouco amarelado e amassado. A princípio, pensou ser do caderno de algum aluno, jogada na calçada e que o vento se encarregou de transportá-la. Deixou cair a vassoura e agachou-se para apanhar o papel. Ao examinar, logo percebeu que se tratava de uma carta. Não de uma carta qualquer, mas de uma linda e apaixonada carta de amor! Subiu correndo para o quarto, baixou o volume do som e começou a ler, cheia de curiosidade. Tentava descobrir pelos nomes, se eram pessoas conhecidas. 
Quando era mais jovem adorava escrever cartas. Achava isso bastante romântico! 
Quanto mais lia, mais se interessava pelo conteúdo. Seus pensamentos viajaram, deram uma volta no mundo e voltando a si, suspirou fundo e pensou: 
"Quem seria a autora e o destinatário de tão bela missiva? Por qual motivo a carta veio cair, justo em sua residência?" 
Suspirou novamente e desejou receber ainda muitas cartas semelhantes àquela. 
Nesse momento seus pensamentos foram interrompidos, a campainha tocou e o cachorro começou a latir... Suspendeu a
releitura, desceu as escadas e foi abrir o portão para a "secretária". 
Retornando... Lembrou-se do marido que a abandonou e nunca mais deu notícias, desde quando soube que estava grávida de gêmeos.

Pensou no sofrimento, por conta da depressão de seu filho mais velho, após perder a esposa e a única filha em um acidente aéreo. 
Sabia desde muito tempo, que nunca mais receberia cartas de amor... 
O segundo marido morreu, vítima de uma cirurgia mal sucedida, no coração. 

Certo dia jurou perante os filhos e diante de Deus que nunca mais amaria homem algum. E não era àquela altura da vida que sentiria falta das ridículas cartas de amor. 

Cartas semelhantes àquelas que inúmeras vezes, emocionada, recebeu de seu primeiro e ingrato amor.
isisdumontprosaeverso.net 
Ísis Dumont

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