Se nos impuséssemos o exercício de mapear os dez nomes que mais aparecem nos livros de história, dificilmente aparecerá um de mulher entre eles. Com a honrosa exceção da princesa Isabel, que aparece sistematicamente como "libertadora" e nunca como governante, o Brasil parece ter tido sua história parida exclusivamente por homens. O relato oficial sobre a nossa trajetória como nação é estritamente masculino; nos retratos oficiais, nossos heróis tem, quase sempre, barba e bigode.
Segundo relato de Heleieth Saffioti no Documentário "Um X na questão", o Estado brasileiro e seus aparelhos de repressão viam as mulheres como tolas, bobas, incapazes de se incorporar à luta política naquele momento. Esse preconceito acabou por fazer com que elas pudessem transitar mais facilmente na cena política, atuando na transmissão de informações e absorvendo tarefas que os homens tinham mais dificuldades de realizar. Isso, no entanto, não significou que elas tenham ficado dentro dos "aparelhos", varrendo o chão ou fazendo café. Elas estiveram em todas as frentes da resistência. Foram muitas as que optaram pela luta armada e, sem que se julgue aqui o mérito de suas escolhas ideológicas e políticas, empunharam armas e foram literalmente à luta. Outras muitas, ainda que sem armas, colocaram em risco suas vidas e a de seus filhos e maridos ao estabelecerem também as suas estratégias de luta. Outras tantas já não estão entre nós para contar suas histórias. Ousadas demais foram silenciadas.
A tortura tem sido historicamente utilizada como mecanismo de controle dos indivíduos e de manutenção dos sistemas de organização social vigentes. Existem relatos dessa prática em quase todas as sociedades, independentemente de sua origem étnica, localização geográfica, matrizes religiosas. Entretanto, para dar conta de realizar sua tarefa, o algoz precisa desconstruir qualquer identidade ou laço entre si e a sua vítima, convencendo-se de que naquele corpo onde ele aplicará a tortura não contém um "ser humano", mas um animal, uma "coisa". Talvez por isso se explique o fato de que é contra as mulheres que essa prática adquire seu formato mais cruel e, como precisa ser, sua forma mais desumana.
Para fazer de uma mulher uma vítima de tortura é preciso não apenas que seu algoz retire dela toda a sua dignidade como ser humano, mas que estraçalhe a sua "humanidade feminina", que retire do corpo a ser supliciado qualquer traço de relação com os outros corpos femininos que o remetem ao aconchego e ao afeto maternal, por exemplo.
Do Livro: Luta, Substantivo Feminino
Por: Nilcéa Freire
Postei também no Recanto das Letras.
Me associei novamente ao seu blog. Ótimo texto!!! visite meu blog: www.barasilidadeparatodasasidades.blogspot.com
ResponderExcluirParabéns pelo blog!!!!
Olá Isis Dumont!!! Desculpe-me a demora em passar por aqui. Lindo o seu blog e parabéns pelos seus escritos! Adorei esse seu texto "LUTA, SUBSTANTIVO FEMININO", é a realidade da mulher brasileira desde o início de nossa história. Mas não podemos esquecer jamais de Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1792-1853), nascida em 1792 na Comarca de Nossa Senhora do Rosário do Poero de Cachoeira, atual Feira de Santana, no sertão da Bahia.
ResponderExcluirMaria Quitéria teve uma infância livre e feliz até a morte da mãe, Quitéria Maria, em 1803, quando passou a cuidar dos dois irmãos mais novos. Em 1822, partidários da independência do Brasil percorriam o sertão da Bahia procurando voluntários e angariando fundos para lutar contra os portugueses. Ao saber da convocação, Maria Quitéria disfarçou-se de homem com roupas emprestadas pelo cunhado e, contra a vontade do pai, alistou-se no regimento de artilharia, sendo depois transferida para a infantaria, integrando o Batalhão dos Voluntários do Imperador e tornando-se a primeira mulher a pertencer a um unidade militar no Brasil.
Depois de conquistar o respeito dos companheiros, Quitéria assumiu sua condição feminina, e livrando-se das roupas de homem, passou a ser conhecida como soldado Medeiros. Ela se destacou pelo entusiasmo e bravura, lutando tão decididamente, que influenciou outras mulheres, formando um destacamento feminino sob seu comando. Depois que D. Pedro I declarou a independência em 7 de setembro, tropas portuguesas espalhadas pelo país continuaram lutando. Na batalha que aconteceu na foz do rio Paraguaçu, o grupo de mulheres liderado por Quitéria se destacou pela coragem. Quando os portugueses foram finalmente derrotados, em julho de 1823, Maria Quitéria foi reconhecida como heroína das guerras pela independência. Seguiu para o Rio de Janeiro, onde foi homenageada pessoalmente pelo imperador, que concedeu a ela a insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro e o soldo de alferes.
Apesar dos trajes de soldado, os cronistas da época afirmam que Maria Quitéria soube manter a feminilidade, ostentando uma beleza marcante e altiva. Além disso, sua independência pessoal foi precursora dos movimentos pelos direitos da mulher, que só viriam a tomar forma muitos anos depois. Depois das homenagens, Maria Quitéria voltou à Bahia. Casou-se com o antigo namorado, Gabriel Pereira Brito, com quem teve uma filha. Apesar do papel importante na história do país, pouco se sabe de sua vida a partir daí. Depois da morte do marido, ela teria ficado cega progressivamente, morrendo na pobreza em 1853, perto de Salvador. Hoje, Maria Quitéria é patrona do Quadro Complementar de Oficiais do exército brasileiro.
Ilustríssima colega das letras ISIS DUMONT, enviei-lhe este texto como forma de sincero reconhecimento pelo valor e bravura da mulher brasileira e todas as mulheres do mundo. Hoje temos uma mulher na presidência de nosso país e creio que ela realizará grandes feitos! Não sou feminista, muito menos machista, sou humanista, minha filosofia de vida transcende as diferenças qualquer que seja, de raça, de crença, de sexo, etc. Penso que cada um tem seu valor e devemos unir nossos valores e nossas forças para o bem de todos. Um grande abraço a você ISIS e parabéns por ser mulher! Beijos e que DEUS abençoe seu talento sempre! Um grande beijo a todas as mulheres, DEUS as abençoe, pois se não fosse por UMA MULHER, EU não estaria escrevendo aqui neste momento. BEIJOS A TODAS VOCÊS! BEIJOS A VOCÊ ISIS! Até mais!!!
Olá Isis Dumont!!! Desculpe-me a demora em passar por aqui. Lindo o seu blog e parabéns pelos seus escritos! Adorei esse seu texto "LUTA, SUBSTANTIVO FEMININO", é a realidade da mulher brasileira desde o início de nossa história. Mas não podemos esquecer jamais de Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1792-1853), nascida em 1792 na Comarca de Nossa Senhora do Rosário do Poero de Cachoeira, atual Feira de Santana, no sertão da Bahia.
ResponderExcluirMaria Quitéria teve uma infância livre e feliz até a morte da mãe, Quitéria Maria, em 1803, quando passou a cuidar dos dois irmãos mais novos. Em 1822, partidários da independência do Brasil percorriam o sertão da Bahia procurando voluntários e angariando fundos para lutar contra os portugueses. Ao saber da convocação, Maria Quitéria disfarçou-se de homem com roupas emprestadas pelo cunhado e, contra a vontade do pai, alistou-se no regimento de artilharia, sendo depois transferida para a infantaria, integrando o Batalhão dos Voluntários do Imperador e tornando-se a primeira mulher a pertencer a um unidade militar no Brasil.
Depois de conquistar o respeito dos companheiros, Quitéria assumiu sua condição feminina, e livrando-se das roupas de homem, passou a ser conhecida como soldado Medeiros. Ela se destacou pelo entusiasmo e bravura, lutando tão decididamente, que influenciou outras mulheres, formando um destacamento feminino sob seu comando. Depois que D. Pedro I declarou a independência em 7 de setembro, tropas portuguesas espalhadas pelo país continuaram lutando. Na batalha que aconteceu na foz do rio Paraguaçu, o grupo de mulheres liderado por Quitéria se destacou pela coragem. Quando os portugueses foram finalmente derrotados, em julho de 1823, Maria Quitéria foi reconhecida como heroína das guerras pela independência. Seguiu para o Rio de Janeiro, onde foi homenageada pessoalmente pelo imperador, que concedeu a ela a insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro e o soldo de alferes.
Apesar dos trajes de soldado, os cronistas da época afirmam que Maria Quitéria soube manter a feminilidade, ostentando uma beleza marcante e altiva. Além disso, sua independência pessoal foi precursora dos movimentos pelos direitos da mulher, que só viriam a tomar forma muitos anos depois. Depois das homenagens, Maria Quitéria voltou à Bahia. Casou-se com o antigo namorado, Gabriel Pereira Brito, com quem teve uma filha. Apesar do papel importante na história do país, pouco se sabe de sua vida a partir daí. Depois da morte do marido, ela teria ficado cega progressivamente, morrendo na pobreza em 1853, perto de Salvador. Hoje, Maria Quitéria é patrona do Quadro Complementar de Oficiais do exército brasileiro.
Ilustríssima colega das letras ISIS DUMONT, enviei-lhe este texto como forma de sincero reconhecimento pelo valor e bravura da mulher brasileira e todas as mulheres do mundo. Hoje temos uma mulher na presidência de nosso país e creio que ela realizará grandes feitos! Não sou feminista, muito menos machista, sou humanista, minha filosofia de vida transcende as diferenças qualquer que seja, de raça, de crença, de sexo, etc. Penso que cada um tem seu valor e devemos unir nossos valores e nossas forças para o bem de todos. Um grande abraço a você ISIS e parabéns por ser mulher! Beijos e que DEUS abençoe seu talento sempre! Um grande beijo a todas as mulheres, DEUS as abençoe, pois se não fosse por UMA MULHER, EU não estaria escrevendo aqui neste momento. BEIJOS A TODAS VOCÊS! BEIJOS A VOCÊ ISIS! Até mais!!!