O líder do grupo mercenário Wagner, que protagonizou uma impressionante marcha militar desde a Ucrânia em direção a Moscou no sábado (23/6), quebrou o silêncio sobre sua fugaz rebelião contra o Exército russo.
Yevgeny Prigozhin divulgou um comunicado na segunda-feira (26/6) por meio de um áudio de 11 minutos em um canal do Telegram. Na mensagem, ele disse que iniciou a marcha em resposta aos planos do Ministério da Defesa da Rússia para que sua empresa "deixe de existir" no próximo mês.
"O objetivo da marcha era evitar a destruição do (grupo) Wagner e chamar a atenção dos funcionários que, por meio de suas ações não profissionais, cometeram um grande número de erros", disse ele em sua mensagem.
"Não estamos marchando para derrubar a liderança da Rússia", disse ele.
A crise começou entre sexta e sábado, quando Prigozhin convocou um levante contra o Exército russo.
O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou o chamado para a rebelião como uma "traição" e chamou o movimento de tropas de "uma facada nas costas".
Após horas de tensão com o exército russo, Prigozhin anunciou a retirada dos milicianos do Wagner para seu quartel-general e, desde então, só se sabe que ele havia deixado a Rússia pela fronteira com Belarus.
Prigozhin é uma das principais figuras militares da Rússia e um aliado de Putin há anos.
Desde a invasão russa da Ucrânia, que começou em fevereiro de 2022, ele atuou nas frentes de guerra para assegurar os territórios ucranianos a favor de Moscou.
O grupo Wagner deixa de existir?
No áudio transmitido nesta segunda-feira, Prigozhin insistiu que o objetivo da marcha a Moscou não era "um golpe militar", mas "uma marcha por Justiça".
Ele anunciou que a companhia mercenária estava condenada a deixar de existir no dia 1º de julho por causa dos planos do Kremlin.
Ele também disse ter se arrependido por "ter atacado aeronaves russas". Ele explicou que deu a ordem de voltar "para evitar derramar o sangue dos soldados russos".
“Estávamos em uma marcha para mostrar nosso protesto, não para derrubar o governo”, disse ele.
Falando sobre os termos do acordo que supostamente foi feito para conter a rebelião, Prigozhin observou que o grupo era "categoricamente contra a decisão de fechar o Wagner em 1º de julho de 2023 e incorporá-lo para o Ministério da Defesa".
Os comandantes se recusaram a aceitar o pedido de assinatura de contratos com o Ministério da Defesa da Rússia, disse ele.
Pelo contrário, ele afirma que cerca de 30 de seus homens "foram mortos por ataques russos".
A BBC não conseguiu confirmar essa afirmação.
Prigozhin também disse que o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, desempenhou um papel importante no acordo com Moscou.
"Ele estendeu a mão e se ofereceu para encontrar maneiras do Wagner continuar seu trabalho legalmente", disse o líder sem dar detalhes.
Desde a retirada no sábado, seu paradeiro não foi revelado e na mensagem de áudio ele não deu detalhes sobre isso.
Vários relatos sugerem que, como parte do acordo com Moscou, Prigozhin concordou em ir para Belarus.
'Problemas de segurança' na Rússia
Nas últimas semanas, Prigozhin criticou fortemente as forças de segurança da Rússia, e isso se refletiu em sua mensagem de áudio.
Ele disse que a marcha para Moscou no sábado revelou "problemas de segurança mais sérios em todo o país", e disse que suas unidades conseguiram bloquear "todas" as unidades militares russas e aeródromos em seu caminho.
Segundo ele, contou ainda com o apoio das localidades por onde passou durante a curta rebelião na qual as suas forças percorreram 780 km.
Essa distância é equivalente à que as forças russas percorreram no dia 24 de fevereiro de 2022, quando iniciaram a invasão da Ucrânia.
Para Prigozhin, se forças como as tropas de Wagner tivessem realizado aquele primeiro ataque de 2022, "a operação militar especial na Ucrânia" teria terminado muito antes.
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