Musica Indiana (e vida) com Dhaivat Raj (Sitar)



O Sitar atualmente é um instrumento bastante difundido e apreciado, no Brasil e no mundo.

De natureza complexa, possui peculiaridades diversas, tais como: composto por mais de 20 cordas, preço elevado, tamanho considerável, grande peso, muitos obstáculos técnicos e  dificuldade de ser encontrado à venda.

O músico Dhaivat Raj foi um dos precursores desta arte no Brasil, e agora nos fala como foi a aventura de tocar um instrumento tão raro e exótico.
Do: Música indiana Brasilo Brasil, e agora nos fala como foi a aventura de tocar um instrumento tão raro e exótico.
Dhaivat RajNamaste! Conheci a comunidade indiana em 1984 e em 1986 adquiri um Sitar Rikhi Ram com um pequeno livro de Ragas e acessórios. No início meu guru era a coleção dos discos de Vinil de Ravi Shankar, que eu ouvia no antigo aparelho estéreo “3-em-1”, religiosamente sempre com meu Sitar em mãos, observando e tentando imitar a variada afinação, toques, escalas, temas e ciclos rítmicos desse novo, vibrante e fascinante mundo sonoro que era para mim. Realmente me sentia realizado e extasiado com esse maravilhoso e sagrado instrumento e, ao mesmo, tempo observava e contemplava as mandalas musicais do Maestro Shankar.

Na década de 80, essa cultura era muito escassa no Brasil, mas com o mínimo básico de técnicas adquiridas como autodidata fui me especializando no Bhakti Sadhana, prática da devoção ou o décimo Rasa, sentimento ligado à arte. Assim foram surgindo convites para recitais particulares, em cerimônias e templos hindus.

Musica Indiana Brasil: Seu encontro com o Sitar ocorreu em 1986 mas como foi seu início musical?


DR: Venho de uma família de músicos. Meu avô tocava Bandolin e meu tio possuía uma banda, na qual era guitarrista. Na minha infância eu brincava de percussão com os objetos. Tive muitos brinquedos musicais como chocalhos, flautinhas, gaitinhas, apitos, etc... Quando adolescente obtive viola caipira, violão, guitarra, flauta e acordeom. Estudei o Bona e teoria musical em conservatórios municipais, acompanhei algumas atividades artísticas musicais no interior e capital de São Paulo, lugares em que circulava.

Agradeço muito ao Universo pelas oportunidades oferecidas. Hari Om!

Logo mais tive aulas com um sitarista indiano(Shiva Kumar Shastri), que ficou um período no Brasil e se surpreendeu com minhas práticas de Sitar. Viajei à Índia e fiz aulas com os gurus do Sitar entre eles, Ravi Shankar, praticando com seus alunos.


MIB: Como foi escolher tocar um instrumento oriental em uma época em que a cultura indiana não era tão difundida como hoje e praticamente não tínhamos importadores no Brasil?


DR: Realmente era muito difícil, mas como eu tinha uma relação com a comunidade indiana e sempre que solicitado eu estava presente tocando o Sitar em seus festivais comemorativos, religiosos e casamentos, encomendava meus acessórios (encordoamentos, mizrabs, etc) através das pessoas da própria comunidade, que sempre iam à Índia, para a manutenção do meu Sitar, o qual eu vivia reparando, consertando e, assim,, me tornando também um luthier.


MIB: Mais tarde veio o grupo Shivala, com a cantora indiana Meeta Ravindra. Como o contato direto com ela influenciou sua música?


Como eu estudava música indiana, Ragas, com a madrinha Meeta Ravindra e, ao mesmo tempo, realizávamos shows juntos, criamos a Banda Shivala, integrada por 5 componentes: Meeta, seus 3 filhos e eu.

Esse encontro foi riquíssimo. Tínhamos a sensacional voz de Meeta e instrumentos melodiosos como o Harmonium, a Tampura, a Tabla, Kartals e o Sitar. Me transportava para infinitas composições e, por mais que me empenhasse na aproximação das frases do sitar para acompanhar o canto, havia uma distância entre a voz e o instrumento. Isto influenciou-me muito para as práticas dos Meends (Bands), técnicas de Gamaks e a harmonização nas improvisações acompanhadas pelos  Gats, composições fixas.

MIB: Sua influência musical fica evidente com a criação do fã clube Ravi Shankar. Este, e  tantos trabalhos ao longo da vida em prol da cultura indiana no Brasil,renderam-lhe a placa de honra ao mérito em 1997. Hoje, novos artistas da cultura hindu estão conseguindo sair dos estúdios de yoga e partindo para salas de recitais, centros culturais, escolas de música, eventos de qualidade de vida e, com isso, trazendo para a mídia a riqueza musical agregada aos valores orientais.
Como era esse trabalho de divulgação no início da sua jornada?

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