quinta-feira, 28 de maio de 2020

'Eu e minha filha de 17 anos fomos internadas com covid-19. Sou hipertensa e sobrevivi. Ela era saudável, mas morreu'


Germaine ao lado da filha
 Arquivo pessoal Image caption Germaine e Kamilly foram internadas juntas com covid-19; enquanto mãe, que é hipertensa, se recuperou, a filha apresentou quadro grave da doença e morreu 

Os dias em uma área de isolamento em um hospital público de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foram os últimos momentos da dona de casa Germaine Herculano dos Santos, de 43 anos, ao lado da filha Kamilly Ribeiro, de 17 anos.
Mãe e filha foram internadas em um posto de saúde em Xerém, distrito de Duque de Caxias, em 23 de março, após apresentarem quadro suspeito de covid-19. Na unidade de saúde, permaneceram isoladas juntas. Dois dias depois foram encaminhadas para o Hospital Moacyr do Carmo, na mesma cidade.
Germaine, que faz parte do grupo de risco por ser hipertensa, se recuperou dias depois e recebeu alta. Kamilly, que não tinha nenhuma doença pré-existente e não se enquadrava entre os pacientes de risco, apresentou complicações graves e não resistiu.
"A minha filha era totalmente saudável, nunca ficava doente. Desde o princípio, sempre achava que ela fosse se recuperar. Nunca pensei que ela seria vítima desse vírus", diz Germaine à BBC News Brasil.
Kamilly fez parte de um grupo pequeno em meio à pandemia do novo coronavírus: o de jovens saudáveis com complicações graves em decorrência da covid-19.


Selfie de Kamilly Ribeiro
 Arquivo pessoal Image caption Kamilly Ribeiro, de 17 anos, não tinha comorbidades. A jovem era estudiosa, iria prestar Enem neste ano e sonhava em cursar medicina 

Estudos apontam que os pacientes sem comorbidades e com menos de 50 anos correspondem a menos de 1% das pessoas em estado grave em decorrência do Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus. Quanto mais jovem, menos chances de apresentar complicações.
"Os médicos ficaram surpresos com o caso da minha filha. Não sabiam mais o que fazer, porque ela não tinha nenhum problema de saúde antes. Infelizmente, é algo difícil de entender", declara Germaine.
Os casos mais graves comumente acometem pessoas idosas ou com doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes, cardiopatias, entre outras.
Histórias como a de Kamilly, segundo estudos ainda incipientes, podem ser explicadas por particularidades genéticas que influenciam o modo como o coronavírus afeta o organismo do paciente.
"O nosso sistema imunológico é o responsável por definir se vamos responder bem ou não ao Sars-Cov-2. Geralmente, esse sistema está afetado em pessoas com comorbidades ou idosas, por isso estão nos grupos de risco. Mas em alguns casos raros, o sistema imunológico tem uma falha pontual crítica mesmo sem comorbidades conhecidas e, por isso, a pessoa acaba desenvolvendo um quadro grave ou até morrendo em decorrência do coronavírus", diz o médico infectologista Alexandre Naime, chefe de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP).

Os sintomas iniciais

No início de março, Germaine acompanhava diariamente o pai, de 71 anos, em um hospital público da Baixada Fluminense. O idoso havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e estava internado. "A minha mãe também é idosa e meu irmão não mora no Rio de Janeiro. Então, eu era a única pessoa que poderia acompanhá-lo", diz a dona de casa.
 Kamilly junto com os paisDireito de imagem Arquivo pessoal Image caption Pais de Kamilly tentam recomeçar a vida após perder a filha mais velha para a covid-19
Kamilly ficava em casa para cuidar do irmão mais novo, de três anos. A jovem também passava parte dos dias se dedicando aos estudos e sonhava em cursar Medicina.
Por volta do fim da segunda semana de março, Germaine começou a apresentar problemas de saúde. "Tive arrepios pelo corpo, tremedeira, calafrios e febre", diz. Ela foi a uma unidade de saúde da região, passou por exames e foi diagnosticada com pneumonia. "Disseram que não era coronavírus e sequer fizeram testes. Como ainda era algo novo, eu não tinha muita informação sobre o assunto e fui para casa", detalha.
O primeiro caso do novo coronavírus em Duque de Caxias foi confirmado em 23 de março. Hoje, o município tem o segundo maior número de mortos no Rio de Janeiro, atrás apenas da capital. Até o momento, são mais de 185 óbitos por covid-19 na cidade.
Enquanto tomava os medicamentos para a suposta pneumonia, Germaine ficou de repouso em casa. Kamilly ajudava a mãe o dia inteiro. A adolescente reclamava de dores nas costas, mas não demonstrava preocupação com o problema. "Depois, ela começou a tossir e teve muita febre. Com o passar dos dias, a situação foi piorando. Demos medicamentos para gripe para ela, mas nada melhorava", relata a dona de casa.
Em 23 de março, Kamilly foi a um posto de saúde junto com o pai, o barbeiro José Antônio dos Santos. Na unidade, passou por raio-X, que mostrou que o pulmão dela estava comprometido e tinha aspecto semelhante ao de pacientes com a covid-19. Os médicos logo pediram que a jovem fosse isolada e permanecesse no hospital. Germaine, que estava em casa, foi ao hospital para levar roupas para a filha e a equipe médica também a examinou — o marido dela e o filho caçula não apresentaram sintomas.
"Quando viram meu pulmão, notaram que estava comprometido com o dela. Nós duas fomos colocadas em um quarto em isolamento", relata.
A dona de casa critica o atendimento que recebeu nos primeiros dias. "Parecia que tinham medo de ficar perto da gente, mesmo com os equipamentos de proteção. Nós chamávamos e ninguém nos atendia. Deveriam ter mais empatia."
Posteriormente, mãe e filha foram levadas para o Hospital Moacyr do Carmo, onde permaneceram isoladas. As duas receberam o mesmo tratamento, que incluiu cloroquina.
 Kamilly junto com a mãe e o irmãoDireito de imagem Arquivo pessoal Image caption A adolescente junto com o irmão caçula, de três anos, e a mãe
Eleitora de Jair Bolsonaro, Germaine afirma não ter opinião formada sobre a decisão do presidente em determinar que o Ministério da Saúde oriente o uso da cloroquina em pacientes com a covid-19. "Não sou médica, nem pesquisadora, então não posso dizer. Quem precisa definir isso são os cientistas. Apesar de ter votado no Bolsonaro, há muitas coisas que ele diz e eu não concordo", declara.
"Mas não gosto quando dizem que minha filha morreu mesmo usando cloroquina. Eu também usei e sobrevivi. Não dá para falar que foi o medicamento que me salvou, nem que a prejudicou. Penso que devemos seguir o que dizem os estudiosos da área", diz Germaine.
Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) suspendeu os estudos com a cloroquina em pacientes com a covid-19, após diversas pesquisas apontarem riscos no uso do medicamento. Apesar disso, o Ministério da Saúde informou que continuará recomendando o remédio, ao menos por enquanto.

O agravamento de jovens saudáveis

Enquanto Germaine apresentava melhora, Kamilly piorava. "Ela tinha muita falta de ar. Me desesperei quando a minha filha começou a vomitar sangue. Eu chamava por ela, mas ela não respondia. Comecei a bater no vidro do quarto para chamar os médicos", relata a mãe. A adolescente foi levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde foi intubada. "Vi a minha filha pela última vez quando a levaram para a UTI. Não imaginava que aquele seria o nosso último momento", diz.
Os médicos que acompanharam a adolescente não esperavam que ela fosse ter um quadro tão grave, segundo Germaine. "Frequentemente, me perguntavam se ela tinha alguma comorbidade e eu sempre respondia que não. Fizeram vários exames de sangue nela e nenhum apontou qualquer doença pré-existente", relata.
A dona de casa conta que os profissionais que acompanharam a adolescente não souberam explicar os motivos que levaram Kamilly a apresentar quadro extremamente grave da covid-19.
Os estudos iniciais apontam que as mortes de jovens saudáveis por covid-19 podem estar relacionadas, principalmente, à predisposição genética.
 Germaine e Kamilly durante a infânciaDireito de imagem Arquivo pessoal Image caption Germaine junto com Kamilly, na época com sete anos: últimos momentos de mãe e filha juntas foram em isolamento de hospital
"Pode haver casos de pessoas com susceptibilidade genética a infecções pontuais. Todos nascemos com um código genético, o DNA, que traz um roteiro de respostas a diferentes estímulos, tanto bons quanto ruins na vida. Isso define se o organismo da pessoa vai ou não ter uma resposta a determinados patógenos", explica o infectologista Alexandre Naime.
O médico pontua que há casos de jovens saudáveis que morrem por influenza ou outras enfermidades que raramente afetam os mais novos. "Tudo depende da sequência genética da pessoa. Nisso está codificado quais respostas ela terá em termos de anticorpos e ação celular quando for exposta a diversos patógenos. São códigos que nascem com a pessoa e são chamados de memória imunológica."
Pesquisadores estudam quais outros pontos, além da predisposição genética, podem fazer com que o Sars-Cov-2 afete gravemente alguns jovens saudáveis. Tais estudos são importantes também para ajudar na descoberta de novos tratamentos para a covid-19.

Sem despedidas

Apesar de ser hipertensa, Germaine teve uma boa recuperação e recebeu alta hospitalar sete dias após ser internada. Isolada em casa, ela passava os dias preocupada com a filha.
Nos primeiros dias intubada, Kamilly apresentou melhora e respondeu bem aos medicamentos. Em seus últimos dias, porém, a adolescente piorou. Em 14 de abril, após 20 dias internada, Kamilly não resistiu. Na certidão de óbito da jovem consta que ela teve choque séptico, pneumonia e infecção por covid-19 — o exame da jovem, feito logo após a internação, ficou pronto enquanto ela estava intubada.
"Quando me contaram que ela morreu, eu comecei a chorar e a gritar desesperada. A minha filha só tinha 17 anos. Como pode, né? Ela era saudável. Eu achava que eu, hipertensa, tinha mais chances de morrer que ela. Eu senti um vazio muito grande. A morte dela me trouxe uma sensação de impotência diante da vida. A gente não tem controle de nada", desabafa Germaine.
Dias antes, a dona de casa teve de lidar com outra perda: a morte do pai, em 2 de abril, em decorrência do AVC que sofrera no início do ano.
A dona de casa não participou da cerimônia de despedida do pai, assim como também não conseguiu se despedir da filha. Ela ainda apresentava sintomas da covid-19 e foi orientada a permanecer isolada em casa.
Evangélica, Germaine revela que se apegou à religião para lidar com a saudade constante da filha. "Cheguei a questionar Deus, mas agora acredito que a morte da Kamilly foi uma vontade dele. Ele queria a minha filha por perto. Ela sempre foi muito religiosa e era muito querida na igreja. Acredito que agora ela está ao lado dele e em um lugar melhor", declara.
Recuperada da covid-19, a dona de casa tenta retomar a vida. "Às vezes ainda tenho uma crise de choro. Nós estamos sofrendo muito. Precisamos seguir em frente, mas está sendo muito difícil. A morte dela foi uma tristeza enorme. A gente tinha esperança de que ela voltaria para casa", diz.

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Operação da PF contra bolsonaristas acirra debate jurídico sobre validade do inquérito das fake news

Alexandre de Moraes
 Nelson Jr./SCO/STF Image caption Alexandre de Moraes determinou ação com base em um inquérito que apura a disseminação de ofensas, ataques e ameaças contra ministros da corte e seus familiares 

A operação da Polícia Federal (PF) que realizou busca e apreensão em residências e escritórios de empresários, políticos e ativistas bolsonaristas nesta quarta-feira (27/05) dividiu juristas e acirrou as tensões entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e militantes pró-governo.
A ação foi determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes com base em um inquérito que apura a disseminação de ofensas, ataques e ameaças contra ministros da corte e seus familiares.
Foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão em endereços de pessoas suspeitas de participação nos atos, entre os quais os empresários Luciano Hang e Edgard Corona, a militante direitista Sara Winter, os blogueiros Winston Lima e Allan dos Santos, e o ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB.
As buscas e apreensões ocorreram um dia depois de uma outra operação da Polícia Federal mirar um dos principais adversários políticos de Bolsonaro, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).
A residência oficial do governador e o escritório de sua esposa, Helena Witzel, tiveram objetos coletados em uma investigação sobre o possível desvio de recursos públicos em gastos para o combate ao coronavírus no Rio.

Novas ofensas

Alguns militantes bolsonaristas que elogiaram a ação da PF contra Witzel na terça-feira se disseram vítimas de censura por terem sido alvos da operação policial do dia seguinte.
"Moraes, seu covarde, você não vai me calar!!", tuitou Sara Winter nesta quarta-feira. Na terça, ao comentar a operação contra Witzel, ela criticou o governador: "Alguém saberia me informar como se carrega estrume em viatura?"
A operação contra militantes bolsonaristas desta quarta-feira se baseou em grande medida em depoimentos à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News.
À comissão, alguns depoentes - como os deputados federais Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP) - acusaram dois filhos do presidente Jair Bolsonaro de participar do que chamam de um "gabinete do ódio" voltado a ataques virtuais.
Segundo Frota e Joice, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estão entre os articuladores desse suposto grupo.
Nem Carlos nem Eduardo foram citados na operação desta quarta-feira, contudo.
 o.
 Mão dgitando em teclado com carimbo fake newsDireito de imagem Getty Images Image caption Operação contra militantes bolsonaristas desta quarta-feira se baseou em grande medida em depoimentos à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News

Procedimento 'atípico'

O último ato do STF no inquérito sobre as fake news acirrou as divisões entre juristas, que debatem se a Corte não estaria extrapolando suas atribuições no processo.
Alguns especialistas questionam a legalidade da investigação desde sua abertura.
O inquérito foi instaurado em março de 2019 pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, sem provocação de outro órgão, o que é atípico.
Toffoli escolheu Alexandre de Moraes para conduzir o inquérito sem que houvesse sorteio entre todos os ministros, procedimento de praxe na Corte.
Ao instaurar o inquérito, o presidente do STF argumentou que o regimento interno da Corte prevê esse tipo de iniciativa.
Em seu Artigo 42, o regimento estabelece que, "ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do tribunal, o presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro ministro".
Toffoli afirmou que, embora os crimes ligados à disseminação de fake news não tenham sido praticados dentro do prédio do Supremo, os ministros, supostas vítimas das suspeitas investigadas, "são o tribunal".
Para Rubens Glezer, professor da FGV-Direito, o argumento é frágil.
Ele afirma que o artigo do regimento trata de uma situação "absolutamente excepcional", que envolva crimes que ocorram fisicamente dentro do STF, e não seria aplicável ao inquérito sobre as fake news, que trata de "possíveis crimes contra a honra dos ministros".
Ao permitir que o caso tramite fora das regras de um inquérito regular, diz Glezer, o tribunal "deu um cheque em branco para se investigar basicamente qualquer ato que seja ofensivo ao STF e seus ministros".
"Nesse caso, o STF é a vítima, o investigador e o juiz. Há um notável desequilíbrio do sistema", afirma.
Segundo o professor, nesse mesmo inquérito, Alexandre de Morais já tomou outras decisões questionáveis, como a censura a uma reportagem da revista Crusoé que apontava possíveis vínculos entre Dias Toffoli e a empreiteira Odebrecht, divulgada em abril de 2019.
Moraes revogou a própria decisão três dias depois.
Para Glezer, o STF pode ter recorrido à abertura do inquérito "como uma arma excepcional, para mostrar que tem poder de resposta e coação num contexto em que há muitas agressões ao tribunal".
O inquérito foi instaurado num momento em que militantes e políticos bolsonaristas se insurgem contra a corte e seus membros.
Em reunião ministerial recente, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou a sugerir a prisão de integrantes da corte.
"Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando pelo STF", afirmou Weintraub. Posteriormente, afirmou que se referia a apenas "alguns" membros da Corte, e que havia se manifestado em uma reunião privada.
O vídeo veio à tona no bojo de outro inquérito no STF, que apura uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.
 l.
 Pessoas usando celularDireito de imagem Getty Images Image caption Operação contra militantes bolsonaristas divide juristas
Para Glezer, porém, mesmo que o tribunal esteja sob pressão, "é terrível que justamente a instituição que tem de zelar pelas regras do jogo constitucional e democrático se disponha a burlá-las, ainda que por um bom objetivo".
A condução do inquérito, segundo ele, "dá muita munição para que o tribunal seja tratado como mais político do que jurídico, o que acaba minando sua força e legitimidade".

'Circunstâncias excepcionais'

Já Estefânia Barboza, professora de Direito Constitucional da Universidade Federal do Paraná (UFPR), avalia que o regimento interno do STF dá margem para a instauração e o avanço do inquérito.
Segundo Barboza, há que se considerar as "circunstâncias excepcionais" em jogo. "Dentro de um contexto de normalidade, em que todas as instituições estivessem funcionando, com respeito às decisões de cada instituição, talvez não tivéssemos o STF instaurando o inquérito", afirma.
No entanto, diz ela, o Ministério Público Federal não tomou qualquer providência para investigar fake news contra ministros do STF - cenário que, segundo a professora, justifica a ação do tribunal.
Barboza diz que tem havido uma disseminação deliberada de mentiras para atacar a honra dos ministros e minar sua legitimidade, o que, segundo ela, põe a democracia brasileira em risco.
Ela afirma que os ataques integram uma ofensiva abrangente de caráter "fascista" contra instituições democráticas em vários países.
"O regime democrático precisa ter engrenagens de contenção que façam sua defesa. A Constituição não aceita ditadura, nem a desestruturação dos poderes", afirma.

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'Agricultores podem ser aliados na proteção da Amazônia, o que não podemos é aceitar milícias e bandidos', diz pesquisador


Floresta amazônica com árvores derrubadas
 Image caption Pesquisador diz que agricultores podem ser aliados na proteção da Amazônia 

O ritmo atual de desmatamento da Amazônia — que cresce sem parar pelo segundo ano consecutivo — é, além de um enorme problema ambiental, uma tragédia socioeconômica, afirma o ambientalista brasileiro Beto Veríssimo, fundador da consultoria Imazon, diretor do Centro de Empreendedorismo da Amazônia e pesquisador associado da Universidade de Princeton.
O discurso que põe em lados opostos o desenvolvimento econômico e a preservação da Amazônia, diz ele, é falso. "Desmatamento não gera desenvolvimento, não gera aqui e em lugar nenhum no mundo. E ele inibe investimento — que investidor sério vai querer investir na Amazônia, rodeada por ilegalidade?", diz, em entrevista à BBC News Brasil.
Veríssimo afirma que seria possível aumentar muito a produção agrícola na Amazônia sem desmatar um só hectare — aproveitando terras já degradadas em décadas passadas. No entanto, diz, é preciso ao mesmo tempo reforçar a fiscalização e punição de infratores.
"Não tem como contemporizar com desmatadores ilegais, ladrões de florestas públicas, extratores ilegais de madeira. Para a ilegalidade, a força da lei", diz ele.
Ele diz que "a presença do Exército é bem-vinda", ao comentar o decreto do governo que colocou, de maio a junho, as rédeas das ações de fiscalização e combate ao desmatamento nas mãos das Forças Armadas — tirando-as do Ibama, que passou a ser subordinado aos militares.

Mas diz que é cedo para avaliar o resultado das operações militares realizadas até agora. O governo anunciou que, até o dia 21/05, "26 pessoas foram presas por delitos ambientais e outros crimes durante as ações do Exército, e que foram aplicadas multas no valor de R$ 8,7 milhões". Além disso, foram apreendidos motosserras, tratores, caminhões e embarcações.
O fato de o Exército ter descartado a destruição do equipamento apreendido, entretanto, preocupou Veríssimo. "Se não usarmos essas medidas (destruição de equipamento apreendido), que são comprovadamente eficazes, eu tenho um pouco de dúvida se vão conseguir combater o desmatamento", diz.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida à BBC News Brasil, em que pesquisador alerta para as graves consequências do aumento do desmatamento. Ele também comenta a fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que é preciso aproveitar a pandemia para "passar a boiada" na mudança de legislação ambiental.
BBC News Brasil - O último boletim de desmatamento da Amazônia do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), de abril, registrou um aumento de 171% em relação a abril de 2019. O que explica esse aumento expressivo? 
 Floresta amazônica em chamasDireito de imagem Getty Images Image caption Pesquisador disse que, apesar da pandemia, desmatamento segue em alta na Amazônia
Beto Veríssimo - Apesar da diminuição da atividade econômica por causa da pandemia, o desmatamento esse ano, não só em abril, mas em todos os meses, tem se mantido em uma tendência de alta. E isso tem uma explicação dupla: uma é a menor presença da fiscalização no campo. O segundo fator é o fato de que governo não prioriza o combate ao desmatamento.
O calendário do desmatamento vai de agosto de 2018 até julho de 2019, então pega pouco do governo Temer. Mas neste ano, de agosto de 2019 até julho de 2020, vai ser totalmente na conta do governo atual. Ainda faltam dois meses para termos os números, mas toda a tendência é que a gente vai ter mantido esse crescimento, com um aumento seguido do desmatamento por dois anos. É bastante preocupante.
BBC News Brasil - Como a mudança do comando das operações de fiscalização do Ibama para o Exército afeta esse cenário? As operações que o Exército tem feito estão tendo algum efeito no combate ao desmatamento?
Veríssimo - As operações começaram em abril e maio. É cedo para dizer se vai ter impacto, nos dados de maio, que saem em junho, vai ficar mais claro se a ação das Forças Armadas está conseguindo. O que a gente sabe, historicamente, é que há um efeito positivo quando há uma operação de combate ao desmatamento ostensiva, com a presença de aparato policial — porque o Ibama não tem força policial, eles precisam do aparato da Polícia Federal, do Exército etc. Então a presença do Exército é bem-vinda, a gente está em uma situação muito complicada na Amazônia. Mas não dá para dizer ainda se vai ter efeito da maneira como eles estão fazendo.
BBC News Brasil - Como você avalia o que eles têm feito até agora, como o comando da operação ter mudado para o Exército e essa decisão de não destruir os equipamentos dos criminosos ambientais pegos em flagrante?
Veríssimo - O ideal nessas operações é contar com a parceria de todas as instituições, da Polícia Federal, do Ibama, do Exército — e o Ibama tem todo o know how de como fazer, esse conhecimento não pode ser ignorado.
A destruição dos equipamentos é recomendada. Tem duas maneiras de inibir o infrator, (que comete) o desmatamento ilegal. Uma é prendendo, mas o infrator normalmente não está lá, é um laranja, um funcionário. A outra, mais eficaz, é quando você penaliza o infrator, quando o crime é claramente configurado, destruindo o equipamento. É como quando há apreensão de droga, você tem que incinerar a droga. A carga, quando a madeira é ilegal, tem que ser apreendida. Não tem como contemporizar com desmatadores ilegais, ladrões de florestas públicas, extratores ilegais de madeira. Para a ilegalidade, a força da lei.
Se não usarmos essas medidas, que são comprovadamente eficazes, eu tenho um pouco de dúvida se vão conseguir combater o desmatamento (com as operações). A gente já observou no passado que o que de fato faz com que outros desmatadores, que estão nos arredores daquele local sendo fiscalizado, parem de desmatar, é quando você apreende e destrói equipamentos. Quando isso acontece, os infratores de fato diminuem sua atividade num raio expressivo com medo de prejuízos econômicos importantes. Eles não têm muito medo de ser presos, acabam sendo soltos.
 Árvores cortadas na floresta amazônica
 Getty Images Image caption 'A gente já observou no passado que o que de fato faz com que outros desmatadores, que estão nos arredores daquele local sendo fiscalizado, parem de desmatar, é quando você apreende e destrói equipamentos' 

BBC News Brasil - O risco aos fiscais e ambientalistas aumentou também nesse momento de alto desmatamento?
Veríssimo - A gente teve um episódio em que um fiscal do Ibama foi agredido na região do Pará, teve uma tentativa em Rondônia de emboscar fiscais... A gente não tem um levantamento, mas eu diria o seguinte: a gente está assistindo um aumento do desmatamento na Amazônia, isso é um fato, está observando que esse desmatando está acontecendo em regiões onde há pouca presença do Estado, onde há muitos crimes ambientais associados (extração ilegal de madeira, garimpo ilegal, invasão de florestas públicas). Isso tudo configura uma ambiente de ilegalidade nocivo e perigoso.
BBC News Brasil - Existe um discurso, que é bastante encampado pelo atual governo, que contrapõe o desenvolvimento econômico à preservação da Amazônia, como se as leis de proteção fossem burocracias que atrasam o desenvolvimento. Existe alguma realidade nesse argumento?
Veríssimo - Não. As pessoas confundem. O desmatamento da Amazônia não melhorou a economia da Amazônia. Nos anos 1970, quando 99% da floresta ainda estava em pé, a região participava do Produto Interno Bruto mais ou menos na mesma proporção que participa hoje. E nesse meio tempo você desmatou 20% da Amazônia, tem o dobro disso de degradação. Ou seja, o modelo baseado no desmatamento não gerou prosperidade na Amazônia, não gerou desenvolvimento econômico, não gerou progresso social — a gente está vendo agora o drama da saúde, que é um problema endêmico e se agrava com o coronavírus. Então, desmatamento não gera desenvolvimento, não gera aqui e em lugar nenhum no mundo. E ele inibe investimento — que investidor sério vai querer investir na Amazônia, rodeada por ilegalidade?
O desmatamento está acontecendo muito mais nesse caráter especulativo do que no caráter produtivo. Ninguém está expandindo o desmatamento para aumentar a produção de soja — está se desmatando onde a produção agrícola não está presente, em regiões afastadas. O que é uma tragédia pro Brasil. É um roubo de patrimônio público, você tem um prejuízo para os cofres, tem um prejuízo ambiental, tem um ambiente conflagrado de conflitos que impede bons investimentos econômicos.
 Árvores queimadas na Floresta Amazônica
Você tende a piorar a situação social daqueles territórios. Acaba criando municípios que são incapazes de ter uma arrecadação suficiente para ter serviços públicos, o que onera o contribuinte brasileiro... é o pior dos mundos. A situação do Amazonas com a pandemia é um exemplo dessa precariedade. Destrói recursos naturais, mantém pobreza, inibe investimentos e aumenta ilegalidade.
O desmatamento de fato é um problema ambiental, essa é a face que a gente conhece e a face que o mundo inteiro se preocupa. Mas o desmatamento é, sobretudo, uma tragédia socioeconômica, que beneficia grupos muito pequenos de setores que operam na ilegalidade.
BBC News Brasil - Como promover o desenvolvimento sem destruir o meio ambiente?
Veríssimo - É como se a gente tivesse três Amazônias. Existe uma, que tem 20% das áreas desmatadas, que corresponde ao leste do Pará, ao sul do Pará, centro-norte do Mato Grosso, penetra no meio de Rondônia, algumas faixas no sul do Amazonas e do Acre. Essa é uma área que de fato o governo deveria ter um foco no desenvolvimento, na assistência técnica, no aumento da produção agropecuária. A gente precisa de fato alocar os recursos escassos do governo para aumentar a produtividade com o uso das áreas que já foram desmatadas, apoiar produtores nessa área.
Se os recursos escassos fossem focados para esse território, a gente poderia ter um aumento de renda e produtividade sem desmatar um hectare. Nessa faixa toda existem muitas áreas que estão subaproveitadas. De cada dez hectares desmatados, apenas um tem produtividade agropecuária na média da produtividade brasileira. Seis têm produtividade abaixo (da média). E três não têm nada, o capim ficou áspero e cheio de espinho, nem o boi quer mais. São áreas que hoje não produzem mais nada.
Temos também uma segunda Amazônia, que corresponde a uns 40%, com municípios gigantes, como Altamira, no sul, centro-norte e centro-sul do Amazonas, grande parte da parte central do Pará — é uma área de floresta, que não faz o menor sentido desmatar. Com o desmatamento, estamos levando pobreza, crime organizado, não vai gerar riqueza para o país — nessa área temos que combater, temos que fazer um foco ostensivo de controle.
E temos ainda uns 40% de terras indígenas, de unidades de conservação, que estão ainda relativamente protegidas, quase que passivamente, porque não são alvo ainda de grandes ameaças. Não quer dizer que elas estão imunes, mas elas estão relativamente protegidas.
O que a gente precisa na Amazônia é uma agenda de uso inteligente dos recursos, de aproveitamento das áreas que foram desmatadas até 2008 e de proteção das áreas de floresta.
BBC News Brasil - Como a aprovação da PL 2633/2020, sobre regularização fundiária de terras da União, que ganhou o apelido de PL da grilagem, pode afetar esse quadro?
Veríssimo - A regularização é importante, mas precisa ser feita com cuidado, em área já consolidadas, com duas, três décadas de produção, onde o desmatamento aconteceu até 2008 (ano determinado como linha de corte pelo Código Florestal), onde há de fato produtores, não especuladores. Quem continuou desmatando depois dessa data, invadiu florestas públicas, é um movimento totalmente diferente, não pode regularizar áreas que foram griladas. E os produtores regularizados vão ter que respeitar o Código Florestal.
Então essa regulação depende de onde, com quais condições. É preciso que haja um grande debate para separar o interesse legítimo e o ilegítimo, e é algo que não tem condições de acontecer no meio de uma pandemia, precisa ser quando o país tiver com oxigênio para discutir isso.
BBC News Brasil - Em um vídeo de uma reunião do presidente com ministros divulgado na semana passada, o ministro Ricardo Salles diz que é preciso aproveitar o "momento de tranquilidade" em que a atenção da mídia está voltada para o coronavírus para "passar a boiada" e aprovar diversas flexibilizações. Que tipo de medidas são essas, que poderiam ser aprovadas sem a atenção da mídia? Como você avalia as consequências dessa postura do governo?
Veríssimo - Ele não diz quais são as medidas. O dever dele, inclusive constitucional, deveria ser de preservar. Mas o que a gente está assistindo desde 2019, quando houve a posse (do presidente) é que essas falas não são apenas falas, elas se traduzem em resultado. (O presidente Jair Bolsonaro) já dava (antes) sinais, mensagens, já dizia que não ia criar novas áreas protegidas, não ia criar reservas indígenas. A gente vê que sinais e mensagens se tornam políticas que acabam favorecem o aumento do desmatamento. E o perigo é que se tomem outras medidas que possam agravar ainda mais o problema.
Então houve um recrudescimento, esse governo na verdade não teve nenhuma proposta de preservação do meio ambiente, as falas são no sentido de que (eles não enxergam) o desmatamento como um problema.
BBC News Brasil - A situação da Amazônia tem atraído muito a atenção da mídia internacional. Como está a imagem do Brasil no exterior quanto a isso? E como isso pode afetar o país?
Veríssimo - A questão do coronavírus trouxe luz para como a destruição ambiental gera um impacto. Temos diversas doenças que vêm de animais que tiveram habitats destruídos, que vêm de florestas tropicais. E os impactos da destruição da Amazônia para o clima vão ser muito mais dramáticos do que um único vírus, então o mundo inteiro está muito preocupado com isso, muito preocupado com o Brasil.
Então, com certeza, conforme aumenta a destruição, aumenta também a pressão internacional sobre o país, não só de governos, mas empresas, corporações. Então "se é da Amazônia eu não compro", "se é da Amazônia eu não invisto", o impacto econômico pode ser muito grande.
A destruição da Amazônia pode parecer algo muito longe, muito distante da realidade do dia a dia das pessoas. Mas as consequências não são restritas àquela região. Como a destruição desse ambiente vai afetar alguém que está em SP ou em PE? Tem várias formas em que afeta, mas três principais.
Uma é essa questão da saúde — da possibilidade de pandemias vindas da destruição do ambiente, de problemas respiratórios que podem se agravar com as queimadas. A fumaça das queimadas não atinge muito o Nordeste, mas atinge o Sudeste, chega até o Paraná. E gera problemas respiratórios graves, piores ainda em momento de uma pandemia de uma doença que afeta o sistema respiratório como a covid-19.
Outro aspecto principal é como a destruição Amazônia afeta as mudanças climáticas, ela é enorme, tem muito carbono, ela é realmente um termômetro do mundo, afetas as chuvas, os ventos, o clima do país e do mundo inteiro. É um impacto tremendo, não estamos falando de milhares estamos falando de uma escala de dezenas de milhões de pessoas.
E afeta também a economia do país — grande parte do PIB brasileiro depende das águas da Amazônia, de um regime de chuvas que é afetado pelo desmatamento, então sua destruição é um risco enorme para a própria economia. E os agricultores, produtores agropecuários, a maioria têm consciência disso. Os agricultores podem ser aliados, o que não podemos é contemporizar com ladrões de florestas públicas, milícias, bandidos especuladores.
BBC

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Combinação de pandemia e governos autoritários no mundo é preocupante, diz Lilia Schwarcz



 
 


Bolsonaro em área externa, perto de carro, de onde se pode ver sinalizadores de viaturas

Direito de imagem EPA/Andre Borges
Image caption 'O nosso presidente tem atuado com claro negacionismo, tem incitado manifestações, tem tratado com desdém os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS), quando não deturpa tais protocolos, e isso vai custar muito caro', afirma Schwarcz






Brasileiros usando máscaras pelas ruas, hospitais sobrecarregados recebendo equipamentos às pressas, atividades culturais canceladas.
Foi há mais de cem anos, mas a pandemia da gripe espanhola, que matou cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo entre 1918 e 1920, ainda traz lições que poderiam ser aproveitadas pelo Brasil no combate à covid-19.
Principalmente diante da postura "caótica e negacionista" do presidente Jair Bolsonaro diante da atual crise de saúde, afirma a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz.
"A partir do momento em que a gripe (espanhola) se instala, a atitude do governo brasileiro, de uma maneira geral, foi muito mais propositiva do que a nossa atitude agora. Não existia o ministro da Saúde, portanto as atitudes eram centralizadas na figura do presidente. E os presidentes no Brasil acabaram se transformando em líderes nesse sentido, assim como os cientistas", afirma, em entrevista concedida à BBC News Brasil no dia 28 de abril por meio de teleconferência.
Co-autora, com a historiadora Heloisa Starling, do livro Brasil: uma biografia, Schwarcz lançou há cerca de um ano o livro Sobre o Autoritarismo Brasileiro, considerado a primeira reação impressa em forma de livro ao governo Bolsonaro.
 O  nosso presidente tem atuado com claro negacionismo, tem incitado manifestações, tem tratado com desdém os protocolos da Organização Mundial da Saúde, quando não deturpa tais protocolos, e isso vai custar muito caro, sobretudo em um país de marcada desigualdade social.
BBC News Brasil - No seu trabalho, principalmente para o livro Brasil: uma biografia, a senhora pesquisou bastante sobre a gripe espanhola. Em entrevista à BBC News Brasil, o médico Drauzio Varella, por exemplo, disse que não dá para comparar aquela pandemia com esta dos dias atuais. Mas existem lições ou comparações que dá para fazer sobre o que aconteceu com o Brasil naquela ocasião e agora?
Schwarcz - Eu acho que sim. A gripe espanhola é até hoje considerada e chamada a "mãe das pandemias". Matou de 20 a 50 milhões de pessoas e foi, de fato, uma pandemia porque afetou o mundo todo. Afetou as Américas, afetou a Europa, afetou a Ásia, os relatos falam de casos em todos os lugares. E afetou em três grandes ondas.
A primeira foi mais nos Estados Unidos, a segunda tomou a Europa e a terceira, o mundo todo. Foi uma gripe mais curta, ela começa em 1918 e em 1920 já são pouquíssimos os casos. Ela foi uma gripe que pegou a população mundial enfraquecida por conta da Primeira Guerra Mundial, que foi uma guerra muito sanguinolenta.
Encontrou soldados famintos, soldados exaustos, soldados exauridos. Então esses todos são contextos particulares da gripe espanhola.
No entanto, o que há de comum? O tipo de medida que foi adotada no combate à gripe espanhola. As pessoas usavam máscaras, os hospitais foram mais equipados, os teatros foram fechados. Os transportes públicos andavam mais esvaziados.
Enfim, essas medidas de quarentena foram tomadas em 1918 e 19, o que é muito interessante pra gente pensar.
Então, algumas lições: primeiro; as pandemias voltam, ou seja, elas vêm por ciclo. Isso faz parte da História. As pandemias vão se tornando às vezes mais violentas, ainda mais agressivas.
Outro ensinamento: é preciso aprender com as experiências dos outros países.
E é preciso aplicar essas experiências às especificidades do nosso próprio país. Isso nós não estamos fazendo.
BBC News Brasil - Na gripe espanhola o Brasil fez isso?
Schwarcz - Isso, a gripe espanhola chegou ao Brasil de navio (o navio Demerara, que veio da Europa com 72 passageiros), muito parecido com o nosso caso da covid-19, em que a doença chegou de avião. No caso da gripe espanhola de 18, o navio parou em Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos.
E ele veio contaminado, e a contaminação em um primeiro momento foi negada, os brasileiros achavam que a gripe espanhola nunca chegaria ao Brasil.
 Lilia Schwarcz em sua casaImage caption "Eu elogio e vejo com muita alegria esses novos governos, essas novas líderes mulheres, mas vejo com muita preocupação o enrijecimento do autoritarismo. A gente não pode esquecer que a pandemia pegou o mundo em um momento de uma nova onda autoritária", alerta a autora
Mas a partir do momento em que a gripe se instala, a atitude do governo brasileiro, a depender do Estado, mas de uma maneira geral, foi muito mais propositiva do que a nossa atitude agora.
Não existia o ministro da Saúde, portanto as atitudes eram centralizadas na figura do presidente da República. E os presidentes no Brasil acabaram se transformando em líderes nesse sentido, assim como os cientistas. Ganharam vulto pelo combate à gripe espanhola.
A gente teria muito o que aprender. Não é igual, eu concordo com o doutor Drauzio (Varella), porque os contextos são sempre distintos, mas as lições são boas de aprender. Mas a humanidade é teimosa, né? Não aprende.
BBC News Brasil - Fora todos os problemas, vê marcas ou impactos ou lições que vão ficar? Mudanças que teremos na sociedade depois da pandemia?
Schwarcz - Quem diz que sabe, em geral... nós não sabemos o que vai acontecer. Muita gente tem feito previsões bastante otimistas, de que sairemos diferentes.
Usando o que eu conheço de História eu acho que nunca se sai de uma crise dessas da mesma maneira. Mas também não se sai tão revolucionado como se imagina.
Eu tendo a dizer que eu sou, talvez, otimista no varejo e pessimista no atacado.
BBC News Brasil - Quero saber se a senhora está mais pessimista ou mais otimista.
Schwarcz - Não estou nenhum. Eu acho que a gente está em um momento em que a gente não pode dizer o que está. Eu acho que muita gente tem falado que as relações nas casas e no lar tem se alterado, se nós pegarmos as últimas pesquisas têm mostrado o contrário: que durante a quarentena, durante o isolamento, as mulheres profissionalizadas estão sendo muito mais prejudicadas do que os homens. Então eu discordo da ideia de que estamos revolucionando as relações de gênero dentro de casa.
Também penso que as pessoas não estão parando para olhar o que é uma casa e o que é um lar em uma sociedade tão desigual como o Brasil. Nós sabemos que 30% dos brasileiros vivem em casas com seis ou mais pessoas, e muitas dessas pessoas têm o seu espaço de sociabilidade na rua, não dentro das casas, onde não é possível a convivência entre todos.
Nós também sabemos que os números de violência doméstica estão aumentando, o número de violência contra as crianças está aumentando. De novo, quando você me pergunta você é mais otimista ou mais pessimista, eu digo: não sei. Acho que existem as duas coisas.
Existe uma classe média, uma classe média alta, que pode estar refletindo mais sobre a divisão do trabalho nas casas, mas existe uma classe de baixa renda que está sofrendo demais com a impossibilidade da quarentena.
A mesma questão vale para a gente pensar nos sistemas políticos. Nós acabamos de conversar que talvez a quarentena esteja mostrando novas dirigentes, novas líderes, líderes mulheres. No entanto, a pandemia também abre uma porta grande para governos mais autoritários.
O grande modelo é o modelo da Hungria, do (Viktor) Orbán, que dá um golpe em cima do golpe. Então uma coisa é nós falarmos que estamos vivendo estados de anomalia, de emergência. Mas isso não quer dizer que esses dirigentes têm o direito de usar esse estado de anomalia para dar um novo golpe de Estado.
Então, eu tenho muito medo, eu elogio e vejo com muita alegria esses novos governos, essas novas líderes mulheres, mas vejo com muita preocupação o enrijecimento do autoritarismo. A gente não pode esquecer que a pandemia pegou o mundo em um momento de uma nova onda autoritária.
Se a gripe espanhola pegou o mundo no contexto da Primeira Guerra Mundial, e teve consequências terríveis, vamos trazer agora para o nosso contexto. A pandemia está pegando o nosso mundo em um momento de crescimento de governos autoritários, nos Estados Unidos, em Israel, na Itália, na Hungria, que já citamos, e no Brasil.
Então, a pergunta é: o que a pandemia fará frente a líderes mundiais de raiz e matriz autoritária? Eu tenho muito receio.
BBC News Brasil - Na História do Brasil, já houve momentos tão desafiadores, difíceis de colocar em uma caixinha para análise? Como você vê este momento na biografia do Brasil?
Schwarcz - A biografia do Brasil eu escrevi junto com uma grande historiadora, a Heloísa Starling, e nós, na conclusão do livro, dizemos que o Brasil em vários momentos já se encontrou e se desencontrou. Ou melhor, já viveu muitas crises, mas achou boas soluções.
Eu gosto de citar o momento de grande crise que foi o momento em que Getúlio Vargas comete suicídio. É possível dizer que o povo na rua evitou, por alguns anos, a chegada da ditadura militar. Mas era um momento de tremendo caos político, de tremendo caos econômico, e talvez semelhante ao que nós vivemos agora.
Todas as testemunhas que participam de um momento tendem a achar que o seu momento é único. Porque faz parte da ideia da testemunha. Segundo a Hannah Arendt, a testemunha é aquela que fica para contar. E a gente só pode narrar aquilo que nós experimentamos. É por isso que o passado fica sempre mais longínquo nesses momentos.
Mas talvez essa experiência não seja tão única, talvez seja hora de a gente pensar em saídas de mais longo prazo, saídas que tornem mais forte a nossa democracia, ou seja, que a gente não adie o problema mas que gente enfrente cada vez de maneira forte. Enfim, todo momento é único, mas todo momento dialoga no momento da História, não é?
BBC

Bill Gates construirá sete fábricas para produzir vacinas contra o coronavírus

Bill Gates está investindo em sete potenciais vacinas contra o coronavírus!

Bill Gates dá o exemplo para as pessoas mais poderosas do mundo contribuírem para a luta contra esta doença. 
Sabemos que Bill Gates e sua esposa, Melinda Gates, se dedicam a realizar trabalhos de caridade para ajudar pessoas de todo o mundo. O magnata anunciou recentemente que construirá sete fábricas para produzir em massa cada uma das sete vacinas mais promissoras em desenvolvimento contra o novo coronavírus.
Gates disse que a ideia é acelerar o processo de pesquisa, mesmo que no final apenas uma ou duas vacinas sejam utilizáveis ​​para a população.
Construir várias fábricas exigirá um investimento de vários milhões de dólares, que o milionário classifica como ” necessário ” para salvar milhares de vidas a longo prazo.
“Mesmo se escolhermos no máximo duas, financiaremos fábricas para sete, só para não perdermos tempo dizendo em série: ‘OK, qual vacina funciona?’ e depois construa a fábrica “, disse Bill Gates.
Segundo o filantropo, é necessária uma vacina segura e eficaz para acabar com a doença. Ele observa que, se agir adequadamente, poderá ter uma vacina pronta para produzir em massa em menos de 18 meses, o mais rápido que uma vacina tiver sido desenvolvida.

“Em 2015, pedi aos líderes mundiais em uma conferência do TED que se preparassem para uma pandemia da mesma maneira que se preparam para a guerra, executando simulações para encontrar falhas no sistema. Como vimos este ano, ainda temos um longo caminho a percorrer “, afirmou. “Mas ainda acredito que se tomarmos as decisões corretas agora, informadas pela ciência, dados e experiência de profissionais médicos, poderemos salvar vidas e fazer com que o país volte ao trabalho”, concluiu.
 Gates ressalta que essa crise de saúde vai durar meses, cabe a nós, como sociedade, quanto tempo dura a pandemia. Devemos lembrar que precisamos tomar as medidas preventivas necessárias para evitar mais infecções por coronavírus.
 https://www.agrandeartedeserfeliz.com/bill-gates-construira-sete-fabricas-para-produzir-vacinas-c

Inscrições para o Enem são prorrogadas por cinco dias

Enem pode ter apenas um dia em 2020.
  © Amanda Perobelli/Estadão Enem pode ter apenas um dia em 2020. 
 
SÃO PAULO  O Ministério da Educação (MEC) prorrogou as incrições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) , que se encerrariam nesta sexta-feira, 22, por mais cinco dias. Agora, os candidatos terão até 23h59m da próxima quarta-feira, 27, para fazer a inscrição no site oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
A mudança foi anunciada pelo ministro Abraham Weintraub, em sua conta oficial no Twitter, e em nota oficial do Inep. Na manhã desta sexta, poucas horas antes da previsão inicial de encerramento das inscrições, candidatos reclaram de instabilidade no site oficial do Inep onde o cadastro para a prova é feito. “A iniciativa decorre de entendimento alcançado entre o Inep e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), em reunião realizada na manhã desta sexta-feira, 22 de maio”, diz o Inep, em nota.


Decidimos prorrogar o prazo das inscrições do Enem até 23h59 de quarta-feira, 27 de maio. Os boletos da taxa da prova poderão ser pagos até 28/05. Os candidatos devem ficar atentos à confirmação da inscrição na Página do Participante, do @inep_oficial.
NOTA OFICIAL | Os participantes do Enem 2020 terão mais cinco dias para se inscrever. O novo prazo será até às 23h59 da próxima quarta-feira, 27 de maio. Após a inscrição, o pagamento do boleto deve ser realizado até dia 28 do mesmo mês.

 Saiba mais: https://bit.ly/3c1rVZC 
 
Os boletos de pagamento da inscrição do Enem devem ser pagos até 28 de maio, um dia depois do fim das inscrições.
Segundo o instituto, um total de 5,1 milhões de pessoas já se inscreveu no Enem até esta sexta. Pouco mais de 101 mil se inscreveram para fazer a prova digital, e cerca de 5 milhões farão a prova presencial.
Nesta semana, o MEC também decidiu adiar a data de realização da prova, devido à pandemia do novo coronavírus que atinge o País e exige medidas de distanciamento. O ministério ainda não definiu a nova data da prova, que deve ter atraso de “30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais”, segundo o MEC. A prova pode ser realizada em janeiro, caso o governo utilize o prazo máximo estipulado, de 60 dias.
Segundo o Inep, uma enquete será feita com estudantes inscritos no exame para definir a nova data. Essa consulta deve ser feita até o fim de junho.
MSN
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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Uma Data para Lembrar...

18 de Maio - Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
        

São temas bem delicados
Abuso e exploração...
Crianças e adolescentes
As vidas na contra mão;
Sofrem violência moral
Que agride os sentimentos,
E fere interiormente
Causando indignação;
Não me diga que só lamenta
Essa situação de tormenta,
Repense sua posição!

O silêncio esconde o grito
Pois, em geral o abusador
É família da criança
Pai, irmão, tio ou avô;
A boca pode até calar,
Mas o corpo irá falar
E expressar toda dor!

Às vezes o cara é vizinho
Primo, amigo ou namorado
De alguém que mora em casa
Ou na rua do outro lado;
Gente de total confiança
Que sabe bem disfarçar;
Para não ser identificado
Como aquele que viola
Direitos de inocentes
Que deveria cuidar!

As situações de Abuso
Ocorrem no dia a dia,
Se você ouviu falar,
Se constata ou desconfia
Não deixe de apoiar
No Disk 100 é só ligar
E exercer a cidadania.

Existe em seu Município
O Conselho Tutelar,
É o órgão competente
Para se denunciar;
O sigilo é garantido,
E pela Lei protegido;
Pessoas que escutam a gente
E às denúncias estão atentas;
Um serviço eficiente!

Jamais finja que não sabe
Não peque pela omissão,
Esse tipo de Violência
É a mais grave agressão;
E a responsabilidade
É da família e do Estado
E de toda sociedade...
É dever do cidadão!

Devemos estar em alerta
E dessas vidas cuidar,
São crianças e adolescentes
Que precisam de nosso "olhar"!
Lutemos pela mudança
Dessa triste realidade,
Sem deixar 'passar em branco'
Crimes de tanta gravidade!

Para um trabalho bem feito
Eficiente e de qualidade
São necessários três coisas
Além de "ver ou ouvir falar";
É fazer uma escuta sensível
Proteger e humanizar;
Zelar pela garantia
Dos direitos no Estatuto,
É dever priorizar!

Para se trabalhar em rede
É necessário união
Equipes articuladas,
Com efetiva participação;
Foco nos mesmos objetivos
E todos os membros ativos
Na Rede de Proteção!
Autora:
Aparecida Ramos
www.isisdumont.prosaeverso.

"A maldade é intrínseca ao ser humano. Todo mundo, em algum momento da vida, pode ser mau. Ou seja, os indivíduos são pessoas más em potencial. Entretanto, a forma como o sentimento se manifesta em ações é que fala sobre seu caráter, separando
aqueles que têm dos que não têm um distúrbio mental perverso".


quarta-feira, 13 de maio de 2020

Comunicação agressiva é o mais assustador na pandemia | Leandro Karnal

Haja amor...

 A imagem pode conter: flor, planta, pássaro, natureza e atividades ao ar livre
 Que a dor encontre alívio
e a solidão aviste um pássaro na janela
Que o ódio se canse e desapareça,
E o bem, que acredito, sinto e vejo existir, 
seja mais disseminado, multiplicado!!
E o amor... ah, o amor, todos os dias floresça!!
E assim, haja felicidade!!
Aparecida Ramos

Mudando de assunto: Biografia

Do CANTO III
72
Não vivo por mim mesmo. Sou só um
Elo do que me cerca, mas se a altura
Das montanhas enleva-me, o zum-zum
Das cidades humanas me tortura.
A criação só errou na criatura
Presa à carne, onde paro, relutante,
Buscando, libertada a alma pura,
Mesclar-me ao céu, aos montes, ao ondeante
Plaino do oceano, às estrelas, e ir adiante.
113
O mundo eu não o amei, nem ele a mim;
Não bajulei seu ar vicioso, nem dobrei
Aos seus idólatras o joelho do sim. –
Meu rosto não abriu risos ao rei
Nem repetiu ecos; a turba, eu sei,
Não me inclui entre os seus. Vivi ao lado
Deles, porém sem ser da sua grei;
E à mortalha da sua mente atado
Estaria se não me houvesse precatado.
114
O mundo eu não amei, nem ele a mim –
Bons inimigos, vamos sem rancor.
Não as achei, mas creio que há, enfim,
Palavras que são coisas, vi a cor
Da esperança e cheguei mesmo a supor
Virtudes sem perjúrio ou falsidade;
Nos prantos dos demais vislumbro dor
Em dois ou três, e penso, de verdade,
Que o bem pode existir e assim felicidade.

Lord Byron - poeta inglês

George Gordon Lord Byron by Thomas Philipps, 1814
George Gordon Noel Byron nasceu em 22 de janeiro de 1788, em Londres. Apesar de nascer em família rica, seu pai, Capitão John Byron, era um "bon-vivant" que destruiu toda a riqueza. Sua mãe, Catherine Gordon Byron, vinha da família dos Gordons escocês, uma família tradicional e muito conhecida por sua ferocidade e violência. Havia, junto com a esposa, imigrado para a França para fugir das cobranças de credores. Porém, como ela não queria que seu rebento nascesse em solo francês, não hesitou em voltar à ilha da rainha. John ficou e encontrou abrigo na casa de sua irmã. Em 1791, ele encontrou a morte, aparentemente por suicídio, aos 36 anos. Logo após o nascimento de Byron, sua mãe o levou para a Aberdeen, Escócia, onde uma deformidade em seu pé logo ficou evidente.
Ganhou botas especiais e passou por inúmeros tratamentos mas logo deixou estas dolorosas experiências para trás. O pequeno George vivia mergulhado em leituras, com atenção especial para a história de Roma. Mas sua infância não se resumia a isto. Ele era marcado pelo amor. Aos sete anos, Byron se apaixonou perdidamente por sua prima, Mary Duff. Aos nove, sua babá o introduziu aos prazeres da carne.
Com 10 anos, Byron herda o título nobiliárquico de um tio-avô, tornando-se o sexto Lord Byron. As finanças minguavam. Tudo o que remetia ao nome dos Byron era motivo de processos por dívidas. O pequeno Byron foi enviado para a academia do doutor Glennie, em Dulwich, e logo em seguida, para Harrow. Durante um Natal, ele retornou para Newstead, que havia sido alugada por Lorde Ruthyn, que o iniciou no bissexualismo. Apaixonou-se perdidamente por Mary Ann Chaworth, uma vizinha. Ficou tão obcecado que se recusou a voltar. Ruthyn praticamente o obrigou a retornar.
Em sua adolescência, Byron foi tomando consciência de seu poder. Possuidor de carisma, beleza e poder de sedução, ele logo começou a aproveitar seus dons. Envolveu-se com colegas, empregadas, professores, prostitutas e garotas que adoravam um título de nobreza.
Em 1805, Byron teve um grande choque. Mary Ann casou-se. Logo, ele se torna mais rebelde ainda. Arrumou um emprego em Cambridge mas nunca trabalhava, já que esta era a moda para os descolados da época. Era o tédio, o "spleen". Era a forma que os, então, românticos viviam a vida, e da qual Byron foi o mestre supremo. Escrevia versos e mais versos e gastava muito dinheiro. Após entrar na "Trinity College" de Cambridge, em 1807, publica seu primeiro livro de poesia, Hours of Idleness (Horas de ócio), mal recebido pela crítica da prestigiosa Edinburgh Review. Byron respondeu com o poema satírico English Bards and Scotch Reviewers (Bardos ingleses e críticos escoceses), em 1809.
Em 1811, publica os dois primeiros cantos de Childe Harold's Pilgrimage (Peregrinação de Childe Harold), longo poema em que narra as andanças e amores de um herói desencantado, ao mesmo tempo em que descreve a natureza da península ibérica, Grécia e Albânia. A obra alcançou sucesso imediato e sua fama se consolidou com outros trabalhos, principalmente The Corsair (O Corsário) em 1814 e Lara no mesmo ano; além de The Siege of Corinth (O Cerco de Corinto) em 1816. Nesses poemas, de enredos exóticos, Byron confirmou seu talento para a descrição de ambientes.
George Gordon Lord Byron, by Colonel William
 Stirling of Keir 1951
Em 1815 casa-se com Anne Milbanke. Muda-se para a Suíça em 1816, após o divórcio de Lady Byron, causado pela suspeita de incesto do poeta com sua meia-irmã Augusta Leigh. Na Suíça escreve o canto III de Childe Harold's Pilgrimage, The Prisoner of Chillon (O prisioneiro de Chillon) e o poema dramático Manfred, enigmático e demoníaco. Em Genebra vive com Claire Clairmont e faz-se amigo de Shelley. Passam horas discutindo filosofias e poesias. Navegavam pelo lago e visitam os cenários da Nova Heloísa, de Rousseau. Chegaram, inclusive, a trocar rosas e carícias.
Numa noite chuvosa em Diodati, o grupo decidiu compor histórias macabras. Nasceu ali Frankenstein de Mary Shelley e O Vampiro de Polidori.
Compôs então, em 1818, o canto IV de Childe Harold's Pilgrimage e Beppo - A Venetian Story (Beppo - Uma história veneziana), poema em oitava-rima, de tom ligeiro e cáustico, em que ridiculariza a alta sociedade de Veneza. Em 1819 começou o poema herói-cômico Don Juan, sátira brilhante e atrevida, à maneira do século XVIII, que deixaria inacabada. No mesmo ano ligou-se à condessa Teresa Guiccioli, seguindo-a a Ravena onde, juntamente com o irmão dela, participou das conspirações dos carbonários.
Em novembro de 1821, tendo fracassado o movimento revolucionário dos carbonários, Byron partiu para Pisa. Em 1822 fundou, com Leigh Hunt, o periódico The Liberal. Foi a seguir para Montenegro e daí para Gênova. Nomeado membro do comitê londrino pela independência da Grécia, embarcou para aquele país em 15 de julho de 1823, a fim de combater ao lado dos gregos, os turcos, onde escreveu o drama The Deformed Transformed (O Deformado Transformado), em 1824.
Passou quatro meses em Cefalônia e viajou para Missolonghi, onde morreu em 19 de abril de 1824, após contrair uma misteriosa febre.
A obra e a personalidade romântica de Lord Byron tiveram, no início do século XIX, grande projeção no panorama literário europeu e exerceram enorme influência em seus contemporâneos, por representarem o melhor da sensibilidade da época, conferindo-lhe muito de sedução e elegância mundana. Lord Byron teve uma vida pessoal bastante conturbada: na juventude foi acusado de abuso sexual pela prima, homossexualismo e também foi um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da maconha. Em meio a toda essa agitação existencial, que se tornou o paradigma do homem romântico que busca a liberdade, Byron escreveu uma obra grandiloqüente e passional. Encantou o mundo inicialmente com seus poemas narrativos folhetinescos, em que não faltam elementos autobiográficos, como Childe Harold's Pilgrimage, e depois o assustou com a faceta satírica e satânica que apresenta em poemas como Don Juan. Foi um dos principais poetas ultra-românticos. O cinismo e o pessimismo de sua obra haveriam de criar, juntamente com sua mirabolante vida, uma legião de jovens poetas "byronianos" por todo o mundo, chegando até o Brasil na obra de grandes escritores, como Álvares de Azevedo.
:: Fonte: por Spectrum | Spectrum Gothic
 
http://www.elfikurten.com.br/2016/04/lord-byron.html




domingo, 10 de maio de 2020

A TODAS AS MÃES DO MUNDO (Acróstico/Homenagem)



     A.mor, tradução mais justa para esse nome bendito!

   T.odas mãe tem aroma de flor, brilho de estrela, da manhã o frescor
   O.nde vão, levam os(as) filhos(as) se não no colo, no coração
   D.esdobram-se em funções e atividades diversificadas
   A.prendem no exercício do "ser"a arte mais bela: amar incondicionalmente!
   S.em "Elas" o mundo não existiria...

    A.s mães são exemplos de desprendimento, carinho, zelo e proteção
    S.uportam dores, ingratidão e lágrimas, inclusive no silêncio do coração.

    M.ães são nada menos que estrelas prontas a oferecer brilhos
n Ã.o abandonam os filhos, são deles(as) porto seguro nas intempéries...
  E.speciais, sim, todas devem ou deveriam se sentir!
  S.audades dos beijos, dos abraços, das repreensões também.   
  
  D.esenhá-las em palavras é impossível, tamanha é sua grandeza!
  O.amor materno é infinito e de caráter universal...
  
  M.ãe, sua coragem, sua garra e determinação são exemplos que aprendi.
  U.nião, solidariedade, compreensão, perdão são frutos do amor materno
  N.ão esqueça jamais de quanto sua mãe é/foi importante em sua vida!
  D.istantes nesse "instante"de pandemia, elas são presença de amor e 
  O.ração!!
Autora:
Aparecida Ramos
https://isisdumont.prosaeverso.net/
FELIZ DIA DAS MÃES!!!
 
 Gratidão!!