domingo, 31 de março de 2019

As misteriosas fotos perdidas ligadas a um dos capítulos mais tristes da história da BBC



 A foto do casamento de Effie

Esta foto foi esquecida em uma loja de departamentos escocesa; o verso dizia se tratar do "casamento de Effie" 

No início de março, a polícia de Glasgow, na Escócia, fez um incomum alerta ao público: uma coleção de fotos antigas, que pareciam ser recordações de uma família, havia sido encontrada em uma loja de departamentos e aguardava notícias de seu dono.
O que ninguém sabia àquela altura é que a solução desse pequeno mistério local revelaria um vínculo com um dos momentos mais tristes da história da BBC.
Havia algumas pistas sobre a coleção: uma foto amarelada de casamento, com convidados sorridentes, mulheres em chapéus de abas largas e um jovem de saia escocesa. Foi tirada pelo "Escritório de Fotografia de Knightsbridge, número 245, em Knightsbridge S.W.7

No verso da foto havia os dizeres "Casamento de Effie (irmã da mamãe morta no bombardeio de Londres de 1941)", "tio Harry" e "titia Annie".
Outras quatro fotos menores com as palavras "Millport 1952" escritas no verso mostravam grupos de crianças, identificadas como Moira, Grace, Helen, Rosemary, Janice e John.

A polícia esperava que, como as fotos pareciam ter grande valor sentimental, alguém iria buscá-las. Mas, como isso não aconteceu, os policiais passaram a procurar ativamente por seus donos e postaram imagens nas redes sociais. Até a BBC Escócia fez uma reportagem a respeito, em fevereiro. A movimentação levou detetives amadores e genealogistas a se interessarem pelo mistério, que rapidamente seria resolvido.

A conexão Millport

Crianças em Millport 

 Outras fotos da coleção perdida mostravam crianças na cidade costeira de Millport; eram Moira Stewart, Grace Little e Helen Steven na foto à esquerda; Rosemary Houston, Helen, Grace e John Steven na foto da direita

Millport é uma cidade praiana na pequena ilha de Cumbrae, na costa oeste da Escócia.
De lá veio a primeira descoberta relacionada às fotos perdidas: poucas horas após a notícia ser publicada no site da BBC, uma mulher entrou em contato com a reportagem.
Trata-se de Grace Beagrie, hoje com mais de 70 anos, que está retratada em uma das fotos. Na época, ela tinha nove anos. E contou que as fotos haviam sido tiradas perto de sua casa, em frente à praia de Millport.
As demais crianças da foto eram sua prima, Rosemary Houston, que estava de visita, as amigas locais Moira Stewart e Janice Blair, e John e Helen Steven, que estavam hospedadas com seus avós no apartamento abaixo de onde Grace morava.
"Íamos tomar banho de praia todos os dias", relembra Grace sobre a rotina com seus amigos. "Brincávamos no quintal e passeávamos pelas colinas."

 
Crianças em Millport
Image caption Da esquerda à direita: Helen e Rosemary; e na segunda foto Grace, Helen e Janice Blair
Grace não lembra quem tirou as fotos, mas acredita que possa ter sido um fotógrafo que trabalhava nas redondezas, tirando fotos e vendendo-as aos veranistas.
Quanto à foto do casamento, Grace não tinha ideia de onde ela vinha, mas suspeitava que tinha algo a ver com a família Steven.
Seu palpite se provaria correto.

O casamento de Effie

Diversas pessoas postaram, nas redes sociais, ideias de locais que pareciam ter sido o palco da cerimônia de casamento da foto.
A igreja de St. Columba, em Londres, tinha uma entrada similar à que aparece na fotografia, antes de ser bombardeada em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial.
Houve quem apontasse que Effie é diminutivo de Euphemia - um nome incomum, que somado ao fato de que ela havia morrido na blitz de 1941, era uma pista importante.
A genealogista amadora Sally Howel passou a buscar a lista de civis britânicos mortos nos bombardeios da Segunda Guerra Mundial e entrou em contato com a BBC com uma possível solução para o mistério.

  Registro da morte de Euphemia Shearer
Direito de imagem Sally Howel
Image caption O nome de Euphemia aparecia na lista de civis mortos nos bombardeios de Londres durante a Segunda Guerra Mundial
Ela trouxe à tona o nome de Euphemia Shearer, morta em outubro de 1940 - um ano, portanto, antes da data escrita na foto, mas isso pode ter sido um erro.
O curioso é que o nome de solteira de Euphemia era Steven, e ela nascera em Glasgow, embora morasse em Londres quando morreu, aos 29 anos.
Segundo os registros encontrados sobre Euphemia, ela havia se casado com o escocês George Ross Shearer em 1939, no bairro londrino de Chelsea - não muito longe do Escritório de Fotografia de Knightsbridge citado na foto.
A partir disso, foi possível buscar a localização e a data prováveis da foto.
A igreja de St Columba foi reconstruída nos anos 1950, e o escritório eclesiástico confirmou que o casamento da foto ocorreu em uma segunda-feira de 17 de julho, apenas sete semanas antes de o Reino Unido e a Alemanha entrarem em guerra entre si.
A geneologista Sally descobriu outra informação importante que levou a uma irônica reviravolta na história: Euphemia Shearer trabalhava para a BBC na época.

O bombardeio da BBC

 O bombardeio da Broadcasting House, da BBC


Image caption O bombardeio da Broadcasting House, da BBC, em outubro de 1940, deixou sete mortos
No outono (do hemisfério Norte) de 1940, Londres enfrentava a fúria dos bombardeios alemães.
Pouco depois das 8h de 15 de outubro, uma grande bomba se chocou contra o sétimo andar da sede da BBC, a Broadcasting House, destruindo a central telefônica, embora sem ser detonada.
A BBC tinha uma equipe própria de bombeiros, que rapidamente controlou as chamas. Mas o detonador da bomba ainda funcionava, e, assim que funcionários tentaram movê-la, ela explodiu.
Às 9h02, o apresentador de rádio Bruce Belfrage estava no porão, lendo o boletim noticioso da hora, quando o prédio inteiro sacudiu. O barulho da detonação foi transmitido ao vivo para todo o Reino Unido.
BBC

O drama das meninas que têm os seios queimados a ferro para ‘adiar a puberdade’

 
 
'Às vezes era difícil respirar', diz mulher que teve seios queimados a ferro aos 13 anos
Simone teve os seios queimados aos 13 anos. Kinaya passou pelo mesmo aos 10. Os nomes das meninas são fictícios, mas suas histórias, não.
As duas vivem no Reino Unido e são de famílias de origem africana, onde a prática de queimar a ferro seios de adolescentes, na tentativa de atrasar seu crescimento, é muito comum em algumas regiões.
"Minha mãe dizia que se (meus seios) não fossem queimados a ferro, os homens iriam começar a se aproximar de mim, buscando sexo", conta Kinaya.
Normalmente é a própria mãe quem queima o peito das filhas. Usam uma pedra, uma colher ou até mesmo um ferro de passar quentes para achatar os seios das jovens na puberdade.
A prática pode se repetir ao longo de meses.


"O tempo não apaga esse tipo de dor. Você não pode chorar. Se você chora, dizem que você envergonha a família por não ser uma garota forte", relata Kinaya.
Estima-se que mais de mil meninas tiveram os seios queimados dessa forma no Reino Unido. A prática está sendo questionada e o Sindicato Nacional de Educação britânico alerta que as escolas britânicas são obrigadas a proteger as meninas desse tipo de abuso. Para o governo, professores têm obrigação de comunicar a prática.

Image caption 'Kinaya' não deixou que a filha passasse pelo mesmo sofrimento que passou
Kinaya já é adulta e tem filhas. Quando a mais velha completou 10 anos, a mãe dela sugeriu submetê-la à prática. "Eu disse não, não, não. Nenhuma filha minha vai passar pelo que eu passei. Eu ainda vivo com o trauma".
Ela mudou-se para longe da família, temendo que seus parentes fossem querer queimar o peito das filhas à força, sem a autorização dela.
No programa matinal Victoria Derbyshire, da BBC, uma mulher relatou que só descobriu que o que fizeram com os seios dela não era normal durante uma aula de educação física. Na hora de trocar de roupa, no vestiário, reparou que tinha algo de errado com ela.
 garota com faixa aperdada prendendo o peito
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Image caption Normalmente são as mães que queimam e amarram os seios das filhas
Mas os professores nunca repararam, nem mesmo quando ela parou de frequentar as aulas de educação física.
"Se o meu professor soubesse, se tivesse treinamento, eu poderia ter tido a ajuda que eu precisava enquanto ainda era criança", relatou, contando que a irmã dela também teve os seios queimados aos oito anos.
Simome também contou sua história ao programa Victoria Derbyshire. Ela teve os seios queimados aos 13 anos, quando a mãe descobriu que ela era gay.
"Minha mãe achava que, talvez, eu fosse atraente por causa dos meus seios. Então, se ela conseguisse achatá-los, eu seria feia e ninguém ia me admirar", relatou.
Por meses, os seios de Simone foram queimados. Ela foi obrigada a usar uma faixa apertando o peito. "Às vezes era difícil respirar", contou.

 Stone used for breast ironing

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Image caption Uma pedra ou uma colher aquecidas no fogo são, normalmente, usados para queimar os seios de meninas na puberdade
Anos depois, ela teve um bebê com o homem com quem foi forçada a se casar.
Amamentar se transformou em algo mais difícil do que normalmente é. "O leite não sai normalmente, parece que tem um nó dentro. Acho que tive alguns nervos comprometidos".

Crime escondido

No Reino Unido, não há um crime especifico para quem queima os seios a ferro. Mas o governo encara a prática como abuso infantil e informa que quem comete o ato pode ser processado.
A enfermeira Angie Marriott, que já trabalhou com ginecologistas e hoje dá palestras para polícia de Cheshire, no Reino Unido, afirma que a prática é mais comum do que se imagina no país e que existe subnotificação.
Ela descreve o problema como um crime escondido e sensível. Diz que as mulheres têm medo de falar e de sofrerem retaliação das suas comunidades. "Sei o que está acontecendo porque pessoas já se confidenciaram comigo e disseram que era a primeira vez que estavam falando sobre o assunto. Tinham vergonha", conta a enfermeira.
Simone ainda carrega as cicatrizes dos abusos aos quais foi submetida. Ela quer aumentar a consciência das pessoas sobre o que está acontecendo.
"Para mim foi, no mínimo, abuso. Machuca, te desumaniza", disse.
 
Angie Marriott
 
Image caption A enfermeira Angie Marriott diz que as mulheres têm medo de falar sobre a prática
Kiri Tunks, do Sindicato Nacional da Educação do Reino Unido, pede que professores e funcionários de escolas prestem mais atenção aos sinais.
Kicky Morgan, membro do Parlamento britânico, também se envolveu com o tema. Ela diz que é preciso treinar professores e pessoas que trabalham com jovens para que fiquem cientes de que o problema é real e acontece no Reino Unido.
"É preciso abordar o tema, falar sobre ele e parar com a prática", afirma Morgan.
BBC

Alma gêmea ou amor pragmático? Como medir o impacto das crenças nos relacionamentos

CasalAcreditar no amor verdadeiro pode deixá-lo cego tanto para o bem quanto para o mal, com resultados às vezes tóxicos para o seu relacionamento 


Você já confidenciou seus problemas conjugais a seus amigos e ouviu deles que não valeria a pena se preocupar? Ou viu alguém do seu círculo social entrar em um relacionamento que, na sua visão, está fadado ao fracasso?
Os psicólogos descobriram duas escalas que influenciam a forma como iniciamos e mantemos relacionamentos.

Uma delas mede a importância que atribuímos às primeiras impressões e aos primeiros sinais de compatibilidade; a outra mira a probabilidade de lidarmos com problemas nos relacionamentos. Elas são chamadas teorias implícitas de relacionamentos (porque não costumamos falar sobre elas).
Podemos intuitivamente pensar em nós mesmos como mais ou menos propensos a acreditar no amor verdadeiro - mas isso não é algo que discutimos abertamente com os outros ou de que estamos conscientes quando começamos novos relacionamentos.
Juntas, essas duas escalas podem revelar se estamos mais propensos a evitar falar sobre problemas com nossos parceiros, procurar falhas onde elas podem não existir e desaparecer sem dar explicações (do inglês 'ghosting'). Diferenças nessas atitudes implícitas também podem nos ajudar a entender as razões pelas quais as escolhas conjugais dos outros muitas vezes parecem inexplicáveis para nós.


Para descobrir como você se situa nessas escalas, pode testar as duas avaliações abaixo.

Você acredita em amor à primeira vista? Ou no amor que cresce com o tempo?

A escala da 'alma gêmea'

Responda às seguintes perguntas com números que vão de 1 a 7 - em que 1 significa "discordo completamente" e 7, "concordo completamente".
1. O sucesso de uma relação conjugal depende de as pessoas "serem feitas uma para a outra".
2. Existe alguém nesse mundo que é perfeito (ou quase perfeito) para mim.
3. Nos casamentos, muitas pessoas descobrem (em vez de constroem) uma profunda e íntima conexão com seu cônjuge.
4. É extremamente importante que eu e meu cônjuge estejamos apaixonados um pelo outro depois de nos casarmos.
5. Não poderia casar com alguém a menos que estivesse apaixonado por ele(a).
6. Não existe tal coisa como "homem certo" ou "mulher certa".
7. Espero que meu futuro marido (ou esposa) seja a pessoa mais incrível que já conheci.
8. Pessoas que estão procurando um par perfeito estão perdendo seu tempo.
9. A razão pela qual a maioria dos casamentos fracassa é que as pessoas não são feitas uma para a outra.
10. Os vínculos entre as pessoas geralmente existem antes de você conhecê-las.
Vamos à pontuação. Primeiro, some os números das perguntas 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10.
Para as perguntas 6 e 8, subtraia o valor por 8 e use o novo número como sua resposta, independentemente se ele é negativo. Por exemplo, se você respondeu "6", sua resposta será 2 (6-8=-2).
Some todos os números e divida o total por 10 para obter sua média nessa escala.
   
Quando os relacionamentos estão passando por dificuldades, as pessoas que pontuam melhor na escala de "crescimento" tendem a se sair melhor

A escala do pragmatismo

Responda às seguintes perguntas com números que vão de 1 a 7 - em que 1 significa "discordo completamente" e 7, "concordo completamente".
1. O sucesso de uma relação conjugal depende principalmente de quanto as pessoas tentam fazer o relacionamento funcionar.
2. No casamento, o esforço é mais importante do que a compatibilidade.
3. Em um relacionamento, o amor cresce (em vez de o amor é encontrado).
4. Se as pessoas simplesmente fizessem esforço, a maioria dos casamentos daria certo.
5. Poderia ser feliz casado com a maioria das pessoas, se elas fossem razoáveis.
6. A razão pela qual a maioria dos casamentos fracassa é que as pessoas não se esforçam.
7. Quão bem você conhece alguém depende de quanto tempo você o(a) conhece.
8. Se tivesse que casar com uma pessoa aleatória, ficaria satisfeito.
9. Só com o tempo você pode realmente aprender sobre seu cônjuge.
Para descobrir sua pontuação, some suas respostas e divida por 9.

  Casal
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Image caption Quando percebem que alguém não é sua alma gêmea, quem acredita no "destino" pode abandonar o relacionamento e "fantasiar" o parceiro
As perguntas desse quiz foram extraídas do Questionário de Teorias do Relacionamento usado por Renae Franiuk, da Universidade de Aurora, no Estado americano de Illinois, em sua pesquisa sobre teorias implícitas e satisfação e longevidade dos relacionamentos.
Franiuk usa 'Alma Gêmea' e 'Pragmatismo' para descrever as duas escalas. Outros pesquisadores usam "destino" e "crescimento" para descrever escalas semelhantes.

Análise dos resultados

Se você teve uma pontuação alta quanto à crença em sua alma gêmea e se surpreendeu com isso, não se desespere. Você não é o único. "As pessoas têm uma tendência a pensar que serão do tipo 'pragmáticas', mas vemos que muitas ainda acreditam em sua 'alma gêmea'", afirmou Franiuk.
"Quando ouvimos falar sobre essas teorias, muitos de nós torcem o nariz para o conceito de 'alma gêmea' porque soa pouco científico. Mas, na verdade, se trata apenas de um termo. Poderíamos chamar de algo diferente para descrever quem se identifica com essas crenças românticas. Não surpreende que queremos acreditar nessas ideias, uma vez que nossa cultura ocidental nos pressiona nesse sentido."
Agora que você já sabe o quanto pontuou, o que você deve fazer?
Quando os relacionamentos estão passando por um período difícil, as pessoas que têm uma pontuação alta nas escalas de crescimento geralmente se saem melhor.
A existência de um problema pode melhorar a força do relacionamento; os casais que têm uma pontuação alta nas escalas de crescimento, na verdade, relatam sentir-se melhor sobre seu relacionamento depois de resolver um conflito. Para essas pessoas, pode ser necessário que problemas pequenos, relativamente sem muita importância, surjam para mantê-las focadas em evoluir juntas. Ou seja, quanto mais esforço o casal fizer nesse sentido, mais comprometidos eles vão se sentir. Moral da história: eles adoram um desafio.
Por essas razões, aqueles que pensam dessa forma vão ignorar grandes diferenças de compatibilidade - esta, para eles, vem com o tempo, e é nisso que eles devem trabalhar juntos.
O oposto é verdadeiro para quem acredita fortemente no destino, com algumas consequências potencialmente tóxicas.

'Nem tão perfeita assim'

Em especial nos estágios iniciais de um relacionamento, a presença de um problema pode precipitar um rompimento, já que quem acredita no destino se dá conta de que sua alma gêmea "perfeita" não é tão perfeita assim. Os defensores dessa ideia podem argumentar que seu cônjuge "nunca realmente me entendeu" ou que uma pequena falha é "uma prova de que não somos realmente compatíveis". Isso é o que acontece mesmo que o casal seja relativamente compatível, diz Franiuk.
Pior ainda, eles tendem a terminar o relacionamento de uma forma mais brutal. As pessoas que acreditam no amor verdadeiro são mais propensas a "desaparecer sem dar explicações" - evitando contato até que o cônjuge desista de procurá-las.
Talvez porque quem faz isso não sinta que valha a pena o esforço. Afinal, acredita que o cônjuge não é ideal. Tampouco vê o benefício de fornecer feedback. "Eles não veem isso como algo negativo", diz Gili Freedman, psicóloga do St. Mary's College, no Estado americano de Maryland, que estuda a rejeição social.
"A pontuação na escala de crescimento tem um efeito menor em geral. Por outro lado, uma pontuação alta para o crescimento significa que você tende a ver o 'ghosting' como algo realmente negativo".
Essas pessoas também ignoram conflitos com mais facilidade. Isso porque têm a certeza de que encontraram o amor verdadeiro.
"Quem acredita no destino tende a ser mais tolerante com o cônjuge e mais propenso a evitar uma briga porque quer acreditar que essa pessoa é sua alma gêmea", diz Franiuk. Isso pode ser positivo para pequenas divergências. "Mas se você evita grandes conflitos, acaba ficando com alguém que não é bom para você."

As pessoas não mudam?

E as consequências podem ser extremamente sérias. Aqueles que acreditam no destino e estão juntos há mais tempo tendem a desmerecer problemas. Afinal, partem do pressuposto de que eles e seus cônjuges são mais compatíveis por causa da quantidade de tempo que passaram juntos.
"Descobrimos que, quanto mais os defensores da alma gêmea insistem em uma relação amorosa apenas porque acreditam ter encontrado a pessoa certa, mais relatam violência", diz Franiuk. "Eles minimizam relacionamentos problemáticos. Alguns podem até ver sinais de alerta antecipadamente e terminar. Outros sabem que estão em um relacionamento com a pessoa errada, mas, por razões econômicas, decidem continuar com o cônjuge. E, porque acreditam no destino, acabam ficando mais tolerantes, o que os coloca em situações de perigo".

  Ilustração
 Direito de imagem Getty Images
Image caption Teorias não precisam ser mutuamente excludentes
Os especialistas também dizem que é difícil mudar. Ou seja, se você acredita em alma gêmea desde cedo, provavelmente não vai mudar de opinião ao longo da vida.
"Essas teorias são profundamente embasadas. Aos 20 e 30 anos, nossas personalidades já estão bastante estáveis. E tal qual a personalidade, a construção de relacionamentos é desenvolvida desde cedo - as crianças formam essas ideias com base nas relações que as cercam", diz Franiuk.
Mas as duas teorias não são excludentes.
"Você pode acreditar que os relacionamentos melhoram quando os casais fazem um esforço conjunto, mas (ainda acredita) que existe a pessoa 'certa' para você", diz Freedman.
"Poucas pessoas discordam da ideia de que seja possível evoluir juntos num relacionamento. E ainda podemos alterar as maneiras pelas quais expressamos essas crenças. Esperamos que experiências passadas moldem a maneira como lidamos com novos relacionamentos".
Dessa forma, não é porque você acredita na alma gêmea que vai terminar seus relacionamentos desaparecendo sem dar explicações. Ou mesmo evitar fazer qualquer esforço, porque acredita que você e seu cônjuge não são compatíveis.
Por essa razão, dizem os especialistas, uma maior conscientização das nossas próprias tendências românticas pode nos ajudar a navegar pelos obstáculos inerentes às nossas conexões amorosas.
BBC

55 anos do golpe militar: A história de Cassandra Rios, a escritora mais censurada da ditadura




  https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/F4B4/production/_106244626_72fb4df4-b28f-41ff-9cad-fd55b0078d97.jpg
 Direito de imagem Vania Toledo
Image caption Cassandra era pseudônimo de Odete Rios, nascida em 1932 em São Paulo

Ninguém foi mais perseguida pelos censores da ditadura militar brasileira (1964 - 1985) do que Cassandra Rios, escritora recordista em vetos durante o regime, com 36 dos seus 50 livros publicados censurados durante a vida - fora algumas edições clandestinas.
"Cassandra Rios incomodou os militares por várias razões. A principal delas é o conteúdo erótico de seus livros, contrário a 'moral e aos bons costumes', como se dizia na época", explica Rodolfo Londero, professor da Universidade Estadual de Londrina e autor do livro Pornografia e Censura: Adelaide Carraro, Cassandra Rios e o Sistema Literário Brasileiro nos anos 1970.
Nascida em 1932, em Perdizes, bairro classe média alta de São Paulo, Cassandra era pseudônimo de Odete Rios. Em 1948, aos 16 anos, publicou seu primeiro livro, A Volúpia do Pecado, uma história de amor entre duas adolescentes, se tornando a primeira autora do país de romances eróticos voltados ao universo homossexual feminino.
Na época, após ter sido rejeitado por todas as editoras de São Paulo, A Volúpia do Pecado foi publicado pela própria Odete com dinheiro emprestado pela mãe, dona Damiana, uma imigrante espanhola burguesa e católica. Sob o pseudônimo de Cassandra Rios, originalmente a sacerdotisa grega que profetizou o episódio do "cavalo de Troia", o livro de estreia fez tanto sucesso que chegou a ser reeditado nove vezes em pouco mais de dez anos.
Até que, em 1962, foi proibido e tirado de circulação por ofender os valores familiares. Entre 1964 a 1985, anos da ditadura, outras três dezenas de livros da escritora seriam proibidos.

Para Londero, mais que o conteúdo erótico e homossexual, foi a combinação de duas características perigosas aos olhos dos militares que transformaram Cassandra Rios na "escritora maldita", modo como era chamada pela ditadura: a sua sexualidade - a escritora era assumidamente lésbica - e a sua popularidade.
"Enquanto escritora, Cassandra sabia se comunicar com as classes populares", afirma o pesquisador. "Enquanto lésbica, sabemos, baseados em farta documentação, que a ditadura considerava perigosa qualquer orientação sexual que escapasse da heteronormatividade."
"A sociedade rotula o homossexual como cachaça de macumba, não como uísque", brincou a escritora em 2001, pouco antes de morrer, ao lembrar da sua trajetória.


Documento oficial mostra parecer de censor vetando livro de Cassandra, 'Copacabana Posto 6'
 Parecer de censor veta livro de Cassandra, 'Copacabana Posto 6'
Apesar da perseguição recorde, Cassandra Rios se tornou a primeira escritora brasileira a vender 1 milhão de exemplares, meta alcançada em 1970, superando escritores populares de sua época, como Jorge Amado, Clarice Lispector e Érico Veríssimo. Foi, ainda, o primeiro caso conhecido de uma escritora nacional a viver exclusivamente da venda de seus livros, nunca tendo exercido outra profissão.
"Mesmo censura após censura, Cassandra era persistente, continuava escrevendo", conta Londero. "No final, a própria censura ajudou a transformá-la em um mito. Mais que um xingamento, a fama de 'escritora maldita' se transformou em um rótulo lucrativo para as editoras."
Pesquisas da professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Sandra Reimão estimam que 450 livros tenham sido censurados nos 21 anos de ditadura militar, regime que teve início no golpe de Estado de 31 de março de 1964.

Perseguida e queimada

Ainda que fosse um sucesso de vendas entre os anos 1950 a 1980 - e de popularidade, diga-se de passagem, já que personalidades como Jorge Amado e o Bandido da Luz Vermelha eram fãs declarados da escritora - Cassandra foi perseguida e tirada de circulação com tanta ferocidade pelos militares que até hoje é difícil encontrar seus mais de 50 livros em livrarias e sebos.
"Com os direitos autorais que recebia da venda dos livros, a tia Odete levava uma vida muito confortável", lembra Liz Rios, sobrinha da escritora. "Ela [a tia] tinha o apartamento em que morava, tinha uma casa em Interlagos [zona sul de São Paulo], uma chácara em Embu das Artes e alguns carros, além da própria livraria, onde ela vendia seus livros".
Com a perseguição dos censores, Cassandra foi à falência em 1976, ano em que 14 obras da escritora foram censuradas em apenas seis meses. "Ela perdeu quase tudo e teve de fechar a livraria. Lembro que ficou arrasada nessa época, sem chão", conta a sobrinha.
"Em geral, os escritores exerciam o ofício da literatura não como forma de renda, pois trabalhavam em outras atividades. Mas Cassandra era uma escritora profissional", conta Londero, explicando que a romancista foi a única escritora de sua época a viver exclusivamente da venda de seus livros no Brasil, tendo sido uma das pioneiras na profissionalização do escritor no país.
Para sobreviver, Cassandra passou a colaborar com artigos para revistas e jornais e criou um pseudônimo, Oliver Rivers, para conseguir publicar livros e equilibrar as contas.
"Engraçado que com o pseudônimo masculino, a tia Odete conseguia passar pela censura e vender os livros, igualmente eróticos. Isso comprova que a perseguição era contra a pessoa Cassandra, e não só contra sua literatura", afirma Liz, lembrando que a tia era levada pelos DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) para depor com frequência, livro após livro.
E para onde íam os livros apreendidos de Cassandra? Segundo a professora Reimão, que é autora do livro Repressão e Resistência - Censura a Livros na Ditadura Militar, provavelmente muitos foram para o fogo. Por isso, muitos livros dela estão fora de circulação.
"Na documentação censória preservada no Arquivo Nacional de Brasília, há dezenas de ofícios do governo dos militares comunicando a incineração do material apreendido", explica Reimão. "Ou seja, as centenas de livros confiscados e guardados em depósitos pela censura usualmente eram incinerados, e não só apreendidos", explica.
Aqueles que conseguiam comprar as obras proibidas de Cassandra liam os livros com receio de serem descobertos.
"Escondiam meus livros debaixo do colchão, meu nome virou palavrão!", contou a escritora em uma entrevista dada em 2001 à revista TPM.

A santa vaca

A vida de Cassandra Rios se tornou ainda mais difícil a partir de 1968, com a promulgação do Ato Institucional número 5 (AI-5), que oficializou a censura no país.
"O AI-5 dava poder ao governo de cassar mandatos, suspender direitos políticos e garantias individuais, além de censurar a divulgação da informação, a manifestação de opiniões e as produções culturais e artísticas, incluindo livros", explica Reimão.
 Capa do livro 'A santa vaca'
  Direito de imagem Reprodução Image caption Como contaria depois, escritora criou A Santa Vaca como resposta à perseguição por militares

O endurecimento da censura pelo AI-5 trouxe diversas consequências para Cassandra Rios - para além da falência. Em uma entrevista à revista Realidade, em março de 1970, a escritora revelou que a censura lhe causava abalo emocional e decepção.
"Sou uma criatura simples, comum, cheia de problemas, triste e amarga. A vida de escritora tem sido muito dura para mim", disse Cassandra.
Além do forte moralismo usado como método para barrar uma obra, Reimão conta que a censura a livros, principalmente entre 1964 a 1968, era executada na base de "batidas policiais, apreensões de exemplares, confisco e coerção física".
Além das abordagens agressivas, o escritor censurado era intimado a depor sobre sua obra.
"Era comum que os escritores fossem chamados à delegacia ainda muito cedo. Lá, tomavam um 'chá de cadeira' que durava o dia inteiro, para serem interrogados somente no final do dia. Imagine o que passava pela cabeça de um escritor censurado pela ditadura enquanto esperava essas longas horas na delegacia", acrescenta Londero. "Era uma forma sutil de tortura psicológica, de intimidação da ditadura."
"A tia Odete nunca disse isso, mas com certeza tinha medo dos militares. Ela era muito reclusa, quase não saía de casa. Acho que a perseguição da ditadura a deixou assim, reservada", opina a sobrinha. "Com certeza ela morreu decepcionada com a ditadura."
Enraivecida com a censura de suas obras e com o rótulo de pornográfica - Cassandra não gostava desse estereótipo -, a escritora publicou A Santa Vaca em 1978, uma espécie de resposta à perseguição e difamação causada pelos militares.
"Escrevi A Santa Vaca de raiva", disse a autora quando questionada se o objetivo do título do livro, que conta as fantasias eróticas por trás de uma jovem considerada boa moça, era chocar. "De tanto me perseguirem, resolvi fazer pornografia, então fiz esse livro. Na introdução, está a minha intenção, [mostrar] a força da mulher ao ser chamada de prostituta", contou Cassandra Rios.

Pornográfica igual a comunista

Santinho de campanha mostra foto de Cassandra sorrindo e frase 'Ontem, hoje, sempre defendendo nossos direitos'



Direito de imagem Reprodução
Image caption Cassandra foi convidada por político a concorrer às eleições de 1986 e aceitou o convite: se candidatou a deputada estadual por São Paulo pelo PDT
Ser chamada de pornográfica nos anos 1970 era tão perigoso quanto ser chamada de comunista e, em muitos casos, poderia significar a mesma coisa.
"A liberação sexual estava intimamente ligada aos movimentos contraculturais, que, por sua vez, estavam ligados ao pensamento de esquerda", explica Londero. "Por isso, aos olhos da ditadura, editoras que publicavam qualquer coisa sobre a temática de sexualidade eram verdadeiras inimigas do Estado por serem promotoras da revolução sexual entre os brasileiros, sendo consideradas pelos militares ainda mais perigosas que a própria revolução socialista".
"Uma das conclusões dos meus estudos sobre censura na década de 1970 é que não é possível separar o universo moral do político", afirma Reimão. "Isso significa que, para os censores, havia uma correlação entre a destruição dos valores morais, promovida pela temática da sexualidade, e a destruição da segurança nacional, representada pelos temas políticos."
Porém, além de não se considerar pornográfica, Cassandra não conseguia entender por que o erotismo era algo a ser combatido pelos ditadores. "Pornografia é a intenção deliberada de chocar [...] é o sexo pelo sexo. Nos meus livros, o sexo só acontece em função do amor, para realiza-lo plenamente e sem preconceitos", esclareceu a escritora na entrevista à revista Realidade.
Nos anos 1990, a escritora ganhou um programa na Rádio Bandeirantes. Durante uma entrevista ao vivo com o ex-governador paulista Adhemar de Barros, Cassandra foi convidada pelo político a concorrer às eleições de 1986, eleições que marcaram o fim da ditadura. Ela aceitou o convite e se candidatou a deputada estadual por São Paulo pelo PDT, mas não foi eleita.
"Se ela [Cassandra] se considerava uma subversiva? Talvez sim", reflete a sobrinha Liz. "O fato é que ela foi uma pioneira. Foi ela quem deu o pontapé inicial, ainda nos anos 50, para que hoje discutíssemos temas ligados ao público LGBT".
Cassandra Rios morreu em decorrência de um câncer em 2002, aos 69 anos, no Dia Internacional da Mulher, 8 de março. Ela nunca quis ter filhos e chegou a casar-se na igreja aos 18 anos, com um amigo. A união, contudo, era de fachada tanto para ele quanto para ela, que queria sair de casa sem chocar os pais.
Apesar disso, a sobrinha conta que tanto a sexualidade quanto os livros da tia, "uma mulher que era amorosa com os familiares e inteligente", são motivos de muito orgulho para a família Rios. Liz acredita que se a tia Odete ainda estivesse viva, "ela estaria chocada com o conservadorismo, principalmente na política. Os tempos atuais a fariam lembrar tudo o que sofreu na ditadura por ser lésbica".
BBC BRASIL

Após cogitar transferir embaixada, Bolsonaro anuncia escritório comercial em Jerusalém

Presidente confirmou escritório na cidade sagrada durante declaração conjunta com premiê israelense. Jerusalém não é reconhecida internacionalmente como capital de Israel.

 

Governo anuncia abertura de escritório comercial em Jerusalém
Governo anuncia abertura de escritório comercial em Jerusalém 

No primeiro dia da visita oficial a Israel, o presidente Jair Bolsonaro anunciou neste domingo (31), após se reunir com o premiê Benjamin Netanyahu, a abertura de um escritório comercial do governo brasileiro em Jerusalém, cidade considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos e que não é reconhecida internacionalmente como capital israelense.
A abertura do escritório em Jerusalém é uma saída diplomática para o embaraço gerado com países árabes após o presidente ter manifestado publicamente logo após ser eleito a intenção de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo do que fez o presidente norte-americano Donald Trump.
Israel considera Jerusalém a "capital eterna e indivisível" do país, mas os palestinos não aceitam e reivindicam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestino.
O eventual reconhecimento por parte do governo brasileiro de Jerusalém como capital de Israel, e também a eventual mudança da embaixada, suscitou o receio de retaliações comerciais de países árabes, grandes compradores de carne bovina e de frango do Brasil.
O recuo de Bolsonaro em relação à transferência da embaixada se deu após ponderações da ala militar do governo e de ruralistas de que a medida poderia gerar um prejuízo bilionário para a economia brasileira.
Na última quinta-feira (28), ao ser perguntado sobre a mudança da embaixada brasileira, Bolsonaro disse que o presidente norte-americano Donald Trump demorou nove meses para tomar a decisão.“O Trump levou nove meses para decidir, para dar a palavra final para que a embaixada fosse", declarou na ocasião.
Bolsonaro se reúne com premiê israelense em Jerusalém
Bolsonaro se reúne com premiê israelense em Jerusalém 

Às vésperas das eleições gerais em Israel, Bolsonaro desembarcou no país do Oriente Médio na madrugada deste domingo para retribuir a presença do premiê israelense Benjamin Netanyahu na cerimônia de posse dele em 1º de janeiro. Neste domingo, a imprensa de Israel tratava como uma das principais pautas da visita do presidente brasileiro a possível definição de mudar a embaixada para Jerusalém.
Um dos principais aliados externos de Bolsonaro, o primeiro-ministro de Israel foi recepcionar o colega brasileiro no aeroporto de Tel Aviv, distinção que ele reservou a poucos chefes de Estado ao longo dos quatro mandatos em que está à frente do governo israelense. Do aeroporto, a comitiva brasileira se deslocou diretamente para Jerusalém.
Mais tarde, Bolsonaro e Netanyahu tiveram uma reunião de trabalho no gabinete do primeiro-ministro, na qual assinaram acordos bilaterais.
Ao final do encontro, chamando o premiê israelense de "irmão e amigo", o presidente anunciou, em Jerusalém, a instalação do escritório que, segundo ele, será encarregado da promoção de comércio, investimentos, tecnologia e inovação entre os dois países, subordinado à embaixada do Brasil em Tel Aviv.
"Agora há pouco, tomamos a decisão final, ouvindo o nosso general Augusto Heleno [ministro do Gabinete de Segurança Institucional], de abrir, em Jerusalém, um escritório de negócios voltado para ciência, tecnologia e inovação" (Jair Bolsonaro)
"Nosso casamento no dia de hoje trará muitos benefícios aos nossos povos. Estou muito feliz. Peço a Deus que continue nos iluminando para tomar muitas decisões", complementou o presidente, concluindo a declaração dizendo, em hebraico, "eu amo Israel".

Denúncias de corrupção

 Bolsonaro foi recebido em Tel Aviv pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu — Foto: REUTERS/Ronen Zvulun

Bolsonaro foi recebido em Tel Aviv pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu — Foto: REUTERS/Ronen Zvulun
Bolsonaro foi recebido em Tel Aviv pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu — Foto: REUTERS/Ronen Zvulun 

Alvo de denúncias de corrupção, Benjamin Netanyahu vive um dos momentos mais delicados desde que assumiu o governo israelense. Ele é acusado, entre outras coisas, de ter usado de sua influência no ministério das Comunicações para obter cobertura favorável de veículos da imprensa, de ter recebido favorecimento ilícito na compra de submarinos da Alemanha e ainda de ter recebido presentes caros de empresários.
Nas eleições convocadas para 9 de abril, é possível que Netanyahu, líder do partido de direita Likud, deixe o poder após uma década como primeiro-ministro.
O parlamento de Israel aprovou a própria dissolução em dezembro, antecipando a votação que deveria ocorrer até novembro de 2019. A convocação de eleições foi interpretada como uma manobra do premiê contra desdobramentos das denúncias de corrupção. Se for reeleito pela quinta vez, Netanyahu vai superar o recorde de permanência no cargo do fundador do Estado de Israel, David Ben-Gurion.
A imprensa local aponta que a visita do líder brasileiro tem sido usada para "impulsionar" a campanha de Netanyahu, destacando que o premiê faz da agenda oportunidade para mostrar seu poder de influência junto ao Brasil que, até então, era visto como pró-Palestina e às vezes até mesmo pró-Irã, de acordo com veículos de mídia israelense.
Em uma declaração à imprensa logo após a reunião de trabalho com Bolsonaro, Netanyahu elogiou o colega brasileiro – a quem também chamou de amigo –, disse que considera o Brasil "uma das grande potências mundiais" e lembrou o papel do governo brasileiro na criação do Estado de Israel.
Mais tarde, em outro pronunciamento à imprensa em Jerusalém, Benjamin Netanyahu agradeceu a decisão de Bolsonaro de abrir o escritório comercial na cidade sagrada e disse que esse pode ser o primeiro passo para, no futuro, o Brasil transferir a embaixada.
"Abençoo essa sua decisão de abrir um escritório de comércio, tecnologia e inovação, de representação em Jerusalém", disse o premiê sob os olhares de Bolsonaro.
"E vou contar um segredo a vocês: é o primeiro passo para quem sabe um dia chegar à transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém. Sejam bem-vindos a Jerusalém, capital do Estado de Israel". (Benjamin Netanyahu)

Acordos bilaterais

Bolsonaro e premiê israelense assinam vários acordos
Bolsonaro e premiê israelense assinam vários acordos 

Além da abertura do escritório comercial em Jerusalém, o presidente Bolsonaro também anunciou neste domingo a assinatura de seis acordos com o governo israelense.
O primeiro trata de entendimentos para cooperação em Ciência e Tecnologia, com o objetivo, de acordo com o Itamaraty, de "desenvolver, facilitar e maximizar a cooperação entre instituições científicas e tecnológicas de ambos os países com base nas prioridades nacionais no campo de C&T e nos princípios de igualdade, reciprocidade e benefício mútuo, e de acordo com as leis nacionais".
Também foi assinado um acordo sobre segurança pública. Outro ato trata de entendimentos sobre cooperação em questões relacionadas à defesa para "promover a cooperação entre as partes".
Um acordo sobre serviços aéreos, para estabelecer e "explorar serviços aéreos" também foi firmado, além de um memorando de entendimentos, entre o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o governo israelense na área de cibersegurança.
O último ato assinado neste domingo por Bolsonaro e Netanyahu é um plano de cooperação na área de saúde e medicina até 2022. O governo informou, até o momento, que o objetivo é permitir a cooperação entre os ministério da Saúde de Brasil e Israel.

Reuniões com países árabes

O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Marcos Montes, informou que a titular da pasta, Teresa Cristina, vai oferecer um jantar a embaixadores de países árabes. O objetivo é estreitar relações e afastar a possibilidade de retaliações comerciais dessas nações - que são grandes compradoras de carne bovina e de frango do Brasil.
A ideia inicial é que ocorram reuniões com grupos pequenos de países árabes, e não todos mundo de uma única vez. Segundo interlocutores do Ministério da Agricultura, representantes da liga árabe têm participado de reuniões na pasta desde o início do governo.

domingo, 24 de março de 2019

Quem é o queniano eleito o 'melhor professor do mundo'

a man wearing a suit and tie: Peter Tabichi foi premiado como um "professor excepcional" dentro e fora da sala de aula
 © BBC Peter Tabichi foi premiado como um "professor excepcional" dentro e fora da sala de aula
Um professor de ciências da zona rural do Quênia, que doa a maior parte de seu salário para apoiar os alunos mais pobres, ganhou um prêmio de US$ 1 milhão (R$ 3,9 milhões) ao ser eleito o melhor professor do mundo.
Peter Tabichi, membro da ordem religiosa franciscana, ganhou o Global Teacher Prize de 2019, conferido pela Fundação Varkey, organização de caridade dedicada à melhoria da educação para crianças carentes.
Mas Tabichi foi elogiado por suas realizações em uma escola sem infraestrutura, em meio a classes lotadas e poucos livros didáticos.
Ele quer que os alunos vejam "a ciência é o caminho certo" para ter sucesso no futuro.
O prêmio, anunciado em uma cerimônia em Dubai, reconhece o compromisso "excepcional" do professor com os alunos em uma parte remota do Vale do Rift, no Quênia.
Ele doa 80% de seu salário para apoiar os estudos dos seus alunos, na Escola Secundária Keriko Mixed Day, no vilarejo de Pwani. Se não fosse a ajuda do professor, as crianças não conseguiriam pagar por seus uniformes ou material escolar.

Melhorando a ciência

"Nem tudo é sobre dinheiro", diz Tabichi, cujos alunos são quase todos de famílias bem pobres. Muitos são órfãos ou perderam um dos pais.
Seu objetivo é que os estudantes tenham grandes ambições, além de promover a ciência, não apenas no Quênia, mas em toda a África, diz.
a tree in the middle of a field: Muitos alunos caminham mais de seis quilômetros para chegar a escola no Vale do Rift© Getty Images Muitos alunos caminham mais de seis quilômetros para chegar a escola no Vale do Rift Ele venceu entre outros dez mil indicados de 179 países, entre eles a professora Debora Garofalo, que ensina matérias de tecnologia em uma área carente de São Paulo.
Mas Tabichi diz que enfrenta "desafios com as instalações precárias" de sua escola, inclusive com a falta de livros ou professores.
"A escola fica em uma área muito retoma. A maioria dos estudantes vêm de famílias muito pobres. Até pagar o café da manha é difícil. Eles não conseguem se concentrar, porque não se alimentaram o suficiente em casa", contou em entrevista publicada no site do prêmio.
As classes deveriam a ter entre 35 e 40 alunos, mas ele acaba ensinando grupos de 70 ou 80 estudantes, o que, segundo o professor, deixa as salas superlotadas.
A falta de uma boa conexão de internet faz com que ele vá até um café para baixar os materiais necessários para suas aulas de ciências. E muitos dos seus alunos andam mais de 6km em estradas ruins para chegar à escola.
No entanto, Tabichi diz que está determinado a dar aos alunos uma chance de aprender sobre ciência e ampliar seus horizontes.
Seus estudantes foram bem sucedidos em competições científicas nacionais e internacionais, incluindo um prêmio da Sociedade Real de Química do Reino Unido.

Fora da sala de aula

Tabichi diz que parte do desafio tem sido persuadir a comunidade local a reconhecer o valor da educação, o que leva a visitar famílias cujos filhos correm o risco de abandonar a escola.
Ele tenta mudar a mentalidade de pais que esperam que suas filhas se casem cedo - encorajando-os a deixar as meninas continuarem seus estudos.
O professor também ensina técnicas de cultivo mais resistentes aos moradores dos arredores, já que a fome é uma realidade frequente na região.
"Insegurança alimentar é um grande problema, então ensinar novos jeitos de plantar é uma questão de vida ou morte", disse em entrevista à Fundação Varkey.
Além do contato com as famílias, a atuação de Tabich se estende aos "clubes da paz" que ele organiza na escola, para representar e unir as sete tribos presentes ali. A violência tribal explodiu no Vale do Rift depois da eleição presidencial de 2007 e houve muitas mortes em Nakuru.
"Para ser um grande professor você tem que ser criativo e abraçar a tecnologia. Você realmente tem que abraçar essas formas modernas de ensino. Você tem que fazer mais e falar menos", ele disse à fundação.

O prêmio

O prêmio conferido a ele busca elevar o status da profissão de docente. O vencedor do ano passado foi um professor de arte do norte de Londres, Andria Zafirakou.
O fundador da premiação, Sunny Varkey, diz esperar que a história de Tabichi "inspire os que procuram entrar na profissão e seja um poderoso holofote sobre o incrível trabalho que os professores fazem no Quênia e em todo o mundo, diariamente".
"As milhares de indicações e inscrições que recebemos de todos os cantos do planeta são testemunho das conquistas dos professores e do enorme impacto que eles têm em as nossas vidas", diz.
msn

Mulher, perfeita arte



Refugio-me nas curvas de teu corpo, nas corredeiras de tuas pelejas.
Cubro-me na cascata de tuas madeixas e deixo-me em carícias no teu cansaço.
Sou dormente nos trilhos das tuas viagens que me ensinam que a vida é trem que segue por horizontes. Cada ação transforma; Cada reação impera e encerra consequentemente. Ser feliz é apenas questão de sorte, quando se busca incessantemente.
Sou repúdio quando te maltratam. Muito lúcido e ávido no desejo do bem.
Sou esse prazer que exalta o sentir que não sei explicar. Ninguém entende de sentimentos dos outros.
Há milhas de distâncias e tantos milhões povoam com tantas belezas discernidas em cada cantinho das nações. Cada qual, ternura e brilho, um tanto de força e sabedoria e um tanto mais ainda, de amor.
Sou poema recitado pela magia do teu existir.
Praia que recolhe mar, céu que colhe estrelas e cultiva olhares. São teus, os filhos gerados em doses de luz divinal.
O mundo em candura, desenhada figura, és tu, mulher, a mais ampla e perfeita arte de Deus.
Que se preencham de todas as felicidades, todas as fêmeas, avós, mães, filhas, amadas, amantes. Que seja uníssono o grito e o silêncio em tua defesa e admiração.
Sou canção que goteja de teu colo, quando deito sonhos e acordo com afagos de inspiração feminina.
Takinho (autor)
https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=184903
A você, poeta, agradeço a gentileza de me permitir publicar sua obra maravilhosa!!
Em nome de todas as mulheres, também agradeço a belíssima homenagem, por ocasião do Dia Internacional da Mulher!!

 Imagem relacionada

quinta-feira, 21 de março de 2019

Michel Temer, o jurista e articulador político que foi da Presidência à prisão

Michel Temer
 Antonio Cruz/Agência Brasil 
Período de Temer a frente da Presidência foi marcado por reformas e impopularidade
A preocupação com a Justiça já marcava os últimos dias na Presidência de Michel Temer (MDB), preso nesta quinta-feira (21) em um desdobramento da Operação Lava Jato. A prisão foi autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro.
"As investigações apontam que a organização criminosa praticou diversos crimes envolvendo variados órgãos públicos e empresas estatais, tendo sido prometido, pago ou desviado para o grupo mais de R$ 1,8 bilhão", afirmou o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro em nota sobre as prisões.

O ex-presidente Temer - que chegou ao Palácio do Planalto em maio de 2016 após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e deixou o poder em 1º de janeiro, com apenas 5% de aprovação popular - passou seus momentos finais como presidente em reuniões com membros do seu governo e aliados próximos, além de pequenas homenagens em reconhecimento aos feitos do seu governo.
Mas duas semanas antes de Temer passar a faixa presidencial para Jair Bolsonaro (PSL), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou a terceira denúncia criminal contra ele durante seu mandato, dessa vez por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no inquérito que apurava um esquema criminoso no setor de portos.
No total, Temer deixou o governo com três denúncias criminais - todas foram enviadas à primeira instância assim que acabou seu mandato. Além da mais recente envolvendo o setor de portos, as duas primeiras partiram da delação de executivos da JBS e acusam Temer e aliados de receber propinas de empresas beneficiadas por decisões do governo ou contratos públicos.

Cerimônia de abertura do Centro de Memória Michel Temer, em Itu 
Últimos dias de Temer na Presidência foram marcados por homenagens e preocupação com o futuro

Histórico das denúncias

O pesadelo do então presidente começou quando recebeu, tarde da noite em março de 2017, no Palácio do Jaburu, o empresário da JBS Joesley Batista.
Em gravação feita pelo executivo, o então presidente é ouvido falando "tem que manter isso aí, viu?", sobre a boa relação de Joesley com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que já estava preso em Curitiba.
O ex-presidente nega todas as acusações e se diz vítima de uma perseguição.
Esses, no entanto, foram apenas os últimos eventos da agitada trajetória de Temer como jurista, deputado e um dos principais articuladores políticos do Congresso, assumindo a Presidência da Câmara por duas vezes.
Relembre abaixo o que marcou a vida de Temer antes das denúncias.

 Posse de Jair Bolsonaro
Quinze dias antes da posse de Bolsonaro, Temer era denunciado criminalente pela terceira vez

Antes da Presidência, 'conciliador' e 'tranquilo'

Até dezembro de 2015, antes da abertura do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, a imagem que prevalecia de Temer era aquela cultivada por ele durante os 34 anos de vida pública - e alimentada por amigos e aliados: a do político "ponderado", "formal", "conciliador", "tranquilo".
A crise, contudo, revelou aspectos diferentes da persona política do então vice-presidente da República e a necessidade de se entender quem é, afinal, o político conhecido como "esfinge" do MDB.
O jogo mudou na já histórica carta-desabafo dirigida a Dilma seis dias após a abertura do processo de impeachment. No texto, em tom sentimental, ele lamenta a condição de "vice decorativo" e diz ser alvo de "desconfiança" e "menosprezo" do governo.
O episódio foi um ponto fora da curva que marcou o afastamento de Temer do governo - e mostrou outra nuance da personalidade do vice-presidente.
Criticado até dentro do MDB pela carta, considerada por alguns "infantil" e "primária", em 2016, Temer parece ter seguido a lição de seus próprios versos, como os do poema "Exposição", publicado no livro Anônima Intimidade (2013).
Depois, retomou a atitude fria do político que acumulou prestígio atuando das portas dos gabinetes para dentro e se lançou na articulação do desembarque do MDB do governo.

Juventude em São Paulo

A família de Temer, de cristãos maronitas, emigrou para o Brasil em 1925, fugindo dos problemas do pós-guerra no Líbano. Comprou uma chácara em Tietê (SP), cidade de 40 mil habitantes entre Sorocaba e Piracicaba, e instalou uma pequena usina de beneficiamento de arroz e café.
Caçula temporão de oito irmãos, Temer nasceu e foi criado na área rural. Quando criança, passava férias na capital e era arrebatado pela metrópole. "Tinha a sensação que o mundo era São Paulo", disse certa vez.
No primeiro ano colegial, ainda em Tietê, o adolescente ficou em recuperação em química e física ,e desistiu do chamado curso científico, que privilegiava ciências exatas e biológicas.
Em 1957, aos 16 anos, chegou a São Paulo, desta vez para terminar o colegial no curso clássico, com ênfase em humanas e letras. Fez o cursinho do professor Castelões, famoso preparatório para Direito, e ingressou na USP, seguindo o caminho de quatro irmãos mais velhos.Temer na formatura em direito, em 1964

Temer na formatura em direito, em 1964; começou a se envolver com política no primeiro ano de faculdade
Envolveu-se com política logo no primeiro ano de universidade, quando se tornou segundo-tesoureiro do Centro Acadêmico 11 de Agosto. Prevalecia à época no movimento estudantil uma onda nacionalista, inspirada pela revolução cubana de Fidel Castro e o princípio da autodeterminação dos povos, mas a faculdade do Largo São Francisco mantinha a tendência liberal.
Em 1962, já em meio ao clima que culminaria dois anos depois no golpe que derrubou João Goulart, Temer foi candidato a presidente do CA - perdeu por 82 votos, mas inoculou-se do gosto pela política, que ficaria dormente durante a ditadura militar.
"Confesso que durante a faculdade fiz muita política acadêmica, então sobrava pouco tempo para estudar, embora estudasse para não ser reprovado", disse Temer em vídeo publicado em seu canal no YouTube.

Temer (segundo da dir. para esq.) nos tempos da Faculdade de Direito da USPTemer (segundo da dir. para esq.) nos tempos da Faculdade de Direito da USP

Professor liberal, constitucionalista respeitado

Neutro diante do golpe de 1964, Temer passou o regime militar longe da vida política. Montou um escritório de advocacia e começou a dar aulas de Direito na PUC-SP.
Como professor, costumava dizer no primeiro dia de aula que todos estavam aprovados. "Vamos combinar o seguinte: não tem lista de presença, vocês estão aprovados. Quem quiser frequenta a aula. Até se vocês não vierem, facilitam minha vida, porque vou ao escritório mais cedo trabalhar na advocacia", afirmava.
No mestrado que coordenava na PUC, teve alunos que viriam a se tornar ministros do Supremo Tribunal Federal, como Luiz Edson Fachin e Carlos Ayres Britto.
"Ele sempre foi sereno e conciliador por natureza", disse Ayres Britto à BBC News Brasil. "Tem uma vocação acadêmica muito forte, e nunca pensei que fosse incursionar pelo campo da política partidária."
Em 1982, lançou Elementos de Direito Constitucional, livro que vendeu mais de 240 mil cópias, está na 24ª edição e até hoje é referência nas universidades.
"É uma obra bem primária, mas com valor didático. Não é inovadora. (Temer) não é considerado um grande teórico, mas um grande expositor", avalia o jurista Dalmo Dallari, professor emérito da USP e crítico ao impeachment de Dilma.
No mesmo ano da publicação do livro, Temer foi convidado pelo governador eleito Franco Montoro, do recém-fundado PMDB, a assumir a Procuradoria-Geral do Estado. Montoro tinha sido professor da PUC e ambos haviam convivido na faculdade.
Era seu primeiro cargo público de relevo. "Eu tinha 41 anos e achava o máximo para a minha carreira ter mil procuradores sob meu comando", disse Temer em 2010 à revista Piauí.
Meses depois, Temer assumiria a Secretaria de Segurança Pública do Estado, substituindo o advogado José Carlos Dias, que justamente havia sugerido Temer para a Procuradoria do Estado.
Eram tempos de redemocratização e agitação social, e a gestão ficou marcada por episódios em que o secretário negociou pessoalmente o fim de invasões de prédios públicos por estudantes e militantes sem-teto. Como realizações do período, ele costuma citar a criação das primeiras delegacias de defesa da mulher e de direitos autorais do país.

Temer em evento acadêmico em 1982Temer em evento acadêmico em 1982, ano da publicação de seu principal livro de direito

Início da carreira política

Por sugestão de Montoro, Temer candidatou-se a deputado federal pelo PMDB em 1986. Com 43.747 votos, ficou como suplente, mas assumiu o cargo no ano seguinte e participou da Assembleia Constituinte.
Naquelas discussões, opôs-se à emenda popular da reforma agrária ("permitiria a desapropriação indiscriminada de terras") e ao voto aos 16 anos - algo que, segundo ele, abriria margem para reduzir a maioridade penal. Ajudou a aprovar projetos como o dos juizados de pequenas causas, do Código de Defesa do Consumidor e a extensão do voto a cabos e soldados.
Em 1990, em outra candidatura à Câmara dos Deputados, saiu com 32.024 votos e uma nova suplência. Logo seria convidado a "apagar um incêndio", algo que se repetiria ao longo da carreira política.
Em outubro de 1992, assumiu novamente a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, desta vez por convite de Luiz Antônio Fleury Filho (à época no PMDB), uma semana após o massacre do Carandiru, quando 111 presos foram mortos pela Polícia Militar.
"É organizado. Delegava para pessoas de absoluta confiança. Nada escapava dele e tomava providências", disse à BBC Paulo de Tarso Mendonça, que foi adjunto de Temer na pasta.
Ao final da passagem pela secretaria, assumiu o mandato de deputado federal. Seria reeleito em 1994, com 70.968 votos, e multiplicaria a votação nos pleitos seguintes: 206.154 em 1998, 252.229 em 2002.

 
Temer em 1985
Em inauguração em 1985, ainda na primeira gestão como secretário de Segurança Pública de SP

Parcerias tucanas e petistas

Os anos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foram o auge de Temer nas urnas para eleições legislativas - em 2006, sua última eleição ao Congresso, obteve 99 mil votos e só entrou pelas sobras do quociente eleitoral. Também marcaram sua rápida ascensão dentro do PMDB.
Eleito líder do partido duas vezes, chegou à Presidência da Câmara pela primeira vez em 1997, com apoio do governo FHC, costurado mediante promessa dos votos de parte do PMDB à emenda da reeleição. Arranjo parecido se deu em sua segunda eleição ao comando da Casa, que se deu após o PMDB apoiar informalmente a reeleição de FHC.


Comumente descrito por aliados como "sereno', "tranquilo" e "conciliador", Temer teve raras rusgas políticas em público. Uma delas foi em 1999, quando entrou em rota de colisão com o então presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (então no PFL, atual DEM), por divergências em torno da reforma do Judiciário.
 Michel Temer com Antônio Carlos Magalhães (primeiro à esq.) e Fernando Henrique Cardoso, durante os anos da gestão do PSDB no Planalto
 Michel Temer com ACM (à esq.) e FHC (à dir.): anos do governo de Fernando Henrique Cardoso foram seu auge nas urnas 

 o bate-boca, que chegou a paralisar o Congresso, ACM disse que Temer tinha "pose de mordomo de filme de terror" e insinuou o envolvimento do colega em irregularidades no Porto de Santos, para o qual o peemedebista havia feito indicações políticas.
"Quem atravessou a praça dos Três Poderes para pedir ao presidente da República que ajudasse um banco falido não fui eu", rebateu Temer, em referência à ação de ACM em favor do hoje extinto Banco Econômico.
Na eleição de 2002, Temer endossou o apoio do PMDB à candidatura presidencial de José Serra (PSDB), e chegou a ser cogitado para ser vice da chapa - posto que acabou com Rita Camata. No primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, manteve-se no grupo do PMDB da Câmara identificado como oposição, enquanto Lula apostava no PMDB do Senado, de Renan Calheiros e José Sarney.
Os primeiros anos da era Lula foram magros para Temer. Distanciou-se do centro do poder em Brasília, perdeu cargos na Mesa Diretora da Câmara e indicações em estatais. Em 2004, candidatou-se a vice-prefeito de São Paulo na chapa de Luiza Erundina (PSB) e amargou um quarto lugar, com 4% dos votos.
O cenário começou a mudar em 2005-06, após a maior crise do governo Lula, a do mensalão, esquema ilegal de financiamento político organizado pelo PT para garantir votos no Congresso. O PMDB negociou apoio ao presidente e passou a integrar formalmente o governo em 2007, ampliando sua fatia em ministérios e estatais.
Em acordo semelhante ao fechado com o PSDB nos anos FHC, o PMDB defendeu a eleição do PT à Presidência da Câmara no biênio 2007-2009, em troca do poder no período seguinte - em 2009, Temer assumiu a direção da Casa pela terceira vez.
Naquele mesmo ano, Temer foi citado na operação Castelo de Areia, que investigou um suposto esquema de financiamento político ilegal pela construtora Camargo Corrêa - hoje envolvida na operação Lava Jato.
A operação acabou anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) por irregularidades na coleta de provas, e Temer sempre rechaçou as suspeitas.

  Michel Temer ao lado de Dilma e ministros do seu governo
Direito de imagem AGENCIA BRASIL
Image caption Na vice-presidência da República, Temer demonstrava insatisfação com papel "decorativo"

Chegada ao Planalto

Em 2010, Temer foi convocado mais uma vez ao papel de bombeiro: desta vez para garantir a estabilidade do sistema político como vice na chapa de Dilma Rousseff. O deputado unia em torno de si um partido historicamente dividido, e com um discurso que buscava superar a fama de fisiologismo da sigla.
"Antigamente, o PMDB entrava na eleição dividido para depois negociar apoio ao governo eleito, por isso era chamado de fisiologista pela imprensa. Mas isso acabou. Estamos entrando na campanha juntos e governaremos juntos", dizia às vésperas do anúncio da aliança na chapa.
Na campanha de 2010, Temer ficou praticamente de fora dos programas e propagandas eleitorais - apareceu no rádio e na TV apenas no segundo turno.
Já como inquilino do Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente, reforçou a discrição, segundo um ex-assessor. Recusava muitos pedidos de entrevista, mas conversava diretamente com colunistas com quem tem relação mais antiga.

  Michel e Marcela Temer
Direito de imagem Valter Campanato/Agência Brasil
Image caption O ex-presidente e sua mulher se conheceram em 2002, durante a campanha eleitoral

Casamento com Marcela e famílias

Aos 78 anos, Temer está no terceiro casamento, com Marcela Temer, ex-modelo e bacharel em direito de 35 anos. Ambos possuem um filho de sete anos, Michel Temer Filho, o Michelzinho.
O ex-presidente e a mulher se conheceram em 2002, durante a campanha eleitoral. O pai dela, um economista conhecido de políticos de Paulínia (SP), cidade de 100 mil habitantes na região de Campinas, sugeriu que fossem cumprimentar o prefeito - e o então candidato a deputado federal Temer estava por lá.
"Era um contato profissional que poderia me ajudar a dar um up na carreira (de modelo). Mas achei ele charmosão", disse Marcela numa rara entrevista, em 2010, à revista TPM. Depois da eleição, o pai de Marcela sugeriu que enviasse um e-mail ao deputado eleito parabenizando-o pelo resultado.
O namoro - o primeiro de Marcela - começou logo após o primeiro encontro, quando recebeu uma ligação do deputado. "Ele começou a gritar: 'te amo', 'te amo', 'te amo'", disse Marcela na entrevista de 2010. Casaram-se quatro meses depois.
Além de Michelzinho, Temer tem três filhas do primeiro casamento - Luciana, 46 anos, advogada, Maristela, 44 anos, e Clarissa, 42 anos, psicólogas e psicanalistas. Ele também tem um filho de 16 anos, fruto de um relacionamento com uma jornalista de Brasília.

De 'vice decorativo' a rompimento com o governo Dilma

Nos quatro anos seguintes à vitória da chapa presidencial, Temer assumiu papel coadjuvante no governo, como deixou claro na polêmica carta à Dilma.
"Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas", escreveu.
Os sinais mais nítidos de desgaste na relação com o Planalto começaram em 2013. Naquele ano, Temer bancou, contra a vontade do Planalto, a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para liderança do PMDB na Câmara. Mais tarde, após as manifestações de 2013, disse que a ideia de uma Assembleia Constituinte exclusiva para a reforma política, uma das propostas de Dilma diante dos protestos, era "inviável".
Na ocasião, o vice disse ainda acreditar que os protestos não pediam a renovação dos políticos, mas do sistema político.
"Esse movimento não foi contra os políticos A, B ou C. Se fôssemos nessa linha, todos os Legislativos e Executivos tinham que sair de seus postos."
A tensão se reduziu na campanha da reeleição em 2014. Temer subiu em palanques com Dilma pelo país e foi o primeiro a ser citado pela presidente no pronunciamento após a vitória.
"Depois de ter sido um grande vice, se transformou num incansável e aguerrido militante, fervoroso militante, que andou o Brasil defendendo o nosso projeto, nossas propostas e nosso governo", afirmou Dilma.
Em 2015, diante do agravamento da crise política e econômica, PMDB e PT divergiram na eleição à Presidência da Câmara. Temer e seu partido defenderam a candidatura vencedora de Cunha.
Meses depois, Temer ensaiou mais uma vez o papel de bombeiro. Assumiu a articulação política do governo em abril, mas deixou a função quatro meses depois, no final de agosto.

  Temer assina documento que o torna presidente interino após Senado votar impeachment de Dilma
 Direito de imagem Marcos Correa/Reuters
Image caption Pouco antes da saída de Dilma, Temer disse em entrevista que Brasil precisava de "alguém (que) tenha a capacidade de reunificar a todos"
Poucas semanas antes da saída, concedeu uma entrevista na qual, nervoso, disse que o país precisava de "alguém (que) tenha a capacidade de reunificar a todos".
A interpretação corrente foi de que o vice se lançara como alternativa política porque a ideia do impeachment se tornara real.
Meses depois, veio a carta a Dilma.
O impeachment esfriou no começo de 2016 e Temer deu a impressão de recuo. Mas a situação de Dilma se agravou com a delação premiada do então senador Delcídio Amaral (PT) e as investigações sobre Lula, e Temer passou a liderar a articulação pela saída do PMDB do governo, ampliando o isolamento da presidente.

  Michel Temer em evento sobre a reforma da Previdência
 Direito de imagem Antonio Cruz/Agência Brasil
Image caption Governo temer não conseguiu cumprir uma de suas principais promessas: aprovar a reforma da Previdência

Algumas reformas, baixa popularidade

Ao fim de seu governo, Temer fez um balanço positivo em que destacou a aprovação da reforma trabalhista, em 2017, como uma de suas principais vitórias. Apresentada pelo Executivo no ano anterior, a medida - junto à reforma da Previdência e o teto de crescimento dos gastos públicos - era uma das principais promessas do governo para fazer a economia voltar a crescer.
A reforma trabalhista, que alterou profundamente a Consolidação das Leis Trabalhistas e criou novas formas de contratação, ficou menos de sete meses nas Casas antes da aprovação.
No entanto, seus resultados ainda são questionados: os efeitos legislação na geração de emprego, por exemplo, são considerados imprecisos. No trimestre encerrado em janeiro, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego no país subiu, chegando a 12%. A comparação com o mesmo período do ano anterior não mostra melhoras.

  Michel Temer sanciona reforma trabalhista
 Direito de imagem Valter Campanato/Agência Brasil
Image caption Reforma trabalhista foi aprovada em 2017, após sete meses de tramitação
Outra medida priorizada pelo governo, o teto para o crescimento dos gastos públicos, que serviria para colocar ordem nas contas públicas, também foi aprovada em 2016. No entanto, sem a reforma da Previdência, que ainda está em tramitação, sua capacidade de melhorar a situação fiscal do país é limitada.
Mesmo assim, Temer disse durante uma homenagem que recebeu em dezembro, em um evento em São Paulo, que se "regozijava" de ter colocado o assunto em discussão.
"Me regozijo pelo fato de ter colocado esse tema na pauta com muita rapidez e entusiasmo."
Ele considerou que o reconhecimento ao seu governo estava chegando, depois de altos índices de rejeição.
"Nós tivemos um governo, chegando agora ao final, que começa a ser reconhecido. A popularidade é algo que você já hoje, tem objeções, observações, mas é aplaudido amanhã. O meu amanhã está chegando."
A impopularidade foi outro ponto marcante dos anos de Temer frente à Presidência. Ele teve taxas de impopularidade históricas. Nos dias finais do governo, em dezembro, uma pesquisa da CNI-Ibope, mostrou que 74% dos entrevistados consideravam sua gestão ruim ou péssima.


Dilma e Temer em campanha no interior de São Paulo em setembro de 2014 Direito de imagem Reprodução
Image caption Pouco depois de campanha de 2014, Temer escreveu polêmica carta aberta a Dilma

Últimos dias no Planalto

Pouco antes do fim do seu mandato, quando era questionado por jornalistas se temia ser preso ao deixar o Planalto e perder as proteções garantidas pelo cargo de presidente, Temer se dizia ofendido.
"Não estou preocupado com esse assunto. Até porque chicotear o presidente é uma coisa. Já o ex-presidente já não vai ter muita graça", disse à revista Época, indicando uma expectativa de que a perda de poder lhe daria mais sossego.
"Lógico que ele tem preocupação. Todo mundo que eventualmente tem algum tipo denúncia (sente preocupação)", afirmou então à BBC News Brasil o deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), um dos aliados que mantiveram visitas ao então presidente mesmo no fim do mandato.
"Mas todos nós que trabalhamos na defesa do presidente sabemos que aquelas denúncias, que foram rechaçadas pela Câmara, são completamente inócuas", acrescentou.
A agitação das denúncias, no entanto, não se transferiu para a agenda de Temer. Diferentemente do início de sua administração, quando Temer recebia em seu gabinete grandes lideranças empresariais como a presidente mundial do banco Santander e o presidente mundial da Basf, a agenda do então presidente não mostrava compromissos dessa estatura em novembro e dezembro do ano passado.
Nesse período, foram poucas as viagens para outros Estados do país, parte delas também para ser homenageado, incluindo a inauguração do Centro de Memória Presidente Michel Temer, na Faculdade de Direito de Itu, no interior de São Paulo, instituição privada onde foi professor de 1969 a 1984.
O local, que abrigará presentes, cartas, álbuns de fotografias e livros que o presidente recebeu em seu mandato, traz também uma linha do tempo de sua vida.
Com reportagem de Mariana Schreiber e Thiago Guimarães)