Advogados de prostitutas desistem de acusações contra Dominique Strauss-Kahn


PARIS — O processo contra Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, atualmente em julgamento no tribunal da cidade francesa de Lille, sofreu uma reviravolta às vésperas do principal dia de argumentação da acusação, previsto para hoje. Ontem, o advogado da Equipe de Ação Contra o Proxenetismo, David Lepidi, e seu colega Gilles Maton, que representa quatro ex-prostitutas no processo, anunciaram que retiravam as acusações contra Strauss-Kahn, indiciado por agenciamento de prostitutas com circunstâncias agravantes (explorar ou solicitar garotas de programa de maneira organizada), entre 2007 e 2011, junto com outros 13 réus. Das quatro clientes de Maton, duas haviam dado queixa judicial contra o ex-diretor.

A renúncia anunciada pelos advogados não altera o andamento do julgamento, mas que agora prossegue sem a acusação formal de partes da ação civil. A medida foi justificada pela constatação da insuficiência de provas contra Strauss-Kahn desde o início dos debates. O principal argumento dos advogados de defesa se sustenta na tese de que o ex-diretor não tinha conhecimento de que as mulheres que faziam parte das orgias de que ele participava eram prostitutas.
— Nós temos a convicção de que Dominique Strauss-Kahn conhecia a condição das prostitutas, mas esta íntima convicção não é suficiente para provar uma infração. Ele é convidado por todo o lado, nunca paga nada, principalmente as garotas, e é o que vai salvá-lo neste caso — avaliou Gilles Maton.

Ainda assim, os defensores das ex-prostitutas exigem um valor simbólico por danos e prejuízos caso Strauss-Kahn venha a ser condenado.

— Nosso objetivo ao vir aqui era o de ter a palavra delas levada em consideração, e como pessoas, não como “material” ou “dossiês” — disse Maton, referindo-se aos termos usados por acusados nas escutas telefônicas. — Elas se contentarão com um ressarcimento simbólico. Isso calará a boca de certos comentaristas que diziam que elas estavam fazendo isso por dinheiro.

Embora o anúncio favoreça Strauss-Kahn no embate jurídico, os advogados não o pouparam do julgamento moral. Gilles Maton definiu o ex-diretor como o “Minotauro de Picasso”, o “todo-poderoso a quem é preciso alimentar com jovens mulheres”.
A associação Movimento do Nid, de luta contra as causas e as consequências da prostituição, representada pelo advogado Emmanuel Daoud, decidiu manter as acusações no julgamento:

— Este não é somente o processo destes 14 réus, do proxenetismo, da prostituição, mas também o processo da nossa sociedade — disse Daoud.
O advogado do Movimento do Nid se recusou a “manter o silêncio” em relação à “moralidade” dos atos imputados aos acusados, desafiando o presidente do tribunal de Lille, Bernard Lemaire, que havia alertado do caráter exclusivamente “penal” do processo.

— Do Direito? Nada mais que o Direito? Deve-se ficar calado, nada dizer dos atos destes homens, que entre eles falam de “rebanho”, “dossiês”? Eu não vou obedecer a esta recomendação — rebelou-se Daoud, que definiu Dominique Strauss-Kahn como um “Sardanapalo (indivíduo rico e devasso) dos tempos modernos”.



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