Polícia diz que agentes facilitaram massacre de presos em Manaus e indicia 210 detentos

Policiais militares chegam ao Compaj após massacreDireito de imagemEPA
Image captionOito meses após massacre, polícia indicia 210 pessoas por massacre em presídio
Oito meses após o massacre que deixou 56 pessoas mortas no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, a Polícia Civil encerrou seu inquérito e indiciou 210 detentos pelo crime. Os presos foram mortos a tiros e esquartejados no primeiro dia do ano, logo após o término do horário de visitas.
A conclusão das investigações da Polícia Civil, comunicada nesta sexta-feira, identificou os responsáveis pelo crime em massa após uma série de exames de necropsia e análise de DNA dos mortos. A equipe composta por dez investigadores, dois escrivães e cinco delegados ouviu 350 pessoas sobre o caso.
O inquérito tem 2,6 mil páginas com fotos, transcrições de áudios, depoimentos e laudos médicos. A investigação ainda apontou que agentes penitenciários e familiares dos presos facilitaram a entrada de armas no presídio e o início da rebelião, que resultou nas mortes.
Mas, segundo os delegados, isso será apurado em outro inquérito porque esse primeiro foi focado nos homicídios. Todo o conteúdo da investigação foi encaminhado ao Ministério Público nesta quinta-feira.
De acordo com o delegado-geral do Amazonas, Frederico Mendes, o inquérito "comprovou que o massacre foi causado pela rivalidade entre as facções criminosas Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC)" em uma disputa pelo controle dos presídios da capital amazonense. A transferência de líderes da FDN para presídios federais no último ano também estimulou o massacre.

Rebelião e 56 mortes

De acordo com as investigações, a rebelião começou pontualmente às 15h59 do primeiro dia do ano. Quando as últimas pessoas deixavam o presídio, integrantes da FDN renderam agentes penitenciários e trocaram tiros com os policiais militares que estavam no portão que dá acesso à área do presídio conhecida como "seguro".
Presos em Manaus
Image captionInvestigação apontou que agentes penitenciários e familiares de presos facilitaram massacre em Manaus | Foto: Felipe Souza
Nesse setor estavam presos considerados vulneráveis, como aqueles acusados de crimes sexuais e quem não se identifica com nenhuma facção criminosa. Mas os principais alvos eram as 26 pessoas identificadas como membros do PCC. Apenas três delas sobreviveram ao massacre.
A ordem para a matança, segundo a polícia, partiu do fundador da FDN, José Roberto, preso em um presídio federal em Mato Grosso do Sul. A rebelião durou cerca de 17 horas - o presídio foi alvo de varreduras e os policiais encontraram 17 armas.
Os sobreviventes do massacre foram levados para um presídio na região, onde outras nove pessoas morreram em mais uma chacina.
A BBC Brasil foi o primeiro meio de comunicação a entrar nos dois presídios após os massacres. Na época, os presos disseram à reportagem que tomavam água da privada e viviam sob a ameaça de novas decapitações.

Chacotas do PCC

A delegada Emília Ferraz, que participou das investigações, disse nesta sexta-feira que piadas feitas por presos do PCC contra os detentos ligados à FDN e seus familiares também foi uma forte motivação para a chacina.
"Os alvos principais eram certos e já estavam marcados, enquanto outros bastavam ser os estupradores, presos vulneráveis ou apenas fazer parte do PCC", afirmou.
Compaj, em Manaus
Image captionDelegados disseram que chacotas de presos ligados ao PCC contra a FDN e seus familiares também motivaram mortes em massa | Foto: Felipe Souza
O delegado-geral adjunto do Amazonas, Ivo Martins, disse que o setor de inteligência da polícia já havia identificado a possibilidade de ocorrer rebeliões de grande porte desde o dia 15 de dezembro de 2016, mas que não sabiam quando e que tentaram evitá-las.
"Isso até hoje a gente recebe. A gente tinha conhecimento de que algo poderia acontecer, entretanto, não sabíamos a data correta. Essa situação é inerente a informes desse sentido", afirmou.

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