Vítima de estupro coletivo no PI volta a falar e relembra o crime, diz pai

Pais abandonaram a lavoura e 'moram' no hospital para acompanhar a filha.
Suspeito de ser o mentor do crime foi preso, e 4 adolescentes, apreendidos.

Pai da garota agredida em Castelo fala sobre a saúde da filha (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Pai da garota de 17 anos agredida em Castelo fala sobre a saúde da filha (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
A única das quatro vítimas do estupro coletivo do Piauí que ainda está internada voltou a falar. A adolescente, de 17 anos, traz consigo memórias de um crime que abalou a cidade de Castelo do Piauí, a 190 km de Teresina. Os pais da jovem, que são agricultores, deixaram a lavoura e o gado de lado para acompanhar a recuperação da filha, que ainda está internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Ao longo de 21 dias, a jovem, que teve traumatismo craniano, passou por uma cirurgia na cabeça e outra para reconstrução das orelhas. Segundo o pai da adolescente, suas primeiras palavras foram sobre o crime e sobre a amiga Danielly Rodrigues, de 17 anos, que morreu 10 dias após ser violentada.
Ainda chocado com a brutalidade cometida contra a filha, o homem, de 59 anos, aceitou conversar com o G1. A pedido dele, o encontro aconteceu distante do hospital em que a adolescente permanece internada.
"Ela disse: 'Papai me carregaram pro mato'. Aí, eu neguei. Não queria que ela falasse sobre o assunto. Ela continuou: ‘Foi,  papai, os moleques me carregaram para o mato e quebraram minha cabeça. Eu tô operada da cabeça", disse o pai da garota, que não terá o nome revelado para preservar a sua identidade e a da filha.
Apesar da violência extrema que sofreu, a jovem estava se lembrando do dia 27 de maio, quando ela e mais três amigas, com idades entre 15 e 17 anos, foram amarradas, estupradas, espancadas e jogadas de um penhasco de mais de 10 metros de altura. Elas foram encontradas com vida, socorridas e levadas ao hospital. Uma delas morreu dez dias após o crime. Outras duas já tiveram alta médica.
Um homem de 40 anos foi preso sob suspeita de ser o mentor da barbárie. Quatro adolescentes, também entre 15 e 17 anos, que foram apreendidos por suspeita de participar do crime. Dois deles confessaram.
Morro do Garrote, local onde as meninas foram violentadas (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Morro do Garrote, local onde as meninas foram
violentadas (Foto: Patrícia Andrade/G1)
O pai conta que a filha também quis saber das amigas, principalmente de Danielly, que morreu após a tragédia.
"Não perguntou nem pelo irmão. A primeira pergunta foi: 'Cadê a Danielly?' Eu não tive coragem de contar a verdade e dizer que a menina Dani tinha morrido", disse.
Segundo o pai da adolescente internada, a jovem, que sonha em ser veterinária para ajudar a família a ter uma vida melhor, perguntou como e quando voltaria para a escola. Ela cursava o 3º ano do ensino médio e se preparava para fazer o Exame Nacional do Ensino médio (Enem).
Moradia no hospital
Para acompanhar a evolução da saúde da garota, os pais se revezam no HUT. "Desde o dia do crime, a minha esposa não saiu de perto da nossa filha. Ela quer acompanhar cada evolução do quadro clínico. Esta luta tem sido pesada, porque tivemos que deixar tudo para trás para ficar com nossa menina", contou.

Hospital de Urgência de Teresina   (Foto: Gilcilene Araújo/G1)A adolescente permanece internada no hospital de Urgência de Teresina (Foto: Gilcilene Araújo/G1)


O semblante do trabalhador de 59 anos é de cansaço pelas noites em claro ao lado do leito da filha. O trabalhador se mostra revoltado e sem esperança na Justiça, mas muito agradecido pela vida da filha.

“Apesar de toda tragédia, tenho que agradecer muito a Deus e depois aos médicos porque, da forma como vi minha filha, eu pensei que ela não iria sobreviver. A coisa era feia”.
Faixa com palavra luto foi anexada em frente a escola das garotas em Castelo (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Escola onde as vítimas estudavam permanece com
faixa de luto (Foto: Gilcilene Araújo/G1)
Reconhecimento após o crime
De forma tímida, o pai relembra o dia do crime e conta como conseguiu reconhecer a garota. “Ela estava toda deformada, tinha muito sangue na cara dela, o cabelo estava todo enrolado de sangue, que ninguém não conhecia ela não. A gente conhecia ela pelos pezinhos, pelas mãos”, lembra o homem bastante abalado.

O terror cometido contra as quatro adolescentes revoltou os moradores da cidade. Até hoje, o trabalhador não entende o porquê de tanta crueldade. Demonstrando dor e revolta, ele conta que as imagens da filha desfigurada não serão jamais esquecidas.
"Aquela imagem não vai apagar nunca. Porque uma pessoa que nunca fez mal a ninguém, nem a um bicho bruto, e uns elementos 'daquele' fazer um serviço que fizeram com ela. Eles não são gente. Eu pensei muita coisa, muita coisa ruim porque eu sou um cara muito forte. Eu não fiz maldade (vingança), essa noite mesmo, porque não encontrei as 'criatura'", afirmou.

Ao ser questionado sobre o que esperar do julgamento dos suspeitos, o pai da adolescente se mostra descrente na Justiça brasileira, mas confiante no julgamento divino. “A justiça dos homens pode até falhar, mas a de Deus, nunca”, falou.

Os suspeitos foram denunciados pelo Ministério Público, que pediu pena de 151 anos para o adulto e aplicação de medida socioedutiva, no Centro Educacional Masculino (CEM), para os garotos.
A mãe de um dos suspeitos disse sofrer com a atitude do filho. “Me olham com a cara ruim. Não sou culpada, não posso fazer nada. Eu pedi muito a Deus pelas meninas. Eu não sabia o que estava colocando no mundo”, desabafou. O pai da jovem que morreu sofre com a saudade. "Queria minha filha de volta", disse.penhasco com mais de 10 metros de altura

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