Negociação entre EUA e Irã para libertar presos durou 14 meses e quase falhou

  • O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, reúnem-se em Viena, na Áustria
    O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, reúnem-se em Viena, na Áustria
Há um ano, membros do governo Obama se reuniam em segredo com homólogos iranianos para tentar libertar americanos presos na República Islâmica. Finalmente,   outono, um acordo para a libertação dos prisioneiros parecia quase fechado.
Mas os iranianos chegaram à última sessão clandestina em uma suíte de hotel em Genebra com uma proposta totalmente nova, que insistia na libertação de dezenas de iranianos presos nos EUA, essencialmente voltando às exigências iniciais que tinham sido rejeitadas havia tempo.
Os americanos ficaram atônitos. "Já conversamos sobre isto", disse Brett McGurk, o principal negociador. Mas os iranianos foram intransigentes, segundo autoridades americanas informadas sobre a reunião. Alguma coisa no Irã havia mudado, na constante batalha interna no país sobre como lidar com os EUA. Ao que parece, alguém no poder em Teerã não queria um acordo.
E assim McGurk e sua equipe pegaram seus papéis e saíram, encerrando abruptamente a reunião. Os interlocutores de McGurk vinham do aparelho de segurança do Irã, um grupo que nunca, ou quase, havia se reunido com americanos, muito menos negociado com eles. Não tinham o comportamento viajado e comunicativo dos dois veteranos iranianos que haviam negociado o acordo nuclear, muito maior, com os EUA durante mais de dois anos.
Afinal, o acordo foi retomado pelo secretário de Estado, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif. Cinco americanos deixaram o Irã neste fim de semana, em troca de sete iranianos libertados pelos EUA.
Mas foram necessários 14 meses de negociações turbulentas, pontuadas por alto drama diplomático e diversos quase colapsos, paralelamente ao último ano das negociações nucleares. As negociações secretas foram prejudicadas pela bagagem de uma história amarga, enquanto os representantes iranianos criticavam seus homólogos americanos sobre problemas antigos, incluindo o golpe patrocinado pela CIA em 1953 e o apoio americano ao Iraque na guerra com o Irã nos anos 1980.
Os iranianos não foram os únicos que enfrentaram divisões em seu governo sobre um possível acordo. Em Washington, o governo Obama se envolveu em um vigoroso debate sobre se devia trocar os prisioneiros iranianos e, nesse caso, quais deles. A ministra da Justiça, Loretta E. Lynch, era contra qualquer acordo que equiparasse americanos inocentes presos para obter vantagem política com criminosos iranianos acusados ou condenados pela tradição jurídica ocidental.
Afinal, as autoridades disseramque o presidente Barack Obama decidiu que para poupar anos --ou mesmo a vida-- dos americanos em uma prisão iraniana ele faria o que chamou de "gesto único", ao libertar iranianos que tinham sido acusados ou condenados por violar sanções que, de toda maneira, ele iria suspender como parte do acordo nuclear.
Mesmo então, houve uma discussão de última hora na pista do aeroporto --que, segundo uma autoridade americana, "parecia uma cena de 'Argo' [filme de 2012]"--, quando o Irã se recusou a deixar que a mãe e a mulher de um prisioneiro, Jason Rezaian, do jornal "The Washington Post", partissem com ele.
Somente depois que Kerry deu um telefonema urgente ao ministro do Exterior iraniano o avião recebeu permissão para decolar com todos os passageiros.
Críticos republicanos, embora comemorassem a libertação dos americanos, questionaram seu preço. "Acho que é um precedente muito perigoso", disse o senador Ted Cruz, do Texas, um importante candidato presidencial republicano, no programa "Fox News Sunday". "O resultado disto é que todo mau elemento na terra ouviu: 'capture um americano'. Se você quiser terroristas fora da cadeia, capture um americano; o presidente Obama está disposto a negociar."
UOL
  • O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro do Exterior do Irã, Mohammad Javad Zarif, reúnem-se em Viena, na Áustria
Há um ano, membros do governo Obama se reuniam em segredo com homólogos iranianos para tentar libertar americanos presos na República Islâmica. Finalmente, no último outono, um acordo para a libertação dos prisioneiros parecia quase fechado.

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