Justiça sem medo: família de Patrícia Acioli relembra o dia da morte; 'Fechei todas as portas e a gente ficou rezando', diz filha

 (G1.com)

Ana Clara, filha da juíza, tinha 12 anos quando a mãe foi assassinada na porta de casa. Ela e os irmãos ouviram os tiros. Mike, o irmão mais velho, foi o primeiro a encontrar Patrícia, mas ela já estava morta. Dez anos depois, a família, que teve toda a rotina alterada após o crime, ainda adota precauções.

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A juíza Patrícia Acioli foi morta dentro do carro, quando chegava em casa, em Piratininga, Niterói. Os 21 tiros disparados há 10 anos pelos assassinos foram ouvidos pelos filhos, que estavam em casa com primos e amigos. Os dois assassinos, Daniel Benitez Lopez e Sérgio Costa Júnior, fizeram uma emboscada e descarregaram duas pistolas e um revólver às 23h54 do dia 11 de agosto de 2011.

Justiça Sem Medo: família de Patrícia Acioli ouviu tiros que executaram a juíza

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 "Eu só lembro de acordar com a minha irmã chorando muito", conta Ana Clara, filha de Patrícia Acioli.

"E o meu priminho também que estava lá em casa - que era filho de uma amiga da minha mãe também chorando muito - falando que estava tendo um tiroteio muito perto de casa. Eu pedi para ele se esconder debaixo da cama, eu desci, aí meu irmão na porta de fora e a minha tia chorando", relata.

"Botei eles pra debaixo da cama e tranquei, fechei todas as portas, e aí a gente ficou rezando, a gente ficou rezando até meu pai chegar. Quando meu pai abriu a porta, a gente entendeu que tinha alguma coisa errada. Aí quando eu perguntei se a minha mãe estava bem, ele falou que ela tinha sofrido um atentado e que não tinha resistido."
(Essa reportagem faz parte de uma série que o G1 publica desde quarta, batizada de 'Justiça sem medo', 10 anos após o assassinato da juíza Patrícia Acioli.) 
 
O enteado de Patrícia, Mike Chagas, foi o primeiro a encontrar a juíza morta. Ele contou à polícia, dois dias depois do crime, que estava no banho quando ouviu os disparos. Correu para o quintal e percebeu uma moto arrancando. Tentou quebrar o vidro do carro com socos e chutes, mas não conseguiu abrir a porta. Entrou pelo carona e viu que a mãe já não tinha pulso.
"É muito mais doloroso você matar, assassinar uma pessoa na porta de casa com os filhos da vítima ouvindo os tiros", diz Wilson Junior, ex-marido e pai dos filhos de Patrícia. "A gente não volta, a gente não consegue ir até o local onde aconteceu o crime."

Wilson Junior conta que todos se mudaram da casa 10 dias depois para um apartamento. Toda a rotina foi alterada: escola, médicos, amigos. Tudo por segurança. Segundo ele, a vida começou a voltar ao normal há pouco tempo, mas todos na família ainda continuam adotando precauções.

"É uma coisa muito difícil para as minhas filhas falarem da mãe. Só para você ter uma noção, às vezes, eu estou na rua, soltam fogos, minhas filhas entram em desespero. E hoje elas estão com mais de 20 anos. Meu filho não consegue falar sem se emocionar.” 

 Ana Clara Acioli, filha da juíza Patrícia Acioli, assassinada em agosto de 2011 por PMs do 7º Batalhão (São Gonçalo) — Foto: Marcos Serra Lima/G1Ana Clara Acioli, filha da juíza Patrícia Acioli, assassinada em agosto de 2011 por PMs do 7º Batalhão (São Gonçalo) — Foto: Marcos Serra Lima/

Perseguição e morte

Patrícia saiu do Fórum de São Gonçalo às 23h14. A juíza percorreu 27 km entre o trabalho e sua casa, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói.

Em boa parte do trajeto até em casa, a juíza conversava com a irmã, Simone Acioli. Era uma quinta-feira e as duas planejavam uma viagem no fim de semana. Patrícia ia com os filhos visitar a irmã em São Paulo.

"Eu fui a última pessoa que falei com ela, com certeza", diz Simone. "A gente desligou o telefone, e ela disse: ‘Já tô quase em casa, irmã, vou desligar agora’. Aí eu desliguei. Deve ter acontecido 15 minutos depois.", conta Simone.

"Na verdade, foi 1h30, 2h. Um dos meus sobrinhos, filho da minha outra irmã, Francisco, que me ligou avisando. E aí quando ele ligou, ele ligou chorando, né? E eu nem acreditei, eu falei que não era possível. Acabei de falar com ela."

Filhas da juíza Patrícia Acioli participa da homenagem aos dez anos da morte da magistrada em Niterói — Foto: Divulgação/ONG Rio de Paz

Filhas da juíza Patrícia Acioli participa da homenagem aos dez anos da morte da magistrada em Niterói — Foto: Divulgação/ONG Rio de Paz

Enquanto falava com a irmã, no caminho para casa, Patrícia estava sendo seguida. Inicialmente por um carro e depois por uma moto, com os dois assassinos.

Câmeras de segurança flagraram a perseguição ao longo do trajeto. Pouco antes de chegar no condomínio de Patrícia, quando viram que ela ia mesmo para casa, os assassinos aceleraram para chegar antes e preparar a emboscada.

Mapa do trajeto feito pela juíza Patrícia Acioli no dia em que foi assassinada em Piratininga, Niterói — Foto: Níkolas Espíndola/G1

Mapa do trajeto feito pela juíza Patrícia Acioli no dia em que foi assassinada em Piratininga, Niterói — Foto: Níkolas Espíndola/G1

Quando chegou à porta de casa, a juíza não freou bruscamente ou tentou fugir. Foi surpreendida pelos dois homens, explicam os investigadores.

"Não havia nenhuma marca de frenagem do veículo e a gente já pode perceber com isso que quem emboscou estava esperando ela parar naquele ponto", conta o delegado Allan Duarte, que investigou o local do crime.

Allan Duarte, delegado que investigou o local do assassinato da juíza Patrícia Acioli — Foto: ReproduçãoAllan Duarte, delegado que investigou o local do assassinato da juíza Patrícia Acioli — Foto: Reprodução

"Um ponto muito importante da investigação foi a percepção da concentração dos disparos e do grande número de perfurações provocadas na altura da janela. Isso revela ali que os atiradores queriam se certificar que aquela vítima iria morrer. Não era apenas uma ameaça." Justiça sem medo: 10 anos da morte da juíza Patrícia Acioli
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