Manifestações contra Dilma reúnem 1,5 milhão em todo o país




Cerca de 1,5 milhão de brasileiros protestaram neste domingo de forma pacífica em todo o país contra a presidente Dilma Rousseff, que enfrenta um complexo coquetel de tensão social, polícia e econômica derivado de grandes escândalos de corrupção como a Petrobras.

O maior protesto foi registrado em São Paulo, que reuniu um milhão de pessoas, segundo a polícia, vestidas em sua maioria com as cores da bandeira brasileira.
As manifestações também congregaram outro meio milhão de pessoas em 83 cidades, em protestos que igualaram em tamanho os realizados em junho de 2013, quando os brasileiros saíram espontaneamente às ruas para pedir o fim da corrupção e mais gastos com transportes, saúde e educação, no lugar de investimento do dinheiro público na Copa do Mundo.
Grande parte dos manifestantes exigiu, neste domingo, o "impeachment" da presidente, que começou seu mandato há menos de três meses depois de ser reeleita em outubro por uma pequena margem de 3%.
Muitos também pedem a intervenção militar para acabar com mais de 12 anos de governo de esquerda do PT, um paradoxo em um dia em que se comemora, justamente, os 30 anos da volta da democracia ao Brasil após a longa ditadura iniciada em 1964.
Era praticamente impossível caminhar entre a multidão que lotou os 4 km da Avenida Paulista.
"Hoje, somos milhares de pessoas que pedem o 'impeachment'. O governo está numa situação lamentável", declarou à AFP Rubens Nunes, assessor jurídico do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que organizaram o protesto pelas redes sociais.
Os protestos também são muito maiores do que aqueles convocados na sexta-feira em apoio à Dilma e à Petrobras por sindicatos e movimentos sociais ligados ao PT. Segundo os organizadores, 175 mil pessoas foram às ruas na sexta, e 33 mil, de acordo com a polícia.
Fartos da corrupção
Entre 45 mil e 50 mil pessoas também marcharam até o Congresso, em Brasília, entre eles o empresário de construção civil Alessandro Braga, de 37 anos, acompanhado da mulher e do filho pequeno em um carrinho.
"Apoio a saída de Dilma. Os maiores escândalos de corrupção ocorreram durante seu governo, e ela não disse nada", argumentou.
O cansaço com a corrupção revelada parece ser o denominador comum dos manifestantes, embora as demandas variem, indo de um golpe militar até a proteção do Aquífero Guarani.
"O Brasil está sendo destruído. Apenas as Forças Armadas podem salvar o país", afirmou a fisioterapeuta Ana Paula do Valle, de 52 anos.
Já avenida Atlântica, em Copacabana, foi tomada por cerca de 15 mil pessoas - segundo a polícia - aos gritos de "Fora Dilma, fora PT!" e, assim como aconteceu em muitas cidades, os manifestantes cantaram o Hino Nacional.
A produtora de TV, Rita Souza, de 50 anos, exibia um cartaz com as palavras "Intervenção militar já".
"Não estou pedindo um novo golpe de Estado, e sim uma intervenção constitucional para convocar novas eleições limpas, sem urna eletrônica, sem manipulação do PT. Que vão todos para Cuba!", declarou à AFP.
A popularidade de Dilma caiu 19 pontos em fevereiro, ficando em 23%, e a presidente sabe que a situação é complicada.
A economia cresceu muito pouco nos últimos quatro anos e está estagnada, há déficit de contas públicas, da balança comercial e inflação elevada (7,7%, em 12 meses), e o real se desvalorizou quase 30% em um ano.
O governo promove um ajuste fiscal para pôr a casa em ordem, mas isso não é aprovado por uma parte da esquerda.
A isso tudo se soma ainda a tensão política e a incerteza causadas pelo enorme esquema de corrupção envolvendo a Petrobras. Dezenas de políticos - incluindo 22 deputados, 13 senadores e dois governadores - são investigados por suposto envolvimento. A maioria pertence ao PT, ou a partidos que integram a coalizão do governo.
Dilma defendeu o direito de manifestação livre em um vídeo postado em seu Facebook. Há alguns dias, ela lembrou que não é possível realizar um terceiro turno das eleições, pois isso representaria uma "ruptura democrática".
Corrupção e impunidade
Ao final deste domingo, dois ministros de Dilma deram uma coletiva de imprensa e afirmaram que o governo anunciará nos próximos dias "um conjunto de medidas para combater a corrupção e a impunidade" e enviará o texto ao Congresso para sua aprovação.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declarou que o "atual sistema eleitoral anacrônico é a principal porta de entrada da corrupção" e que, por isso, é urgente uma reforma política que ponha fim ao financiamento empresarial das campanhas eleitorais.
"As manifestações contrárias ao governo são legítimas. O que não é legítimo é o golpismo, a violência, o 'impeachment' infundado que danifica a democracia", declarou, por sua vez, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto.
As manifestações tiveram o apoio do PSDB. Seu presidente, Aécio Neves, que perdeu a eleição para Dilma, não protestou nas ruas, mas alertou em um vídeo postado no Facebook que "o caminho está apenas começando".
"Não vamos nos dispersar!", proclamou.
"O governo deve descer do pedestal, convocar a sociedade civil, seus aliados, convocar o país para tentar uma espécie de pacto porque pode estar em jogo sua própria sobrevivência", disse à AFP o analista político brasiliense André César.
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