Assim como no início da pandemia da covid-19, país volta a lidar com
mais casos e óbitos entre pessoas a partir de 60 anos, mesmo com esse
público vacinado. Reforço na imunização passa a ser alternativa
crédito: Marcelo Camargo/Agencia Brasil/Rsseprodução - 23/1/20
Enquanto o país avança na imunização
contra a covid-19 por faixas etárias e a maioria dos municípios já
aplica doses na população adulta mais jovem, a partir de 18 anos, e
outros até iniciam a cobertura vacinal de adolescentes com e sem
comorbidades, o foco dos especialistas se volta novamente aos idosos,
como era no início da vacinação contra o novo coronavírus. Isso porque o
processo de rejuvenescimento da pandemia no Brasil visto com a
vacinação dos mais velhos no primeiro momento foi revertido e,
aualmente, os idosos voltaram a ser o grupo que mais morre pela doença
no país.
Nas duas primeiras semanas de agosto, cerca de 70% dos
óbitos por covid-19 no Brasil foram de pessoas com 60 anos ou mais. Os
números são do boletim do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz). Na semana epidemiológica 23, que corresponde ao período
de 6 a 12 de junho, os óbitos nessa faixa etária representavam 44,6% do
número total de mortes pela doença. O último levantamento do estudo, nas
semanas 31 e 32, do dia 1º a 14 de agosto, registrou um aumento na
proporção para 69,2%.
O número de internações por covid-19 de
pessoas a partir de 60 anos também aumentou entre os dois intervalos. A
estatística de idosos entre os casos internados já esteve em 27%, na
semana 23, mas hoje se encontra em 43,6%. O aumento da vacinação entre
os jovens explica porque o processo de rejuvenescimento da pandemia no
Brasil foi revertido. O vírus continua circulando intensamente pelo país
e, novamente, as internações hospitalares, internações em UTI e óbitos
voltaram a se concentrar na população idosa, que é mais vulnerável à
doença.
“É fundamental, portanto, compreender que, se
considerarmos que esta nova transição da idade é efeito da progressão da
vacinação entre os mais jovens, isto significa dizer que, em um cenário
em que a população passa a ter acesso à vacina, os idosos têm maior
risco de sofrer internações e evoluírem a óbito”, ressaltam os
pesquisadores, no boletim.
Por isso, o infectologista da Fiocruz e ex-diretor do
Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da
Saúde, Julio Croda, explica que é necessário observar de perto o perfil
dos pacientes internados e dos óbitos pela doença para adotar
estratégias específicas para este grupo da população. “Não vejo problema
em avançar na faixa etária da imunização desde que esteja se
monitorando em cada estado e cidade qual o perfil epidemiológico das
internações e adotando estratégias específicas para diminuir essas
hospitalizações e óbitos”, analisa.
Segundo ele, a presença de variantes mais
transmissíveis no Brasil, em especial a delta, pode ser um dos motivos
para que a covid-19 tenha voltado a afetar os mais velhos. Diante desse
cenário, Croda diz que é imprescindível um reforço na proteção dos
idosos.
“A gente sabe também que, no contexto da variante
delta, a gente não vai atingir a imunidade coletiva apenas com as
vacinas, porque ela previne hospitalização e óbito, mas não
necessariamente a transmissão de formas assintomáticas ou mais leves da
doença. Assim, o vírus vai continuar circulando e o que a gente tem que
prevenir é essa população mais velha, que é mais vulnerável, mesmo
vacinada”, avalia.
Terceira dose
A solução estudada para compensar a maior
vulnerabilidade imunológica dos idosos e protegê-los melhor seria a
aplicação de uma dose de reforço das vacinas contra a covid-19. “Mais do
que avançar nas coberturas vacinais em várias faixas etárias, do que
avançar a vacinação em adolescentes, a gente tem que discutir a dose de
reforço nos idosos”, afirma Croda. Na cidade do Rio de Janeiro, onde a
vacina já foi ofertada para toda população adulta, o foco do prefeito
Eduardo Paes (PSD) será revacinar os idosos, principalmente por causa do
avanço da variante delta.
“Quero deixar bem claro que a prefeitura entende que,
com esse número alto de casos da variante delta, deve priorizar a
terceira dose de reforço para as pessoas mais velhas, que são mais
vulneráveis ao agravamento da doença. Nós preferimos fazer a terceira
dose dos idosos do que antecipar a segunda dose dos mais jovens”, disse
Paes, na última sexta.
A situação é observada pelo Ministério da Saúde, que
indicou já ter vacinas suficientes para aplicar uma terceira dose nos
idosos. No entanto, o calendário ainda não foi definido pela pasta. Para
o doutor em Saúde Coletiva e professor da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) Dário Pasche é precipitado falar em terceira dose
quando ainda não se imunizou plenamente toda a população vacinável.
“O Ministério da Saúde deveria se preocupar com outras
questões, como o fornecimento adequado do fluxo de vacinas, ampliar as
campanhas de busca de pessoas com vacinação incompleta, assim como
ampliar a educação sanitária para a população”, pondera.
* Estagiários sob a supervisão de Augusto Fernandes
Média de mortes cai
O Brasil registrou, ontem, a menor
média móvel diária de mortes por covid-19 dos últimos sete meses. De
acordo com o levantamento do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde
(Conass), o índice ficou em 774. A última vez que a estatística sobre
óbitos tinha sido inferior foi em 6 de janeiro, data em que o Conass
contabilizou uma média diária de 683 mortes.
Na comparação com duas semanas atrás, quando a média
diária foi de 912, o número caiu 15,1%. Diferenças superiores a 15%
neste intervalo de tempo indicam tendência de queda. Ainda segundo o
Conass, a média móvel de casos ficou em 29.478. Isso representa uma
redução de 11,8% em relação ao que foi registrado há 14 dias (33.418).
Segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde
sobre a situação da pandemia, o país teve mais 28.388 casos do novo
coronavírus e 698 novos óbitos pela covid-19 ontem. Desde o início da
pandemia, a pasta contabiliza 20.556.487 pessoas infectadas e 574.209
vidas interrompidas na luta contra a doença. Por outro lado, o Brasil já
tem ao menos 19.431.197 recuperados da enfermidade.
A região Sudeste do país é a que concentra as
estatísticas mais altas da pandemia. Lá, o Ministério da Saúde já
confirmou 7.911.415 casos de infecção pelo novo coronavírus, além de
270.093 mortes. Na sequência aparece a região Nordeste, com 4.712.166
pessoas infectadas e 114.683 óbitos.
A região Sul tem ao menos 3.984.113 ocorrências da
doença e 89.350 mortos. No Centro-Oeste, são 2.134.305 casos e 54.301
mortes. Por fim, a região Norte chegou a 1.814.488 infecções e 45.782
óbitos pela covid-19.