Direito de imagem AFP PHOTO/KCNA VIA KNS Image caption Kim Jong-Un e Vladimir Putin se encontraram no final de abril
O número foi confirmado recentemente pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia e marca uma queda significativa na comparação com os mais de 40 mil trabalhadores norte-coreanos que moravam em território russo há dois anos.
A maioria foi forçada a sair para que a Rússia cumpra as sanções da ONU, impostas em setembro de 2017 em retaliação a testes com mísseis.
Segundo informou o ministério do Trabalho da Rússia, os únicos norte-coreanos que puderam trabalhar no país desde então foram aqueles cujos contratos foram assinados antes desta data.
Ainda de acordo com dados do ministério, mais de 85% dos imigrantes norte-coreanos trabalham no setor de construção civil.
O resto está envolvido em uma variedade de trabalhos: indústria têxtil, agricultura, extração de madeira, alimentação, medicina tradicional...
Em 2018, a BBC publicou o resultado de dois anos de apuração sobre as condições precárias de vida e trabalho destes imigrantes em países da União Europeia, na China e na Rússia.
Mas, para os norte-coreanos marcados pela pobreza, conseguir um emprego no exterior é um bilhete dos sonhos, diz o professor Andrey Lankov, especialista em Coreia do Norte da Universidade de Kookmin, em Seul, Coreia do Sul.
"É impossível encontrar um emprego na Rússia sem pagar suborno [na Coreia do Norte]".
E mesmo assim esses trabalhadores se deparam com acomodação e condições de trabalho abaixo do padrão, muitas vezes análagos à escravidão.
Em um caso bem documentado de 2015, as autoridades de imigração em Nakhodka, no extremo oriente da Rússia, encontraram três agrônomos norte-coreanos altamente qualificados limpando a neve nas estradas.
Seus empregadores - uma empresa russa e norte-coreana - afirmaram que o caso foi um desvio isolado do trabalho habitual dos homens, que seria o monitoramento da colheita. Mas as autoridades não se convenceram, e os três foram deportados.
Segundo o ministério do Trabalho da Rússia, os norte-coreanos recebem, em média, US$ 415 por mês (cerca de R$ 1,6 mil), 40% menos que o salário médio da Rússia.
"Você tem que entregar metade do seu salário para o Estado [norte-coreano]", disse Lankov à BBC.
"Mas o que resta ainda é muito mais do que você poderia ganhar em casa".
Image caption Aproximadamente 8 mil norte-coreanos ainda estão trabalhando na Rússia, apesar de sanções
As empresas russas que desejam contratar norte-coreanos devem solicitar ao ministério do Trabalho uma "cota" e uma permissão usada para empregar estrangeiros.
Muitos estão no extremo oriente da Rússia, uma região com escasssez de mão-de-obra.
Dados do governo russo mostram que, em 2018, 40% de todas as licenças concedidas a empresas foram originadas nas regiões de Moscou e São Petersburgo.
Em São Petersburgo, foi amplamente divulgado que operários norte-coreanos participaram da construção de um estádio de futebol para a Copa do Mundo do ano passado.
Os maiores empregadores de norte-coreanos na Rússia são empresas de propriedade... norte-coreana.
E a maioria destas empresas é da iniciativa privada, sem a participação do governo necessariamente.
É um sinal, diz Andrey Lankov, de como os negócios norte-coreanos se tornaram descentralizados.
"O proprietário de uma empresa privada pode ser um funcionário do governo (norte-coreano), alguém dos serviços de segurança ou apenas um empresário com dinheiro e bons contatos", explica.
As sanções da ONU têm sido um balde de água fria para muitas empresas na Rússia.
Em Vladivostok, na costa do Pacífico, a construtora Yav-Stroi costumava ser uma das maiores empregadoras de imigrantes norte-coreanos, com licenças para 400 deles em 2017.
Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption Na época da Copa do Mundo, foi amplamente divulgado que mão-de-obra norte-coreana foi usada na construção de estádio em São Petersburgo
"Não podemos seguir sem os imigrantes", disse um porta-voz da empresa, que pediu anonimato, logo após a introdução das sanções.
Em Moscou, a Clínica de Medicina Oriental empregou 10 médicos norte-coreanos. Em 2018, a quota foi reduzida para apenas quatro.
"Se eles tiverem que deixar nossos pacientes, muitos dos quais são crianças deficientes, estes perderão o tratamento", disse a diretora Natalya Zhukova à BBC na época.
É claro que as autoridades russas gostariam de encontrar maneiras de aliviar as sanções contra a Coreia do Norte.
Em uma rara reunião com seu colega norte-coreano em Moscou em abril de 2018, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que os dois lados discutiram maneiras de impulsionar os laços econômicos enquanto cumpriam a resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Neste mês, uma delegação do parlamento russo visitou a Coreia do Norte com o mesmo objetivo.
"Somos vizinhos, estamos ligados pela amizade e por grandes vitórias, e devemos ajudar uns aos outros", disse o deputado Kazbek Taysaev à BBC após a visita.
"Especialmente por causa das sanções impostas à Coreia do Norte nos últimos 70 anos e das sanções sob as quais nosso país agora se encontra. Somos almas gêmeas".
De volta ao restaurante Koryo, em Moscou, os funcionários relutam em falar com a BBC sobre o futuro.
Mas os clientes que procuram saborear a Coreia do Norte talvez precisem mastigar mais rápido e enquanto podem.
Colaboraram na reportagem Petr Kozlov e Anastasia Golubeva, da BBC na Rússia
Tópicos relacionados
Comentários
Postar um comentário