De braços cruzados


Caríssimos e amados visitantes, o texto que ora escrevo bem que poderia ser fictício, poderia até ser denotativo, mas que relatasse um fato engraçado, uma aventura, um encontro especial ou bem que poderia ser um lindo poema daqueles que tenho escrito tantas vezes, e que permanecem guardados esperando a hora certa para serem publicados... Minha narrativa não sendo nada engraçada, nem tão pouco romântica, ela expressa os sentimentos e a sensação de dor, tristeza, depressão, humilhação, comodismo, fraqueza, dependência, abandono, traição, medo, solidão, tortura e, pior que isto: perda total... perda em primeiro lugar do respeito que deveria reinar obrigatoriamente entre todas as pessoas, deveria ser uma lei seguida à risca; perda de proteção, de liberdade, enfim, perda da dignidade humana, pois quando a violência se instala e não há reação por parte das criaturas violentadas, oprimidas e amordaçadas, naturalmente ocorre, ao meu ver, uma desumanização do humano!... isso, enquanto não se perde a vida... A trágica e dolorosa história da jovem Eloá, nem de longe destoa de milhares e milhares de casos neste país, incluindo os fatos reais que envolvem os personagens desta narração. Você certamente está se perguntando onde eu quero chegar... Mas, tenha calma, espere só um pouquinho mais. Todos nós sabemos o quanto é tranquila, sossegada e hospitaleira a nossa cidade e porque não dizer o nosso município. Muitas vezes, na calmaria de nossos dias ou de nossos momentos, temos a sensação (mesmo que seja breve) de que a violência está bem distante de nossa rua e até de nossas casas. Entretanto, pessoas que nós conhecemos ou pensamos conhecer, pessoas que cruzam os mesmos caminhos e ruas que nós cruzamos, pessoas que nos cumprimentam, que nos servem ou nos procuram para resolver alguma coisa, e a gente nunca vai imaginar que elas são capazes de praticar tanta violência dentro de suas próprias casas, no meio de suas famílias, deixando seus filhos ainda crianças, traumatizados, com o testemunho terrível de tantas barbaridades por parte daqueles que deveriam significar o porto seguro, a proteção!!!... Por mais que nós quiséssemos que não fosse verdade, isto, infelizmente é real: São três casos de violência contra a mulher e violência doméstica, aquela ocorrida no espaço familiar e que envolve também as crianças e adolescentes, em nosso município... Por uma questão de Ética me reservo ao direito e dever sagrado de não citar nome algum, até porque mesmo indignada, revoltada, e sofrendo por conhecer as mulheres-vítimas desses atos de selvageria e covardia, apesar de tudo, não tenho nenhum poder, nenhuma prerrogativa legal para interferir nessas situações, infelizmente...            
Tomei conhecimento através de uma testemunha, que uma das mulheres cruza os braços na hora de apanhar, essa já se encontra com graves problemas de saúde, que são consequências dos maustratos e das torturas sofridas já há bastante tempo, e sem nenhuma reação da mesma... Sei também que até o presente nenhuma delas fez qualquer denúncia contra seu agressor. E, por mais que eu, pessoalmente tenha orientado uma delas a procurar, pelo menos e inicialmente o Conselho Tutelar, ela não teve nenhuma atitude nesse sentido, infelizmente... Como o primeiro passo tem que ser, necessariamente dado por ela, outra pessoa por mais que deseje ajudar, nada pode fazer... Me preocupa muito a sensação de que qualquer dia desses vou receber uma ligação de alguém dizendo:...F...está morta!!!... penso assim porque as cenas de violência são cada vez mais frequentes e cada vez mais fortes. Outro dia cheguei a ligar para o 180, serviço nacional, gratuito, de atendimento às mulheres vítimas de violência, no entanto, as orientações recebidas são para a própria pessoa denunciar na Delegacia ou ao Ministério Público. Mas, todas permanecem de braços cruzados... E, nós, não temos nenhum direito para julgá-las, nem condená-las, por mais que a gente discorde da falta de reação. Cada caso é um caso, podemos inclusive dizer que se trata de casos de "média e alta complexidade", como se diz na linguagem falada nas ações de saúde.
   Enfim,são situações muito delicadas e dolorosas, e que... infelizmente, quase nada posso fazer para evitar o pior ou para tentar evitar que algo gravíssimo venha a acontecer..."


                                          Aparecida Ramos

Comentários

  1. É ... em pleno século XXI no ano em que o país elege uma presidenta e que tantas outras mulheres conquistaram o mercado de trabalho e um espaço maior na sociedade, é vergonhoso que ainda existam tantos casos como estes e o pior, é que muitos encaram com naturalidade. Ainda temos muito o que caminhar no sentido legal da causa para que estas "reféns" emocionais tenham a chance de se libertar.

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  2. Dona Aparecida, nenhuma mulher, nenhum homem, cidadão ou cidadã pode ficar quieto e impassível frente a tudo isso. VIOLÊNCIA É PROBLEMA DE TODOS!
    E É nosso DEVER denunciar estes casos ao MINISTÉRIO PÚBLICO já que não temos delegacias exclusivas em todos os municípios. Mesmo que a agredida não queria fazer essa denúncia, a sociedade pode fazer e cabe ao Ministério solicitar investigações, bem como tornar isso público, levar aos conselhos, às rádios. Enfim fazer com que as pessoas saibam dessa realidade.

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