Le Monde chama Brasil de país do futebol e da corrupção
Em uma reportagem de duas páginas no suplemento esportivo de sábado (6),
o jornal francês Le Monde mostra que o Brasil é o epicentro do
escândalo de corrupção, fraude fiscal e lavagem de dinheiro que derrubou
Joseph Blatter e levou vários cartolas da Fifa para a cadeia.
Um ano depois da derrota
humilhante de 7 a 1 da seleção brasileira para os alemães na Copa do
Mundo, o Brasil está na origem "do maior escândalo de corrupção da
história moderna do esporte", afirma Le Monde. O correspondente do
jornal no Rio de Janeiro, Nicolas Bourcier, relata a sequência de fatos
dos últimos dias com a ajuda de frases de efeito utilizadas por Romário,
"um visionário" na avaliação do jornal, que "tem o mérito de nunca ter
mudado sua linha de conduta nos últimos anos, sempre denunciando os
dirigentes da Fifa e da CBF".
Le
Monde transcreve o momento em que Romário disse que "os suíços deram
uma batida no ninho de ratos", quando prenderam o ex-presidente da CBF
José Maria Marin e outros seis cartolas corruptos num hotel de luxo em
Zurique. E lembra que, em julho do ano passado, logo depois da derrota
histórica do Brasil na semifinal da Copa, Romário publicou um artigo
revoltado no qual dizia que "o futebol brasileiro vem se deteriorando há
anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento". "Ficam dos seus
camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas
contas", escreveu o senador do PSB de forma premonitória, segundo Le
Monde. O atual presidente da CBF, Marco Polo del Nero, é "um câncer do
futebol que deve ir embora", acrescentou recentemente o "Baixinho".
Diante
do "tsunami" provocado pela investigação americana na Fifa, as
autoridades brasileiras "acordaram subitamente", afirma o Monde. O
Congresso adotou a craição de uma CPI que estava em discussão havia dois
anos; o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que a
Polícia Federal vai "avaliar" as práticas de corrupção ligadas ao
escândalo da Fifa e colaborar no que for necessário com as autoridades
americanas. Finalmente, a Justiça brasileira abriu uma investigação
contra Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, suspeito de fraude fiscal
e lavagem de dinheiro na movimentação de R$ 464 milhões entre várias
contas bancárias no período de 2009 a 2012.
Le
Monde concorda com os comentaristas esportivos brasileiros, quando eles
dizem que a operação de limpeza na Fifa tem o efeito de um tsunami. Por
outro lado, o jornal compartilha da desconfiança de Romário de que é
preciso agir rápido porque "a história do futebol brasileiro é marcada
pelas relações ambíguas entre os cartolas e o poder", e várias
transações financeiras suspeitas nunca foram esclarecidas.
José Hawilla: no centro da rede de suborno
A
figura-chave da investigação americana é o empresário e ex-jornalista
José Hawilla, explica Le Monde. O correspondente dedica sete parágrafos
para descrever em detalhes as atividades de Hawilla à frente da Traffic,
empresa de marketing esportivo, e como ele conseguiu movimentar US$ 500
milhões por ano intermediando a venda de publicidade no interior dos
estádios e nos contratos de concessão dos direitos de transmissão dos
jogos da Fifa em canais de TV em toda a América Latina. "Foi a Traffic
que permitiu ao FBI desvendar a série de crimes financeiros ligados à
Fifa", destaca Le Monde.
Para
concluir, o jornal informa que uma das partes mais importantes da
investigação do FBI envolvendo os cartolas brasileiros ainda vai
emergir. A polícia americana suspeita que o contrato de patrocínio da
Nike com a seleção brasileira, negociado em 1996 em Nova York -
"provavelmente por Ricardo Teixeira em pessoa" e quatro responsáveis da
empresa de material esportivo - envolveu somas superiores aos US$ 160
milhões declarados oficialmente.
msn
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