sábado, 23 de junho de 2018

Professores relatam pânico em escola de aluno baleado no Rio: 'Você está no meio da aula e começa o desespero'

Protesto com camisa de menino atingido por disparoDireito de imagemAG. BRASIL
Image captionProfessor conta que é comum tiroteios interromperem suas aulas
Na manhã em que o menino Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, foi baleado na barriga a caminho da escola no Rio de Janeiro, o professor de História Alexandre Dias estava no meio da aula quando ouviu tiros cada vez mais perto – e correu com todos os seus alunos para buscar refúgio.
Em instantes, estudantes de todas as turmas do Ciep Operário Vicente Mariano estavam sentados ou deitados no corredor enquanto os tiros soavam lá fora, vindos, segundo relatos de professores e moradores, de um helicóptero da Polícia Civil que sobrevoava o Complexo da Maré durante uma operação no conjunto de favelas na zona norte do Rio.
"Os pais começaram a chegar desesperados procurando seus filhos, dizendo que o helicóptero estava atirando, que o asfalto estava com buracos gigantescos. Avós, tias, madrinhas chegaram nervosíssimos perguntando pelas crianças, alguns trêmulos, quase passando mal", conta Dias.
"Isso não é nada novo, acontece sempre. Mas alguns dias são mais desesperadores."
A operação realizada pela Polícia Civil na quarta-feira foi um desses dias. As cerca de 15 mil crianças e jovens matriculados nas 44 escolas da Maré estavam em aulas quando a ação começou, por volta das 9h.
Cenas de pânico se repetiram nos corredores de escolas, com crianças e professores chorando e pais chegando para levar os filhos para casa, arriscando sair apesar dos tiros que perfuravam asfalto, telhados, caixas d'água.
Protesto após morte de meninoDireito de imagemNALDINHO LOURENÇO
Image captionSob forte comoção e revolta de amigos e familiares, aluno foi sepultado no Cemitério São João Batista
Dias imediatamente liberou o uso de telefones celulares para que os alunos pudessem falar com suas famílias. Emprestou seu aparelho para alguns, enquanto buscava assegurar que todos permanecessem à vista – e que nenhum saísse para as áreas abertas da escola, onde estariam mais vulneráveis a tiros.
Marcos Vinícius, de 14 anos, se apressava para a escola vestindo o uniforme da rede municipal de ensino quando foi atingido. Ele era aluno do 7º ano.
"Ele gosta de brincar, conversar, é bem humorado", descreveu Klaus Grunwald, professor de música do Ciep, enquanto todos ainda aguardavam, apreensivos, notícias sobre sua recuperação. "Gosta daquela turma da bagunça, sabe? Aquela galera do fundão (da sala). Quando tem educação física, então, é uma festa. É um moleque, como outro qualquer."
O jovem morreu na noite de quarta-feira, depois de passar por uma cirurgia no Hospital Getúlio Vargas. A prefeitura decretou luto oficial de três dias e decidiu abrir as portas do Palácio da Cidade para o seu velório. Sob forte comoção e revolta de amigos e familiares, ele foi sepultado no Cemitério São João Batista, na tarde de quinta-feira.

35 dias sem aulas em 2017

Quando os tiros começaram, Alexandre Dias tinha acabado de começar uma aula sobre a Revolução Francesa e estava introduzindo os alunos aos pilares da igualdade, fraternidade, liberdade.
"É muito difícil. Você está no meio do dia de aula, está tudo normal e de repente começa o desespero. Acho até que os alunos encararam bem", considera ele, que dá aula para jovens de entre 13 e 15 anos. "Alguns choraram, mas a maioria conseguiu ficar tranquila. Os professores também ficaram no chão, alguns em desespero, outros conseguindo se manter calmos para controlar os alunos."
Alunos após ação da políciaDireito de imagemALEXANDRE DIAS
Image captionDe acordo com levantamento da ONG Redes da Maré, em 2017, os alunos ficaram 35 sem aula por causa da violência
"Nessas horas, nós (professores) seguramos as emoções para mantê-los calmos. Não podemos demonstrar fraqueza para os alunos", diz Grunwald, de 34 anos.
Em março deste ano, o professor de música participou de um curso de capacitação e primeiros socorros com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, voltado para professores que dão aula em áreas conflagradas. Ele integra um grupo de WhatsApp chamado Acesso Mais Seguro, que junta professores para discutir e ajudar a implementar planos de emergência em diferentes escolas.

Defasagem

Aulas interrompidas e canceladas durante tiroteios ou confrontos em operações policiais estão longe de ser uma raridade no Complexo da Maré.
De acordo com levantamento da ONG Redes da Maré, em 2017, os alunos ficaram 35 sem aula por causa da violência, na maioria das vezes durante operações policiais. Em 2016, foram 18 dias.
No longo prazo, as interrupções constantes trazem prejuízos "gigantescos" à educação dos alunos, que sofrem com atrasos nas matérias, evasão de professores e os traumas gerados por estar na linha de tiros – ou ver amigos caírem vítima de bala perdida, como ocorreu com Marcos Vinícius.
"Os impactos sobre o ensino são terríveis", diz Dias. "Os professores não conseguem avançar na matéria, e as aulas perdidas atrasam o calendário. Semana que vem, por exemplo, seria semana de prova. Agora, as avaliações provavelmente vão ser adiadas."
"Essas coisas vão minando os alunos. E minando também quem quer dar aula. Como eu sou da Maré, não fui minado. Gosto de dar aula aqui", afirma o professor de História, que tem 42 anos e é nascido e criado ali.
Ele diz que a evasão no corpo docente é um problema sério nas escolas do complexo.
"Muitos professores pedem transferência para outras escolas porque não conseguem conviver com isso por muito tempo. Ficam um tempo e depois não aguentam. É um rodízio constante de professores", afirma Dias.
Na quarta-feira, uma nova professora tinha acabado de chegar para o seu primeiro dia na escola, interrompido pelo tiroteio. "Sinceramente, não se ela vai voltar", afirma Dias.

'Sou aluno, não suje minha blusa de sangue'

A Polícia Civil afirma que a operação de quarta, realizada com apoio do Exército e da Força Nacional, foi uma força-tarefa para cumprir 23 mandados de prisão e "checar informações obtidas através do setor de inteligência".
Seis homens foram mortos pela polícia na operação. Segundo nota enviada à imprensa, policiais teriam sido recebidos com "intenso disparo de armas de fogo" durante cumprimento de mandados em duas residências.
Menina com cartaz em atoDireito de imagemNALDINHO LOURENÇO
Image caption'Sou aluno, não suje minha blusa de sangue', disseram estudantes durante protesto
"No confronto, seis criminosos foram feridos e socorridos, mas acabaram morrendo", diz a nota, acrescentando que a operação resultou na apreensão de oito fuzis e granadas e de uma "farta quantidade" de munição e de drogas.
No dia seguinte, o Ciep se manteve de luto. O dia letivo dos alunos foi substituído por protestos e pelo enterro de um colega.
De manhã, os estudantes marcharam do Ciep à Linha Amarela. Vestiam o uniforme escolar com manchas vermelhas pintadas na barriga, e a palavra "paz" pintada no peito. Faixas diziam: "Sou aluno, não suje minha blusa de sangue."
"O clima é de revolta", conta Dias, que acompanhou o protesto na Maré de manhã. "O ato foi muito forte, com alunos e professores chorando. Os alunos estão revoltadíssimos com a situação. Não sei como serão os próximos dias."
Na Linha Amarela, os estudantes tentaram interromper o trânsito para estender faixas, mas foram repreendidos por policiais militares. Segundo relatos e vídeos do local, PMs foram truculentos e intimidaram alunos e professores.
Um vídeo recebido pela BBC News Brasil mostra um PM dando uma paulada na perna de uma aluna no protesto, aumentando a revolta dos alunos.

'Qualquer um pode ser alvo'

Embora confrontos ocorram reiteradamente no complexo, a diretora da Redes da Maré Eliana Sousa e Silva diz que a "novidade" desta vez foi o uso de um helicóptero, conhecido como "Caveirão aéreo", como plataforma de tiro – o que já havia sido feito em outra operação na segunda-feira da semana passada.
A ONG contou 100 disparos feitos do helicóptero, numerados e circulados com tinta colorida por colaboradores na comunidade.
Para Silva, dar tiros do alto em uma área com 140 mil moradores significa aceitar que qualquer um pode ser alvo, em uma prática ilegal e "completamente inaceitável".
Estudantes com cartazes durante protestoDireito de imagemWL/CLUBE DO JORNAL DO OPERÁRIO VICENTE MARIANO
Image captionONG contou 100 disparos feitos do helicóptero, numerados e circulados com tinta colorida por colaboradores na comunidade
"Isso mostra um entendimento de que estamos em situação de guerra. Não conseguimos entender como o Estado se coloca de maneira tão violadora de direitos", condena. "Será que fariam isso no Leblon ou Ipanema?"
O Rio está sob intervenção na área de segurança pública desde fevereiro. O Gabinete da Intervenção Federal (GIF), procurado pela BBC News Brasil, não quis se pronunciar.
A Polícia Civil não comentou as denúncias de violações de direitos humanos, nem respondeu às críticas sobre os tiros dados do helicóptero.
A Delegacia de Homicídios da Capital abriu inquérito para apurar as circunstâncias de morte do rapaz. Questionada, a Secretaria de Segurança afirmou que não comentaria as críticas.
O professor Klaus Grunwald diz que os últimos três meses haviam sido mais calmos na comunidade. "Estávamos até surpresos."
Ele lamenta que as operações policiais acabem sendo a face mais visível do Estado na Maré, quando a comunidade e as escolas têm tantas carências.
"Faltam recursos humanos, faltam materiais, falta verba. O Estado não faz nada aqui dentro. Entrar para atacar a violência com mais violência não vai resolver os problemas", considera.

FESTA JUNINA - TRADIÇÕES NORDESTINAS

Entenda os significados das quadrilhas, fogueiras, barracas, brincadeiras e bandeirinhas. Conheça mais sobre essa festa tipicamente brasileira e que todo mundo gosta.
Por todo o país, centenas de cidades celebram as festas para Santo Antônio, São João e São Pedro com superstição e tradição. Conheça algumas das maiores Festas Juninas do Nordeste e divirta-se!
A tradição de Caruaru
Conhecida como a capital do Forró, a Festa de São João de Caruaru pode durar até um mês e tem tudo aquilo a que leva direito: pau de sebo, correio elegante, casamento caipira... Sem falar das Drilhas, grupos de quadrilhas que se reúnem atrás de trios elétricos na Avenida Agamenon e levam a música, a dança e a cultura para as ruas da cidade. Grandes nomes do ritmo sertanejo já estiveram presentes na festa, como Elba Ramalho, Luan Santana e Zezé di Camargo e Luciano. Em relação as comidinhas, a cidade oferece o Festival das Maiores Comidas do Mundo, com chocolate quente, pamonha, cuscuz, pipoca e pé de moleque de tamanhos gigantes, feitos pela própria comunidade. Pelas barraquinhas, também é possível saborear outras comidas típicas da culinária nordestina, como canjica, cozido de milho, arroz doce e tapioca.
A maior Festa de São João do Mundo
Durante o mês de junho, Campina Grande se enfeita para a maior Festa de São João do Mundo. O evento ganha proporções gigantescas em número de público. São mais de 100 casais para a cerimônia do casamento coletivo, num total de 30 dias de festas e a expectativa de mais de 2 milhões de pessoas aproveitando uma das melhores festas juninas do Nordeste. Dentre a programação, o Dia de São João conta com show de fogos de artifício que chega a durar mais de 10 minutos e também há a Locomotiva Forrozeira, um passeio de trem aos finais de semana que leva os passageiros de Campina Grande até o distrito de Galante com apresentações ao vivo de forró em cada vagão. Ao chegar no destino, grupos de dança e barraquinhas repletas de quitutes recepcionam os foliões.
O Forró toma conta de Aracaju
Aracaju também está na lista! O Forró Caju oferece aproximadamente 15 dias de comemorações de festa junina, com cerca de 140 atrações regionais e nacionais, como Dominguinhos e Elba Ramalho para animar o público. Não se preocupe se não souber dançar, é muito comum encontrar professores de forró que se mostram dispostos a ensinar os turistas a conhecer o ritmo e tentar algumas coreografias ao som do Trio Pé-de-Serra. Além disso, você vai matar a fome com caruru, uma comida típica de Aracaju que está presente em quase todas as barraquinhas.
Há várias definições para a origem da Festa Junina. Uma delas diz que tal festa surgiu nos países de origem católica. A festa foi introduzida para comemorar os dias de Santo Antônio, São João e São Pedro que são todos comemorados no mês de junho. Antigamente, o termo "Festa Junina" era denominado "Joanina". 
As festividades foram introduzidas no Brasil através da colonização dos portugueses. Na época ocorria uma miscigenação da cultura portuguesa, chinesa, espanhola e francesa. Isso explica algumas tradições presentes na Festa Junina. Da França, veio a dança com passos marcados, o que influenciou as quadrilhas brasileiras. Da China, surgiu a tradição dos fogos de artifício, região onde teria surgido a manipulação da pólvora. E da Península Ibérica, teria vindo a dança de fitas, comum em Portugal e Espanha. Com tempo, tudo isso foi sofrendo mudanças influenciadas pela cultura brasileira.

NO NORDESTE

As Festas Juninas são tradicionalmente nordestinas. Lá, a presença de grandes eventos nessa época é comum. Há disputa de quadrilhas na dança, a dança do personagem do Folclore brasileiro boi bumbá, e os nativos da região aproveitam a época para agradecer a Deus a vinda do período de chuvas, raro no ano, que mantém o sustento das famílias dependentes da agricultura.
Serve também para aquecer a área econômica da região, já que muitos turistas visitam as cidades para presenciarem os festejos.
Há ainda a presença de grupos festeiros que passam cantando e dançando pelas ruas das cidades e são presenteados por guloseimas deixadas nas portas e janelas das casas pelos moradores.



No Sudeste

Na região Sudeste, onde se intensificam as metrópoles, são comuns a realização de quermesses. Normalmente são realizadas por igrejas, escolas, sindicatos e empresas. Nestas festas são montadas barracas dos mais variados tipos; desde brincadeiras como pesca e tomba-lata até comidas como milho verde e churrasco. Há a presença de grupos de quadrilhas que se apresentam para o público.

Fogueira de São João

Segundo a tradição, as fogueiras nas festas juninas existem pois foi uma ordem dada por Isabel (mãe de São João Batista) assim que deu à luz ao seu filho em 24 de junho. O fogo foi a forma de comunicar o nascimento à Maria (mãe de Jesus) que estava em outro ponto do vale. Maria também estava grávida, e seis meses depois Jesus nascia.

Quadrilha

É a dança coletiva típica da festa junina. Casais vestidos a caráter, moças com vestidos rodados e de panos simples e remendados e homens de camisa quadriculada, calças remendadas e chapéu de palha, dançam ao som de forró e músicas tradicionais de quadrilha. No meio da dança aparecem falsos obstáculos falados pelo narrador como cobras, pontes quebradas e fogueiras.
Bandeirinhas
Antigamente, as imagens dos três santos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro) eram gravadas em bandeiras e colocadas na água e em seguida, as pessoas eram banhadas com esta água purificada. Com o passar dos anos, essa brandeiras deram lugar às bandeirinhas coloridas que conhecemos.

Bumba Meu Boi

Conhecido também como Boi Bumbá, essa dança faz parte do Folclore brasileiro. Mais comum na região Nordeste, pode ser apresentado juntamente com as quadrilhas. A dança surgiu no século XVIII como crítica à situação social dos negros e dos índios. A dança traz encenações religiosas na luta da igreja contra o paganismo. Mas qual é a história do Bumba Meu Boi?
Reza a lenda que um fazendeiro abastado, possuía um boi forte e muito bonito que sabia dançar. Pai Chico, um de seus subordinados, acaba por roubar o boi para satisfazer a sua mulher grávida que estava com desejo de comer língua de boi. Percebido a ausência do animal, o fazendeiro pede para que seus empregados achem o animal e o encontram doente. Curado através de rituais feitos por pajés, o fazendeiro descobre a intenção de Pai Chico e acaba o perdoando. Para celebrar a volta da saúde do animal, o fazendeiro organiza uma grande festa.

Comidas Típicas...

As comemorações juninas surgiram para comemorar a fartura das colheitas no solstício de Verão. O mês de junho é o mês da colheita do milho, por isso a presença do grão nas receitas juninas é tão comum. Normalmente, nas quermesses encontramos: Pamonha, curau, milho cozido, canjica, cuscuz, pipoca, bolo de milho, entre outros exemplos. 
Além das receitas de milho, temos também na época, arroz-doce, bolo de amendoim, pinhão, bom-bocado, broa de fubá, cocada, pé-de-moleque, quentão, vinho-quente, batata doce, entre outras guloseimas.

Estilos Musicais...


Os tipos de músicas presente nessas festas são normalmente o forró, baião, xote, reisado, samba de coco e as cantigas tipicamente de festas juninas.

https://www.mensagenscomamor.com/mensagem/167192

Se Eu Tiver Que Levantar do Trono



Se eu tiver que levantar do trono, para interceder ao teu favor
E se for preciso me levanto, e declaro todo meu amor
Se eu tiver que começar de novo, pra você não me abandonar
Eu escrevo uma história nova, mas a morte não vai te tocar

Se eu tiver que enviar um anjo, pra não ver você chorar assim


Corto laço do teu inimigo, colho tuas lágrimas pra mim
Ah se você soubesse do que sou capaz de fazer, pra provar que amo você
O universo estremece quando ouve a minha voz, mas eu não vou te perder

Por você eu faço o céu parar, o inferno se ajoelhar
Por você eu entro nessa guerra, mas a morte não vai te tocar
Por você eu ando sobre o mar, faço a tempestade se acalmar
Por você eu interpreto sonhos, fui ungido para governar
Sua historia lá na glória para os anjos vou contar

Se orar eu tiro a mão do homem, faço a minha obra prosperar
E revelo a minha vontade, para ver a alma se alegrar
Eu conheço toda tua vida, não precisa você me dizer
E por causa da tua alegria, hoje eu me levanto pra vencer
A se você soubesse o que sou capaz de fazer, pra provar que amo você
O universo estremece quando ouve a minha voz, mas eu não vou te perder.
Negra Li

Felicidade... uma porta que se abre

 · 
Felicidade é uma porta aberta, quando, 
voar parecia um sonho e, aparentemente, 
de repente passa a ser a certeza mais próxima.

Felicidade é também saber aproveitar certos momentos 
com quem a gente ama ou gosta; 
é apreciar no fim da tarde o Mar...
e saber que, nem sua "infinitude" te impede 
de alçar voos maiores, para bem longe 
daquilo que tenta te fazer desistir.
Aparecida Ramos
14/06/2018
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"As crianças se abraçavam desesperadas’: o relato de funcionário que se negou a separar irmãos brasileiros em abrigo nos EUA

Centro de detenção temporária na fronteira entre EUA e MéxicoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionNas últimas semanas, crianças foram separadas dos pais e levadas a abrigos como esse
"Diga a eles que não podem se abraçar!" Foi essa ordem, segundo Antar Davidson, que fez com que ele pedisse demissão na semana passada do emprego em um dos centros para crianças migrantes na fronteira entre México e Estados Unidos.
"Como ser humano, não posso fazer isso", respondeu o filho de brasileiros nascido na Califórnia, que trabalhava desde fevereiro em um dos abrigos administrados pela empresa Southwest Key em Tucson, no Arizona.
Davidson falou à BBC News sobre seu último dia de trabalho no abrigo, que disse guardar em detalhes na memória. Os irmãos que emocionaram Davidson, disse, eram brasileiros e tinham 16, 10 e 8 anos. Haviam sido separados da mãe no dia anterior e estavam sendo informados de que teriam que ficar em alas diferentes, por causa da idade e do gênero.
O relato dele vem à tona em meio à polêmica causada pela política de "tolerância zero" imposta no início de maio pelo governo Donald Trump contra imigrantes ilegais. Mais de 2,3 mil crianças que ingressaram nos Estados Unidos de forma irregular foram separadas dos pais entre 5 de maio e 9 de junho.
Na quarta, o presidente decidiu assinar um decreto que põe fim às separações na fronteira. Mas as famílias inteiras serão detidas se entrarem de forma irregular no país.

Separação traumática

Segundo Davidson, os três irmãos brasileiros estavam desesperados com a ideia de mais uma separação. Eles se abraçavam e choravam copiosamente, enquanto os funcionários do abrigo gritavam ordens em espanhol, idioma que as crianças não entendiam bem.
"O rapaz de 16 anos ia ficar junto com os adolescentes. O menino de oito ficaria com as crianças mais novas. E a menina de 10 anos teria que ficar com as meninas da idade dela", contou.
Pessoas aguardam para ser levadas em custódia na fronteira, perto de McAllen, no TexasDireito de imagemJOHN MOORE/GETTY IMAGES
Image captionAções na fronteira, com separação de famílias, geraram críticas
Foi aí que Davidson teria sido acionado, por falar português.
"Eles me chamaram para reforçar a política de 'toque zero' do abrigo. Tinha que traduzir para as crianças que elas não podiam se abraçar", contou.
Ele teria explicado, então, que o abrigo tinha como política não permitir que as crianças se encostassem.
"Quando eu cheguei ao local, vi essas crianças agarradas umas nas outras, chorando desesperadamente. Então eu falei ao mais velho: 'Eu sei que a situação é difícil, mas é importante que você seja forte pelos seus irmãos mais novos'", relatou.
A resposta do jovem de 16 anos o teria deixado sem palavras.
"Ele me olhou com lágrimas nos olhos e disse: 'Como que eu posso ser forte numa situação como essa? Eu não sei onde a minha mãe está. Eu não sei o que fazer pela minha irmãzinha. Eu não sei quanto tempo vamos ficar aqui'."
O filho de brasileiros disse que simplesmente baixou a cabeça, sem saber como responder. Foi nesse momento em que a chefe dele teria chegado gritando, em espanhol: "Diga a eles que não podem se abraçar! Diga que eles não podem se abraçar!"
"Eu a olhei nos olhos e respondi que sentia muito, mas não poderia fazer o que ela me pedia. Se eu ficasse lá (no emprego), continuariam a me pedir para fazer coisas que são imorais segundo os padrões globais, não apenas meus", concluiu.
ProtestoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionProtestos contra a medida foram realizados no país
A diretora de comunicação do Southwest Key, Cindy Casares, defendeu a atuação dos profissionais do abrigo.
"O Southwest Key tem profissionais experientes e treinados para dar comodidade e orientação, e para ajudar os menores a se sentirem mais confortáveis. Abraçar é permitido", afirmou em entrevista à CNN.

Aumento no número de crianças abrigadas

Em seu relato à BBC News, Antar Davidson afirmou que o abrigo em que trabalhava costumava ter cerca de cinco crianças ao mesmo tempo.
"Essas crianças eram instruídas que a separação era provisória, e chegavam lá mais calmas e preparadas."
Após a política de "tolerância zero" ser adotada, o número subiu para 70, segundo ele.
"Notamos um aumento de crianças que não estavam preparadas para isso, que não tinham deixado suas casas sozinhas e que haviam sido separadas dos pais na fronteira e não tinham a menor ideia de onde estavam", afirmou.
"Se crianças têm medo do escuro, imagina a sensação de ser separada dos pais num país novo, sem saber onde a família está. E são crianças de 5, 6, 7, 8 anos."
A Câmara dos Representantes dos EUA deve começar a discutir nesta quinta uma série de reformas na política de imigração do país.
As propostas devem regulamentar a forma como famílias com crianças devem ser tratadas na fronteira.
Mas também há artigos que restringem a imigração legal ao país e que instituem um fundo para a construção de um muro na fronteira entre México e Estados Unidos.