Um Conto "fabuloso"... do "Vendedor de Ilusão"




Um dia, no pequeno laboratório do qual era encarregado, – laboratório químico de aprovação das poucas matérias-primas que a empresa comprava, que demandava, portanto, pouco serviço sendo a razão de não ter muito que fazer, sentado à sua escrivaninha e vendo o seu auxiliar mexendo com as coisas aqui e ali, Toninho tentava se distrair pensando nisso e naquilo.
De repente, o telefone tocou e ele atendeu:
 Alô, pois não!
 É do laboratório?... – perguntou uma voz feminina soando agradável aos ouvidos.  
 É sim! – disse ele.
 Quem está falando?
Ele estranhou.
 Quer falar com quem?
 Com o encarregado, se possível! 
 Eu sou o encarregado! O que deseja?
 Como é seu nome?
 Antônio.
 Antônio, eu sou Sandra e trabalho no departamento de compras. Tenho aqui comigo uma requisição de compra e não estou entendendo o nome do produto, será que você não poderia fazer a gentileza de vir até aqui esclarecer pra mim?
Ele ficou pensando:
“Não está entendendo?... Será que a minha letra é tão ruim assim?...”
Pensou se questionando já achando até um desaforo, mas a amabilidade demonstrada com a forma afável de perguntar, não permitiu que ele retrucasse e aceitou ir respondendo:
 Tá bom! Eu vou! – disse ele. Daqui a pouco estou por aí e lhe procuro. 
 Obrigada, você é muito gentil! – disse a moça. 
Colocando o fone no gancho e sentindo prazer por ouvir a forma simpática de ser tratado, ele não pensou duas vezes já levantando para ir...
Ele não fazia nem ideia de quem era a tal Sandra, por isso não estava muito preocupado, entretanto, ao entrar no setor e perguntar por ela, achou que ir ter um “treco” já ficando com as pernas bambas, pois, apesar de não conhecê-la de nome a conhecia de vista, – de vê-la no restaurante durante o horário de almoço sempre junta de duas outras colegas.  
A moça lhe atraía tanto que ele até procurava, de propósito, sentar-se em uma das mesas de onde pudesse vê-la almoçando só para admirar a beleza dela; quando ela ficava de costas pra ele, era frustrante e o resto do dia acabava, pois a formosura dela destoava das demais.
Quando podia ele imaginar, que a bela jovem, de olhares discretos, atitudes comedidas, semblante angelical parecendo uma boneca de porcelana, de formosura estonteante, fosse querer falar com ele? Nunca!...
Dentro em pouco, já no setor, ele se aproximou e parou defronte à mesa da moça. Nesse instante, vendo ela de perto mexendo com suas coisas aqui e ali e entregando papéis a uma outra, ele se certificou de que beleza dela era muito mais do que imaginava. Era bela de deixar abestalhado...
Enquanto observava a moça fazendo as suas coisas, com seu espírito romântico, ele não deixou de notar sobre a mesa dela uma flor dentro de um copo com água.
Dali a pouco, ele foi atendido, esclareceu a dúvida dela e, sem mais, foi embora de volta ao laboratório.
Nos dias seguintes, não era seu costume ir ao setor de compras, todavia, agora mais confiante e querendo vê-la, a toda mão, virava e mexia lá estava ele por lá. E toda vez que ia, além de ver os sorrisos encantadores dela, via também sobre a mesa uma flor no copo com água, já achando que aquilo não combinava – que não era apropriado. Havia de ser – imaginava, algo com mais requinte, mais feminino e condigno. 
Pensou daqui, pensou dali e vendo sobre uma bancada do laboratório um balão volumétrico – desses de fundo bojudo e redondo com gargalo comprido – ele achou que era o ideal pra ela colocar sua flor ao invés de usar um copo.
Com isso em mente e certo que de iria agradá-la, lá foi ele levando o balão nas mãos para dar de presente a ela...
Ao chegar, ele parou defronte à mesa da moça causando espanto pela surpresa, pois sem dizer nada, tirou uma rosa do copo com água que lá havia, transferiu a água para o balão, colocou de volta a rosa no gargalo do balão e colocando-o sobre a mesa disse em voz afável e modo cativante:
 Trouxe de presente pra você! – falou aos sorrisos concluindo. Pra você colocar as suas flores...
A moça olhando para o balão com a flor, sorria de orelha à orelha. Daí, em segundos, exclamou deslumbrada.
 Nossa, que lindo?... – expressou a moça muito contente, e contente de dar satisfação agradeceu sem tirar os olhos do balão. Muito obrigada!
Vendo e ouvindo o encantamento dela, até inibido, ele foi saindo sem dizer palavra, muito contente e agradado por vê-la feliz...
Os dias passaram e num deles o telefone tocou.
 Pois não! – disse ele ao atender.
Do outro lado:
 Oi, é o Toninho?
Ele já estranhou:
“Ué! Quem será?... Nunca ouvi essa voz?...”
 Sim, sou eu quem fala. Quem está falando?
 Meu nome é Lucia, sou colega da Sandra.
 Ah, é?... Em que posso lhe ser útil?
 Sabe o que é?... Eu vi o presente que você deu pra ela e me deu desejo imenso de ganhar também. Você não daria pra mim?
Inocentemente, romântico como era, sem nenhuma malícia, ele respondeu o que era sua verdade.
 Desculpe, mas daquele tamanho não tenho mais, tenho maior, não sei se vai querer? – falou e ouviu risos, em seguida, a pessoa dizer:
 Ah, eu já desconfiava que o teu fosse maior.... Fiquei interessada. Que tamanho tem?
Ele já estranhou.
“Teu?... Que negócio de teu é esse?”
Pensou sem entender, ficou confuso, mas mesmo assim respondeu:  
 Ah, sei lá?... Uns 20 centímetros ou pouco mais.
 Nossa mãe... Tudo isso?... E pelo jeito deve ser grosso, não é?
Nessa altura, ele já havia percebido que a conversa induzia outras coisas, que não era pra ganhar presente coisa nenhuma, o que acabou aguçando o seu interesse para, quem saber, ter algo mais intenso com a moça que ele nem fazia ideia de quem fosse. Com isso, já sentindo certo prazer, ele continuou a conversa:
 Ah, não sei não! – disse ele já rindo. 
 É, mas pelo jeito deve ser sim! – afirmou a moça que pelo tom ria e continuou falando de forma insinuante. Você daria ele pra mim?
Também rindo e já pensando de forma marota ele respondeu: 
 Claro, por que não?
Respondeu ouvindo a moça exclamar entusiasmada:
 Ai, não vejo à hora!... E quando poderia ser?
Ainda aos risos, ele disse:  
 Não tenho ideia. Vou pensar quando.
 Então, pensa e me liga pra dizer quando podemos nos encontrar pra eu ganhar o teu presente. Já estou até ansiosa. Mas liga mesmo, hein!...
 Vou ligar, fique tranquila! – disse isso e na dúvida complementou. Mas quem é vocêafinal?
 Bom, como vou lhe explicar?... – disse e se calou dando a impressão de pensar, voltando em seguida. Estou sempre junto da Sandra e outra amiga quando vamos ao refeitório. Você deve ter-nos visto. Eu sou a única loira dentre as três.
 Ah, sim!... Agora sei quem é você! Pode deixar que eu ligo um dia desses. 
 Ah..., tá bom! Então, tchau! – disse ela e desligou.
A moça desligou e ele ficou pensando:
“E eu achei que estava com sorte. Que sorte é essa, afinal? Se isso é sorte, o que será o azar?” 
Pensou de forma irônica e zombando de si próprio, pois, mesmo tendo tido, durante a conversa, claro interesse e se iludindo já alimentando intenções lascivas e libidinosas, foi como receber um balde de água fria, fria não, gelada, esfriando completamente o calor do interesse quando ouviu ela se identificar dizendo quem era. Fazendo sentir a decepção implodir dentro do peito espedaçando o desejo em destroços de pura frustração, já que a loira que sempre via ao lado da moça que ele gostava, desiludia qualquer cristão, pois era uma loira baixinha parecendo um tonel de gorda, faladeira que só e feia de dar dó.
 “Minha nossa, que fria?... Veja você, o que me aparece?...” 
Pensou e ria-se; dali a pouco, voltou concluindo como se falasse com a moça:
“Minha filha, desculpe! Mas não vai passar disso! Vai ficar só nessa tua conversa maliciosa...”       
* * *
JR Viviani



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