Dilma se diz 'indignada' e 'injustiçada' e acusa Temer de conspirar 'abertame

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Image captionDilma voltou a dizer que não cometeu nenhum crime
Em seu primeiro pronunciamento após a abertura do processo de impeachment ser aprovada pela Câmara dos Deputados, a presidente Dilma Rousseff afirmou várias vezes se sentir "injustiçada" e "indignada" com a decisão dos deputados e acusou o vice, Michel Temer (PMDB), de conspirar abertamente contra ela.
"Eu assisti a todas as intervenções (dos deputados na votação) e não vi nenhuma discussão sobre crime de responsabilidade", declarou.
Dilma voltou a dizer que não cometeu nenhum crime e que outros presidentes realizaram os mesmos atos que embasam o pedido de seu afastamento. "Me reservaram um tratamento que não se reservou a ninguém."
Afirmou estar com a "consciência tranquila", pois não cometeu "nenhuma irregularidade", disse que não é alvo de nenhuma acusação de enriquecimento ilícito e não tem contas no exterior, em referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Em seguida, acusou o peemedebista de aceitar o pedido de impeachment por "vingança" ao não ter conseguido votos do PT a seu favor no Conselho de Ética da Casa, que analisa um processo de cassação contra ele.
Segundo ela, o processo é uma "violência contra a democracia", calcado no "abuso de poder", e voltou a dizer que é vítima de um golpe travestido de legalidade. Acusou ainda a oposição de desestabilizar o país com as "pautas bombas" no Congresso.
"Não permitiram que eu tenha, nos últimos 15 meses, governado num clima de estabilidade política."
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Image captionA presidente criticou duramente seu vice, Michel Temer (PMDB)
A presidente criticou duramente Temer: "É extremamente estarrecedor que um vice-presidente, no exercício de seu mandato, conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que fizesse isso seria respeitada. Porque a sociedade humana não gosta de traidor. Porque cada um de nós sabe também a injustiça e a dor que se sente quando se vê a traição no ar".
Nesta segunda-feira, Cunha entregou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o processo de impeachment. Renan também se encontrou com Dilma.

Ditadura

Como tem ocorrido na maioria de seus pronunciamentos a respeito da crise política, Dilma voltou a citar sua experiência na ditadura militar, quando foi presa e torturada.
"Eu, no passado, enfrentei por convicção a ditadura. E agora eu também enfrento por convicção um golpe de Estado. Não é o golpe tradicional da minha juventude. Mas é o golpe da minha maturidade."
A presidente afirmou que o processo do qual é alvo "não é de impeachment". "Não se pode chamar de impeachment o que é uma tentativa de eleição indireta. Que se dá porque aqueles que querem chegar o poder não tem votos para tal."
Ela disse que é a democracia que está em jogo, e não o seu mandato.
"Estou tendo meus direitos torturados, mas não vão matar a esperança, porque eu sei que a democracia é sempre o lado certo da história. E isso quem me ensinou foi a história de meus país. Foram dezenas, centenas, milhares de pessoas que ao longo de minha vida lutaram pela democracia."
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Image captionSegundo Dilma, Eduardo Cunha agiu por "vingança"
"Vivemos tempos muitos difíceis, mas históricos", afirmou a presidente. "Por isso, quero dizer que a História nos observa. Eu tenho ânimo, força e coragem suficientes para enfrentar. Apesar do sentimento de tristeza, não vou me abater. Vou continuar lutando. Vou lutar como fiz toda minha vida. Aliás, eu comecei lutando numa época numa época que em que era muito difícil lutar, da ditadura aberta, que torturava e matava e tirava a vida de companheiros."
A petista ressaltou que não vai desistir de lutar e irá se defender junto ao Senado. "Ao contrário do que uns anunciaram, não começou o fim. Nós estamos no início da luta. Essa luta será longa e demorada", acrescentou.
"Não é por mim. Mas é pelos 54 milhões de votos. É uma luta de todos os brasileiros, mesmos os que me criticam, uma luta pela democracia."

'Ressentimento'

Após o pronunciamento, em que parecia estar abatida e com a voz embargada, Dilma mostrou bom humor ao responder às perguntas de jornalistas. Mas voltou a atacar seus adversários.
"Vi vários argumentos (dos deputados na votação do impeachment) – por Deus, pela família. Mas não vi nenhuma discussão a respeito de ressentimento", disse Dilma, respondendo questionamento a respeito da relação difícil que a presidente tem tido com o Congresso ao longo de seu governo. Ela é alvo de críticas por manter deputados à margem da condução política.
"(Mas) ressentimento não justifica impeachment."
A presidente disse que não descarta recorrer à Justiça (no caso, ao Supremo Tribunal Federal) para tentar barrar o processo de impeachment. "Não abriremos mão de nenhum instrumento para defender a democracia. É exercer em todas as dimensões o direito de defesa."
BBC

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