"Ele"... (respeitosamente) de fato é o "Cara"!


Papa pop: Francisco leva temas tabus para dentro da Igreja Católica e reforça sua atuação internacional 

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Desde que assumiu o posto de chefe da Igreja Católica, no início de 2013, o papa Francisco, 77, chamou a atenção. Uma vez eleito, não quis usar a cruz de ouro nem o papa-móvel e quebrou o protocolo diversas vezes. Para os que o admiram, ele trouxe uma liderança mais humana, humilde e próxima da população.
O que mais chama a atenção no Papa é que ele parece não ter medo de tocar em assuntos tradicionalmente polêmicos para a instituição. Seus comentários nesses quase dois anos de papado mostram um pontífice tolerante com os gays, casais divorciados e com a teoria do Big Bang, que não coloca em lados totalmente opostos ciência e religião e ainda insere na agenda de declarações que buscam a humanização das relações entre os países que vivem em situação de conflito ou oposição, como é o caso de Israel e Palestina e EUA e Cuba.
Com esse perfil, Francisco tornou-se um papa pop -- e polêmico. Estaria ele buscando um caminho para uma Igreja Católica mais acolhedora? Há quem concorde com esse ponto de vista. Uns acreditam que, embora as palavras do papaFrancisco valorizem o perdão ao próximo, na prática, não provocarão mudanças dogmáticas na religião.
A aceitação dos gays, a entrega da comunhão a pessoas divorciadas que se casaram de novo, aborto, o uso de preservativos, a ordenação de mulheres e o fim do celibato entre padres, temas que já foram alvo dos comentários de Francisco, são marcos morais do Catolicismo e dificilmente sofrerão mudanças em breve.
Para outros, a preocupação nestes primeiros anos do pontificado deve ser com uma reforma estrutural e ética do Vaticano. Em 2012,a Cúria Romana, órgão administrativo da Santa Sé, foi alvo de denúncias de corrupção, nepotismo e abusos de poder, no escândalo conhecido como Vatileaks.
Neste aspecto, Francisco promoveu mudanças nos cargos e implantou rígidos processos contra a lavagem de dinheiro visando dar mais transparência às ações. Uma das ações foi a divulgação do primeiro balanço financeiro do Banco do Vaticano, algo até então inédito. No final de 2014, em uma de suas mensagens, ele chamou a Cúria de “lepra do papado” e pediu que os Bispos e cardeais mudassem sua postura na condução da Igreja.
Com uma presença constante no noticiário, o papa Francisco tornou-se pop e respeitado até por quem não segue a religião católica, distanciando-se de uma imagem de poder, reconhecendo os erros da Cúria e falando sobre temas tabus para a Igreja Católica.

Religião mais próxima da política

Francisco é um dos papas que mais aproximaram a religião da política. Constantemente fala sobre os conflitos entre Israel e Palestina. Ele defende a criação de um Estado Palestino e ofereceu o Vaticano para sediar um acordo de paz entre representantes dos países, fato inédito.
Na recente abertura anunciada pelos EUA (um país de maioria protestante) a Cuba, o presidente norte-americano Barack Obama fez um agradecimento ao Papa: “Agradeço especialmente ao papa Francisco, por seu exemplo moral, mostrando ao mundo como deveria ser, em vez de simplesmente se conformar com o mundo como é”.
Nos bastidores, cartas do papa Francisco abriram caminho para acordo entre os dois países. O pontífice pediu a Obama e Raúl Castro, presidente cubano, que "resolvessem questões humanitárias de interesse comum, incluindo a situação de alguns prisioneiros, para dar início a uma nova fase nas relações".
O Papa chegou a dar declarações como a de que todo católico deve se envolver com a política e de que não adianta colaborar financeiramente com a Igreja e roubar do Estado.
Maquiavel (1469-1527), autor do livro “O Príncipe”, dizia que o que confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, o conteúdo dos ensinamentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos, e sim sua função e importância para a vida coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do mandamento religioso.

Evolucionismo e teoria do Big Bang

A origem do homem e da vida são grandes questões da humanidade e sempre foram um embate entre ciência e religião, por isso, nem sempre foram vistas com bons olhos pelos papas.
A Teoria da Evolução (evolucionismo) afirma que todos os seres vivos atuais descendem dos primeiros organismos celulares que evoluíram ao longo de bilhões de anos, e que o principal mecanismo responsável pelo surgimento das características desses seres é a seleção natural. O principal cientista ligado ao evolucionismo foi o inglês Charles Robert Darwin (1809-1882), que publicou, em 1859, a obra “A Origem das Espécies”.
Já a Teoria do Criacionismo é a explicação cristã para a criação do homem e afirma que o Universo é tão complexo que não foi gerado ao acaso. A história da criação do universo por Deus é contada no livro de Gênesis. Segundo a Bíblia, depois que Deus criou céu e terra, ele criou o homem a partir do barro.
Nos Estados Unidos, alguns municípios com comunidades religiosas mais fundamentalistas ensinam o criacionismo nas escolas e repudiam o ensino da teoria de Darwin nas aulas de ciências. O governo do Reino Unido, por outro lado, proibiu o ensino do criacionismo como teoria.
Para o papa Francisco é possível a coexistência das teorias do criacionismo e evolucionismo, uma postura rara entre pontífices e católicos em geral. Durante uma assembleia da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano, o pontífice disse que a Teoria do Big Bang (segundo a qual uma explosão há 15 bilhões de anos teria originado o universo) não se opõe à ideia de um criador divino, já que ela exigiria um criador. Da mesma forma, a evolução das espécies exigiria que os seres tivessem sido criados antes.
Sobre as interpretações da Bíblia, Francisco afirmou que não se deve fazer uma leitura literal e que “quando lemos a respeito da criação em Gênesis, corremos o risco de imaginar que Deus era um mágico, com uma varinha capaz de fazer tudo. Mas isso não é assim”.
Outros papas se mostraram tolerantes a essas teorias, como Pio 12 (1876-1958) e João Paulo 2º (1920-2005), que chegou a declarar que a evolução era um "fato comprovado". Bento 16, o antecessor de Francisco, não desconsiderava a teoria, mas tinha a crença de que era preciso um elemento maior para colocar o universo em ordem. Para ele, existiria um "design inteligente" na evolução, ou seja, a mão de Deus.

Abertura da igreja para os gays e divorciados

Outros temas já comentados por Francisco e que encontram resistência na ala mais conservadora da Igreja Católica são a relação com homossexuais e divorciados.
"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?", disse Francisco a um grupo de jornalistas após a Jornada Mundial da Juventude, em 2013. Depois, afirmou que a igreja tem o direito de expressar suas opiniões, mas não deve "interferir espiritualmente" na vida de gays e lésbicas.
Em outubro de 2014, no Sínodo dos Bispos, convocado pelo Papa para discutir temas relacionados à família com autoridades religiosas, foram aprovadas propostas de se estudar um caminho para que os divorciados que se casaram de novo pudessem receber os sacramentos e de que "os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser amparados com respeito e delicadeza" e que se "evitará qualquer marca de discriminação".
No caso dos gays, o fato de não serem reconhecidos como uma família legítima ainda é a principal barreira a ser vencida, já que os bispos enfatizaram "que não se podem estabelecer analogias, nem remotas, entre as uniões homossexuais e o desenho de Deus sobre o casamento e a família".

Tolerância religiosa

Os ataques à sede do jornal de sátiras Charlie Hebdo (cujas charges ironizam o Islã assim como outras religiões) e a um mercado judeu em Paris, na França, mostraram como a rejeição à crença de outras pessoas pode levar à deterioração da sociedade e provocar violência e morte.
Francisco já condenou diversas vezes os combatentes do Estado Islâmico que mataram ou expulsaram muçulmanos xiitas, cristãos e outros na Síria e no Iraque, por não compartilharem a ideologia do grupo.
Em janeiro deste ano, ele declarou que “as crenças religiosas nunca devem ser alvos de abusos causados pela violência e pela guerra", pregando que a tolerância entre as religiões e que a “liberdade de expressão não dá direito de insultar a fé do próximo”.
Outro passo importante de seu pontificado foi sua aproximação com os judeus ao declarar que eles são como "irmãos mais velhos" do rebanho católico. No entanto, ele terá novos desafios em manter essa boa relação devido ao processo de beatificação do Papa Pio 12.
Para líderes religiosos judeus e historiadores, o papa Pio 12 foi passivo ante o Holocausto nazista. Eles pedem que seu processo de beatificação seja interrompido ao menos por uma geração em consideração aos sobreviventes ainda vivos. Representantes da igreja alegam que o não embate e a falta de críticas ao regime nazista era uma forma dos padres poderem ajudar mais judeus.

DIRETO AO PONTO

Desde que assumiu o posto de chefe da Igreja Católica, no início de 2013, o papa Francisco, 77, chamou a atenção. Avesso aos privilégios que o posto lhe proporciona, ele trouxe uma liderança mais humana, humilde e próxima da população.
Mas são suas constantes aparições no noticiário com comentários sobre os mais diversos temas, entre eles tabus para Igreja Católica, que chamam atenção. Esses quase dois anos de papados mostram um pontífice tolerante com os gays, casais divorciados e com a teoria do Big Bang, e que busca a humanização das relações entre os países que vivem em situação de conflito ou oposição, como Israel e Palestina e EUA e Cuba.
Essa postura aponta caminhos de mudança nos dogmas do Catolicismo? As propostas de abertura trazidas por Francisco – como receber os gays e divorciados -- ainda enfrentam resistência da ala conservadora da Igreja, mas apontam, talvez, os rumos que a religião deve tomar no futuro.

Carolina Cunha
UOL.com.br

Comentários

  1. Realmente, ele tem seguido uma linha de coerência. É provável que alguma coisa das tantas já ultrapassadas dentro da seita evolua.
    Um abração. Tenhas uma linda semana.

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