sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

FRENTISTA - PROFISSÃO DE RISCO

A convite do poeta/escritor, Miguel Carqueija, para participar (como interação) em uma de suas poesias (Dedicatórias), ousei escrever esta homenagem em versos, embora não tão bem rimados, mas feitos com amor, muito empenho e dedicação. Espero que vocês apreciem a leitura.
Visitem a página do poeta e confiram seu belíssimo trabalho!

https://www.recantodasletras.com.br/poesiasdedicatorias/6808703
Muito grata!
Beijos com afetos e aromas já Natalino.

FRENTISTA - PROFISSÃO DE RISCO
Resultado de imagem para frentistas
1-A profissão de frentista
já se tornou secular,
surgiu lá nos anos idos
fui ver pra saber contar,
em 1912 as empresas
petrolíferas começaram a exportar.
2-
Gasolina e querosene
produtos de exportação,
criou-se a necessidade
de mais essa ocupação,
a figura do frentista caiu
como uma luva na mão.
3-
Ser frentista de profissão
tem seus riscos e dissabores,
os solventes que evaporam
atingem as vias superiores,
causando taquicardia, náusea
e na cabeça muitas dores.
4-
Nossos olhos e ouvidos
são sensíveis e delicados,
os venenos existentes
nos combustíveis são liberados,
causando danos terríveis
à saúde dos empregados.
5-
Basta ver com atenção
a imagem desse quadro,
para saber que o frentista
há muito está prejudicado,
a legislação não garante
os direitos respeitados.

Resultado de imagem para cuidados que frentistas devem ter
6-
A atividade é perigosa
pois os riscos são palpáveis,
de explosões pelo manuseio
de substâncias inflamáveis,
ficam expostos a assaltos
e consequências irreparáveis.
7-
Os produtos de limpeza
óleos e lubrificantes,
nos serviços de lavagem
dão toques "insinuantes"
mas podem causar aos frentistas
resultados causticantes.
8-
De uns tempos para cá
há mulheres que optaram,
por trabalhar como frentistas
seus espaços ocuparam,
para os patrões e clientes
o atendimento diversificaram.
9-
Não é segredo para ninguém
que mulher faz a diferença,
faltava isso nos postos
a indispensável presença,
de frentistas femininas
com capacidade imensa.

Imagem relacionada
10-
A frentista Francielli
fala bem da profissão,
não foi só pelo salário
também por admiração,
mas de homens e mulheres
sofre discriminação.

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11-
Às vezes surgem cantadas
de algum homem insensato,
mas é necessário ser sábia
e não dá bolas ao desacato,
com educação e traquejo corta-se
o mal pela raiz antes que vire boato.

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12-
Tem gente que não entende
o poder da inteligência,
tanto homens e mulheres
podem agir com competência,
produzir bem no trabalho
evitando a negligência.
13-
Mas às vezes os trabalhadores
são bastante penalizados,
quando ocorrem os assaltos
valores que foram levados,
são pagos pelos frentistas
dos salários descontados.
14-
Isso é desumanidade
uma injustiça horrível,
patrões que só veem os lucros
não têm coração sensível,
exploram os trabalhadores
uma realidade inadmissível.
15-
Lembrando dos que trabalham
sem luvas nem máscaras de proteção,
podem desenvolver um câncer
porque não tem prevenção,
a profissão tem vários riscos
inclusive de explosão.

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16-
A *Súmula 39 do TST determina
que todo frentista tem direito
ao adicional de periculosidade
"Cláusulas" que merecem respeito,
como aposentadoria especial
após 25 anos é um preceito.
17-
Tratemos bem os frentistas
sem nenhuma discriminação,
já bastam as adversidades
que traz essa profissão,
devemos recompensá-los
ao menos com a gratidão!
Autora:
Aparecida Ramos 
www.isisdumont.prosaeverso.net

"Que absurdo!!" Vereador do PSOL propõe homenagem a Kim Jong-un na Câmara do Rio

A atitude desagradou até mesmo membros do partido. "Nós do PSOL nunca defendemos o regime ditatorial da Coreia do Norte e a moção do vereador Brizola Neto não representa a opinião do nosso partido", disse a deputada Fernanda Melchinonna


Donald Trump e Kim Jong-un caminham sobre terrotório norte-coreano - Foto: Reprodução YouTube
O líder da República Popular da Coreia, Kim Jong-un, recebeu Moção de Louvor da Câmara Municipal do Rio, no dia 29 de novembro. A homenagem, concedida pelo vereador Leonel Brizola Neto (PSOL-RJ), ganhou repercussão nesta quinta-feira (12) e gerou polêmica nas redes. O PSOL foi parar no topo dos assuntos mais comentados do Twitter e até parlamentares da legenda criticaram a moção.
No texto apresentado pelo vereador, foi destacado o comando de Kim Jong-un e a reaproximação das Coreias. “Por todo esforço de seu povo e de seu Máximo Dirigente, Excelentíssimo Senhor Kim Jong-un, na luta pela reunificação da Coreia e a necessária busca da paz mundial”, diz o documento.
Segundo reportagem de Felipe Barini, de O Globo, que trouxe a moção à tona, o reconhecimento foi entregue ao norte-coreano em evento que homenageou também o embaixador da Coreia do Norte no Brasil, Kim Chol-hok. O ato foi organizado pelo Centro de Estudos da Política Songun do Brasil, que estuda as bases da doutrina que governa o país asiático.
Críticas
A homenagem gerou muitas críticas nas redes sociais e fez com que o nome do PSOL fosse parar no topo dos assuntos do momento do Twitter. Membros do partido também foram duros quanto à homenagem e disseram que a atitude de Brizola Neto não representa a legenda. A ex-deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS) e a deputada federal Fernanda Melchinnona (PSOL-RS) estão entre as que foram às redes condenar a Moção.
“Discordo frontalmente da homenagem feita por Brizola Neto ao ditador da Coreia do Norte. Não representa a maioria do PSOL. Só uma esquerda fora da realidade apoia esse regime. Ali não tem nada de comunismo nos termos pensados por Marx. Nossa luta é por socialismo e liberdade!”, disparou Genro. “Nós do PSOL nunca defendemos o regime ditatorial da Coreia do Norte e a moção do vereador Brizola Neto não representa a opinião do nosso partido. Defendemos o socialismo e a liberdade e nenhum dos dois existe no país de Kim Jong-Un!”, acrescentou Melchionna.
Em nota enviada à Fórum, o vereador Brizola Neto afirma que não se pode isolar e discriminar a Coreia do Norte e diz que a moção “foi motivada pelas conversas de paz estabelecidas na Península ao longo do ano de 2019”. “A unificação e desnuclearização da região é de interesse global. […] Com base na autodeterminação dos povos, é vital que tenhamos boas relações com Pyongyang e que possamos usar o histórico de paz e concórdia que o Brasil acumulou através dos tempos para contribuir nesse processo de pacificação”, disse.
Confira a nota na íntegra:
A Moção concedida ao embaixador da República Popular Democrática da Coreia foi motivada pelas conversas de paz estabelecidas na Península ao longo do ano de 2019.
A unificação e desnuclearização da região é de interesse global. Não faz bem para o mundo isolar e discriminar a RPDC, pelo contrário, com base na autodeterminação dos povos, é vital que tenhamos boas relações com Pyongyang e que possamos usar o histórico de paz e concórdia que o Brasil acumulou através dos tempos para contribuir nesse processo de pacificação.
No momento em que o Itamaraty se encontra acéfalo, os poderes legislativos, municipal e estadual, ganham grande importância na pasta de Relações Internacionais, principalmente a cidade do Rio de Janeiro que está sempre de braços abertos para todos.
Não nos surpreende a deturpação provocada pela matéria do jornal O Globo, vinte dias depois da entrega da Moção, insinuando que defendemos violações de direitos humanos. Pelo contrário, a tradição trabalhista e brizolista, na qual faço parte, preza pela defesa intransigente dos Direitos Humanos, diferente da Globo, que sempre esteve ao lado de regimes ditatoriais e de interesses imperialistas que nunca respeitaram a autodeterminação dos povos e a democracia.

Vereza detona “Porta dos Fundos” por “Jesus homossexual de esquerda” e ataque a fé cristã em “especial de Natal” (veja o vídeo)



Vereza detona “Porta dos Fundos” por “Jesus homossexual de esquerda” e ataque a fé cristã em “especial de Natal” (veja o vídeo)
As peças de "humor" do Porta dos Fundos são sempre verdadeiros ataques à fé cristã.
A nefasta produção provocou a ira do inigualável ator e "livre pensador" Carlos Vereza.
Num texto irretocável ele coloca a "Porta dos Fundos" em seu devido lugar.
https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/17665/vereza-detona-porta-dos-fundos-por-jesus-homossexual-de-esquerda-e-ataque-a-fe-crista-em-especial-de-natal-veja-o-video


Hackers: novas mensagens comprometem militares, ministros e até Bolsonaro

Invasores ainda afirmam que há um petista envolvido no ataque aos 

celulares dos integrantes da Lava-Jato


Por Thiago BronzattoRobson Bonin - Atualizado em 13 dez 2019, 07h00 - Publicado em 13 dez 2019, 06h00AMEAÇA - Preso depois de invadir os celulares dos procuradores da Lava-Jato, hacker diz que o pior ainda está por vir.
Na tarde do último dia 6, um início de tumulto quebrou o silêncio no 6º andar do Fórum Professor Júlio Mirabete, onde funciona o Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Numa pequena sala, detentos da penitenciária da Papuda aguardavam para depor. De repente, um deles se queixa de que teve o braço torcido por um dos guardas. O advogado do criminoso se aproxima e, aos gritos, exige providências. Começa um bate-boca. De bermuda, camiseta e chinelos brancos, o pivô da confusão era Walter Delgatti Neto, o chefe da quadrilha de hackers que invadiu telefones celulares, copiou e divulgou mensagens do então juiz Sergio Moro e de procuradores da República, desencadeando uma crise que pôs em xeque uma das mais importantes operações de combate à corrupção já realizadas no Brasil. O hacker havia sido intimado para prestar depoimento num processo que apura o envolvimento dele num caso de estelionato. A troca de insultos durou cerca de quinze minutos. Apesar dos protestos, ele permaneceu algemado com as mãos para trás, observado de perto por três agentes fortemente armados. Foi nessa condição que ele concedeu uma entrevista exclusiva a VEJA, a primeira cara a cara desde que foi preso, há 136 dias.
EXECUÇÃO – Braga Netto: a palavra de um criminoso contra a de um general de excelente reputação
EXECUÇÃO – Braga Netto: a palavra de um criminoso contra a de um general de excelente reputação Fernando Frazão/Agência Brasil
“Vi um vídeo de um homem sendo executado. O rapaz matou, gravou e enviou a imagem para o general”
Foram vinte minutos de conversa. Mesmo depois do entrevero com os guardas, Delgatti (também conhecido como Vermelho) parecia tranquilo. Na Papuda, ele havia comentado com colegas de cela que o material já divulgado era “uma pequena amostra” do que ainda estaria por vir. E o que estaria por vir teria potencial muito maior de causar estragos porque também envolveria autoridades fora do universo da Lava-­Jato, incluindo o presidente da República e ministros do Supremo Tribunal Federal. O hacker de 30 anos alternava várias vezes o tom de voz durante a entrevista, dependendo da pergunta que lhe era feita. Às vezes, sussurrava e se inclinava para a frente como se quisesse impedir que alguém ouvisse as respostas. Em outros momentos, não escondia a empolgação, principalmente quando falava sobre os procuradores da Lava-­Jato. E assim surgiu a primeira “amostra” sobre o “que ainda está por vir”. Delgatti contou que o grupo invadiu o celular do general Walter Braga Netto, o atual chefe do Estado-Maior do Exército. Nesse momento, ele muda o tom. Dá ares de gravidade ao que vai revelar e diz que entre as mensagens captadas no celular do general uma provaria a ligação do Exército com um assassinato.
FUTRICA – Cármen Lúcia: conversas mostrariam parcialidade do Supremo
FUTRICA – Cármen Lúcia: conversas mostrariam parcialidade do Supremo Ueslei Marcelino/Reuters
“A ministra estava num grupo falando da morte do neto do Lula”
Braga Netto comandou o processo de intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro de fevereiro até dezembro de 2018. Nesse período, de acordo com o hacker, o general recebeu um vídeo de um de seus comandados com o relato da execução sumária de uma pessoa. “Assim que eu abri, vi o homem sendo executado”, contou o hacker. Poderia ser uma dessas imagens de crime que circulam pelas redes sociais? Delgatti afirma que não. As imagens mostrariam que foi o próprio executor quem enviou a mensagem ao general, que teria reagido de maneira singular, repreendendo o subordinado não pela morte, mas por usar o celular durante a operação. “O rapaz matou, gravou e enviou a imagem ao general. Ele xingou. Abre aspas: ‘Usando o celular no combate. Está ficando louco?’. Foi isso que eu vi”, garantiu. Braga Netto tem um currículo repleto de condecorações e uma carreira exemplar. Ele já foi adido militar nos Estados Unidos e coordenador de segurança durante a Olimpíada do Rio. Logo depois, foi nomeado interventor no estado. Nesse período, houve grandes operações de combate ao tráfico, e o número de mortes em ações policiais cresceu. Procurado, o Exército informou que o “assunto é de inteiro desconhecimento”. O vídeo, de acordo com o hacker, já foi entregue à Polícia Federal. Por enquanto, é a palavra de um criminoso confesso contra a de um militar de excelente reputação.
DISTORÇÃO – Paludo: as conversas eram sobre valores desviados
DISTORÇÃO – Paludo: as conversas eram sobre valores desviados ./.
“Tem um áudio em que o procurador está aceitando dinheiro do Renato Duque”
Na entrevista, Delgatti confirma que bisbilhotou as conversas de ao menos um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Para quê? Segundo ele, para mostrar quanto a Corte era parcial nas decisões que envolviam a Operação Lava-Jato. “Tive acesso às mensagens da Cármen Lúcia. A ministra estava num grupo falando sobre a morte do neto do Lula”, diz o hacker, que considerou o comentário impróprio. Procurada, a ministra não se manifestou. A PF já apurou que, antes de estourar o escândalo, Delgatti entrou em contato com a ex-­deputada Manuela d’Ávila, do PCdoB, ofereceu as mensagens e disse que o material não só comprometeria a ministra Cármen Lúcia como colocaria em liberdade o ex-presidente Lula. “Procurei a deputada porque sabia que ela era contra a Lava-Jato devido à ideologia”, conta hacker.
ATAQUE – Bolsonaro e os filhos também foram alvos
ATAQUE – Bolsonaro e os filhos também foram alvos Roberto Jayme/Ascom/TSE
“Eu tive acesso ao Telegram deles. Fiz campanha para o Bolsonaro e me arrependi depois”
A Polícia Federal descobriu que pelo menos oitenta figuras públicas foram alvo dos ataques da quadrilha. Nesse rol estão incluídos o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. O hacker afirma que as invasões de fato ocorreram. “Tive acesso ao Telegram deles”, diz. Dois celulares do presidente foram alvo de ataques, mas, como Bolsonaro não utilizava o aplicativo, não havia nenhum conteúdo disponível. No caso dos filhos Carlos, o Zero Dois, e Eduardo, o Zero Três, o hacker procurou Manuela d’Ávila e disse que havia colhido provas de ações para impulsionar mensagens de WhatsApp em favor de Bolsonaro durante a campanha presidencial. Para mostrar que não estava blefando, fotografou a tela do celular com as contas supostamente usadas por Carlos e Eduardo e enviou as imagens à ex-deputada. Segundo ele, o objetivo não era prejudicar o presidente — ao menos não naquela época. “Fiz campanha para o Bolsonaro e me arrependi depois”, disse ele a VEJA.
PARCERIA – Manuela d’Ávila e a promessa de tirar Lula da prisão
PARCERIA – Manuela d’Ávila e a promessa de tirar Lula da prisão Cristiano Mariz/VEJA
“Eu procurei a deputada porque sabia que ela era contra a Lava-Jato devido à ideologia”
Se for condenado, Walter Delgatti poderá ficar preso pelos próximos vinte anos. Mas Vermelho parece não se preocupar muito com isso. Conta que a onda de invasões virtuais começou com um sentimento de vingança. A primeira vítima foi um promotor de Araraquara, sua terra natal, que o denunciou pelos crimes de tráfico de drogas e falsificação de documento. “Fiquei cinco meses e vinte dias preso em regime fechado sem ter feito nada”, lembra ele. “Fiz essa invasão do promotor que me prejudicou e consegui muita coisa. Depois disso, fiz outra invasão, outra e mais outra, até que cheguei na Lava-Jato. O meu azar foi o quê? Foi o Deltan (Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba) não apagar mensagens dele”, diz, com uma pitada de ironia. Sorrindo, emenda outra acusação, dessa vez contra o procurador Januário Paludo, outro membro da força-tarefa: “Tem um áudio em que o procurador está aceitando dinheiro do Renato Duque. A Procuradoria iniciou inquérito contra ele, né?”, pergunta, mostrando que está acompanhando da prisão o noticiário. No dia anterior, Paludo havia se tornado alvo de uma investigação após ser mencionado em mensagens de um doleiro como suposto beneficiário de propinas. Ex-diretor da Petrobras, Duque tentou fazer um acordo de delação. Em negociações assim, é comum que as partes combinem um valor que o criminoso deve ressarcir aos cofres públicos. Era sobre isso que o procurador falava? Delgatti, de novo, garante que não. “Naquela época, eu estava tratando da repatriação de valores que o Duque mantinha no exterior”, explica Paludo. O Ministério Público Federal do Paraná divulgou uma nota em que reitera a “plena confiança no trabalho do procurador”.

REVIRAVOLTA – Palocci: um dos criminosos teria ligações com o ex-ministro
REVIRAVOLTA – Palocci: um dos criminosos teria ligações com o ex-ministro ./.
Nos próximos dias, a Polícia Federal deverá apresentar o relatório final sobre o caso. Já foram colhidas evidências de que o grupo de hackers obtinha informações privadas de pessoas e as usava para aplicar golpes financeiros. O próprio Delgatti já foi condenado por estelionato e tráfico. O que se tenta descobrir agora é se por trás das invasões dos celulares de autoridades havia outro tipo de interesse, um financiador ou alguém responsável pelo planejamento do crime. Percorrendo essa trilha, os investigadores se concentram há duas semanas nas informações prestadas por Luiz Henrique Molição, um dos integrantes da quadrilha, que firmou um acordo de delação premiada. Em troca da liberdade, o hacker começou a contar o que sabe. Ele disse à polícia, por exemplo, que Delgatti sempre se referia a um tal “professor” como alguém superior que estabelecia a estratégia de divulgação das mensagens roubadas. Também entregou o telefone que ele usava para manter contato com os comparsas e apresentou arquivos inéditos de diálogos que estavam escondidos. “O Luiz sabe sobre a história do Braga Netto. O Bolsonaro também era com ele, porque ele é de esquerda”, explicou Delgatti. “Mas esse negócio de ‘professor’ não existe”, garantiu, antes de encerrar a entrevista.
DELAÇÃO – Molição: revelação de que um militante do PT está envolvido na invasão
DELAÇÃO – Molição: revelação de que um militante do PT está envolvido na invasão ./.
Molição ficou preso durante 76 dias. A função dele no grupo era intermediar as negociações entre Delgatti e o jornalista americano Glenn Greenwald, editor do site The Intercept Brasil, que recebeu o pacote de mensagens da Lava-­Jato. Em seu primeiro depoimento, o hacker disse que Delgatti tentou vender ao jornalista as conversas surrupiadas, mas que não teve sucesso. No acordo de colaboração, forneceu uma pista que pode levar a uma reviravolta no caso. Ele entregou aos investigadores o nome de três novos personagens que estariam envolvidos na invasão dos celulares e na divulgação das mensagens da Lava-­Jato. Um deles seria um militante do PT ligado à família do ex-ministro Antonio Palocci.
 Veja.com

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O Protocolo de Auschwitz: a fuga que revelou ao mundo os horrores do campo de extermínio

Cerca do perímetro do campo de extermínio de AuschwitzRudolf Vrba e Alfred Wetzler ficaram três dias escondidos perto da cerca elétrica do campo de extermínio antes de escapar


Parte deste artigo é uma adaptação do documentário da BBC '1944: Devemos bombardear Auschwitz?', com diálogos recriados com base em documentos históricos.
Em abril de 1944, pouco mais de um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial, dois prisioneiros se esconderam perto da cerca elétrica do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia.
Era quase impossível escapar de lá. Muitos tentaram, mas foram capturados, torturados e assassinados.
Rudolf Vrba e Alfred Wetzler conseguiram, no entanto, passar despercebidos pela SS, braço paramilitar do partido nazista alemão, ao se esconderem entre troncos de árvores e cercarem a área com tabaco encharcado em gasolina para evitar que fossem farejados pelos cães.
Eles ficaram ali por três dias, até que os guardas se cansaram de procurá-los e, em 10 de abril de 1944, escaparam para alertar o mundo que o campo de Auschwitz-Birkenau era uma máquina de matar do nazismo.
O testemunho deles sobre o extermínio em massa de judeus europeus levaria a um dos dilemas morais mais complexos do século 20.

Grande segredo

Vrba e Wetzler conseguiram atravessar a Polônia ocupada pelos nazistas até chegarem à cidade eslovaca de Zilina.
A Eslováquia, país onde ambos nasceram, estava alinhada com a Alemanha nazista e foi a primeira nação a deportar voluntariamente seus judeus.
Eles estavam desesperados para colocar em prática a missão para a qual há tanto tempo se preparavam, coletando e memorizando a maior quantidade possível de informações detalhadas sobre o campo de extermínio.
Até então, ninguém tinha uma descrição convincente ou clara do que estava acontecendo em Auschwitz. O extermínio dos judeus era conduzido sob enorme sigilo.
Auschwitz
Image captionNão estava claro o que acontecia em Auschwitz, mas sempre houve rumores
Quando entraram em contato com o Conselho Judaico em Zilina, na Eslováquia, para oferecer um relato detalhado como testemunha ocular, foram tratados com cautela.
Os líderes da organização levaram os livros em que haviam registrado os nomes e as datas da deportação dos judeus da Eslováquia.
Pergunta após pergunta, resposta após resposta, o mito de que haviam sido levados para campos de reassentamento - no qual muita gente no país acreditava na época - foi desmoronando, e eles perceberam que aqueles livros eram praticamente um registro de mortos.
Oskar Krasnansky, da resistência judaica, foi enviado para conversar com eles.
Ele se apresentou e perguntou logo de cara: "Como vou saber que vocês não estão fantasiando e que não estou perdendo meu tempo?"
Vrba mostrou a ele o antebraço; e Wetzler, o peito.
Ator mostrando a marca de identificação da Vrba
Image captionA identificação dos prisioneiros nos campos de concentração nazistas era feita principalmente com números - inicialmente marcados em seus uniformes, mas depois tatuados na pele
Eles estavam marcados com os números 44070 e 29162, respectivamente.
Krasnansky não entendeu.
Krasnansky: Por que você está tatuado no braço, e você, no peito?
Wetzler:As tatuagens no peito eram feitas com uma grande brutalidade. Muita gente desmaiava.
Krasnansky: Foi por isso que começaram a tatuar as pessoas no braço?
Wetzler: Não, fizeram isso porque as tatuagens no peito desapareciam muito rápido.
Krasnansky: Vocês precisam me contar tudo. Todos os detalhes que sabem sobre Auschwitz-Birkenau.
A partir desse momento, cada um teve que dar seu depoimento individualmente, no intuito de comprovar se a versão era a mesma, e ser submetido a um rigoroso interrogatório sobre suas revelações.

Inimaginável

Hoje em dia é muito fácil fechar os olhos e imaginar um campo de extermínio nazista. Já vimos em fotos, filmes, documentários. Muita gente até visitou esses lugares.
Mas era realmente complexo entender exatamente o que estava acontecendo com as informações desencontradas que tinham aparecido até então.
AuschwitzDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionHá 75 anos, ninguém imaginava o que acontecia atrás deste portão
Auschwitz não era um nome familiar no início de 1944.
As pessoas sabiam que os judeus estavam sendo levados para a Polônia. A resistência polonesa tinha conseguido obter algumas informações sobre o campo, mas, em geral, elas eram fragmentadas e, às vezes, contraditórias.
O interrogatório de Vrba e Wetzler foi meticulosamente registrado, como em um tribunal de justiça.
O profissionalismo com que Krasnansky conduziu todo o processo indica que ele sabia que as informações que estava obtendo eram decisivas.
De fato, o interrogatório foi feito com a ideia de registrar uma acusação legal.
KrasnanskyComo você escapou?
VrbaNos metemos na floresta e caminhamos sozinhos à noite.
Krasnansky: Quanto tempo você ficou em Auschwitz?
VrbaCheguei em 30 de junho de 1942.
KrasnanskyOuvimos rumores de que judeus são assinados em massa em câmaras de gás e eletrocutados.
Vrba: O arame do perímetro é eletrificado. Há câmaras de gás.
KrasnanskyProssiga
VrbaQuatro câmaras de gás com crematórios para incinerar (os corpos). O primeiro crematório foi inaugurado em março de 1943, quando convidados importantes de Berlim chegaram para conhecer as novas instalações. Naquele dia, viram 8 mil judeus da Cracóvia sendo asfixiados e queimados. Ficaram muito satisfeitos com o resultado.
KrasnanskyComo você sabe tudo isso?
VrbaTrabalhei como registrador na parte Birkenau do campo. Minhas tarefas diárias incluíam registrar as pessoas que sobreviviam à viagem de trem e que, ao chegar a Auschwitz, não haviam sido selecionadas para o gás.
Também obtive informações sobre a operação precisa das câmaras de gás e crematórios com um dos Sonderkommando.
KrasnanskySonderkommando?
VrbaVocê realmente não sabe de nada, né?
Os prisioneiros de Auschwitz-Birkenau que tinham mais conhecimento sobre o que estava acontecendo nas câmaras de gás e nos crematórios eram os membros do chamado Sonderkommando (comandos especiais).
Em geral, eram judeus obrigados pela SS a ajudar na remoção dos corpos das vítimas das câmaras de gás, sob ameaça de morte.
Campo de concentración de Auschwitz: vista de Birkenau — foto tirada por guarda da SSDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCampo de concentración de Auschwitz: vista de Birkenau — foto tirada por guarda da SS
Auschwitz era um lugar enorme, que se desenvolveu ao longo do tempo e de maneiras diferentes.
O primeiro campo, Auschwitz I, foi aberto em 1940. Mais tarde, eles acrescentaram Birkenau, a alguns quilômetros de distância, onde ficavam as câmaras de gás e o crematório.
As informações que Vrba e Wetzler forneceram — como, por exemplo, a arquitetura do campo, os métodos de extermínio em massa e até nomes de prisioneiros — eram surpreendentemente precisas.
Vrba: No fim de janeiro, uma grande leva de judeus franceses e holandeses foi enviada a Auschwitz. Mas apenas uma pequena parcela deles chegou ao campo.
Krasnansky: O que aconteceu com o resto deles?
Vrba: Foram diretamente dos trens para as câmaras de gás.
Krasnansky: Você mesmo viu essas seleções?
Vrba: Sim. Eu pertencia a um grupo de trabalho que me levou a um lugar chamado "a rampa", onde os trens entravam, às vezes um por dia, às vezes cinco, às vezes a noite toda.
Meu trabalho era cuidar dos pertences dos judeus que eram selecionados para o gás e coletar os corpos dos vagões de gado em que eram transportados.
Mulheres, crianças, idosos, pessoas que eles não consideravam aptas, eram enviadas diretamente para as câmaras de gás. Os mais aptos eram separados e deixados vivos para trabalhar.
Krasnansky: Quantos?
Vrba: Variava. Uma pequena porcentagem, cerca de 5% das mulheres e 10% dos homens [eram salvos das câmaras de gás].
Krasnansky: Tudo isso era feito à força?
Vrba: Às vezes, mas geralmente não. Quero enfatizar que as pessoas que chegavam não tinham ideia de onde estavam. Desciam do trem sem saber o que havia acontecido com aqueles que chegaram algumas horas antes.
KrasnanskyComo a SS lidava com essas chegadas?
VrbaJá te disse. As pessoas eram enviadas para o gás em Birkenau. Algumas (chegavam) assustadas e desorientadas. Outras, quase aliviadas, dependendo de como a SS as recebia.
Às vezes, eles eram duros, usavam cacetetes, cães, gritavam. Outras vezes, os recebiam dizendo: "Que bom que chegaram! Lamentamos que não tenha sido muito confortável. As coisas vão mudar agora".
Foto tirada pelos nazistas mostra uma leva de prisioneiros levados ao campo de concentração de AuschwitzDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionFoto tirada pelos nazistas mostra uma leva de prisioneiros levados ao campo de concentração de Auschwitz
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'O que está por vir'

Vrba e Wetzler estavam descrevendo em detalhes um genocídio.
Estavam implorando para as pessoas acreditarem em algo inacreditável.
O auge do depoimento foi quando revelaram um dos planos nazistas para Auschwitz-Birkenau.
VrbaEles estão se preparando para o extermínio de judeus húngaros.
KrasnanskyComo você sabe disso?
VrbaÉ por isso que eles construíram novos crematórios e ampliaram a rampa.
KrasnanskyComo você sabe que a intenção é matar os judeus húngaros?
VrbaPela SS. Eles falam isso.
Krasnansky: Com você?
VrbaNão, eu sou lixo. Eles conversam um com o outro. Escutei mais de uma vez.
KrasnanskyTem certeza que você ouviu isso? Preciso perguntar: você tem certeza?
VrbaOuvi isso mais de uma vez. Por isso sabia que precisava escapar. Para alertar as pessoas sobre o que está por vir.
A Hungria tinha uma das maiores populações de judeus da Europa, entre 750 mil e 800 mil judeus.
Eles foram submetidos a leis antijudaicas, o antissemitismo era generalizado entre a população, e milhares de judeus húngaros morreram após serem forçados a servir em batalhões de trabalho na frente oriental da guerra.
O governo húngaro havia resistido, no entanto, às exigências nazistas de entregar sua população de judeus. Mas, em março de 1944, as tropas alemãs invadiram o país.
O recado urgente que Vrba e Wetzler queriam dar aos judeus na Hungria era que não deveriam se deixar enganar pelas promessas nazistas.
"Quase um milhão de húngaros vão morrer", destacou Vrba.
"Auschwitz está pronto para a chegada deles. Você precisa informá-los imediatamente!"

O horror escrito à mão

Vrba e Wetzler sabiam que precisavam convencer o mundo de que o que haviam vivido estava realmente acontecendo.
Foi ideia deles redigir um relatório que pudesse ser distribuído e exibido como evidência.
Eles queriam incluir todas as provas possíveis, incluindo desenhos.
Esboço de Vrba e Wetzler
Image captionUm dos esboços feitos por Vrba e Wetzler, mostrando a localização aproximada de Auschwitz-Birkenau, suas câmaras de gás e crematório
O testemunho comovente deles se tornou um relatório detalhado por escrito, sem nenhum indício de emoção: os números e as descrições eram mais que suficientes para retratar o horror.
O relatório Vrba-Wetzler, também conhecido como Protocolo de Auschwitz, foi originalmente escrito à mão e em eslovaco.
Krasnansky datilografou o documento e o traduziu simultaneamente para o alemão. A tradução para o inglês foi baseada nessa versão.
Os nazistas haviam mantido seu programa de extermínio em sigilo, para evitar a resistência e a interrupção dos trens.
Mas ele já não era mais segredo.
Graças ao documento, ativistas judeus na Eslováquia tomaram conhecimento dos planos nazistas para os judeus húngaros.
A informação precisava, no entanto, chegar mais longe. E isso não era fácil.
A última coisa que a Alemanha queria era que essa informação fosse divulgada.
Desenho do crematório, incluído no relatório Vrba-Wetzler
Image captionDesenho do crematório, incluído no relatório Vrba-Wetzler
Em 27 de abril de 1944, o alerta de Vrba se tornou realidade: os primeiros 4 mil judeus foram enviados de trem da Hungria para Auschwitz.
Na primeira semana de maio de 1944, o Protocolo chegou às mãos de Michael Weissmandl, que trabalhava secretamente para a resistência judaica na capital eslovaca.
Weissmandl começou a enviar o relatório para todos os lugares em que conseguia pensar: para a Agência Judaica em Jerusalém, para Londres, com alguma sorte para os Estados Unidos.

Na linha de frente de guerra

Na primavera de 1944, o mundo tinha pouco conhecimento sobre o que estava acontecendo com os judeus da Hungria.
A atenção estava voltada para outro lugar: a guerra havia atingido um momento crítico.
Os Estados Unidos e o Reino Unido estavam focados nos preparativos para o Dia D, considerado decisivo para o fim da guerra.
O país americano estava em meio a um esforço hercúleo na Guerra do Pacífico. E sabia que, à medida que se aproximava do Japão, tudo seria cada vez mais difícil, uma vez que os japoneses eram conhecidos como combatentes impetuosos.
Do outro lado da Europa, as tropas soviéticas estavam a todo vapor - Josef Stalin destruiu basicamente todo o exército alemão.

O grande dilema moral

Enquanto os Aliados se concentravam na linha de frente de batalha, o Protocolo ganhava força.
O rabino Weissmandl conseguiu enviar o documento e acrescentou uma anotação dramática, que transformou a questão sobre o que fazer com o campo de extermínio em um dos grandes dilemas morais do século 20.
Ele solicitava veementemente que as forças aéreas aliadas bombardeassem Auschwitz. Não foi o único - mas, sem dúvida, o primeiro a fazer isso.
AuschwitzDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDilema: arriscar matar prisioneiros inocentes para salvar outras pessoas do mesmo destino?
O documento enviado por Weissmandl chegou ao Conselho para Refugiados de Guerra na Suíça, um país neutro.
O Conselho para Refugiados de Guerra foi criado pelo ex-presidente americano Franklin Roosevelt no início de 1944 e era a única organização no mundo que tinha a tarefa específica de resgatar judeus.
A solicitação era assustadora, uma vez que o pedido era para bombardear um lugar em que seu próprio povo estava preso.
Ainda assim, outras vozes na Eslováquia e na Hungria começaram a encorajar que partes vitais das linhas ferroviárias fossem bombardeadas.
Também pediram que os campos de Auschwitz e Birkenau, especialmente as câmaras de gás e os crematórios - reconhecidos por suas altas chaminés - fossem alvo de bombardeios aéreos.
A lógica era que, para deter a matança, era preciso destruir o instrumento que usavam para executá-la.
Mas isso significava bombardear civis que deviam ser resgatados.
Era um salto moral para o desconhecido.
Como a Suíça estava completamente cercada por territórios nazistas, a Junta de Refugiados só conseguiu enviar um resumo do Protocolo para seu escritório em Washington, junto a um pedido para bombardear Auschwitz.
Com o documento, um telegrama dizia: "Assim que possível, vocês receberão tudo".

Missão: exterminar seres humanos

Enquanto isso, Auschwitz-Birkenau chegava ao seu ápice.
Fotografia sem data tirada secretamente pela Organização de Resistência clandestina no campo de Auschwitz-Birkenau, mostrando como os prisioneiros foram forçados a incinerar os cadáveres do lado de fora quando os crematórios estavam lotadosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionFotografia sem data tirada secretamente pela Organização de Resistência clandestina no campo de Auschwitz-Birkenau, mostrando como os prisioneiros foram forçados a incinerar os cadáveres do lado de fora quando os crematórios estavam lotados
Antes do verão de 1944, Auschwitz não era o mais mortal dos campos de extermínio nazistas.
Eles haviam matado mais judeus em Treblinka (entre 750 mil e 900 mil em 17 meses) e em Belzec (600 mil em menos de 10 meses).
Em 1943, os nazistas fecharam os dois campos. A missão de ambos, o extermínio de judeus poloneses, havia sido concluída.
Mas durante o verão de 1944, Auschwitz superou todos os outros campos de extermínio: nunca antes tantos seres humanos foram assassinados num curto período de tempo quanto entre maio e julho de 1944.
Um total de 437.402 judeus foram enviados principalmente para Birkenau em 147 trens ao longo de 54 dias — uma média de 2,7 trens por dia, com 2.975 judeus por trem.
Enquanto o Protocolo estava nos Estados Unidos, no Reino Unido, o então secretário de Relações Exteriores, Anthony Eden, e o primeiro-ministro, Winston Churchill, se mostraram a favor, a princípio, de bombardear Auschwitz com o objetivo de deslocar a máquina de aniquilação e salvar do extermínio os 300 mil judeus húngaros que restavam.
Os britânicos nunca realizaram o bombardeio, no entanto.
Atacar um campo de concentração cheio de civis inocentes e presos injustamente não representava apenas um dilema moral para os aliados.
Havia vários pontos de vista - um deles ecoava o que dizia um memorando interno do Departamento de Guerra dos EUA:
"Devemos ter sempre em mente que o alívio mais eficaz que pode ser dado às vítimas da perseguição do inimigo é garantir a derrota imediata do Eixo".
Outra vertente era de que a missão de bombardeio exigiria um desvio inaceitável de recursos, como escreveu o subsecretário de guerra americano John J. McCloy em agosto de 1944, em resposta à pergunta do Conselho para Refugiados de Guerra sobre se era possível bombardear Auschwitz:
"Após um estudo, ficou claro que tal operação só poderia ser executada a partir do desvio de um considerável reforço aéreo, essencial para o sucesso de nossas tropas, envolvidas agora em operações decisivas em outros lugares e, de qualquer maneira, teria uma eficácia tão duvidosa que não justificaria o uso de nossos recursos."
"Existe uma ideia considerável de que esse esforço, mesmo que fosse possível, poderia provocar uma reação de vingança ainda maior por parte dos alemães".
O debate era genuíno entre aqueles que insistiam em salvar quem estava vivo e que imploravam para evitar a extinção de todo um povo; entre aqueles que queriam continuar a ofensiva contra a Alemanha sem desvios, uma vez que o destino do mundo estava em jogo, e aqueles que queriam provar com o bombardeio que, para esse mesmo mundo, o que estava acontecendo em Auschwitz era inaceitável.
E entre essas vozes, era possível identificar frequentemente o antissemitismo que permeava as decisões da época.

Por fim...

Embora o plano de atacar o campo de extermínio tenha sido finalmente descartado, em 13 de setembro de 1944, os Aliados bombardearam Auschwitz-Birkenau.
Cerca de 2 mil bombas foram lançadas sobre o local.
Dezenas de prisioneiros morreram, centenas ficaram feridos.
Mas o bombardeio não foi intencional.
O alvo era a fábrica de óleo sintético IG Farben, a menos de 8 quilômetros a leste de Birkenau.
Auschwitz nunca foi uma prioridade.
Trabalhadores escravizados em seus leitos no campo de concentração após a libertação em abril de 1945. Nesta foto, está Elie Wiesel, futuro vencedor do Nobel da Paz, sétimo a partir esquerda, na segunda fileira de beliches, junto à viga de madeiraDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionTrabalhadores escravizados em seus leitos no campo de concentração após a libertação em abril de 1945. Nesta foto, está Elie Wiesel, futuro vencedor do Nobel da Paz, sétimo a partir esquerda, na segunda fileira de beliches, junto à viga de madeira
Elie Wiesel, escritor e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, estava preso naquela época em Buna-Monowitz (Auschwitz III), o campo de trabalhos forçados de Auschwitz, e escreveu o seguinte sobre o bombardeio:
"Já não tínhamos medo da morte; pelo menos não dessa morte. Cada bomba nos enchia de alegria e nos dava nova confiança na vida."

A história completa

Em abril de 1944, Vrba e Wetzler escaparam de Auschwitz para alertar o mundo sobre o extermínio de judeus húngaros.
Em setembro, nada havia sido feito ainda.
O exército americano libertou a Suíça, que estava cercada por territórios controlados pelas potências do Eixo, no fim de setembro - e o Conselho para Refugiados de Guerra finalmente conseguiu enviar o Protocolo na íntegra para o escritório de Washington.
John Pehle, o diretor, recebeu o documento em novembro e estremeceu da cabeça aos pés.
Aquilo era Auschwitz. Um lugar onde coisas terríveis aconteciam.
As vítimas desafortunadas eram levadas até o corredor, onde pediam a elas para se despir.
Cada pessoa recebia uma toalha e um pedaço pequeno de sabão, entregues por dois homens vestidos de jaleco branco. E logo se amontoavam nas câmaras de gás, só havia espaço para ficarem de pé.
Quando estavam todos lá dentro, eles fechavam a pesada porta.
Havia uma breve pausa.
Depois, homens da SS com máscaras de gás subiam no teto, abriam um compartimento e agitavam uma espécie de pó que estava em latas com a etiqueta "Zyklon, para uso contra vermes", fabricado por uma empresa em Hamburgo.
Essa mistura de cianeto se transforma em gás a certas temperaturas.
Depois de três minutos... todos na câmara estavam mortos.
(Trecho do relatório Vrba-Wetzler)
Prisioneiros mortos nas câmaras de gás de Auschwitz — fotografia de 1944Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPrisioneiros mortos nas câmaras de gás de Auschwitz - fotografia de 1944
Pehle não podia forçar o Departamento de Guerra a agir. Então, vazou a versão completa do Protocolo para os jornais, com uma carta de apresentação.
"As atrocidades alemãs são tão repugnantes e diabólicas que é difícil para a mente de pessoas civilizadas acreditar que elas realmente aconteceram."
"Fizemos muito pouco e fizemos tarde demais."
No dia em que a informação foi divulgada ao povo americano, os nazistas destruíram as câmaras de gás na tentativa de eliminar as evidências - mas não funcionou.
Dois meses depois, em 27 de janeiro de 1945, Auschwitz foi libertado pelo Exército Vermelho.
Os soldados soviéticos que invadiram o campo de extermínio compreenderam o horror do que acontecia ali, muito além do que qualquer relato seria capaz de descrever.

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