sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Pelo menos 29 crianças morrem em bombardeio a ônibus no Iêmen

Homem iemenitas carrega criança feria em ataque aéreo em Saada, no Iêmen (9 agosto de 2018)Direito de imagemREUTERS
Image captionA Cruz Vermelha afirmou que hospitais da província de Saada receberam dezenas de mortos e feridos
Pelo menos 29 crianças morreram e outras 30 ficaram feridas em um bombardeio da coalizão liderada pela Arábia Saudita no norte do Iêmen, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que atua na área.
No momento do ataque, nesta quinta-feira, o ônibus em que elas estavam trafegava pelo mercado de Dahyan, na província de Saada. O ministério da saúde dirigido pelo movimento rebelde Houthi afirma que 43 pessoas morreram e 61 ficaram feridas.
A coalizão, que está apoiando o governo do Iêmen em uma guerra contra os rebeldes Houthis, disse que suas ações são "legítimas" e afirma que nunca atacou civis de forma deliberada, mas grupos de defesa dos direitos humanos atribuem-lhe bombardeios propositais a mercados, escolas, hospitais e áreas residenciais.

O que está acontecendo em Saada?

Anciãos de tribos iemenitas que habitam a região disseram à agência de notícias Associated Press que o ônibus foi atingido enquanto passava pelo mercado de Dahyan e que transportava civis - muitos deles estudantes.
Uma equipe da organização de defesa dos direitos da criança Save the Children que atua na área afirma que as crianças voltavam para a escola depois de um piquenique, quando o motorista do ônibus parou para comprar algo para beber.
O veículo estava parado quando o ataque ocorreu, ainda segundo a ONG.
Médica dá auxílio a crianças feridas em bombardeio no Iêmen (9 de agosto de 2018)Direito de imagemREUTERS
Image captionCruz Vermelha reforçou envio de suprimentos para socorrer feridos
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha afirmou que um hospital que atende a área de Saada recebeu, nesta quinta-feira, os corpos de 29 crianças, todas com menos de 15 anos de idade, e atendeu 48 feridos, dos quais 30 eram crianças.
A organização reforçou o envio de medicamentos e materiais aos hospitais da região para dar conta do volume de pacientes.
A rede de TV Al-Masirah, controlada pelos Houthi, afirma que 47 pessoas morreram no ataque e 77 ficaram feridas. A emissora divulgou imagens que mostravam corpos de várias crianças, algumas das quais com uniforme escolar.

Reações

O porta-voz dos Houthi, Mohammed Abdul-Salam, acusou a coalizão de "claro desrespeito pela vida de civis" ao atacar locais públicos.
A Cruz Vermelha afirmou que o "direito humanitário internacional assegura que civis sejam protegidos durante conflitos". Já o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados, Jan Egeland, disse que o ataque foi "grotesco e vergonhoso" e mostrou "desrespeito pelas regras da guerra".
Não está claro se o ônibus foi o alvo do ataque. O porta-voz da coalizão saudita, Turki al-Malki, afirmou que a operação foi uma "ação militar legítima, conduzida em conformidade com o direito humanitário internacional".
Ele disse que o ataque atingiu "militantes responsáveis por planejar (ataques) e matar civis" na cidade saudita de Jazan na noite de quarta-feira. Na ocasião, um iemenita morreu e outras 11 pessoas ficaram feridas por fragmentos de um míssil lançado por membros do Houthis. O projétil teria sido lançado nas proximidades da província de Amran.
Turki al-Malki acusou os rebeldes de usarem crianças como "ferramentas e escudos para seus atos terroristas".
Fumaça após bomba cair em Saná, capital do Iêmen (9 de agosto de 2018)Direito de imagemREUTERS
Image captionNesta quinta-feira, a capital do Iêmen, Sanaa, sofreu novos bombardeios
Horas depois, houve relatos de bombardeios na capital do Iêmen, Sanaa.
Há uma semana, ao menos 55 civis foram mortos e 170 ficaram feridos em uma série de ataques à cidade iemenita de Hudaydah, no Mar Vermelho, que tem grande presença rebelde. A coalizão saudita negou que tenha realizado o bombardeio e culpou os rebeldes pelas explosões.

Por que há uma guerra no Iêmen?

O Iêmen vem sendo devastado por um violento conflito. Ele se intensificou em 2015, quando o grupo rebelde Houthi tomou controle de boa parte da região oeste do país e forçou o presidente Abdrabbuh Mansour Al-Hadi a fugir.
Receosos de que o grupo aumentasse a influência iraniana na região, os Estados Unidos, a Arábia Saudita e outros sete países árabes formaram uma coalizão para restaurar o governo do Iêmen.
Cerca de 10 mil pessoas morreram, dois terços civis. Outras 55 mil pessoas ficaram feridas no conflito, segundo a ONU.
A guerra e o bloqueio parcial imposto pela coalizão deixaram 22 milhões de pessoas necessitadas de ajuda humanitária, criando a maior crise alimentar dos últimos anos. Também houve um surto de cólera, que afetou pelo menos um milhão de pessoas.

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