Crédito, Getty Images, Legenda da foto, Grosso
modo, há três linhas principais de tratamento: a psiquiátrica, a
terapêutica e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de
medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de depressão moderada
ou grave
Quais são os tratamentos para depressão?
Conforme
o estágio e a intensidade do quadro de saúde, há tratamentos com
medicamentos específicos. E, a depender de como o paciente se sente e
quais motivos levaram ele à condição atual, haverá linhas
psicoterapêuticas mais adequadas para tratar.
Um
dado positivo é que, segundo a Associação Americana de Psiquiatria, a
depressão é um dos transtornos mentais mais tratáveis. Entre 80% e 90%
das pessoas com esse problema de saúde respondem bem ao tratamento.
Grosso
modo, há três linhas principais de tratamento: a psiquiátrica, a
terapêutica e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de
medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de depressão moderada
ou grave. Mas tudo vai depender do diagnóstico e da gravidade do
quadro.
Como
dito acima, a grande maioria dos casos de depressão leve pode ser
tratada sem remédios, por exemplo. "Nesses casos, a primeira indicação
pode ser a psicoterapia porque não tem efeito colateral, tem uma
resposta mais rápida do que aquela com fármacos, porque antidepressivos
precisam de pelo menos um ano de uso para tratar depressão. Então, se
fizer psicoterapia nesses casos, você consegue melhorar mais cedo e
ainda trabalhar outras coisas que não envolvam só a depressão", afirma
Melo, da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
O
tratamento terapêutico pode acontecer seguindo correntes como terapia
cognitiva comportamental, psicanálise, terapia analítica (junguiana),
gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras.
Algumas vão recorrer a simbologias e interpretação dos sonhos, como a terapia junguiana, por exemplo.
Outras
terapias buscam focar nas ações do presente (em uma espécie de
diferenciação de tratamentos como o psicanalítico, em que esse mesmo
paciente seria recebido em consultório pelo analista, que o escutaria
sobre episódios da infância, por exemplo), como
analítico-comportamental, gestalt e terapia cognitivo-comportamental,
uma das abordagens mais comuns para casos de depressão, que por meio da
conversa entre paciente e terapeuta ensina o paciente a identificar e
lidar com pensamentos, crenças e sentimentos negativos, quebrando o
ciclo em torno deles.
Outras
se dedicam mais ao autoconhecimento, em que o paciente faz associações
livres por meio da fala e sem interrupções do terapeuta, como a
psicanálise, que incentiva o paciente a acessar seu inconsciente e
trazer à consciência o que está lhe afetando no quadro depressivo.
No
caso da psicanálise, seus efeitos são estabelecidos na chamada
"transferência" entre sujeito e analista, ou seja, grosso modo, no
momento em que o paciente permite ao especialista (analista) a ajuda e
se entrega de fato ao processo analítico. E isso pode contribuir no
tratamento da depressão como contribui com outras modalidades de
sofrimento psíquico: analisando a singularidade da experiência daquele
paciente com esse diagnóstico, evitando generalizações.
Além
disso, há outras terapias alternativas para casos mais leves de
depressão, que incluem meditação, programas de exercício físico,
arteterapia, entre outras. Caberá aos profissionais especializados
identificar e acompanhar quais são mais adequadas para cada paciente.
"Em
casos mais leves, o tratamento pode ser realizado somente com
psicoterapia. Mas quadros moderados a graves precisam também de
intervenção com medicamentos e, caso haja ideação suicida, a internação
pode ser considerada", afirma Silva, da Associação Brasileira de
Psiquiatria. Segundo ele, quase 70% das mortes associadas à depressão
podem ser prevenidas com tratamento correto.
Em
linhas gerais, os antidepressivos fazem alterações químicas no cérebro
para reequilibrar o humor e a energia, por exemplo. Mas algumas vezes
isso se dá com efeitos colaterais, inclusive dependência, algo que gera
medo e hesitação entre pacientes.
Só
que esses medicamentos acabam não surtindo efeito para algo em torno de
10% a 30% dos pacientes, diagnosticados posteriormente com depressão
resistente ao tratamento, refratária ou não responsiva.
Uma
das abordagens usadas para esses pacientes específicos é a estimulação
magnética transcraniana (EMT), uma técnica não invasiva que estimula o
cérebro com ondas magnéticas. O paciente fica acordado durante as
sessões.
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Tratamento
terapêutico pode acontecer seguindo correntes como terapia cognitiva
comportamental, psicanálise, terapia analítica (junguiana),
gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras
Outra
abordagem para esses tipos de casos mais graves ou refratários é a ECT
(eletroconvulsoterapia, popularmente conhecida como eletrochoque),
tratamento destinado a pacientes com depressão mais severa ou que já
experimentaram outros tratamentos sem apresentação de melhora. Apesar de
todo o estigma e preconceito em torno desse tipo de tratamento, ele é
considerado seguro, indolor e eficaz.
Nesse
tipo de terapia, uma baixa corrente elétrica estimula o cérebro e
provoca uma convulsão no paciente sob anestesia, ajudando a aliviar os
sintomas da depressão por meio de alterações químicas no cérebro. Ela é
realizada em hospitais ou clínicas especializadas em séries de 6 a 12
sessões.
Há
também o spray de escetamina (ou esketamina), derivado do anestésico
cetamina aprovado em 2020 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). Esse remédio inalável estimula as áreas do cérebro ligadas às
emoções.
Por
fim, há diversas pesquisas promissoras em andamento em torno do uso de
psicodélicos para tratar depressão e outros transtornos mentais, mas
esses tratamentos ainda estão em fase experimental.
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OMS, depressão é principal causa de incapacidade em todo o mundo e
contribui de forma significativa para a carga global de doenças
Como ter acesso a tratamentos para depressão pelo SUS?
Segundo
a OMS, a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e
contribui de forma significativa para a carga global de doenças.
Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do
Brasil, foram 576,6 mil afastamentos por transtornos mentais e
comportamentais em 2020.
"Ainda
precisamos de um sistema público em saúde mental no Brasil que ofereça
todo o suporte necessário ao padecente de transtornos mentais, que deve
contar com o princípio de integração entre os diversos serviços,
constituindo um sistema integrado de referência e contra referência no
qual as unidades devem funcionar de forma harmônica, complementando-se,
não se opondo nem se sobrepondo um ao outro, não concorrendo e nem
competindo entre si", afirma Silva, da Associação Brasileira de
Psiquiatria.
No
SUS, pacientes podem buscar orientação e tratamento em Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT),
Centros de Convivência e Cultura, ambulatórios multiprofissionais,
Unidades de Acolhimento (UAs), hospitais especializados e hospitais-dia
de atenção integral. Parte dos medicamentos está disponível na rede de
Farmácia Popular.
Segundo
o Ministério da Saúde, há 2.742 CAPS espalhados por 1.845 cidades do
país. Eles atendem todos os casos de depressão e isso inclui os quadros
moderados e severos.
O
atendimento não é feito apenas por médicos nessas unidades, mas também
por psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros
profissionais de saúde das equipes multidisciplinares.
Se
os casos forem mais graves, os pacientes são encaminhados para
hospitais especializados. Se houver diagnóstico da forma mais leve do
transtorno, pode haver um direcionamento para uma Unidade Básica de
Saúde (UBS).
Além
da rede pública de saúde, é possível também buscar orientação e
tratamento em iniciativas de atendimento psicológico gratuitas ou de
baixo custo (valor social), como aquelas oferecidas por universidades
(como USP, UFBA, UFSC, UFPR e UFPA), entidades de classe (como Sindicato
dos Psicanalistas do Estado de São Paulo e Associação Brasileira de
Psicodrama), entre outros.
Por
fim, Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria, lembra que os
pacientes, depois de todos os obstáculos para conseguirem diagnóstico e
tratamento, ainda precisam enfrentar o estigma em torno da depressão,
uma "discriminação que pode ser tão incapacitante quanto a própria
doença" e afeta inclusive a recuperação e reabilitação do paciente.
"O
combate ao estigma é primordial para que o portador de doença mental
viva de forma independente e autônoma, tenha oportunidades de trabalho,
persiga suas metas e usufrua de oportunidades com dignidade e plena
inserção social."
Caso
você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda no Centro de
Valorização da Vida e o Centro de Atenção Psicossocial (CAP) da sua
cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia
(inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail,
chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o
Brasil.
BBC
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