Ao lado, no showroom do Country Garden, há uma enorme maquete de cidade mostrando como seria uma Forest City concluída. Sentados na barraca de vendas, estão alguns funcionários que parecem entediados - a placa acima deles dizia: "Forest City. Onde a felicidade nunca acaba".

De longe, a maior atração aqui é a isenção de impostos. Na praia há pilhas de garrafas de bebida alcoólica descartadas e grupos de pessoas bebendo.

Quando a noite cai, Forest City fica totalmente escura. Os enormes blocos de apartamentos que pairam sobre o complexo contêm, cada um, centenas de apartamentos, mas não mais do que meia dúzia têm as luzes acesas. É difícil acreditar que alguém realmente viva aqui.

"Este lugar é estranho", diz Joanne Kaur, uma das poucas residentes que encontro. "Mesmo durante o dia, quando você sai pela porta da frente, o corredor fica escuro."

Ela e o marido moram no 28º andar de uma das torres - são os únicos em todo o andar. Assim como Nazmi, são inquilinos e, também como Nazmi, planeiam partir assim que possível.

"Sinto pena das pessoas que realmente investiram e compraram uma casa aqui", diz ela. "Se você pesquisasse no Google 'Forest City', não vai achar o que você vê aqui hoje."

corredor vazio em shopping

CRÉDITO,GETTY

Legenda da foto,

A maioria das lojas e restaurantes no shopping está fechada

Falar com pessoas na China que compraram unidades em Forest City não é fácil. A BBC conseguiu entrar em contato indiretamente com alguns proprietários, mas eles não quiseram se pronunciar, nem mesmo sob anonimato.

No entanto, há alguns comentários sugestivos nas redes sociais. Em um post elogiando o projeto, um comprador da província de Liaoning disse: "Isso é muito enganador. A atual Forest City é uma cidade fantasma. Não há pessoas. Está longe da cidade, tem instalações habitacionais incompletas e é difícil se locomover sem carro".

Outros perguntaram como poderiam obter o reembolso de sua propriedade, e um deles disse: "O preço da minha unidade caiu tanto que nem sei o que dizer".

Esse tipo de frustração está sendo sentido em toda a China, onde o mercado imobiliário vive um mau momento.

Depois de anos de empréstimos desenfreados às construtoras, o governo temeu a formação de uma bolha e impôs limites rigorosos em 2021. "As casas são para viver, não para especulação" era o mantra do líder chinês Xi Jinping.

Como consequência dessas medidas, grandes empresas ficaram sem dinheiro para concluir grandes projetos.

Em outubro, a Country Garden foi forçada a abandonar dois projetos na Austrália, vendendo um empreendimento inacabado em Melbourne e outro em Sydney.

Fatores políticos locais também contribuíram para a situação atual em Forest City. Em 2018, o então primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, restringiu os vistos para compradores chineses, citando sua objeção a uma "cidade construída para estrangeiros".

Alguns analistas também questionaram a sabedoria de construir um megaprojeto num país cujo ambiente político e econômico é instável. O atual governo da Malásia apoia o projeto Forest City mas, para um potencial comprador, não está claro quanto tempo isso irá durar e até que ponto.

Outras questões inesperadas, como as restrições de viagem da Covid e os controles sobre quanto dinheiro os cidadãos chineses poderiam gastar no exterior, prejudicaram especialmente projetos internacionais tocados por gigantes como a Country Garden.

"Acho que eles provavelmente foram longe demais, rápido demais", diz Tan Wee Tiam, da consultoria KGV International Property Consultants. "Antes de lançar um projeto extremamente ambicioso como esse, a lição a aprender é garantir que você tenha fluxo de caixa suficiente."

Recentemente, a imobiliária mais endividada do mundo, Evergrande, enfrentou uma audiência num tribunal de Hong Kong. No final, a empresa chinesa ganhou um prazo de seis semanas para chegar a acordo sobre um plano de reembolso com os seus credores, uma vez que o juiz adiou a audiência pela sétima vez.

Quando se trata da crise imobiliária da China, Forest City é um caso clássico de ambição versus realidade. Alguns fatores locais podem ter contribuído para a situação atual, mas fica claro que construir dezenas de milhares de apartamentos no meio do nada não é suficiente para convencer as pessoas a viverem ali.

No fim das contas, o destino de Forest City – e de centenas de projetos em toda a China – depende do governo chinês. No mês passado, houve relatos de que a Country Garden tinha sido colocada numa lista preliminar de empresas que receberiam apoio financeiro do governo chinês – embora a extensão desse apoio ainda não esteja clara.

No entanto, é pouco provável que pessoas como Nazmi regressem: "Definitivamente escolherei com mais cuidado na próxima vez", diz ele. "Mas estou feliz por ter deixado este lugar – agora tenho minha vida de volta."