Um ataque com armas de fogo em uma casa de shows na região de Moscou, na Rússia, deixou dezenas de mortos e feridos na sexta-feira (22/3).
Pelo menos 137 pessoas foram mortas e mais de 140 ficaram feridas no ataque, segundo o FSB (serviço russo de segurança). Não há nenhum registro de brasileiros entre as vítimas.
O atentado foi reivindicado pelo grupo extremista autodenominado Estado Islâmico — que publicou um vídeo como evidência. No domingo (24/3), quatro homens presos pelas autoridades russas foram acusados formalmente de cometer ato de terrorismo (mais detalhes abaixo).
Um grupo de pelo menos quatro pessoas armadas, com uniformes táticos, efetuou disparos na casa de shows Crocus City Hall, enquanto as pessoas aguardavam uma apresentação da banda de rock russa Picnic.
O espaço para shows é conectado a um shopping, e mais de 6 mil ingressos haviam sido vendidos para o show de sexta-feira.
Em pronunciamento no sábado (23/3), Putin anunciou que domingo seria um dia oficial de luto — e prometeu punir os responsáveis pelo ataque. Ele afirmou que todos os perpetradores já haviam sido encontrados e detidos.
Putin também declarou que eles tentaram escapar em direção à Ucrânia (algo que Kiev nega), e que a segurança do país foi reforçada em resposta.
Chamando o episódio de sexta-feira de "ato terrorista bárbaro", ele declarou que "nossos inimigos não vão nos dividir".
Vídeos gravados no local do show em Krasnogorsk, subúrbio de Moscou, mostram pelo menos quatro pessoas atirando indiscriminadamente contra o público, que gritava e tentava fugir.
Entre os feridos no tiroteio estavam crianças, segundo uma autoridade local de Moscou em entrevista a uma agência de notícias russa. Elas estavam participando de uma competição de dança de salão quanto o tiroteio começou. Os pais desses jovens também estavam no local.
Várias explosões foram ouvidas e houve um grande incêndio no prédio, o que causou o desabamento de parte do telhado próximo ao local.
O fogo tomou conta do telhado e da fachada do shopping e fumaça e chamas eram visíveis no horizonte do centro de Krasnogorsk.
Muitas vítimas morreram dos ferimentos a balas, enquanto outras, pela inalação de fumaça tóxica.
Cerca de 100 pessoas teriam sido resgatadas no topo do centro comercial, segundo autoridades envolvidas no resgate.
Um vídeo obtido pela agência de notícias Reuters mostrava um grande incêndio e fumaça saindo do salão onde ocorreu o ataque.
Diversos grupos de forças especiais russos entraram no local.
Os quatro homens presos e acusados de ato de terrorismo foram identificados pelas autoridades russas como: Dalerdzhon Mirzoyev, Saidakrami Murodali Rachabalizoda, Shamsidin Fariduni e Muhammadsobir Fayzov.
Eles foram presos na região de Bryansk, a cerca de 400 km de Moscou, aproximadamente 14 horas após o ataque.
O FSB disse que os agressores abriram fogo durante a tentativa de prisão e foram “neutralizados pelo fogo rival”, mas poucos detalhes foram fornecidos sobre esse caso.
O Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade pelo ataque em seu canal no Telegram — e divulgou imagens dos agressores atirando contra a multidão dentro da casa de shows. O vídeo foi verificado como genuíno pela BBC.
No entanto, nenhuma autoridade russa reconheceu a alegação, sugerindo — sem provas — que os agressores estavam sendo ajudados pela Ucrânia.
O FSB, serviço de inteligência russo, emitiu um comunicado afirmando que os responsáveis pelo ataque estavam planejando cruzar a fronteira com a Ucrânia e que teriam "contatos" no lado ucraniano.
A Ucrânia reagiu dizendo que essa informação é "absurda". E negou qualquer envolvimento no episódio.
Sarah Rainsford, correspondente da BBC em Kiev, conversou com Andriy Yusov, porta-voz da inteligência ucraniana, que afirmou que a fronteira entre os dois países está "repleta de militares e membros de serviços especiais. (...) É uma linha de frente (da guerra). Sugerir que os suspeitos rumavam para a Ucrânia é sugerir que eles são estúpidos ou suicidas".
Rainsford explica que, em Kiev, existe o temor de que a Rússia use o episódio de sexta-feira para escalonar ainda mais a guerra na Ucrânia.
Acusados parecem ter sido espancados
Além dos quatro homens acusados formalmente de ato de terrorismo, outras sete pessoas foram presas na Rússia, suspeitas de ajudar no ataque.
Todos os quatro acusados parecem ter sido espancados — vídeos de sessões de interrogatórios brutais teriam sido divulgados pelas forças de segurança russas, e reportagens sugerem que pelo menos um deles sofreu choques elétricos.
Os homens que o tribunal identificou como Mirzoyev e Rachabalizoda estavam com os olhos roxos, e a orelha do último estava com um curativo enorme — supostamente por ter sido parcialmente cortada durante sua prisão.
Além disso, Mirzoyev parecia ter um saco plástico rasgado enrolado no pescoço.
O rosto do homem identificado como Fariduni estava muito inchado, enquanto o suspeito identificado como Fayzov parecia ter perdido a consciência — ele foi levado ao tribunal em uma cadeira de rodas, vestindo uma camisola de hospital.
Ele parecia ter perdido um olho, segundo a agência de notícias Reuters.
Um comunicado do tribunal no Telegram informou que Mirzoyev havia “admitido totalmente sua culpa”, enquanto Rachabalizoda também “admitiu culpa”.
Os homens foram identificados como cidadãos do Tadjiquistão, informou a agência de notícias estatal russa Tass.
Todos os quatro serão mantidos em prisão preventiva até pelo menos 22 de maio, acrescentou o tribunal.
Os EUA disseram que há evidências críveis de que um grupo afiliado ao autodenominado Estado Islâmico esteja por trás dos ataques — o grupo, de fato, reivindicou a autoria. A Rússia não comentou.
Segundo Washington, trata-se de uma ramificação do Estado Islâmico chamada Isis-K, ou Isis-Khorasan, um grupo que tenta estabelecer um califado islâmico em áreas do Afeganistão, Paquistão, Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Irã.
"O Isis-K está focado na Rússia há dois anos", afirmou ao jornal New York Times Colin Clarke, especialista em contraterrorismo baseado em Nova York. "O Isis-K acusa o Kremlin de ter sangue muçulmano nas mãos, em referência às intervenções russas no Afeganistão, na Chechênia e na Síria."
'Terrível tragédia'
O correspondente da BBC na Rússia, Steve Rosenberg, relatou que os bombeiros passaram a noite apagando as chamas. E o que era uma das salas de concerto mais famosas do país agora virou uma zona de desastre. Há pessoas levando flores e tributos às vítimas.
"Todas as medidas possíveis estão sendo tomadas para prestar assistência às pessoas afetadas pelo ataque terrorista", disse a FSB em nota, ainda na sexta-feira.
O prefeito de Moscou, Sergey Sobyanin, chamou o ataque de “terrível tragédia”. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia classificou o episódio como “um ataque terrorista sangrento”.
A banda de rock Picnic emitiu um comunicado informando que todos os integrantes e membros da sua equipe estão "vivos e seguros".
“Ocorreu uma tragédia cuja escala ainda não podemos avaliar”, afirmou o comunicado.
O Ministério da Cultura russo divulgou que todos os grandes eventos foram cancelados no país no fim de semana.
Ucrânia 'não tem nada a ver'
Um assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a Ucrânia, que está em guerra com a Rússia desde fevereiro de 2022, não tem qualquer relação com o ataque.
Num post no Telegram, Mykhailo Podolyak afirmou:
“Sejamos claros, a Ucrânia não tem absolutamente nada a ver com estes acontecimentos”.
Governo brasileiro lamenta ataque
O Ministério das Relações Exteriores informou em nota que "não se tem notícia de nenhum cidadão brasileiro vítima do ataque".
A Embaixada brasileira em Moscou, segundo a pasta, "permanece em funcionamento para atender brasileiros em situação de emergência".
A pasta expressou condolências e solidariedade "ao povo e ao governo da Rússia e reitera seu firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo."
BBC
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