As misteriosas fotos perdidas ligadas a um dos capítulos mais tristes da história da BBC
Esta foto foi esquecida em uma loja de departamentos
escocesa; o verso dizia se tratar do "casamento de Effie"
No início de março, a polícia de
Glasgow, na Escócia, fez um incomum alerta ao público: uma coleção de
fotos antigas, que pareciam ser recordações de uma família, havia sido
encontrada em uma loja de departamentos e aguardava notícias de seu
dono.
O que ninguém sabia àquela altura é que a solução desse
pequeno mistério local revelaria um vínculo com um dos momentos mais
tristes da história da BBC.
Havia
algumas pistas sobre a coleção: uma foto amarelada de casamento, com
convidados sorridentes, mulheres em chapéus de abas largas e um jovem de
saia escocesa. Foi tirada pelo "Escritório de Fotografia de
Knightsbridge, número 245, em Knightsbridge S.W.7
No verso da foto havia os dizeres "Casamento de Effie (irmã da mamãe
morta no bombardeio de Londres de 1941)", "tio Harry" e "titia Annie".
Outras
quatro fotos menores com as palavras "Millport 1952" escritas no verso
mostravam grupos de crianças, identificadas como Moira, Grace, Helen,
Rosemary, Janice e John.
A polícia esperava que, como as fotos pareciam ter grande
valor sentimental, alguém iria buscá-las. Mas, como isso não aconteceu,
os policiais passaram a procurar ativamente por seus donos e postaram
imagens nas redes sociais. Até a BBC Escócia fez uma reportagem
a respeito, em fevereiro. A movimentação levou detetives amadores e
genealogistas a se interessarem pelo mistério, que rapidamente seria
resolvido.
A conexão Millport
Outras
fotos da coleção perdida mostravam crianças na cidade costeira de
Millport; eram Moira Stewart, Grace Little e Helen Steven na foto à
esquerda; Rosemary Houston, Helen, Grace e John Steven na foto da
direita
Millport é uma cidade praiana na pequena ilha de Cumbrae, na costa oeste da Escócia.
De
lá veio a primeira descoberta relacionada às fotos perdidas: poucas
horas após a notícia ser publicada no site da BBC, uma mulher entrou em
contato com a reportagem.
Trata-se de Grace Beagrie, hoje com mais
de 70 anos, que está retratada em uma das fotos. Na época, ela tinha
nove anos. E contou que as fotos haviam sido tiradas perto de sua casa,
em frente à praia de Millport.
As demais crianças da foto eram sua
prima, Rosemary Houston, que estava de visita, as amigas locais Moira
Stewart e Janice Blair, e John e Helen Steven, que estavam hospedadas
com seus avós no apartamento abaixo de onde Grace morava.
"Íamos
tomar banho de praia todos os dias", relembra Grace sobre a rotina com
seus amigos. "Brincávamos no quintal e passeávamos pelas colinas."
Image caption
Da esquerda à direita: Helen e Rosemary; e na segunda foto Grace, Helen e Janice Blair
Grace não lembra quem tirou as fotos, mas acredita
que possa ter sido um fotógrafo que trabalhava nas redondezas, tirando
fotos e vendendo-as aos veranistas.
Quanto à foto do casamento, Grace não tinha ideia de onde ela vinha, mas suspeitava que tinha algo a ver com a família Steven.
Seu palpite se provaria correto.
O casamento de Effie
Diversas pessoas postaram, nas redes sociais, ideias de locais que pareciam ter sido o palco da cerimônia de casamento da foto.
A
igreja de St. Columba, em Londres, tinha uma entrada similar à que
aparece na fotografia, antes de ser bombardeada em 1941, durante a
Segunda Guerra Mundial.
Houve quem apontasse que Effie é
diminutivo de Euphemia - um nome incomum, que somado ao fato de que ela
havia morrido na blitz de 1941, era uma pista importante.
A
genealogista amadora Sally Howel passou a buscar a lista de civis
britânicos mortos nos bombardeios da Segunda Guerra Mundial e entrou em
contato com a BBC com uma possível solução para o mistério.
Direito de imagemSally HowelImage caption
O nome de Euphemia aparecia na lista de civis mortos
nos bombardeios de Londres durante a Segunda Guerra Mundial
Ela trouxe à tona o nome de Euphemia Shearer, morta
em outubro de 1940 - um ano, portanto, antes da data escrita na foto,
mas isso pode ter sido um erro.
O curioso é que o nome de solteira
de Euphemia era Steven, e ela nascera em Glasgow, embora morasse em
Londres quando morreu, aos 29 anos.
Segundo os registros
encontrados sobre Euphemia, ela havia se casado com o escocês George
Ross Shearer em 1939, no bairro londrino de Chelsea - não muito longe do
Escritório de Fotografia de Knightsbridge citado na foto.
A partir disso, foi possível buscar a localização e a data prováveis da foto.
A
igreja de St Columba foi reconstruída nos anos 1950, e o escritório
eclesiástico confirmou que o casamento da foto ocorreu em uma
segunda-feira de 17 de julho, apenas sete semanas antes de o Reino Unido
e a Alemanha entrarem em guerra entre si.
A geneologista Sally
descobriu outra informação importante que levou a uma irônica
reviravolta na história: Euphemia Shearer trabalhava para a BBC na
época.
O bombardeio da BBC
Image caption
O bombardeio da Broadcasting House, da BBC, em outubro de 1940, deixou sete mortos
No outono (do hemisfério Norte) de 1940, Londres enfrentava a fúria dos bombardeios alemães.
Pouco
depois das 8h de 15 de outubro, uma grande bomba se chocou contra o
sétimo andar da sede da BBC, a Broadcasting House, destruindo a central
telefônica, embora sem ser detonada.
A BBC tinha uma equipe
própria de bombeiros, que rapidamente controlou as chamas. Mas o
detonador da bomba ainda funcionava, e, assim que funcionários tentaram
movê-la, ela explodiu.
Às 9h02, o apresentador de rádio Bruce
Belfrage estava no porão, lendo o boletim noticioso da hora, quando o
prédio inteiro sacudiu. O barulho da detonação foi transmitido ao vivo
para todo o Reino Unido.
BBC
O drama das meninas que têm os seios queimados a ferro para ‘adiar a puberdade’
'Às vezes era difícil respirar', diz mulher que teve seios queimados a ferro aos 13 anos
Simone teve os seios
queimados aos 13 anos. Kinaya passou pelo mesmo aos 10. Os nomes das
meninas são fictícios, mas suas histórias, não.
As duas vivem no
Reino Unido e são de famílias de origem africana, onde a prática de
queimar a ferro seios de adolescentes, na tentativa de atrasar seu
crescimento, é muito comum em algumas regiões.
"Minha mãe dizia
que se (meus seios) não fossem queimados a ferro, os homens iriam
começar a se aproximar de mim, buscando sexo", conta Kinaya.
Normalmente
é a própria mãe quem queima o peito das filhas. Usam uma pedra, uma
colher ou até mesmo um ferro de passar quentes para achatar os seios das
jovens na puberdade.
A prática pode se repetir ao longo de meses.
"O tempo não apaga esse tipo de dor. Você não pode chorar. Se você
chora, dizem que você envergonha a família por não ser uma garota
forte", relata Kinaya.
Estima-se que mais de mil meninas
tiveram os seios queimados dessa forma no Reino Unido. A prática está
sendo questionada e o Sindicato Nacional de Educação britânico alerta
que as escolas britânicas são obrigadas a proteger as meninas desse tipo
de abuso. Para o governo, professores têm obrigação de comunicar a
prática.
Image caption
'Kinaya' não deixou que a filha passasse pelo mesmo sofrimento que passou
Kinaya já é adulta e tem filhas. Quando a mais velha
completou 10 anos, a mãe dela sugeriu submetê-la à prática. "Eu disse
não, não, não. Nenhuma filha minha vai passar pelo que eu passei. Eu
ainda vivo com o trauma".
Ela mudou-se para longe da família,
temendo que seus parentes fossem querer queimar o peito das filhas à
força, sem a autorização dela.
No programa matinal Victoria
Derbyshire, da BBC, uma mulher relatou que só descobriu que o que
fizeram com os seios dela não era normal durante uma aula de educação
física. Na hora de trocar de roupa, no vestiário, reparou que tinha algo
de errado com ela. Direito de imagemGetty ImagesImage caption
Normalmente são as mães que queimam e amarram os seios das filhas
Mas os professores nunca repararam, nem mesmo quando ela parou de frequentar as aulas de educação física.
"Se
o meu professor soubesse, se tivesse treinamento, eu poderia ter tido a
ajuda que eu precisava enquanto ainda era criança", relatou, contando
que a irmã dela também teve os seios queimados aos oito anos.
Simome
também contou sua história ao programa Victoria Derbyshire. Ela teve os
seios queimados aos 13 anos, quando a mãe descobriu que ela era gay.
"Minha
mãe achava que, talvez, eu fosse atraente por causa dos meus seios.
Então, se ela conseguisse achatá-los, eu seria feia e ninguém ia me
admirar", relatou.
Por meses, os seios de Simone foram queimados.
Ela foi obrigada a usar uma faixa apertando o peito. "Às vezes era
difícil respirar", contou.
Direito de imagemGetty ImagesImage caption
Uma pedra ou uma colher aquecidas no fogo são,
normalmente, usados para queimar os seios de meninas na puberdade
Anos depois, ela teve um bebê com o homem com quem foi forçada a se casar.
Amamentar
se transformou em algo mais difícil do que normalmente é. "O leite não
sai normalmente, parece que tem um nó dentro. Acho que tive alguns
nervos comprometidos".
Crime escondido
No
Reino Unido, não há um crime especifico para quem queima os seios a
ferro. Mas o governo encara a prática como abuso infantil e informa que
quem comete o ato pode ser processado.
A enfermeira Angie
Marriott, que já trabalhou com ginecologistas e hoje dá palestras para
polícia de Cheshire, no Reino Unido, afirma que a prática é mais comum
do que se imagina no país e que existe subnotificação.
Ela
descreve o problema como um crime escondido e sensível. Diz que as
mulheres têm medo de falar e de sofrerem retaliação das suas
comunidades. "Sei o que está acontecendo porque pessoas já se
confidenciaram comigo e disseram que era a primeira vez que estavam
falando sobre o assunto. Tinham vergonha", conta a enfermeira.
Simone ainda carrega as cicatrizes dos abusos aos quais foi submetida.
Ela quer aumentar a consciência das pessoas sobre o que está
acontecendo.
"Para mim foi, no mínimo, abuso. Machuca, te desumaniza", disse. Image caption
A enfermeira Angie Marriott diz que as mulheres têm medo de falar sobre a prática
Kiri Tunks, do Sindicato Nacional da Educação do
Reino Unido, pede que professores e funcionários de escolas prestem mais
atenção aos sinais.
Kicky Morgan, membro do Parlamento
britânico, também se envolveu com o tema. Ela diz que é preciso treinar
professores e pessoas que trabalham com jovens para que fiquem cientes
de que o problema é real e acontece no Reino Unido.
"É preciso abordar o tema, falar sobre ele e parar com a prática", afirma Morgan.
BBC
Alma gêmea ou amor pragmático? Como medir o impacto das crenças nos relacionamentos
Acreditar no amor verdadeiro pode
deixá-lo cego tanto para o bem quanto para o mal, com resultados às
vezes tóxicos para o seu relacionamento
Você já confidenciou seus problemas
conjugais a seus amigos e ouviu deles que não valeria a pena se
preocupar? Ou viu alguém do seu círculo social entrar em um
relacionamento que, na sua visão, está fadado ao fracasso?
Os psicólogos descobriram duas escalas que influenciam a forma como iniciamos e mantemos relacionamentos.
Uma delas mede a importância que atribuímos às primeiras
impressões e aos primeiros sinais de compatibilidade; a outra mira a
probabilidade de lidarmos com problemas nos relacionamentos. Elas são
chamadas teorias implícitas de relacionamentos (porque não costumamos
falar sobre elas).
Podemos intuitivamente pensar em nós mesmos
como mais ou menos propensos a acreditar no amor verdadeiro - mas isso
não é algo que discutimos abertamente com os outros ou de que estamos
conscientes quando começamos novos relacionamentos.
Juntas,
essas duas escalas podem revelar se estamos mais propensos a evitar
falar sobre problemas com nossos parceiros, procurar falhas onde elas
podem não existir e desaparecer sem dar explicações (do inglês
'ghosting'). Diferenças nessas atitudes implícitas também podem nos
ajudar a entender as razões pelas quais as escolhas conjugais dos outros
muitas vezes parecem inexplicáveis para nós.
Para descobrir como você se situa nessas escalas, pode testar as duas avaliações abaixo.
Você acredita em amor à primeira vista? Ou no amor que cresce com o tempo?
A escala da 'alma gêmea'
Responda
às seguintes perguntas com números que vão de 1 a 7 - em que 1
significa "discordo completamente" e 7, "concordo completamente". 1. O sucesso de uma relação conjugal depende de as pessoas "serem feitas uma para a outra". 2. Existe alguém nesse mundo que é perfeito (ou quase perfeito) para mim. 3. Nos casamentos, muitas pessoas descobrem (em vez de constroem) uma profunda e íntima conexão com seu cônjuge. 4. É extremamente importante que eu e meu cônjuge estejamos apaixonados um pelo outro depois de nos casarmos. 5. Não poderia casar com alguém a menos que estivesse apaixonado por ele(a). 6. Não existe tal coisa como "homem certo" ou "mulher certa". 7. Espero que meu futuro marido (ou esposa) seja a pessoa mais incrível que já conheci. 8. Pessoas que estão procurando um par perfeito estão perdendo seu tempo. 9. A razão pela qual a maioria dos casamentos fracassa é que as pessoas não são feitas uma para a outra. 10. Os vínculos entre as pessoas geralmente existem antes de você conhecê-las.
Vamos à pontuação. Primeiro, some os números das perguntas 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10.
Para
as perguntas 6 e 8, subtraia o valor por 8 e use o novo número como sua
resposta, independentemente se ele é negativo. Por exemplo, se você
respondeu "6", sua resposta será 2 (6-8=-2).
Some todos os números e divida o total por 10 para obter sua média nessa escala. Quando os relacionamentos estão passando por
dificuldades, as pessoas que pontuam melhor na escala de "crescimento"
tendem a se sair melhor
A escala do pragmatismo
Responda
às seguintes perguntas com números que vão de 1 a 7 - em que 1
significa "discordo completamente" e 7, "concordo completamente". 1. O sucesso de uma relação conjugal depende principalmente de quanto as pessoas tentam fazer o relacionamento funcionar. 2. No casamento, o esforço é mais importante do que a compatibilidade. 3. Em um relacionamento, o amor cresce (em vez de o amor é encontrado). 4. Se as pessoas simplesmente fizessem esforço, a maioria dos casamentos daria certo. 5. Poderia ser feliz casado com a maioria das pessoas, se elas fossem razoáveis. 6. A razão pela qual a maioria dos casamentos fracassa é que as pessoas não se esforçam. 7. Quão bem você conhece alguém depende de quanto tempo você o(a) conhece. 8. Se tivesse que casar com uma pessoa aleatória, ficaria satisfeito. 9. Só com o tempo você pode realmente aprender sobre seu cônjuge.
Para descobrir sua pontuação, some suas respostas e divida por 9.
Direito de imagemGetty ImagesImage caption
Quando percebem que alguém não é sua alma gêmea,
quem acredita no "destino" pode abandonar o relacionamento e "fantasiar"
o parceiro
As perguntas desse quiz foram extraídas do
Questionário de Teorias do Relacionamento usado por Renae Franiuk, da
Universidade de Aurora, no Estado americano de Illinois, em sua pesquisa
sobre teorias implícitas e satisfação e longevidade dos
relacionamentos.
Franiuk usa 'Alma Gêmea' e 'Pragmatismo' para
descrever as duas escalas. Outros pesquisadores usam "destino" e
"crescimento" para descrever escalas semelhantes.
Análise dos resultados
Se
você teve uma pontuação alta quanto à crença em sua alma gêmea e se
surpreendeu com isso, não se desespere. Você não é o único. "As pessoas
têm uma tendência a pensar que serão do tipo 'pragmáticas', mas vemos
que muitas ainda acreditam em sua 'alma gêmea'", afirmou Franiuk.
"Quando
ouvimos falar sobre essas teorias, muitos de nós torcem o nariz para o
conceito de 'alma gêmea' porque soa pouco científico. Mas, na verdade,
se trata apenas de um termo. Poderíamos chamar de algo diferente para
descrever quem se identifica com essas crenças românticas. Não
surpreende que queremos acreditar nessas ideias, uma vez que nossa
cultura ocidental nos pressiona nesse sentido."
Agora que você já sabe o quanto pontuou, o que você deve fazer?
Quando
os relacionamentos estão passando por um período difícil, as pessoas
que têm uma pontuação alta nas escalas de crescimento geralmente se saem
melhor.
A existência de um problema pode melhorar a força do
relacionamento; os casais que têm uma pontuação alta nas escalas de
crescimento, na verdade, relatam sentir-se melhor sobre seu
relacionamento depois de resolver um conflito. Para essas pessoas, pode
ser necessário que problemas pequenos, relativamente sem muita
importância, surjam para mantê-las focadas em evoluir juntas. Ou seja,
quanto mais esforço o casal fizer nesse sentido, mais comprometidos eles
vão se sentir. Moral da história: eles adoram um desafio.
Por
essas razões, aqueles que pensam dessa forma vão ignorar grandes
diferenças de compatibilidade - esta, para eles, vem com o tempo, e é
nisso que eles devem trabalhar juntos.
O oposto é verdadeiro para quem acredita fortemente no destino, com algumas consequências potencialmente tóxicas.
'Nem tão perfeita assim'
Em
especial nos estágios iniciais de um relacionamento, a presença de um
problema pode precipitar um rompimento, já que quem acredita no destino
se dá conta de que sua alma gêmea "perfeita" não é tão perfeita assim.
Os defensores dessa ideia podem argumentar que seu cônjuge "nunca
realmente me entendeu" ou que uma pequena falha é "uma prova de que não
somos realmente compatíveis". Isso é o que acontece mesmo que o casal
seja relativamente compatível, diz Franiuk.
Pior ainda, eles
tendem a terminar o relacionamento de uma forma mais brutal. As pessoas
que acreditam no amor verdadeiro são mais propensas a "desaparecer sem
dar explicações" - evitando contato até que o cônjuge desista de
procurá-las.
Talvez porque quem faz isso não sinta que valha a
pena o esforço. Afinal, acredita que o cônjuge não é ideal. Tampouco vê o
benefício de fornecer feedback. "Eles não veem isso como algo
negativo", diz Gili Freedman, psicóloga do St. Mary's College, no Estado
americano de Maryland, que estuda a rejeição social.
"A
pontuação na escala de crescimento tem um efeito menor em geral. Por
outro lado, uma pontuação alta para o crescimento significa que você
tende a ver o 'ghosting' como algo realmente negativo".
Essas pessoas também ignoram conflitos com mais facilidade. Isso porque têm a certeza de que encontraram o amor verdadeiro.
"Quem
acredita no destino tende a ser mais tolerante com o cônjuge e mais
propenso a evitar uma briga porque quer acreditar que essa pessoa é sua
alma gêmea", diz Franiuk. Isso pode ser positivo para pequenas
divergências. "Mas se você evita grandes conflitos, acaba ficando com
alguém que não é bom para você."
As pessoas não mudam?
E
as consequências podem ser extremamente sérias. Aqueles que acreditam
no destino e estão juntos há mais tempo tendem a desmerecer problemas.
Afinal, partem do pressuposto de que eles e seus cônjuges são mais
compatíveis por causa da quantidade de tempo que passaram juntos.
"Descobrimos
que, quanto mais os defensores da alma gêmea insistem em uma relação
amorosa apenas porque acreditam ter encontrado a pessoa certa, mais
relatam violência", diz Franiuk. "Eles minimizam relacionamentos
problemáticos. Alguns podem até ver sinais de alerta antecipadamente e
terminar. Outros sabem que estão em um relacionamento com a pessoa
errada, mas, por razões econômicas, decidem continuar com o cônjuge. E,
porque acreditam no destino, acabam ficando mais tolerantes, o que os
coloca em situações de perigo".
Direito de imagemGetty ImagesImage caption
Teorias não precisam ser mutuamente excludentes
Os especialistas também dizem que é difícil mudar.
Ou seja, se você acredita em alma gêmea desde cedo, provavelmente não
vai mudar de opinião ao longo da vida.
"Essas teorias são
profundamente embasadas. Aos 20 e 30 anos, nossas personalidades já
estão bastante estáveis. E tal qual a personalidade, a construção de
relacionamentos é desenvolvida desde cedo - as crianças formam essas
ideias com base nas relações que as cercam", diz Franiuk.
Mas as duas teorias não são excludentes.
"Você
pode acreditar que os relacionamentos melhoram quando os casais fazem
um esforço conjunto, mas (ainda acredita) que existe a pessoa 'certa'
para você", diz Freedman.
"Poucas pessoas discordam da ideia de
que seja possível evoluir juntos num relacionamento. E ainda podemos
alterar as maneiras pelas quais expressamos essas crenças. Esperamos que
experiências passadas moldem a maneira como lidamos com novos
relacionamentos".
Dessa forma, não é porque você acredita na alma
gêmea que vai terminar seus relacionamentos desaparecendo sem dar
explicações. Ou mesmo evitar fazer qualquer esforço, porque acredita que
você e seu cônjuge não são compatíveis.
Por essa razão, dizem os
especialistas, uma maior conscientização das nossas próprias tendências
românticas pode nos ajudar a navegar pelos obstáculos inerentes às
nossas conexões amorosas.
BBC
55 anos do golpe militar: A história de Cassandra Rios, a escritora mais censurada da ditadura
Direito de imagemVania ToledoImage caption
Cassandra era pseudônimo de Odete Rios, nascida em 1932 em São Paulo
Ninguém foi mais
perseguida pelos censores da ditadura militar brasileira (1964 - 1985)
do que Cassandra Rios, escritora recordista em vetos durante o regime,
com 36 dos seus 50 livros publicados censurados durante a vida - fora algumas edições clandestinas.
"Cassandra Rios incomodou os militares
por várias razões. A principal delas é o conteúdo erótico de seus
livros, contrário a 'moral e aos bons costumes', como se dizia na
época", explica Rodolfo Londero, professor da Universidade Estadual de
Londrina e autor do livro Pornografia e Censura: Adelaide Carraro, Cassandra Rios e o Sistema Literário Brasileiro nos anos 1970.
Nascida
em 1932, em Perdizes, bairro classe média alta de São Paulo, Cassandra
era pseudônimo de Odete Rios. Em 1948, aos 16 anos, publicou seu
primeiro livro, A Volúpia do Pecado, uma história de amor entre
duas adolescentes, se tornando a primeira autora do país de romances
eróticos voltados ao universo homossexual feminino.
Na época, após ter sido rejeitado por todas as editoras de São Paulo, A Volúpia do Pecado
foi publicado pela própria Odete com dinheiro emprestado pela mãe, dona
Damiana, uma imigrante espanhola burguesa e católica. Sob o pseudônimo
de Cassandra Rios, originalmente a sacerdotisa grega que profetizou o
episódio do "cavalo de Troia", o livro de estreia fez tanto sucesso que
chegou a ser reeditado nove vezes em pouco mais de dez anos.
Até
que, em 1962, foi proibido e tirado de circulação por ofender os valores
familiares. Entre 1964 a 1985, anos da ditadura, outras três dezenas de
livros da escritora seriam proibidos.
Para Londero, mais que o conteúdo erótico e homossexual, foi a
combinação de duas características perigosas aos olhos dos militares que
transformaram Cassandra Rios na "escritora maldita", modo como era
chamada pela ditadura: a sua sexualidade - a escritora era assumidamente
lésbica - e a sua popularidade.
"Enquanto escritora, Cassandra
sabia se comunicar com as classes populares", afirma o pesquisador.
"Enquanto lésbica, sabemos, baseados em farta documentação, que a
ditadura considerava perigosa qualquer orientação sexual que escapasse
da heteronormatividade."
"A sociedade rotula o homossexual como
cachaça de macumba, não como uísque", brincou a escritora em 2001, pouco
antes de morrer, ao lembrar da sua trajetória.
Parecer de censor veta livro de Cassandra, 'Copacabana Posto 6'
Apesar da perseguição recorde, Cassandra Rios se
tornou a primeira escritora brasileira a vender 1 milhão de exemplares,
meta alcançada em 1970, superando escritores populares de sua época,
como Jorge Amado, Clarice Lispector e Érico Veríssimo. Foi, ainda, o
primeiro caso conhecido de uma escritora nacional a viver exclusivamente
da venda de seus livros, nunca tendo exercido outra profissão.
"Mesmo
censura após censura, Cassandra era persistente, continuava
escrevendo", conta Londero. "No final, a própria censura ajudou a
transformá-la em um mito. Mais que um xingamento, a fama de 'escritora
maldita' se transformou em um rótulo lucrativo para as editoras."
Pesquisas
da professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Sandra
Reimão estimam que 450 livros tenham sido censurados nos 21 anos de
ditadura militar, regime que teve início no golpe de Estado de 31 de
março de 1964.
Perseguida e queimada
Ainda
que fosse um sucesso de vendas entre os anos 1950 a 1980 - e de
popularidade, diga-se de passagem, já que personalidades como Jorge
Amado e o Bandido da Luz Vermelha eram fãs declarados da escritora -
Cassandra foi perseguida e tirada de circulação com tanta ferocidade
pelos militares que até hoje é difícil encontrar seus mais de 50 livros
em livrarias e sebos.
"Com os direitos autorais que recebia da
venda dos livros, a tia Odete levava uma vida muito confortável", lembra
Liz Rios, sobrinha da escritora. "Ela [a tia] tinha o apartamento em
que morava, tinha uma casa em Interlagos [zona sul de São Paulo], uma
chácara em Embu das Artes e alguns carros, além da própria livraria,
onde ela vendia seus livros".
Com a perseguição dos censores,
Cassandra foi à falência em 1976, ano em que 14 obras da escritora foram
censuradas em apenas seis meses. "Ela perdeu quase tudo e teve de
fechar a livraria. Lembro que ficou arrasada nessa época, sem chão",
conta a sobrinha.
"Em geral, os escritores exerciam o ofício da
literatura não como forma de renda, pois trabalhavam em outras
atividades. Mas Cassandra era uma escritora profissional", conta
Londero, explicando que a romancista foi a única escritora de sua época a
viver exclusivamente da venda de seus livros no Brasil, tendo sido uma
das pioneiras na profissionalização do escritor no país.
Para
sobreviver, Cassandra passou a colaborar com artigos para revistas e
jornais e criou um pseudônimo, Oliver Rivers, para conseguir publicar
livros e equilibrar as contas.
"Engraçado que com o pseudônimo
masculino, a tia Odete conseguia passar pela censura e vender os livros,
igualmente eróticos. Isso comprova que a perseguição era contra a
pessoa Cassandra, e não só contra sua literatura", afirma Liz, lembrando
que a tia era levada pelos DOPS (Departamento de Ordem Política e
Social) para depor com frequência, livro após livro.
E para onde íam os livros apreendidos de Cassandra? Segundo a professora Reimão, que é autora do livro Repressão e Resistência - Censura a Livros na Ditadura Militar, provavelmente muitos foram para o fogo. Por isso, muitos livros dela estão fora de circulação.
"Na
documentação censória preservada no Arquivo Nacional de Brasília, há
dezenas de ofícios do governo dos militares comunicando a incineração do
material apreendido", explica Reimão. "Ou seja, as centenas de livros
confiscados e guardados em depósitos pela censura usualmente eram
incinerados, e não só apreendidos", explica.
Aqueles que conseguiam comprar as obras proibidas de Cassandra liam os livros com receio de serem descobertos.
"Escondiam
meus livros debaixo do colchão, meu nome virou palavrão!", contou a
escritora em uma entrevista dada em 2001 à revista TPM.
A santa vaca
A
vida de Cassandra Rios se tornou ainda mais difícil a partir de 1968,
com a promulgação do Ato Institucional número 5 (AI-5), que oficializou a
censura no país.
"O AI-5 dava poder ao governo de cassar
mandatos, suspender direitos políticos e garantias individuais, além de
censurar a divulgação da informação, a manifestação de opiniões e as
produções culturais e artísticas, incluindo livros", explica Reimão. Direito de imagemReproduçãoImage caption
Como contaria depois, escritora criou A Santa Vaca como resposta à perseguição por militares
O endurecimento da censura pelo AI-5 trouxe diversas
consequências para Cassandra Rios - para além da falência. Em uma
entrevista à revista Realidade, em março de 1970, a escritora revelou
que a censura lhe causava abalo emocional e decepção.
"Sou uma
criatura simples, comum, cheia de problemas, triste e amarga. A vida de
escritora tem sido muito dura para mim", disse Cassandra.
Além
do forte moralismo usado como método para barrar uma obra, Reimão conta
que a censura a livros, principalmente entre 1964 a 1968, era executada
na base de "batidas policiais, apreensões de exemplares, confisco e
coerção física".
Além das abordagens agressivas, o escritor censurado era intimado a depor sobre sua obra.
"Era
comum que os escritores fossem chamados à delegacia ainda muito cedo.
Lá, tomavam um 'chá de cadeira' que durava o dia inteiro, para serem
interrogados somente no final do dia. Imagine o que passava pela cabeça
de um escritor censurado pela ditadura enquanto esperava essas longas
horas na delegacia", acrescenta Londero. "Era uma forma sutil de tortura
psicológica, de intimidação da ditadura."
"A tia Odete nunca
disse isso, mas com certeza tinha medo dos militares. Ela era muito
reclusa, quase não saía de casa. Acho que a perseguição da ditadura a
deixou assim, reservada", opina a sobrinha. "Com certeza ela morreu
decepcionada com a ditadura."
Enraivecida com a censura de suas
obras e com o rótulo de pornográfica - Cassandra não gostava desse
estereótipo -, a escritora publicou A Santa Vaca em 1978, uma espécie de resposta à perseguição e difamação causada pelos militares.
"Escrevi A Santa Vaca
de raiva", disse a autora quando questionada se o objetivo do título do
livro, que conta as fantasias eróticas por trás de uma jovem
considerada boa moça, era chocar. "De tanto me perseguirem, resolvi
fazer pornografia, então fiz esse livro. Na introdução, está a minha
intenção, [mostrar] a força da mulher ao ser chamada de prostituta",
contou Cassandra Rios.
Pornográfica igual a comunista
Direito de imagemReproduçãoImage caption
Cassandra foi convidada por político a concorrer às
eleições de 1986 e aceitou o convite: se candidatou a deputada estadual
por São Paulo pelo PDT
Ser chamada de pornográfica nos anos 1970 era tão
perigoso quanto ser chamada de comunista e, em muitos casos, poderia
significar a mesma coisa.
"A liberação sexual estava intimamente
ligada aos movimentos contraculturais, que, por sua vez, estavam ligados
ao pensamento de esquerda", explica Londero. "Por isso, aos olhos da
ditadura, editoras que publicavam qualquer coisa sobre a temática de
sexualidade eram verdadeiras inimigas do Estado por serem promotoras da
revolução sexual entre os brasileiros, sendo consideradas pelos
militares ainda mais perigosas que a própria revolução socialista".
"Uma
das conclusões dos meus estudos sobre censura na década de 1970 é que
não é possível separar o universo moral do político", afirma Reimão.
"Isso significa que, para os censores, havia uma correlação entre a
destruição dos valores morais, promovida pela temática da sexualidade, e
a destruição da segurança nacional, representada pelos temas
políticos."
Porém, além de não se considerar pornográfica,
Cassandra não conseguia entender por que o erotismo era algo a ser
combatido pelos ditadores. "Pornografia é a intenção deliberada de
chocar [...] é o sexo pelo sexo. Nos meus livros, o sexo só acontece em
função do amor, para realiza-lo plenamente e sem preconceitos",
esclareceu a escritora na entrevista à revista Realidade.
Nos
anos 1990, a escritora ganhou um programa na Rádio Bandeirantes. Durante
uma entrevista ao vivo com o ex-governador paulista Adhemar de Barros,
Cassandra foi convidada pelo político a concorrer às eleições de 1986,
eleições que marcaram o fim da ditadura. Ela aceitou o convite e se
candidatou a deputada estadual por São Paulo pelo PDT, mas não foi
eleita.
"Se ela [Cassandra] se considerava uma subversiva? Talvez
sim", reflete a sobrinha Liz. "O fato é que ela foi uma pioneira. Foi
ela quem deu o pontapé inicial, ainda nos anos 50, para que hoje
discutíssemos temas ligados ao público LGBT".
Cassandra Rios
morreu em decorrência de um câncer em 2002, aos 69 anos, no Dia
Internacional da Mulher, 8 de março. Ela nunca quis ter filhos e chegou a
casar-se na igreja aos 18 anos, com um amigo. A união, contudo, era de
fachada tanto para ele quanto para ela, que queria sair de casa sem
chocar os pais.
Apesar disso, a sobrinha conta que tanto a
sexualidade quanto os livros da tia, "uma mulher que era amorosa com os
familiares e inteligente", são motivos de muito orgulho para a família
Rios. Liz acredita que se a tia Odete ainda estivesse viva, "ela estaria
chocada com o conservadorismo, principalmente na política. Os tempos
atuais a fariam lembrar tudo o que sofreu na ditadura por ser lésbica".
BBC BRASIL
Após cogitar transferir embaixada, Bolsonaro anuncia escritório comercial em Jerusalém
Presidente
confirmou escritório na cidade sagrada durante declaração conjunta com
premiê israelense. Jerusalém não é reconhecida internacionalmente como
capital de Israel.
Governo anuncia abertura de escritório comercial em Jerusalém
No primeiro dia da visita oficial a Israel, o presidente Jair Bolsonaro
anunciou neste domingo (31), após se reunir com o premiê Benjamin
Netanyahu, a abertura de um escritório comercial do governo brasileiro
em Jerusalém, cidade considerada sagrada por cristãos, judeus e
muçulmanos e que não é reconhecida internacionalmente como capital israelense.
A abertura do escritório em Jerusalém é uma saída diplomática para o embaraço gerado com países árabes após o presidente ter manifestado publicamente logo após ser eleito
a intenção de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para
Jerusalém, a exemplo do que fez o presidente norte-americano Donald
Trump.
Israel considera Jerusalém a "capital eterna e indivisível" do país,
mas os palestinos não aceitam e reivindicam Jerusalém Oriental como
capital de um futuro Estado palestino.
O eventual reconhecimento por parte do governo brasileiro de Jerusalém
como capital de Israel, e também a eventual mudança da embaixada,
suscitou o receio de retaliações comerciais de países árabes, grandes
compradores de carne bovina e de frango do Brasil.
O recuo de Bolsonaro em relação à transferência da embaixada se deu
após ponderações da ala militar do governo e de ruralistas de que a
medida poderia gerar um prejuízo bilionário para a economia brasileira.
Bolsonaro se reúne com premiê israelense em Jerusalém
Às vésperas das eleições gerais em Israel, Bolsonaro desembarcou no país do Oriente Médio na madrugada deste domingo para retribuir a presença do premiê israelense
Benjamin Netanyahu na cerimônia de posse dele em 1º de janeiro. Neste
domingo, a imprensa de Israel tratava como uma das principais pautas da
visita do presidente brasileiro a possível definição de mudar a
embaixada para Jerusalém.
Um dos principais aliados externos de Bolsonaro, o primeiro-ministro de
Israel foi recepcionar o colega brasileiro no aeroporto de Tel Aviv,
distinção que ele reservou a poucos chefes de Estado ao longo dos quatro
mandatos em que está à frente do governo israelense. Do aeroporto, a
comitiva brasileira se deslocou diretamente para Jerusalém.
Mais tarde, Bolsonaro e Netanyahu tiveram uma reunião de trabalho no
gabinete do primeiro-ministro, na qual assinaram acordos bilaterais.
Ao final do encontro, chamando o premiê israelense de "irmão e amigo", o
presidente anunciou, em Jerusalém, a instalação do escritório que,
segundo ele, será encarregado da promoção de comércio, investimentos,
tecnologia e inovação entre os dois países, subordinado à embaixada do
Brasil em Tel Aviv.
"Agora
há pouco, tomamos a decisão final, ouvindo o nosso general Augusto
Heleno [ministro do Gabinete de Segurança Institucional], de abrir, em
Jerusalém, um escritório de negócios voltado para ciência, tecnologia e
inovação" (Jair Bolsonaro)
"Nosso casamento no dia de hoje trará muitos benefícios aos nossos
povos. Estou muito feliz. Peço a Deus que continue nos iluminando para
tomar muitas decisões", complementou o presidente, concluindo a
declaração dizendo, em hebraico, "eu amo Israel".
Denúncias de corrupção
Bolsonaro foi recebido em Tel Aviv pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu — Foto: REUTERS/Ronen Zvulun
Alvo de denúncias de corrupção, Benjamin Netanyahu vive um dos momentos
mais delicados desde que assumiu o governo israelense. Ele é acusado,
entre outras coisas, de ter usado de sua influência no ministério das
Comunicações para obter cobertura favorável de veículos da imprensa, de
ter recebido favorecimento ilícito na compra de submarinos da Alemanha e
ainda de ter recebido presentes caros de empresários.
Nas eleições convocadas para 9 de abril, é possível que Netanyahu,
líder do partido de direita Likud, deixe o poder após uma década como
primeiro-ministro.
O parlamento de Israel aprovou a própria dissolução em dezembro,
antecipando a votação que deveria ocorrer até novembro de 2019. A
convocação de eleições foi interpretada como uma manobra do premiê
contra desdobramentos das denúncias de corrupção. Se for reeleito pela
quinta vez, Netanyahu vai superar o recorde de permanência no cargo do
fundador do Estado de Israel, David Ben-Gurion.
A imprensa local aponta que a visita do líder brasileiro tem sido usada
para "impulsionar" a campanha de Netanyahu, destacando que o premiê faz
da agenda oportunidade para mostrar seu poder de influência junto ao
Brasil que, até então, era visto como pró-Palestina e às vezes até mesmo
pró-Irã, de acordo com veículos de mídia israelense.
Em uma declaração à imprensa logo após a reunião de trabalho com
Bolsonaro, Netanyahu elogiou o colega brasileiro – a quem também chamou
de amigo –, disse que considera o Brasil "uma das grande potências
mundiais" e lembrou o papel do governo brasileiro na criação do Estado
de Israel.
Mais tarde, em outro pronunciamento à imprensa em Jerusalém, Benjamin
Netanyahu agradeceu a decisão de Bolsonaro de abrir o escritório
comercial na cidade sagrada e disse que esse pode ser o primeiro passo
para, no futuro, o Brasil transferir a embaixada.
"Abençoo essa sua decisão de abrir um escritório de comércio,
tecnologia e inovação, de representação em Jerusalém", disse o premiê
sob os olhares de Bolsonaro.
"E
vou contar um segredo a vocês: é o primeiro passo para quem sabe um dia
chegar à transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém. Sejam
bem-vindos a Jerusalém, capital do Estado de Israel". (Benjamin
Netanyahu)
Acordos bilaterais
Bolsonaro e premiê israelense assinam vários acordos
Além da abertura do escritório comercial em Jerusalém, o presidente
Bolsonaro também anunciou neste domingo a assinatura de seis acordos com
o governo israelense.
O primeiro trata de entendimentos para cooperação em Ciência e
Tecnologia, com o objetivo, de acordo com o Itamaraty, de "desenvolver,
facilitar e maximizar a cooperação entre instituições científicas e
tecnológicas de ambos os países com base nas prioridades nacionais no
campo de C&T e nos princípios de igualdade, reciprocidade e
benefício mútuo, e de acordo com as leis nacionais".
Também foi assinado um acordo sobre segurança pública. Outro ato trata
de entendimentos sobre cooperação em questões relacionadas à defesa para
"promover a cooperação entre as partes".
Um acordo sobre serviços aéreos, para estabelecer e "explorar serviços
aéreos" também foi firmado, além de um memorando de entendimentos, entre
o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o governo israelense na
área de cibersegurança.
O último ato assinado neste domingo por Bolsonaro e Netanyahu é um
plano de cooperação na área de saúde e medicina até 2022. O governo
informou, até o momento, que o objetivo é permitir a cooperação entre os
ministério da Saúde de Brasil e Israel.
Reuniões com países árabes
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Marcos Montes,
informou que a titular da pasta, Teresa Cristina, vai oferecer um jantar
a embaixadores de países árabes. O objetivo é estreitar relações e
afastar a possibilidade de retaliações comerciais dessas nações - que
são grandes compradoras de carne bovina e de frango do Brasil.
A ideia inicial é que ocorram reuniões com grupos pequenos de países
árabes, e não todos mundo de uma única vez. Segundo interlocutores do
Ministério da Agricultura, representantes da liga árabe têm participado
de reuniões na pasta desde o início do governo.
Peter Tabichi, membro da ordem religiosa franciscana, ganhou o Global
Teacher Prize de 2019, conferido pela Fundação Varkey, organização de
caridade dedicada à melhoria da educação para crianças carentes.
Mas Tabichi foi elogiado por suas realizações em uma escola sem infraestrutura, em meio a classes lotadas e poucos livros didáticos.
Ele quer que os alunos vejam "a ciência é o caminho certo" para ter sucesso no futuro.
O
prêmio, anunciado em uma cerimônia em Dubai, reconhece o compromisso
"excepcional" do professor com os alunos em uma parte remota do Vale do
Rift, no Quênia.
Ele doa 80% de seu salário para apoiar os estudos
dos seus alunos, na Escola Secundária Keriko Mixed Day, no vilarejo de
Pwani. Se não fosse a ajuda do professor, as crianças não conseguiriam
pagar por seus uniformes ou material escolar.
Tabichi diz que parte do
desafio tem sido persuadir a comunidade local a reconhecer o valor da
educação, o que leva a visitar famílias cujos filhos correm o risco de
abandonar a escola.
Ele tenta mudar a mentalidade de pais que
esperam que suas filhas se casem cedo - encorajando-os a deixar as
meninas continuarem seus estudos.
O professor também ensina
técnicas de cultivo mais resistentes aos moradores dos arredores, já que
a fome é uma realidade frequente na região.
"Insegurança
alimentar é um grande problema, então ensinar novos jeitos de plantar é
uma questão de vida ou morte", disse em entrevista à Fundação Varkey.
Além
do contato com as famílias, a atuação de Tabich se estende aos "clubes
da paz" que ele organiza na escola, para representar e unir as sete
tribos presentes ali. A violência tribal explodiu no Vale do Rift depois
da eleição presidencial de 2007 e houve muitas mortes em Nakuru.
"Para
ser um grande professor você tem que ser criativo e abraçar a
tecnologia. Você realmente tem que abraçar essas formas modernas de
ensino. Você tem que fazer mais e falar menos", ele disse à fundação.
O prêmio
O
prêmio conferido a ele busca elevar o status da profissão de docente. O
vencedor do ano passado foi um professor de arte do norte de Londres,
Andria Zafirakou.
O fundador da premiação, Sunny Varkey, diz
esperar que a história de Tabichi "inspire os que procuram entrar na
profissão e seja um poderoso holofote sobre o incrível trabalho que os
professores fazem no Quênia e em todo o mundo, diariamente".
"As
milhares de indicações e inscrições que recebemos de todos os cantos do
planeta são testemunho das conquistas dos professores e do enorme
impacto que eles têm em as nossas vidas", diz.
msn
Refugio-me nas curvas de teu corpo, nas corredeiras de tuas pelejas. Cubro-me na cascata de tuas madeixas e deixo-me em carícias no teu cansaço. Sou
dormente nos trilhos das tuas viagens que me ensinam que a vida é trem
que segue por horizontes. Cada ação transforma; Cada reação impera e
encerra consequentemente. Ser feliz é apenas questão de sorte, quando se
busca incessantemente. Sou repúdio quando te maltratam. Muito lúcido e ávido no desejo do bem. Sou esse prazer que exalta o sentir que não sei explicar. Ninguém entende de sentimentos dos outros. Há
milhas de distâncias e tantos milhões povoam com tantas belezas
discernidas em cada cantinho das nações. Cada qual, ternura e brilho, um
tanto de força e sabedoria e um tanto mais ainda, de amor. Sou poema recitado pela magia do teu existir. Praia que recolhe mar, céu que colhe estrelas e cultiva olhares. São teus, os filhos gerados em doses de luz divinal. O mundo em candura, desenhada figura, és tu, mulher, a mais ampla e perfeita arte de Deus. Que
se preencham de todas as felicidades, todas as fêmeas, avós, mães,
filhas, amadas, amantes. Que seja uníssono o grito e o silêncio em tua
defesa e admiração. Sou canção que goteja de teu colo, quando deito sonhos e acordo com afagos de inspiração feminina. Takinho (autor) https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=184903 A você, poeta, agradeço a gentileza de me permitir publicar sua obra maravilhosa!! Em nome de todas as mulheres, também agradeço a belíssima homenagem, por ocasião do Dia Internacional da Mulher!!
Michel Temer, o jurista e articulador político que foi da Presidência à prisão
Antonio Cruz/Agência Brasil Período de Temer a frente da Presidência foi marcado por reformas e impopularidade
A preocupação com a
Justiça já marcava os últimos dias na Presidência de Michel Temer
(MDB), preso nesta quinta-feira (21) em um desdobramento da Operação
Lava Jato. A prisão foi autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara
Federal do Rio de Janeiro.
"As investigações apontam que a
organização criminosa praticou diversos crimes envolvendo variados
órgãos públicos e empresas estatais, tendo sido prometido, pago ou
desviado para o grupo mais de R$ 1,8 bilhão", afirmou o Ministério
Público Federal do Rio de Janeiro em nota sobre as prisões.
O ex-presidente Temer - que chegou ao Palácio do Planalto em
maio de 2016 após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e deixou o poder
em 1º de janeiro, com apenas 5% de aprovação popular - passou seus
momentos finais como presidente em reuniões com membros do seu governo e
aliados próximos, além de pequenas homenagens em reconhecimento aos
feitos do seu governo.
Mas duas semanas antes de Temer passar a
faixa presidencial para Jair Bolsonaro (PSL), a procuradora-geral da
República, Raquel Dodge, apresentou a terceira denúncia criminal contra
ele durante seu mandato, dessa vez por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro no inquérito que apurava um esquema criminoso no setor de
portos.
No total, Temer deixou o governo com três denúncias
criminais - todas foram enviadas à primeira instância assim que acabou
seu mandato. Além da mais recente envolvendo o setor de portos, as duas
primeiras partiram da delação de executivos da JBS e acusam Temer e
aliados de receber propinas de empresas beneficiadas por decisões do
governo ou contratos públicos.
Últimos dias de Temer na Presidência foram marcados por homenagens e preocupação com o futuro
Histórico das denúncias
O
pesadelo do então presidente começou quando recebeu, tarde da noite em
março de 2017, no Palácio do Jaburu, o empresário da JBS Joesley
Batista.
Em gravação feita pelo executivo, o então presidente é
ouvido falando "tem que manter isso aí, viu?", sobre a boa relação de
Joesley com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que já estava preso
em Curitiba.
O ex-presidente nega todas as acusações e se diz vítima de uma perseguição.
Esses,
no entanto, foram apenas os últimos eventos da agitada trajetória de
Temer como jurista, deputado e um dos principais articuladores políticos
do Congresso, assumindo a Presidência da Câmara por duas vezes.
Relembre abaixo o que marcou a vida de Temer antes das denúncias.
Quinze dias antes da posse de Bolsonaro, Temer era denunciado criminalente pela terceira vez
Antes da Presidência, 'conciliador' e 'tranquilo'
Até
dezembro de 2015, antes da abertura do processo de impeachment contra a
ex-presidente Dilma Rousseff, a imagem que prevalecia de Temer era
aquela cultivada por ele durante os 34 anos de vida pública - e
alimentada por amigos e aliados: a do político "ponderado", "formal",
"conciliador", "tranquilo".
A crise, contudo, revelou aspectos
diferentes da persona política do então vice-presidente da República e a
necessidade de se entender quem é, afinal, o político conhecido como
"esfinge" do MDB.
O jogo mudou na já histórica carta-desabafo
dirigida a Dilma seis dias após a abertura do processo de impeachment.
No texto, em tom sentimental, ele lamenta a condição de "vice
decorativo" e diz ser alvo de "desconfiança" e "menosprezo" do governo.
O
episódio foi um ponto fora da curva que marcou o afastamento de Temer
do governo - e mostrou outra nuance da personalidade do vice-presidente.
Criticado
até dentro do MDB pela carta, considerada por alguns "infantil" e
"primária", em 2016, Temer parece ter seguido a lição de seus próprios
versos, como os do poema "Exposição", publicado no livro Anônima
Intimidade (2013).
Depois, retomou a atitude fria do político que
acumulou prestígio atuando das portas dos gabinetes para dentro e se
lançou na articulação do desembarque do MDB do governo.
Juventude em São Paulo
A
família de Temer, de cristãos maronitas, emigrou para o Brasil em 1925,
fugindo dos problemas do pós-guerra no Líbano. Comprou uma chácara em
Tietê (SP), cidade de 40 mil habitantes entre Sorocaba e Piracicaba, e
instalou uma pequena usina de beneficiamento de arroz e café.
Caçula
temporão de oito irmãos, Temer nasceu e foi criado na área rural.
Quando criança, passava férias na capital e era arrebatado pela
metrópole. "Tinha a sensação que o mundo era São Paulo", disse certa
vez.
No primeiro ano colegial, ainda em Tietê, o adolescente ficou
em recuperação em química e física ,e desistiu do chamado curso
científico, que privilegiava ciências exatas e biológicas.
Em
1957, aos 16 anos, chegou a São Paulo, desta vez para terminar o
colegial no curso clássico, com ênfase em humanas e letras. Fez o
cursinho do professor Castelões, famoso preparatório para Direito, e
ingressou na USP, seguindo o caminho de quatro irmãos mais velhos.
Temer na formatura em direito, em 1964; começou a se envolver com política no primeiro ano de faculdade
Envolveu-se com política logo no primeiro ano de
universidade, quando se tornou segundo-tesoureiro do Centro Acadêmico 11
de Agosto. Prevalecia à época no movimento estudantil uma onda
nacionalista, inspirada pela revolução cubana de Fidel Castro e o
princípio da autodeterminação dos povos, mas a faculdade do Largo São
Francisco mantinha a tendência liberal.
Em 1962, já em meio ao
clima que culminaria dois anos depois no golpe que derrubou João
Goulart, Temer foi candidato a presidente do CA - perdeu por 82 votos,
mas inoculou-se do gosto pela política, que ficaria dormente durante a
ditadura militar.
"Confesso que durante a faculdade fiz muita
política acadêmica, então sobrava pouco tempo para estudar, embora
estudasse para não ser reprovado", disse Temer em vídeo publicado em seu
canal no YouTube.
Temer (segundo da dir. para esq.) nos tempos da Faculdade de Direito da USP
Professor liberal, constitucionalista respeitado
Neutro
diante do golpe de 1964, Temer passou o regime militar longe da vida
política. Montou um escritório de advocacia e começou a dar aulas de
Direito na PUC-SP.
Como professor, costumava dizer no primeiro dia
de aula que todos estavam aprovados. "Vamos combinar o seguinte: não
tem lista de presença, vocês estão aprovados. Quem quiser frequenta a
aula. Até se vocês não vierem, facilitam minha vida, porque vou ao
escritório mais cedo trabalhar na advocacia", afirmava.
No
mestrado que coordenava na PUC, teve alunos que viriam a se tornar
ministros do Supremo Tribunal Federal, como Luiz Edson Fachin e Carlos
Ayres Britto.
"Ele sempre foi sereno e conciliador por natureza",
disse Ayres Britto à BBC News Brasil. "Tem uma vocação acadêmica muito
forte, e nunca pensei que fosse incursionar pelo campo da política
partidária."
Em 1982, lançou Elementos de Direito Constitucional,
livro que vendeu mais de 240 mil cópias, está na 24ª edição e até hoje é
referência nas universidades.
"É uma obra bem primária, mas com
valor didático. Não é inovadora. (Temer) não é considerado um grande
teórico, mas um grande expositor", avalia o jurista Dalmo Dallari,
professor emérito da USP e crítico ao impeachment de Dilma.
No
mesmo ano da publicação do livro, Temer foi convidado pelo governador
eleito Franco Montoro, do recém-fundado PMDB, a assumir a
Procuradoria-Geral do Estado. Montoro tinha sido professor da PUC e
ambos haviam convivido na faculdade.
Era seu primeiro cargo
público de relevo. "Eu tinha 41 anos e achava o máximo para a minha
carreira ter mil procuradores sob meu comando", disse Temer em 2010 à
revista Piauí.
Meses depois, Temer assumiria a Secretaria de
Segurança Pública do Estado, substituindo o advogado José Carlos Dias,
que justamente havia sugerido Temer para a Procuradoria do Estado.
Eram
tempos de redemocratização e agitação social, e a gestão ficou marcada
por episódios em que o secretário negociou pessoalmente o fim de
invasões de prédios públicos por estudantes e militantes sem-teto. Como
realizações do período, ele costuma citar a criação das primeiras
delegacias de defesa da mulher e de direitos autorais do país.
Temer em evento acadêmico em 1982, ano da publicação de seu principal livro de direito
Início da carreira política
Por
sugestão de Montoro, Temer candidatou-se a deputado federal pelo PMDB
em 1986. Com 43.747 votos, ficou como suplente, mas assumiu o cargo no
ano seguinte e participou da Assembleia Constituinte.
Naquelas
discussões, opôs-se à emenda popular da reforma agrária ("permitiria a
desapropriação indiscriminada de terras") e ao voto aos 16 anos - algo
que, segundo ele, abriria margem para reduzir a maioridade penal. Ajudou
a aprovar projetos como o dos juizados de pequenas causas, do Código de
Defesa do Consumidor e a extensão do voto a cabos e soldados.
Em
1990, em outra candidatura à Câmara dos Deputados, saiu com 32.024 votos
e uma nova suplência. Logo seria convidado a "apagar um incêndio", algo
que se repetiria ao longo da carreira política.
Em outubro de
1992, assumiu novamente a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo,
desta vez por convite de Luiz Antônio Fleury Filho (à época no PMDB),
uma semana após o massacre do Carandiru, quando 111 presos foram mortos
pela Polícia Militar.
"É organizado. Delegava para pessoas de
absoluta confiança. Nada escapava dele e tomava providências", disse à
BBC Paulo de Tarso Mendonça, que foi adjunto de Temer na pasta.
Ao
final da passagem pela secretaria, assumiu o mandato de deputado
federal. Seria reeleito em 1994, com 70.968 votos, e multiplicaria a
votação nos pleitos seguintes: 206.154 em 1998, 252.229 em 2002.
Em inauguração em 1985, ainda na primeira gestão como secretário de Segurança Pública de SP
Parcerias tucanas e petistas
Os
anos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foram o auge de
Temer nas urnas para eleições legislativas - em 2006, sua última eleição
ao Congresso, obteve 99 mil votos e só entrou pelas sobras do quociente
eleitoral. Também marcaram sua rápida ascensão dentro do PMDB.
Eleito
líder do partido duas vezes, chegou à Presidência da Câmara pela
primeira vez em 1997, com apoio do governo FHC, costurado mediante
promessa dos votos de parte do PMDB à emenda da reeleição. Arranjo
parecido se deu em sua segunda eleição ao comando da Casa, que se deu
após o PMDB apoiar informalmente a reeleição de FHC.
Comumente descrito por aliados como "sereno', "tranquilo" e
"conciliador", Temer teve raras rusgas políticas em público. Uma delas
foi em 1999, quando entrou em rota de colisão com o então presidente do
Senado, Antônio Carlos Magalhães (então no PFL, atual DEM), por
divergências em torno da reforma do Judiciário. Michel Temer com ACM (à esq.) e FHC (à dir.): anos do governo de Fernando Henrique Cardoso foram seu auge nas urnas
o bate-boca, que chegou a paralisar o Congresso, ACM disse que Temer
tinha "pose de mordomo de filme de terror" e insinuou o envolvimento do
colega em irregularidades no Porto de Santos, para o qual o peemedebista
havia feito indicações políticas.
"Quem atravessou a praça dos
Três Poderes para pedir ao presidente da República que ajudasse um banco
falido não fui eu", rebateu Temer, em referência à ação de ACM em favor
do hoje extinto Banco Econômico.
Na eleição de 2002, Temer
endossou o apoio do PMDB à candidatura presidencial de José Serra
(PSDB), e chegou a ser cogitado para ser vice da chapa - posto que
acabou com Rita Camata. No primeiro governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, manteve-se no grupo do PMDB da Câmara identificado como oposição,
enquanto Lula apostava no PMDB do Senado, de Renan Calheiros e José
Sarney.
Os primeiros anos da era Lula foram magros para Temer.
Distanciou-se do centro do poder em Brasília, perdeu cargos na Mesa
Diretora da Câmara e indicações em estatais. Em 2004, candidatou-se a
vice-prefeito de São Paulo na chapa de Luiza Erundina (PSB) e amargou um
quarto lugar, com 4% dos votos.
O cenário começou a mudar em
2005-06, após a maior crise do governo Lula, a do mensalão, esquema
ilegal de financiamento político organizado pelo PT para garantir votos
no Congresso. O PMDB negociou apoio ao presidente e passou a integrar
formalmente o governo em 2007, ampliando sua fatia em ministérios e
estatais.
Em acordo semelhante ao fechado com o PSDB nos anos FHC,
o PMDB defendeu a eleição do PT à Presidência da Câmara no biênio
2007-2009, em troca do poder no período seguinte - em 2009, Temer
assumiu a direção da Casa pela terceira vez.
Naquele mesmo ano,
Temer foi citado na operação Castelo de Areia, que investigou um suposto
esquema de financiamento político ilegal pela construtora Camargo
Corrêa - hoje envolvida na operação Lava Jato.
A operação acabou
anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) por irregularidades na
coleta de provas, e Temer sempre rechaçou as suspeitas.
Direito de imagemAGENCIA BRASILImage caption
Na vice-presidência da República, Temer demonstrava insatisfação com papel "decorativo"
Chegada ao Planalto
Em
2010, Temer foi convocado mais uma vez ao papel de bombeiro: desta vez
para garantir a estabilidade do sistema político como vice na chapa de
Dilma Rousseff. O deputado unia em torno de si um partido historicamente
dividido, e com um discurso que buscava superar a fama de fisiologismo
da sigla.
"Antigamente, o PMDB entrava na eleição dividido para
depois negociar apoio ao governo eleito, por isso era chamado de
fisiologista pela imprensa. Mas isso acabou. Estamos entrando na
campanha juntos e governaremos juntos", dizia às vésperas do anúncio da
aliança na chapa.
Na campanha de 2010, Temer ficou praticamente de
fora dos programas e propagandas eleitorais - apareceu no rádio e na TV
apenas no segundo turno.
Já como inquilino do Palácio do Jaburu, a
residência oficial do vice-presidente, reforçou a discrição, segundo um
ex-assessor. Recusava muitos pedidos de entrevista, mas conversava
diretamente com colunistas com quem tem relação mais antiga.
Direito de imagemValter Campanato/Agência Brasil Image caption
O ex-presidente e sua mulher se conheceram em 2002, durante a campanha eleitoral
Casamento com Marcela e famílias
Aos
78 anos, Temer está no terceiro casamento, com Marcela Temer, ex-modelo
e bacharel em direito de 35 anos. Ambos possuem um filho de sete anos,
Michel Temer Filho, o Michelzinho.
O ex-presidente e a mulher se
conheceram em 2002, durante a campanha eleitoral. O pai dela, um
economista conhecido de políticos de Paulínia (SP), cidade de 100 mil
habitantes na região de Campinas, sugeriu que fossem cumprimentar o
prefeito - e o então candidato a deputado federal Temer estava por lá.
"Era um contato profissional que poderia me ajudar a dar um up
na carreira (de modelo). Mas achei ele charmosão", disse Marcela numa
rara entrevista, em 2010, à revista TPM. Depois da eleição, o pai de
Marcela sugeriu que enviasse um e-mail ao deputado eleito
parabenizando-o pelo resultado.
O namoro - o primeiro de Marcela -
começou logo após o primeiro encontro, quando recebeu uma ligação do
deputado. "Ele começou a gritar: 'te amo', 'te amo', 'te amo'", disse
Marcela na entrevista de 2010. Casaram-se quatro meses depois.
Além
de Michelzinho, Temer tem três filhas do primeiro casamento - Luciana,
46 anos, advogada, Maristela, 44 anos, e Clarissa, 42 anos, psicólogas e
psicanalistas. Ele também tem um filho de 16 anos, fruto de um
relacionamento com uma jornalista de Brasília.
De 'vice decorativo' a rompimento com o governo Dilma
Nos
quatro anos seguintes à vitória da chapa presidencial, Temer assumiu
papel coadjuvante no governo, como deixou claro na polêmica carta à
Dilma.
"Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e
que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as
votações do PMDB e as crises políticas", escreveu.
Os sinais mais
nítidos de desgaste na relação com o Planalto começaram em 2013.
Naquele ano, Temer bancou, contra a vontade do Planalto, a eleição de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para liderança do PMDB na Câmara. Mais tarde,
após as manifestações de 2013, disse que a ideia de uma Assembleia
Constituinte exclusiva para a reforma política, uma das propostas de
Dilma diante dos protestos, era "inviável".
Na ocasião, o vice disse ainda acreditar que os protestos não pediam a renovação dos políticos, mas do sistema político.
"Esse
movimento não foi contra os políticos A, B ou C. Se fôssemos nessa
linha, todos os Legislativos e Executivos tinham que sair de seus
postos."
A tensão se reduziu na campanha da reeleição em 2014.
Temer subiu em palanques com Dilma pelo país e foi o primeiro a ser
citado pela presidente no pronunciamento após a vitória.
"Depois
de ter sido um grande vice, se transformou num incansável e aguerrido
militante, fervoroso militante, que andou o Brasil defendendo o nosso
projeto, nossas propostas e nosso governo", afirmou Dilma.
Em
2015, diante do agravamento da crise política e econômica, PMDB e PT
divergiram na eleição à Presidência da Câmara. Temer e seu partido
defenderam a candidatura vencedora de Cunha.
Meses depois, Temer
ensaiou mais uma vez o papel de bombeiro. Assumiu a articulação política
do governo em abril, mas deixou a função quatro meses depois, no final
de agosto.
Direito de imagem Marcos Correa/ReutersImage caption
Pouco antes da saída de Dilma, Temer disse em
entrevista que Brasil precisava de "alguém (que) tenha a capacidade de
reunificar a todos"
Poucas semanas antes da saída, concedeu uma
entrevista na qual, nervoso, disse que o país precisava de "alguém (que)
tenha a capacidade de reunificar a todos".
A interpretação corrente foi de que o vice se lançara como alternativa política porque a ideia do impeachment se tornara real.
Meses depois, veio a carta a Dilma.
O
impeachment esfriou no começo de 2016 e Temer deu a impressão de recuo.
Mas a situação de Dilma se agravou com a delação premiada do então
senador Delcídio Amaral (PT) e as investigações sobre Lula, e Temer
passou a liderar a articulação pela saída do PMDB do governo, ampliando o
isolamento da presidente.
Direito de imagemAntonio Cruz/Agência Brasil Image caption
Governo temer não conseguiu cumprir uma de suas principais promessas: aprovar a reforma da Previdência
Algumas reformas, baixa popularidade
Ao
fim de seu governo, Temer fez um balanço positivo em que destacou a
aprovação da reforma trabalhista, em 2017, como uma de suas principais
vitórias. Apresentada pelo Executivo no ano anterior, a medida - junto à
reforma da Previdência e o teto de crescimento dos gastos públicos -
era uma das principais promessas do governo para fazer a economia voltar
a crescer.
A reforma trabalhista, que alterou profundamente a
Consolidação das Leis Trabalhistas e criou novas formas de contratação,
ficou menos de sete meses nas Casas antes da aprovação.
No
entanto, seus resultados ainda são questionados: os efeitos legislação
na geração de emprego, por exemplo, são considerados imprecisos. No
trimestre encerrado em janeiro, de acordo com o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego no país subiu,
chegando a 12%. A comparação com o mesmo período do ano anterior não
mostra melhoras.
Direito de imagemValter Campanato/Agência Brasil Image caption
Reforma trabalhista foi aprovada em 2017, após sete meses de tramitação
Outra medida priorizada pelo governo, o teto para o
crescimento dos gastos públicos, que serviria para colocar ordem nas
contas públicas, também foi aprovada em 2016. No entanto, sem a reforma
da Previdência, que ainda está em tramitação, sua capacidade de melhorar
a situação fiscal do país é limitada.
Mesmo assim, Temer disse
durante uma homenagem que recebeu em dezembro, em um evento em São
Paulo, que se "regozijava" de ter colocado o assunto em discussão.
"Me regozijo pelo fato de ter colocado esse tema na pauta com muita rapidez e entusiasmo."
Ele considerou que o reconhecimento ao seu governo estava chegando, depois de altos índices de rejeição.
"Nós
tivemos um governo, chegando agora ao final, que começa a ser
reconhecido. A popularidade é algo que você já hoje, tem objeções,
observações, mas é aplaudido amanhã. O meu amanhã está chegando."
A
impopularidade foi outro ponto marcante dos anos de Temer frente à
Presidência. Ele teve taxas de impopularidade históricas. Nos dias
finais do governo, em dezembro, uma pesquisa da CNI-Ibope, mostrou que
74% dos entrevistados consideravam sua gestão ruim ou péssima.
Direito de imagemReproduçãoImage caption
Pouco depois de campanha de 2014, Temer escreveu polêmica carta aberta a Dilma
Últimos dias no Planalto
Pouco
antes do fim do seu mandato, quando era questionado por jornalistas se
temia ser preso ao deixar o Planalto e perder as proteções garantidas
pelo cargo de presidente, Temer se dizia ofendido.
"Não estou
preocupado com esse assunto. Até porque chicotear o presidente é uma
coisa. Já o ex-presidente já não vai ter muita graça", disse à revista
Época, indicando uma expectativa de que a perda de poder lhe daria mais
sossego.
"Lógico que ele tem preocupação. Todo mundo que
eventualmente tem algum tipo denúncia (sente preocupação)", afirmou
então à BBC News Brasil o deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), um dos
aliados que mantiveram visitas ao então presidente mesmo no fim do
mandato.
"Mas todos nós que trabalhamos na defesa do presidente
sabemos que aquelas denúncias, que foram rechaçadas pela Câmara, são
completamente inócuas", acrescentou.
A agitação das denúncias, no
entanto, não se transferiu para a agenda de Temer. Diferentemente do
início de sua administração, quando Temer recebia em seu gabinete
grandes lideranças empresariais como a presidente mundial do banco
Santander e o presidente mundial da Basf, a agenda do então presidente
não mostrava compromissos dessa estatura em novembro e dezembro do ano
passado.
Nesse período, foram poucas as viagens para outros
Estados do país, parte delas também para ser homenageado, incluindo a
inauguração do Centro de Memória Presidente Michel Temer, na Faculdade
de Direito de Itu, no interior de São Paulo, instituição privada onde
foi professor de 1969 a 1984.
O local, que abrigará presentes,
cartas, álbuns de fotografias e livros que o presidente recebeu em seu
mandato, traz também uma linha do tempo de sua vida. Com reportagem de Mariana Schreiber e Thiago Guimarães)