sexta-feira, 23 de novembro de 2018

palavra que entra, pousa, fica... e sai para voltar quando menos esperamos


Bolsonaro pede união e critica prefeituras: ‘Não posso governar sozinho’

Presidente eleito diz que pretende mostrar ‘humildade’ e ‘vontade de governar junto o Brasil’; para ele, prefeitos demitiram médicos para contratar cubanos

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), durante evento de jiu-jitsu no Rio de Janeiro (Fernando Frazão/Divulgação)

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) disse neste domingo, 18, que não pode “governar sozinho” e que tem “humildade” para dialogar com outros órgãos e outros poderes da República na tentativa de resolver os problemas do país.
Ele afirmou que terá uma agenda intensa na terça-feira, 20, para conversar com representantes de outras instituições. “Temos que nos unir. Não posso governar sozinho. O Executivo, apesar de falarem que é um poder independente, em grande parte depende do parlamento brasileiro. Temos que nos aproximar e muito do parlamento”, disse.
Na sexta-feira, 9,, ele desmarcou encontros que teria com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vai tentar a reeleição para o cargo, e Eunicio Oliveira (MDB-CE), que não foi reeleito.
Também na terça-feira, ele afirmou que irá ao Tribunal de Contas da União e à Controladoria-Geral da União. “Esta semana continuam mais visitas protocolares às instituições para demonstrar, não só nossa humildade, bem como a vontade de governar junto o Brasil.”
Antes, Bolsonaro disse que espera apoio das prefeituras para resolver a primeira grande crise de seu governo: a saída do país de mais de 8.000 médicos cubanos depois que ele colocou exigências para a permanência deles no programa Mais Médicos, como a validação de seus diplomas no Brasil.
Segundo ele, alguns prefeitos, que reclamam da saída dos cubanos, querem se eximir de responsabilidades. “A prefeitura mandou embora seu médico para pegar um cubano. Quer ficar livre da responsabilidade. A Saúde [municipal] também tem sua responsabilidade”, afirmou.
Ele também voltou a pedir ajuda ao presidente Michel Temer (MDB) para adiantar a substituição dos médicos cubanos – o governo federal vai abrir um edital para recrutar profissionais. “Eu não sou presidente. Dia 1º de janeiro, após a posse, nós vamos apresentar o remédio para isso, mas o presidente Temer já está trabalhando nesse sentido”, disse.
Veja.com

Quem são os ministros já confirmados do governo Bolsonaro

Lista tem generais, deputados federais, advogados, economista, ex-juiz, astronauta, diplomata e servidor; presidente quer reduzir pastas de 29 para 17

Após um pouco mais de duas semanas do resultado das eleições, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) confirmou alguns nomes que assumirão ministérios em seu governo, a partir de 1º de janeiro de 2019. Ele disse que pretende anunciar até o dia 12 de dezembro o seu gabinete ministerial completo e que a ideia é colocar pessoas técnicas nos cargos de primeiro escalão. Alguns escolhidos atuam diretamente no governo de transição.
Ele também prometeu reduzir o número de ministérios de 29 para 17, extinguindo pastas e fundindo outras. Durante a sua campanha presidencial, três nomes já eram sondados para liderar ministérios em um possível governo seu: o deputado Onyx Lorenzoni, o general Augusto Heleno e o economista Paulo Guedes.
Nesta quarta-feira, 21, Bolsonaro confirmou seu décimo segundo ministro, Gustavo Bebianno, como o futuro ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Veja os ministros já indicados por Bolsonaro:


Onyx Lorenzoni (Casa Civil)

 Onyx Lorenzoni será ministro extraordinário para a transição e futuro chefe da Casa Civil
Onyx Lorenzoni será ministro extraordinário para a transição e futuro chefe da Casa Civil (Valter Campanato/Agência Brasil)
Em seu quarto mandato como deputado federal, o veterinário Onyx Lorenzoni (DEM-RS) será o braço-direito de Bolsonaro, ocupando o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, responsável pela supervisão das demais pastas e pela articulação política com o Legislativo. Com 64 anos, ele foi o segundo candidato à Câmara dos Deputados mais votado no Rio Grande do Sul. Onyx tem sido uma das vozes mais atuantes na transição, nomeado ministro extraordinário
O futuro chefe da Casa Civil foi o principal articulador de Bolsonaro junto ao Congresso durante a campanha presidencial e deve ser o encarregado de formar a base aliada do futuro governo. Ele foi citado em deleção premiada da JBS e admitiu ter recebido 100.000 reais da empresa por meio de caixa dois em 2014.

Paulo Guedes (Economia)

 Paulo Guedes deverá comandar um superministério da Economia a partir de 2019
Paulo Guedes deverá comandar um superministério da Economia a partir de 2019 (Daniel Ramalho/AFP)
O economista Paulo Guedes, 68 anos, foi escolhido para comandar o superministério da Economia, que, no governo Bolsonaro, reunirá Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio. Durante a campanha eleitoral, ele foi chamado de”Posto Ipiranga” pelo então presidenciável – uma referência à propaganda do posto de combustíveis em que todas as respostas são encontradas no local. O futuro ministro, mestre e Ph.D pela Universidade de Chicago, é um defensor do liberalismo econômico e da menor participação possível do Estado na economia.

Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública)

Sergio Moro em entrevista ao Fantástico Sergio Moro, conhecido pela Operação Lava Jato, comandará Ministério da Justiça e Segurança Pública
Sergio Moro, conhecido pela Operação Lava Jato, comandará Ministério da Justiça e Segurança Pública (Reprodução/TV Globo)
Ex-juiz federal, Sergio Moro, assumirá o Ministério da Justiça incorporando a atual pasta da Segurança Pública e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que hoje é ligado ao Ministério da Fazenda. Ele será responsável pela Polícia Federal, pelo Departamento Penitenciário Nacional e pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, entre outros. Graduado em direito pela Universidade Estadual de Maringá, é mestre e doutor pela Universidade Federal do Paraná.
Moro ganhou notoriedade ao condenar à prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. O ex-juiz formalizou o seu pedido de exoneração concedido pelo presidente do TRF-4 Thompson Flores.

Tereza Cristina (Agricultura)

 A deputada federal Tereza Cristina, líder da bancada ruralista na Câmara e futura ministra da Agricultura
A deputada federal Tereza Cristina, líder da bancada ruralista na Câmara e futura ministra da Agricultura (Adriano Machado/Reuters)
Deputada federal, Tereza Cristina (DEM-MS) foi indicada pela Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA para o cargo de ministra da Agricultura. Ela é formada em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, e é a atual líder da bancada ruralista no Congresso Nacional. Em Mato Grosso do Sul, foi secretária de Desenvolvimento Agrário, Produção, Indústria, Comércio e Turismo entre 2007 e 2014, nos governos de André Puccinelli (MDB). Também é a primeira mulher a ser nomeada em um cargo de alto escalão no governo de Bolsonaro.

Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)

 Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço, será ministro de Ciência e Tecnologia
Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço, será ministro de Ciência e Tecnologia (//Divulgação)
Marcos Pontes (PSL), o primeiro astronauta brasileiro e sul-americano a ir ao espaço, foi tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB). Suplente do senador Major Olímpio (PSL), foi escolhido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para comandar a pasta da Ciência e Tecnologia. Graduado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Pontes já foi embaixador das Nações Unidas para o desenvolvimento industrial.

General Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional)

 O general Augusto Heleno, oficial da reserva, assumirá o Gabinete de Segurança Institucional
O general Augusto Heleno, oficial da reserva, assumirá o Gabinete de Segurança Institucional (Bruno Rocha /Fotoarena/Folhapress)
Augusto Heleno Ribeiro Pereira (PRB), oficial da reserva, 71 anos, mesmo cotado para ser ministro da Defesa, assumirá o Gabinete de Segurança Institucional (CGI) pela proximidade ao presidente eleito. Heleno foi comandante militar da Amazônia, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia e é um dos nomes de confiança da equipe de Bolsonaro. As principais funções do futuro ministro do CGI serão zelar pela segurança pessoal do presidente da República e pelo setor de inteligência, além de prevenir crises governamentais. 

General Fernando Azevedo e Silva (Defesa)

 O general da reserva Fernando Azevedo e Silva, assessor do ministro Dias Toffoli, presidente do STF
O general da reserva Fernando Azevedo e Silva, assessor do ministro Dias Toffoli, presidente do STF (Mauro Pimentel/Folhapress)
Fernando Azevedo e Silva foi chefe do Estado-Maior do Exército e comandará o Ministério da Defesa. Desde setembro, Silva ocupa o cargo de assessor especial do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). O general da reserva tem uma extenso currículo dentro das Forças Armadas, incluindo o cargo de comandante militar do Leste e a liderança de tropas em missão no Haiti. Também foi chefe da Autoridade Pública Olímpica dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, indicado pela então presidente Dilma Rousseff (PT).  Formou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras em 1976, um ano antes do presidente eleito Jair Bolsonaro.

Ernesto Araújo (Relações Exteriores)

 Ernesto Araújo, de 51 anos, é diplomata
Ernesto Araújo, de 51 anos, é diplomata (//Divulgação)
Ernesto Henrique Fraga Araújo foi anunciado na quarta-feira, 14, como ministro das Relações Exteriores. O diplomata atua neste momento como diretor do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty e, apesar de ter alcançado a posição de embaixador (ministro de primeira classe) na hierarquia do ministério, jamais conduziu uma embaixada brasileira. Durante a campanha eleitoral, Araújo defendeu abertamente a candidatura de Bolsonaro por meio de um blog na internet, no qual chamou o PT de “partido terrorista”.

Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União)

 Wagner Rosário assumiu ministério no governo Temer
Wagner Rosário assumiu ministério no governo Temer (José Cruz/Agência Brasil)
Já no comando da pasta no governo de Michel Temer, Wagner Rosário será mantido na próxima gestão. Natural de Juiz de Fora (MG), tornou-se o primeiro servidor de carreira da CGU a assumir o cargo de secretário-executivo e ministro. Rosário é auditor fiscal, mas é formado pela Academia Militar das Agulhas Negras e foi oficial do Exército. Também é mestre em Combate à Corrupção e Estado de Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha.

Luiz Henrique Mandetta (Saúde)

 Deputado federal Luiz Henrique Mandetta
Deputado federal Luiz Henrique Mandetta (Facebook/Reprodução)
Deputado federal (DEM-MS) e médico ortopedista, Luiz Henrique Mandettacomandará a pasta da saúde no governo de Jair Bolsonaro (PSL). Ex-secretário da Saúde de Campo Grande, responde a um inquérito aberto enquanto estava no cargo. Ele é investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois na implementação de um sistema de prontuário eletrônico.  Pesou na indicação, entretanto, o apoio de membros do setor.

André Luiz de Almeida Mendonça (Advocacia-Geral da União)

 André Luiz de Almeida Mendonça é advogado e futuro advogado-geral da União
André Luiz de Almeida Mendonça é advogado e futuro advogado-geral da União (Universidade de Salamanca/Reprodução)
Funcionário de carreira do órgão que irá comandar a partir de 2019, André Luiz de Almeida Mendonça é atualmente assessor especial da Controladoria-Geral da União. Formado pela Faculdade de Direito de Bauru, Mendonça foi diretor de Departamento de Patrimônio e Probidade Administrativa da Procuradoria-Geral da União. Em 2011, ele recebeu o prêmio especial do Innovare pela idealização dentro da AGU de um grupo de combate à corrupção. O advogado é considerado técnico e respeitado por seu conhecimento em acordos de leniência. 

Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência da República)

 O advogado Gustavo Bebianno que assumirá Secretaria-Geral da Presidência
O advogado Gustavo Bebianno que assumirá Secretaria-Geral da Presidência (Bruno Rocha /Fotoarena/Folhapress)
O advogado Gustavo Bebianno assumirá a Secretaria-Geral da Presidência da República, e terá sob seu comando a Secretaria de Comunicação de Comunicação (Secom) e o Programa de Parceria e Investimento (PPI). O carioca de 54 anos foi o principal coordenador de campanha de Bolsonaro e presidiu o PSL até a eleição do capitão.

Ricardo Vélez Rodríguez (Educação)

 Ricardo Vélez Rodriguez
Ricardo Vélez Rodriguez (Google Plus/Reprodução)
O filósofo colombiano Ricardo Vélez Rodríguez foi escolhido como futuro ministro da Educação no dia 22 de novembro, um dia depois de Bolsonaro desistir da indicação de Mozart Neves Ramos por conta de pressões da bancada evangélica. Para os religiosos, Ramos seria muito “progressista” e não encamparia propostas como o Escola sem PartidoVélez é professor Emérito da Escola de Comando e estado Maior do Exército, se formou em Filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana em 1964, graduou-se em Teologia no Seminário Conciliar de Bogotá em 1967, concluiu o mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 1974, e o doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho em 1982, informou Bolsonaro via Twitter. O futuro ministro também é autor de A Grande Mentira – Lula e o patrimonialismo petista, publicado em 2015 e é o primeiro estrangeiro confirmado no novo governo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Coisas para por em prática

Foto

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Passarinho


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A brisa marinha trouxe nesta manhã aromas de sal
Lembranças das tardes onde ficávamos até 

o pôr do Sol, admirando a beleza do Mar. 

Era somente eu e você... 
Mergulhados em ondas de emoção.
O universo era pequeno pra nós. 

Por aqui um passarinho pousou na janela,
enquanto as borboletas estão 

sobrevoando as roseiras... 
Há botões desabrochando.
Há saudade no banco do jardim.

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www.isisdumont.prosaeverso.net

Consciência Negra: 'Escravidão é o assunto mais importante da história brasileira', diz Laurentino Gomes após percorrer África para trilogia


Laurentino e um guia local na praia de Ouidá, ponto de embarque de escravos no Benim, oeste da ÁfricaDireito de imagemACERVO PESSOAL/LAURENTINO GOMES
Image captionLaurentino e um guia local na praia de Ouidá, ponto de embarque de escravos no Benim, oeste da África

Quando estava pesquisando sobre a chegada da família real portuguesa ao Brasil para escrever o best-seller 1808, lançado em 2007, o escritor Laurentino Gomes acreditava que ali não estava contemplada a grande história brasileira. "A escravidão é que é o nosso principal assunto. Impossível compreender o país, tanto do passado quanto do futuro, sem voltarmos às raízes africanas", disse à BBC News Brasil.
Mais de uma década depois do lançamento do livro (o primeiro de uma trilogia sobre o império brasileiro, seguido por 1822 e 1889), Laurentino Gomes passou a trabalhar no "assunto mais importante de toda a história brasileira" para uma nova trilogia histórica.
O primeiro livro, com lançamento previsto no segundo semestre do ano que vem, se passa entre o primeiro leilão de escravos africanos enviados às Américas, organizado em Portugal ainda no século 16, até a morte do escravo pernambucano Zumbi dos Palmares, decapitado em 20 de novembro de 1695 - em 2003, a data entrou para o calendário escolar e, em 2011, o governo federal a decretou como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que é feriado apenas em cidades e Estados com leis específicas para isso. O texto já foi concluído e enviado para a editora.
O segundo, previsto para sair em 2020, vai cobrir todo o século 18, considerado o auge do tráfico negreiro da África para as Américas. Em 2021 deve sair a obra final, abordando a crise da estrutura escravista brasileira e a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em maio de 1888. Estima-se que 4,8 milhões de africanos escravizados chegaram ao Brasil entre os séculos 16 e 19.
Segundo o escritor, "a participação dos africanos no tráfico de escravos se tornou um tema politicamente explosivo no Brasil". Para ele, "o fato de chefes africanos terem participado do tráfico nada tem a ver com a enorme dívida social e real que o Brasil tem com os seus afrodescendentes". "Não se pode culpar os escravos pela sua própria escravidão", falou Gomes.
O tema foi motivo de polêmica durante a campanha presidencial de 2018, devido declaração do então candidato Jair Bolsonaro de que os portugueses não entraram na África para capturar escravos.
"Basta ver as estatísticas, onde a nossa população negra aparece como a parcela da sociedade com menos oportunidades e a que mais sofre com a desigualdade social crônica. Precisamos corrigir isso urgentemente, e não podemos nos esconder atrás de falsas e incorretas discussões a respeito de fatos históricos", afirmou o escritor.

Ilustração de violência contra escravos: um açoite a escravo amarrado em tronco, com nádegas ensanguentadasDireito de imagemTHE NEW YORK PUBLIC LIBRARY DIGITAL COLLECTIONS
Image caption'O fato de chefes africanos terem participado do tráfico na África nada tem a ver com a enorme dívida social e real que o Brasil tem com os seus afrodescendentes', diz Gomes

Para escrever os novos livros, Laurentino Gomes passou seis meses em 2017 viajando por Angola, Cabo Verde, Moçambique, Senegal, Gana, Benim, Marrocos e África do Sul, além do período de pesquisas e entrevistas em Lisboa, capital portuguesa, onde vive há alguns anos.
Nos meses em que viajou pela África, Laurentino admite que descobriu realidades diferentes do que esperava. Para além do futebol e da música, por exemplo, que são idolatrados na maior parte do continente, ele percebeu que o Brasil é um "parente" distante do qual eles queriam estar mais perto.
"Não observei qualquer traço de ressentimento ou cobrança relacionados à história da escravidão. Ao contrário: se pudessem, os africanos estariam mais próximos dos brasileiros do que são hoje", conta. Mas também lamenta: "Há ainda muito preconceito no Brasil em relação à África, é uma pena".
A seguir, trechos da entrevista que Laurentino Gomes concedeu à BBC News Brasil sobre a nova trilogia e as viagens pela África:
BBC News Brasil - Como a história sobre a escravidão africana para as Américas é contada hoje nos países africanos que você visitou?
Laurentino Gomes - Existem algumas distorções parecidas com o estudo e o ensino oficial da escravidão fora da África. Lá estuda-se e discute-se pouco o papel dos próprios africanos no processo de escravização, com uma ênfase muito grande no papel dos europeus, dos traficantes e dos compradores de cativos que estavam na América.
Os africanos são apontados nos discursos hegemônicos como vítimas do regime escravista. De fato, pelo menos 12 milhões de prisioneiros africanos foram vítimas do tráfico, porque cruzaram o Oceano Atlântico como escravos a bordo dos navios negreiros.
Mas há ainda uma lacuna que precisa ser preenchida, e que diz respeito ao papel dos chefes africanos aliados aos traficantes europeus e brasileiros, que capturavam pessoas no interior do continente e os vendiam depois no litoral. Esses chefes se enriqueceram muito com isso, tanto é que grande parte da elite africana atual é herdeira desses comerciantes de escravos nativos.
BBC News Brasil - O presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse durante a campanha que os portugueses não entraram na África para capturar escravos. Como o senhor vê essa afirmação?
Gomes - A participação dos africanos no tráfico de escravos se tornou um tema politicamente explosivo no Brasil. Obviamente, os portugueses entraram, sim, na África. Ocuparam e colonizaram Angola, por exemplo, um território enorme naquela época, para abastecer o tráfico negreiro para as Américas. Mas essa discussão pode ter consequências políticas muito ruins atualmente.
Muita gente afirma que, se os africanos participaram e lucraram com a escravidão, não haveria razão para manter no Brasil um sistema de cotas de inclusão dos afrodescendentes em escolas, universidades ou postos da administração pública. A chamada "dívida social" brasileira em relação aos descendentes de escravos estaria anulada pelo fato de os africanos serem co-responsáveis pelo regime escravista. Desse modo, não haveria porque indenizá-los ou compensá-los pelos prejuízos sociais e históricos decorrentes disso.
Tudo isso é muito injusto porque, obviamente, não se pode culpar os escravos pela própria escravidão. O fato de chefes africanos terem participado do tráfico nada tem a ver com a enorme dívida social e real que o Brasil tem com os seus afrodescendentes.
Basta ver as estatísticas, onde a nossa população negra aparece como a parcela da sociedade com menos oportunidades e a que mais sofre com a desigualdade social crônica. Precisamos corrigir isso urgentemente e não podemos nos esconder atrás de falsas e incorretas discussões a respeito de fatos históricos.
Além de tudo isso, há um enorme equívoco conceitual nesse tipo de raciocínio, porque dizer hoje que africanos escravizavam africanos é o que os historiadores chamam de anacronismo, ou seja, o uso indevido de valores e referências de uma época para julgar ou avaliar personagens ou acontecimentos de outro período histórico.
A noção de uma identidade pan-africana, que unisse os habitantes de todo o continente, ainda não existia nos tempos do tráfico de escravos. Ninguém se reconhecia como africano, até porque a África sempre foi um território de grande diversidade e de riqueza culturais diversas, habitado por uma miríade de povos, etnias, nações, linhagens e reinos que frequentemente estavam envolvidos em guerras e disputas territoriais.
Aceitar, portanto, a ideia de uma identidade continental naquele tempo seria o equivalente a imaginar que, antes da chegada de Cabral à Bahia, um índio guarani do sul do Brasil identificasse como irmão pan-americano um índio navajo, dos Estados Unidos, ou um asteca, do México.
BBC News Brasil - Como Portugal lida hoje com seu papel central de articulação desse mercado de escravos do passado?
Gomes - Há uma discussão enorme e passional entre os portugueses sobre o passado escravagista.
Tempos atrás, a inauguração de uma estátua em homenagem ao padre Antônio Vieira foi alvo de protestos em Lisboa. O motivo foi que Vieira é hoje considerado um defensor da escravidão africana.
Obviamente, a história é dinâmica e conceitos que valem hoje certamente não valiam no passado. Seria injusto julgar personagens e acontecimentos do passado com os olhos, os valores e as referências de hoje. Mas eu acho que há um lado saudável nisso: o de chamar a atenção para o problema do legado da escravidão entre nós.

Rua Brasil, em Acra, capital de Gana. A Rua fica no bairro do Tabons, comunidade de descendentes de escravos do Brasil que retornaram para a ÁfricaDireito de imagemACERVO PESSOAL/LAURENTINO GOMES
Image captionRua Brasil, em Acra, capital de Gana. A Rua fica no bairro do Tabons, comunidade de descendentes de escravos do Brasil que retornaram para a África

BBC News Brasil - Como o Brasil é visto hoje nos países africanos de onde partiram escravos?
Gomes - Em todas as minhas cinco viagens por oito países africanos eu, como brasileiro, me senti sempre muito bem acolhido e bem tratado. Não observei qualquer traço de ressentimento ou cobrança relacionados à história da escravidão.
Coisa bem diferente ocorre, por exemplo, com os angolanos em relação aos portugueses, que hoje ainda são apontados como os principais culpados pelos grandes problemas do país.
Isso acontece porque o chamado processo de "descolonização" ainda é bem recente, já que a guerra contra Portugal pela independência acabou meio século atrás. O clima de má vontade de parte a parte é ainda muito grande, mas em relação ao Brasil isso não acontece.
Ao contrário: senti que, se dependesse dos africanos, a aproximação seria maior do que a que temos hoje.
BBC News Brasil - Muito se fala sobre os impactos da escravidão africana na sociedade brasileira, mas você conseguiu captar esses efeitos nas sociedades atuais da África?
Gomes - Existem estudos importantes feitos na África sobre o impacto da escravidão na demografia do continente e também no processo de desenvolvimento posterior desses países.
O tráfico de escravos drenou uma quantidade inacreditável de recursos humanos do continente africano e distorceu a economia e as relações de poder nas sociedades afetadas pelo comércio de cativos, sem contar o fato de que regiões inteiras do continente foram redesenhadas em razão do tráfico de escravos.
As marcas dessa história ainda todas lá, bem presentes.
BBC News Brasil - Muitos locais que outrora foram pontos centrais da escravidão hoje são roteiros turísticos, como os portões de não retorno. Como você percebe esse tipo de turismo moderno?
Gomes - Existem dezenas desses portões nas cidades africanas, que simbolizam antigos portos de embarque dos escravos para a América. A mais famosa e fotografada fica na Ilha de Goreia, na Baía de Dacar, capital do Senegal. Eles se orgulham com o fato de que diversas celebridades internacionais, incluindo o papa João Paulo 2º, o presidente norte-americano Barack Obama, e o sul-africano Nelson Mandela foram visitá-lo.
Uma das bases dos livros sobre a escravidão é o banco de dados Slave Voyages, que cataloga mais de 37 mil viagens de navios negreiros ao longo de três séculos e meio e registra um total de 188 portos de partida de cativos no continente africano.
Diante desses números, acho importante a existência dos portões hoje como pontos turísticos, porque ajudam na reflexão sobre a história da escravidão. O ruim disso, para mim, é que eles são pouco visitados por brasileiros.
BBC News Brasil - Quais são as influências do Brasil nos países africanos que você visitou para escrever o novo livro?
Gomes - Brasil e África compartilham raízes mais profundas do que se imagina. Fomos a maior sociedade escravagista do hemisfério Ocidental por mais de 300 anos e, além disso, 40% de todos os 12 milhões de cativos africanos trazidos para as Américas tiveram como destino nosso país. Por conta desses números expressivos, as marcas brasileiras são bem visíveis hoje no continente africano.
Em Gana e no Benim, por exemplo, encontrei uma numerosa comunidade de descendentes de ex-escravos que voltaram durante o século 19 e que, nas sociedades atuais, ocupam posições importantes da hierarquia social.
Alguns deles foram ministros, governadores e chegaram até a ser presidentes. Esses ex-escravos retornados deixaram contribuições importantes na arquitetura, nas artes e nos costumes em diversos países africanos. Na cidade de Porto Novo, no Benim, há uma mesquita muçulmana com traços arquitetônicos semelhantes às igrejas católicas brasileiras, que foi construída por escravos libertos da Bahia. O ofício deles no Brasil era justamente erguer templos católicos, e eles levaram a técnica de construção para a África.
Mas eu vi influência também na enorme audiência que as novelas da Rede Globo têm nos países de línguas portuguesa. É tão grande que elas chegam a mudar o sotaque e o modo de falar desses locais.

Mesquita com estilo arquitetônico das igrejas católicas brasileiras construídas por ex-escravos que voltaram ao Benim, no oeste da ÁfricaDireito de imagemACERVO PESSOAL/LAURENTINO GOMES
Image captionMesquita com estilo arquitetônico das igrejas católicas brasileiras construídas por ex-escravos que voltaram ao Benim, no oeste da África

BBC News Brasil - Qual capital da África se parece mais com uma cidade brasileira de hoje?
Gomes - Praia, capital de Cabo Verde, é uma mistura de Salvador e Rio de Janeiro, com a presença constante da música da brasileira, especialmente a Bossa Nova, que é muito forte entre os compositores e intérpretes caboverdianos.
Luanda, capital de Angola, lembra muito o Rio, incluindo as muitas favelas que compõem a periferia pobre da cidade. O biotipo da pessoas, o jeito de falar e de se comportar também lembram muito o carioca.
Tive a mesma sensação em relação à Bahia quando fui para Gana, Senegal e Benim, de onde, por sinal, vieram muitos cativos africanos para trabalhar nos engenhos de açúcar do Recôncavo Baiano.
No Benim, especialmente, me impressionou a quantidade de templos e símbolos ligados à prática do candomblé. A culinária desses países também é muito parecida com a nossa: marcada pelo uso de ingredientes como a pimenta-malagueta, a mandioca, o feijão, o quiabo, o inhame e o milho. Qualquer brasileiro que visitar a África, pelo menos nessas regiões, vai se sentir imediatamente em casa.
BBC News Brasil - Nesses países que visitou, você notou que o Brasil é um destino de migrantes africanos?
Gomes - O Brasil ocupa esse lugar sim. A migração para o Brasil ainda é muito forte entre os angolanos, os nigerianos e os cabo verdianos.
Encontrei muitas pessoas que já tinham morado e estudado no Brasil e conheci outras muitas com desejo de viver pelo menos algum tempo neste outro lado do Atlântico.
Fiquei bastante surpreso ao ver que os africanos têm muita informação sobre o Brasil, acompanham de perto das notícias a nosso respeito e até se ressentem pelo fato de a recíproca não ser a mesma.
Nós, aqui no Brasil, acompanhamos pouco o que acontece na África. O turismo daqui para lá também é muito reduzido. Muitos brasileiros preferem passar férias na Flórida, em Los Angeles e Las Vegas, nos Estados Unidos - que não têm nada a ver com a nossa cultura -, do que fazer uma visita, mesmo que rápida e uma só vez na vida, aos países africanos em que estão plantadas as nossas raízes mais profundas. Há ainda muito preconceito no Brasil em relação a África, o que é uma pena.
BBC News Brasil - Você chegou a presenciar a reação dos africanos às eleições no Brasil?
Gomes - Não, mas observei um grande desconforto em relação ao que estava acontecendo ainda durante o governo Michel Temer.
O Brasil mantém uma política meio esquizofrênica em relação à África, com surtos de aproximação que se alternam com distanciamentos abruptos.
O último desses surtos ocorreu durante os 14 anos de administração petista, em que o governo brasileiro derramou muito dinheiro nos países africanos para obras de infraestrutura, usando como duto as empreiteiras que, mais tarde, estariam envolvidas na Operação Lava Jato.
Hoje é só um distanciamento e até uma má vontade dos dois lados: encontrei obras paradas, projetos interrompidos e embaixadas e consulados com dificuldades até para pagar as contas, incluindo o aluguel, como resultado dos cortes do orçamento no Itamaraty. Entre os governos locais, até pouco tempo atrás habituados a conviver com a generosidade do dinheiro do BNDES e de outras linhas de financiamentos brasileiras, impera agora uma franca revolta contra o governo do presidente Michel Temer, que fechou a torneira quando chegou.
BBC News Brasil - O que mais o impressionou nessas viagens a África?
Gomes - A presença chinesa que substituiu o vácuo deixado pelo Brasil.
Encontrei projetos chineses espalhados por todos os lugares: em Cabo Verde, Angola e Moçambique - para citar apenas três dos países africanos de língua portuguesa que visitei no meu trabalho de reportagens.
São obras gigantescas identificadas com placas, também enormes, escritas em mandarim. A agressividade chinesa na África podia ser medida, entre outras providências, pela criação do Fórum de Macau, organismo de cooperação com as nações lusófonas na África, iniciativa que tem o óbvio propósito de se contrapor à CPLP, a Comunidade dos Países de Línguas Portuguesa.
O Brasil, embora seja um dos fundadores da CPLP, nunca deu a devida importância à entidade.
BBC News Brasil - Como escritor de sucesso com a trilogia 18081822 e 1889, qual é a sua expectativa sobre as reações em torno desse novo trabalho?
Gomes - Acredito que a escravidão seja o assunto mais importante de toda a história brasileira.
Tudo que já fomos no passado, o que somos hoje e o que seremos no futuro tem a ver com as nossas raízes africanas e a forma como nos relacionamos com elas. Minha trilogia segue a fórmula dos meus livros anteriores, pelo uso de uma linguagem simples, fácil de entender, capaz de atrair a atenção mesmo de leitores mais jovens e não habituados a estudar o tema. Mas espero dar uma contribuição pessoal para o desafio brasileiro de encarar a sua própria história escravagista e dela tirar lições que nos ajudem a construir o futuro.

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