© Getty Images Superlotação faz com que médicos não tenham como atender pacientes com covid-19
Todos os dias, centenas de pacientes afetados por covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, lotam os hospitais da Itália. O colapso do sistema de saúde naquele país tem sido um dos principais desafios da pandemia que já resultou em milhares de mortes em todo o mundo. E o caso da Itália está sendo mais dramático: mais de 41 mil infectados até esta quinta-feira (19/03) e cerca de 3,4 mil mortos, número de mortes já superior ao da China, primeiro epicentro do surto. O colapso do sistema de saúde naquele país tem sido um dos principais desafios da pandemia que já resultou em milhares de mortes em todo o mundo. E o caso da Itália está sendo mais dramático: mais de 41 mil infectados até esta quinta-feira (19/03) e cerca de 3,4 mil mortos, número de mortes já superior ao da China, primeiro epicentro do surto.
Colapso dos serviços de saúde
O rápido e exponencial crescimento de infecções na Itália expôs a fragilidade do sistema de saúde do país europeu. Os 5,2 mil leitos de terapia intensiva existentes no país foram rapidamente superados, pois muitos deles já estavam ocupados por pacientes com problemas respiratórios (que aumentam nos meses de inverno). A situação é ainda pior nas regiões mais afetadas pelo coronavírus - Lombardia e Veneto -, onde existem apenas 1,8 mil leitos, entre públicos e privados.
Além disso, a escassez de respiradores, máscaras e roupas de proteção para combater a doença fez com que a Itália tivesse que solicitar ajuda internacional.
Tudo isso tornou o trabalho dos médicos cada vez mais difícil. Eles se veem obrigados a tomar decisões arriscadas sob altos níveis de estresse e durante longos turnos de trabalho.
"A situação dos médicos na Itália é realmente dramática", diz Filippo Anelli, presidente da Federação Nacional Italiana de Ordens Médicas (FNOMCeO), à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.
Anelli explica que isso se deve, em parte, à falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), como roupas adequadas, para tratar os doentes.
"Os clínicos gerais, que trabalham no hospital por turnos de 12 horas ou mais, não têm EPI. Portanto, se adoecem, tornam-se superpropagadores. Ou seja, podem espalhar a infecção entre os pacientes", explica ele.
Por outro lado, o presidente do FNOMCeO afirma que o esgotamento dos médicos também é um problema.
"Os médicos estão estressados pelo excesso de trabalho e também pela morte inesperada de colegas, parentes, amigos e pacientes", diz ele.
Dessa maneira, Anelli reconhece que a covid-19 desencadeou uma das maiores crises da história do serviço nacional de saúde italiano.
"O coronavírus revelou as lacunas e problemas críticos no gerenciamento dos sistemas de saúde nos últimos anos", explica ele.
'Esmagada por um tsunami'
Na semana passada, o depoimento de um médico da cidade de Bergamo, chamado Daniele Macchini, viralizou nas redes sociais.
Em sua conta no Twitter, o médico disse que sua equipe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) foi "esmagada por um tsunami" e que certos elementos, como respiradores, se tornaram valiosos "como o ouro".
"Os casos estão se multiplicando, [temos] 15 a 20 internações por dia, todos pelo mesmo motivo (...). De repente, a sala de emergência está entrando em colapso", escreveu ele.
"Alguns de nossos colegas infectados também espalharam o vírus para parentes, e outros já estão entre a vida e a morte", acrescentou.
Diante disso, vários médicos e enfermeiros garantiram que vivem "uma tensão nunca vista antes em tempos de paz".
Alguns até apontaram ser comparável ao que poderia ser experimentado em uma guerra.
A esse respeito, Anelli observa: "Trabalhamos com cenários típicos da medicina de desastres".
E isso começou a ser confirmado pelos próprios médicos que estão nas "zonas vermelhas" da Itália.
Em entrevista à BBC, Stefano Magnone, médico que trabalha em um hospital na Lombardia, diz que "a situação está piorando dia a dia porque estamos atingindo nossa capacidade máxima".
"Em nossa Província, ficamos completamente sem recursos humanos e tecnológicos", acrescenta.
"Decisões difíceis e dolorosas'A Itália tem a segunda maior população de idosos do mundo, depois do Japão, segundo a ONU. Isso significa que existe um segmento significativo da população que corre particularmente risco de ficar gravemente doente se contrair o vírus. "Aqui temos uma população muito idosa, muitos pacientes precisam de tratamento semi-intensivo ou mesmo intensivo. Eles precisam de dispositivos que os ajudem a respirar e houve uma escassez deles na UTI", disse à BBC Giovanni Rezza, diretor do Departamento de Doenças Infecciosas do Ministério da Saúde italiano. Ele também alerta que "se não houver diminuição na circulação do vírus, colocamos todo o sistema em risco, em atenção e tratamento". "Colocamos em risco não apenas pacientes com covid-19, mas todo mundo que vive com outras doenças. Esse é o maior problema", acrescentou. Assim, existem médicos que declararam que tiveram que escolher quais pacientes tratar e quais não. "Se uma pessoa entre 80 e 95 anos tem dificuldade respiratória grave, você provavelmente não pode prosseguir [com o tratamento]", disse Christian Salaroli , chefe da unidade de terapia intensiva de um hospital de Bergamo, ao jornal italiano Corriere della Sera. "Essas são palavras terríveis, mas infelizmente são verdadeiras. Não estamos em condições de tentar o que vocês chamam de milagres", acrescentou.
A Sociedade Italiana de Anestesia, Analgesia, Reanimação e Terapia Intensiva (SIAARTI) emitiu um documento com 15 "recomendações éticas" para médicos sobre a admissão de pessoas em terapia intensiva em "casos excepcionais de desequilíbrio entre necessidades e recursos disponíveis". No documento, a entidade fala da importância de oferecer apoio aos profissionais que, devido à crise de covid-19, são forçados a tomar "decisões difíceis e dolorosas". "Em uma situação tão complexa, cada médico pode ser forçado a tomar decisões em pouco tempo do ponto de vista ético e clínico: quais pacientes são submetidos a tratamentos intensivos quando os recursos não são suficientes para todos os pacientes que chegam", diz o documento.
"Estamos confiantes de que não chegaremos ao ponto em que tenhamos de tomar uma decisão como essa." Nesse sentido, a SIAARTI recomenda que aqueles com "maior expectativa de vida" sejam privilegiados. Ou seja, em vez de admitir pacientes por ordem de chegada, eles se concentram nos pacientes com melhor chance de recuperação após o tratamento intensivo. "Não é a SIAARTI que propõe tratar alguns pacientes e limitar o tratamento a outros. São eventos de emergência que obrigam os médicos a focar sua atenção na adequação do tratamento para aqueles que podem se beneficiar mais quando os recursos não são suficientes para todos os pacientes", diz o documento. No entanto, Anelli garante que "em condições normais, nossa Constituição e nossas leis determinam tratamento a todos, sem qualquer discriminação". "Estamos confiantes de que não chegaremos ao ponto em que tenhamos de tomar uma decisão como essa." MSN
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