Geraldo Júlio (PSB) foi reeleito prefeito de Recife ao derrotar com folga o único petista que disputou o segundo turno em uma capital neste domingo, o ex-prefeito João Paulo.
Com 100% das seções totalizadas, o atual prefeito teve 61,3% dos votos válidos, contra 38,7% de João Paulo.
Nas outras seis cidades em que candidatos do PT disputaram segundo turno neste domingo, o partido também saiu derrotado.
PSDB conquista 7 capitais e lidera ranking com folga, mas perde disputa em Belo Horizonte
O PSDB foi o grande vencedor do segundo turno das eleições municipais confirmando o ótimo desempenho mostrado na primeira rodada de votação e garantindo uma forte liderança nas capitais do país.
A performance tucana ocorreu numa eleição que desmentiu os prognósticos de uma grande renovação, ainda que algumas novidades tenham surgido.
Depois de ter conquistado a maior cidade do país no início do mês, com a inédita vitória em primeiro turno de João Doria em São Paulo, os tucanos venceram neste domingo as disputas em Porto Alegre, Belém, Maceió, Manaus e Porto Velho. Já haviam ganhado também em Teresina no dia 2.
O grande sucesso do PSDB no pleito deste ano, no entanto, deixou um gosto amargo na boca do presidente nacional do partido, o senador mineiro Aécio Neves, que viu o candidato tucano em Belo Horizonte, João Leite, ser derrotado por Alexandre Kalil, do nanico PHS.
O campeão geral de prefeituras conquistadas neste ano, como sempre, o PMDB, ficou em segundo lugar na disputa nas capitais, ganhando em Goiânia, Florianópolis e Cuiabá neste domingo, depois de conquistar Boa Vista no primeiro turno.
Com três capitais, o PDT ocupa o terceiro lugar no novo ranking, seguido por PSB e PSD com duas capitais cada um.
Outros oito partidos irão comandar uma capital a partir de 2017, com destaque negativo para o PT, que conseguiu apenas a reeleição do prefeito de Rio Branco, já no primeiro turno.
As duas maiores cidades que tiveram disputa neste domingo trouxeram novidades, ainda que no Rio de Janeiro ela não tenha se dado pelo nome vencedor, mas sim pelo fato de ele finalmente ter vencido.
Somente uma mulher conseguiu se eleger nas 57 cidades onde foi disputado o segundo turno: Raquel Lyra (PSDB), em Caruaru (PE), com 53,15% dos votos válidos, contra 46,85% de Tony Gel (PMDB).
Entre capitais, nenhuma mulher saiu vitoriosa neste domingo, 30. Em Florianópolis, Gean Loureiro (PMDB) teve uma vitória apertada sobre a candidata do PP, Angela Amim, que obteve 49,74% dos votos. Em Campo Grande (MS), Rose Modesto (PSDB) ficou com 41,23% dos votos, contra 58,77% do prefeito eleito Marquinhos Trad (PSD).
Não fosse a vitória em primeiro turno de Teresa Surita (PMDB) em Boa Vista (RR), com 79,39% dos votos, nenhuma capital seria governada por uma mulher. Esta será a quinta vez vez que Surita, ex-mulher do senador Romero Jucá, comandará a prefeitura da capital de Roraima. Sua primeira vitória em Boa Vista foi em 1992.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 637 mulheres que se elegeram prefeitas no primeiro turno, de um total de mais de 5 mil cidades.
Nas eleições municipais deste ano, 158.445 mulheres se candidataram para cargos no legislativo e no executivo. Para as prefeituras, foram 2.148 concorrentes do sexo feminino em todo o país.
PSDB vai governar 24% da população brasileira, índice recorde desde 2000
ANDRÉ MONTEIRO
FELIPE BÄCHTOLD
DE SÃO PAULO
31/10/2016 02h00
A eleição de 2016 transformou o PSDB no partido com a maior população governada no país neste século.
Com vitória em 28 das 92 cidades do país com mais de 200 mil eleitores, prefeitos tucanos vão administrar municípios que somam 23,7% da população brasileira —o cálculo não inclui o Distrito Federal, onde não há eleição para prefeito.
É o maior índice para um partido em eleições municipais desde 2000.
Além de São Paulo, onde elegeu João Doria no primeiro turno, os tucanos venceram também em outras 2 das 10 cidades mais populosas do país: Manaus e Porto Alegre.
O PSDB terá no total 803 prefeitos. Em números absolutos de prefeituras, no entanto, permanece atrás do PMDB, que venceu em mais de mil municípios.
Com maior população governada, o partido obtém uma área de influência maior, o que pode facilitar o caminho para a campanha à Presidência de 2018. Os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin ambicionam a indicação do partido.
O PSDB vai ainda administrar as maiores receitas do país: serão R$ 158,5 bilhões anuais, somando as prefeituras conquistadas.
Na eleição municipal de 2012, impulsionado pela vitória conquistada por Fernando Haddad em São Paulo, o PT havia sido o partido com a maior população governada, com 19,9%.
NAS CAPITAIS
O PSDB também será o partido que mais vai governar capitais a partir de 2017. Candidatos tucanos venceram em 7 das 26 capitais.
Candidatos tucanos foram derrotados neste domingo em Cuiabá, Campo Grande e Belo Horizonte.
Partido do presidente Michel Temer, o PMDB será o segundo partido com mais dessas cidades: governará quatro. PSB e PDT, que eram os partidos com mais prefeitos nessas cidades, perderam espaço nesta eleição.
Hoje, governam cinco desses municípios. Agora, pedetistas governarão três cidades e o PSB caiu para duas.
A eleição também marcou as primeiras vitórias em capitais de pequenos partidos, como Rede, PMN e PHS.
As 26 capitais serão governadas por 13 partidos diferentes, uma fragmentação recorde. Atualmente, esses municípios são administrados por dez siglas.
Com a confirmação da derrota em Recife, o PT ficou com apenas uma capital (Rio Branco) —é a primeira vez desde a eleição de 1985 que o partido fica com apenas uma dessas cidades.
O segundo turno também foi de êxito total para os candidatos à reeleição.
Os oito prefeitos que tentavam renovar seus mandatos venceram nas capitais neste domingo. Vinte prefeitos dessas cidades concorreram neste ano e 5 acabaram derrotados já na primeira votação. Sete se reelegeram já no primeiro turno.
Ex-prefeitos que tentavam voltar ao cargo tiveram desempenho muito pior: 7 concorriam no segundo turno e 3 se elegeram, em Aracaju, Curitiba e Goiânia.
Quatro prefeitos eleitos são do mesmo partido que os governadores: São Paulo, Belém, Recife e Rio Branco.
Dia Litúrgico: Segunda-feira da 31ª semana do tempo comum
Evangelho (Lc 14,12-14): E disse também a quem o tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos! Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos».
«Quando deres um banquete, convida os pobres, (...), pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos»
Hoje, o Senhor ensina-nos o verdadeiro sentido da generosidade cristã: o dar-se aos demais. «Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa» (Lc 14,12).
O cristão move-se no mundo como uma pessoa comum; mas o fundamento do trato com os seus semelhantes não pode ser nem a recompensa humana nem a vanglória; deve procurar ante tudo a glória de Deus, sem pretender outra recompensa que a do Céu. «Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos! Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos» (Lc 14, 13-14).
O Senhor convida-nos a dar-nos incondicionalmente a todos os homens, movidos somente pelo amor a Deus e ao próximo pelo Senhor. «Se emprestais àqueles de quem esperais receber, que recompensa mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto» (Lc 6,34).
Isto é assim porque o Senhor ajuda-nos a entender que se damo-nos generosamente, sem esperar nada em troca, Deus nos pagará com uma grande recompensa e nos fará seus filhos prediletos. Por isto, Jesus nos diz: «Pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai sem daí esperar nada. E grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo» (Lc 6-35).
Peçamos à Virgem a generosidade de saber fugir de qualquer tendência ao egoísmo, como seu Filho. «Egoísta!— Tu, sempre tu, sempre o que é "teu".— Pareces incapaz de sentir a fraternidade de Cristo: nos outros, não vês irmãos; vês degraus (...)» (São Josemaria).
Eduardo Cunha e Henrique Alves viram réus por corrupção na Caixa
Juiz Vallisney Oliveira aceitou denúncia contra os ex-presidentes da Câmara e mais três réus por corrupção, lavagem de dinheiro e outros dois crimes
Os deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) (Luis Macedo/Câmara dos Deputados/Câmara dos Deputados)
O juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara do Distrito Federal, aceitou nesta quarta-feira denúncia do Ministério Público Federal contra os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) por corrupção, lavagem de dinheiro, prevaricação e violação de sigilo funcional em aportes de fundos de investimento administrados pela Caixa Econômica Federal, como o Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), em empresas.
A denúncia havia sido apresentada inicialmente pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas como Eduardo Cunha e Henrique Alves já não possuem foro privilegiado, o Supremo remeteu o processo à primeira instância da Justiça Federal em outubro.
Esta é a terceira ação penal aberta contra Cunha, que é réu em dois processos na Lava Jato e está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba há uma semana. Henrique Alves era ministro do Turismo do governo Michel Temer, mas deixou o cargo em junho, após ser citado na delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
O lobista Lúcio Bolonha Funaro, apontado nas investigações como operador financeiro de Cunha, seu sócio Alexandre Margoto e o ex-presidente da Caixa e ex-conselheiro do FI-FGTS Fábio Cleto, que firmou acordo de delação premiada, também viraram réus. A Operação Sépsis, deflagrada pela Polícia Federal em julho, prendeu Funaro, Margotto e Cleto.
No despacho em que aceita a acusação oferecida pela PGR e ratificada pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal, o magistrado afirma que “a denúncia está jurídica e perfeitamente íntegra e merece ser recebida”.
“A presente denúncia faz referência e traz como prova a farta documentação que relata com precisão de detalhes as operações junto à Caixa econômica Federal e os dados bancários de contas no Exterior, planilhas, recibos e anotações feitas por alguns dos acusados e se lastreia ainda em depoimentos a título de colaboração premiada do codenunciado Fábio Cleto e depoimento de outros investigados e testemunhas”, escreveu Vallisney Oliveira em sua decisão.
Na denúncia, os procuradores afirmam que Cleto foi indicado à vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa por Eduardo Cunha e Henrique Alves. Uma vez no cargo, sua função era informar Cunha, Funaro e Margoto quais empresas apresentavam projetos solicitando investimentos dos fundos da Caixa.
Segundo o MPF, cabia ao ex-deputado e aos dois operadores financeiros “fazerem contatos com os investidores em especial de Fundos na Caixa Econômica Federal para cobrança de ‘propinas’, que eram distribuídas a maior parte para Eduardo Cunha e em menor proporção para Lúcio Bolonha, Alexandre Margoto e Fábio Cleto, havendo também recebimento de dinheiro ilícito por Henrique Eduardo Alves”. À medida que as propinas eram pagas, dizem os investigadores, Cleto era orientado a autorizar as operações com as empresas.
Segundo a denúncia, houve pagamento de propina em ao menos sete projetos, incluindo o Porto Maravilha, construído por OAS, Odebrecht e Carioca Engenharia no Rio de Janeiro com investimento de 3,5 bilhões de reais pela Caixa, aporte que teria rendido 2,1 milhões de reais em propina a Cleto. “Também foi favorecido com parcela da propina decorrente da operação Porto Maravilha, o então Deputado Federal Henrique Eduardo Alves, que por meio de operações financeiras evasivas e camufladas no exterior”, diz a denúncia do MPF, segundo a qual Alves recebeu 1.648.000 reais em propina.
Além das empreiteiras, também envolvidas na Operação Lava Jato, o Ministério Público enumera que houve pagamento de propina ao grupo em projetos propostos à Caixa pelas empresas Aquapolo, Odebrecht Ambiental, Eldorado Participações, Brado Saneatins e Moua Dubex.
'Urgência' de sinal ao mercado deve levar PEC dos gastos a aprovação fácil no Senado
Image copyrightAG. BRASILImage captionA PEC 241 prevê que os gastos do governo não poderão crescer acima da inflação
Após ampla vitória na Câmara dos Deputados, o presidente Michel Temer caminha para aprovar com certa facilidade sua proposta de teto para os gastos públicos também no Senado, o que deve ocorrer até meados de dezembro.
De um lado, a bancada tucana decidiu passar por cima de eventuais discordâncias e apoiar o texto integral, sem alterações - a ideia é evitar que a tramitação demore, o que adiaria a recuperação da credibilidade da gestão das contas públicas, acreditam os tucanos.
Do outro, a oposição à medida reconhece que hoje não tem os votos suficientes para barrar a criação de um limite de vinte anos para a expansão das despesas federais - e aposta na mobilização nas ruas como única forma de mudar esse quadro.
A proposta é controversa e chegou a ser alvo de críticas pontuais mesmo de economistas liberais, ligados ao PSDB, que sugeriram que ajustes no texto aprovado pela Câmara deveriam ser feitos durante a votação no Senado.
No entanto, senadores tucanos ouvidos pela BBC Brasil descartaram essa hipótese e mostraram compromisso em aprovar a medida rapidamente.
Defesa e crítica
A proposta de emenda constitucional (PEC) 241 prevê que os gastos primários do governo (despesas que excluem gastos com juros da dívida) não poderão crescer acima da inflação por vinte anos.
Defensores da proposta dizem que ela é essencial para reequilibrar as contas públicas e retomar a confiança dos empresários, gerando mais investimentos e empregos.
Já os críticos dizem que a medida é muito rígida e vai reduzir investimentos em saúde e educação, afetando principalmente os mais pobres.
Assessor do PSDB no Senado, o especialista em finanças públicas Felipe Salto foi um dos que criticou o texto aprovado na Câmara. Com a economista brasileira Monica de Bolle, pesquisadora do think tank americano Peterson Institute for International Economics, ele escreveu um artigo intitulado "A PEC do teto não é uma Brastemp", sugerindo mudanças no texto.
Image copyrightAGÊNCIA BRASILImage captionSenador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) diz que proposta poderia ser aperfeiçoada
A bancada tucana no Senado, porém, fechou posição a favor da aprovação integral da PEC, sem alterações, para evitar que a discussão da proposta se alongue, gerando mais desgaste para o governo Temer.
Por ser uma tentativa de alterar a Constituição Federal, a PEC precisa ser aprovada com texto idêntico na Câmara e no Senado, em duas votações em cada Casa, por ampla maioria dos parlamentares (ao menos três quintos do total).
Nesta terça-feira, a proposta passou pela segunda votação da Câmara com apoio de 359 deputados (bem acima dos 308 necessários). Se os senadores mudarem algo no conteúdo da PEC, ela teria que passar novamente pelo crivo dos deputados.
Daí a resistência em "aperfeiçoar" a proposta.
'O bom é inimigo do ótimo'
"Eu também acho que nós poderíamos aperfeiçoar, mas o sentido da proposta é o mais importante, e ele é correto porque coloca um limite na gastança pública. Não é hora de nós buscarmos o texto ideal. Na vida é mais ou menos assim, o bom é inimigo do ótimo", disse à BBC Brasil o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).
Ele argumentou que o governo Dilma Rousseff "deixou uma catástrofe para os brasileiros", e que por isso a proposta precisa ser aprovada rapidamente.
"O risco é absoluto. O sinal que nós vamos dar (se mudarmos o texto) é de que estamos brincando de pique na beira do precipício", argumentou.
Seu colega de partido e de Senado José Aníbal (SP) também afirmou que o partido está unido no sentido de aprovar brevemente o texto.
"Mudar essa PEC agora não faz sentido nenhum porque vai atrasar a vigência dela. E porque ela é condição para que (se) comece a ter mais confiabilidade e credibilidade nas contas públicas."
Image copyrightAG. SENADOImage captionAníbal também defende pressa na aprovação da PEC dos gastos
Salto era assessor parlamentar de José Serra, hoje ministro das Relações Exteriores, e agora atua no gabinete de Aníbal, seu suplente no Senado.
Entre as críticas que ele e Bolle fizeram ao texto atual da PEC está a duração de vinte anos para o teto, que consideram muito longa.
Além disso, os economistas avaliam que nos moldes propostos o teto terá impacto pequeno nos primeiros anos de vigência e efeito muito rígido nos finais.
Isso porque a expectativa é que mais à frente a inflação caia e a economia se recupere. Dessa forma, a arrecadação do governo vai crescer, gerando mais recursos para gastos e investimentos, mas o limite de despesas vai subir pouco, já que estará atrelado a inflação.
O resultado é que deve ser produzido um superavit primário (economia para pagar juros da dívida) muito alto, além do necessário, avaliam eles.
Questionado pela BBC Brasil sobre a decisão do PSDB de apoiar integralmente a proposta, Salto disse que, "apesar das ponderações", é a favor da PEC porque entende que "a aprovação do texto como está é melhor que não aprovar".
E sempre foi critico à gestão fiscal do governo Dilma, à qual atribui "boa parte da crise atual".
São necessários os votos de 49 dos 81 senadores para que a PEC seja aprovada - para Ferraço, o governo terá apoio de 55 a 60 deles na votação final, que prevê ocorrer em 13 ou 14 de dezembro.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da oposição no Senado, reconhece não ter hoje votos suficientes para barrar a PEC.
"A base contra a PEC é a base que votou contra o impeachment. Seria insuficiente (para barrar a proposta). Mas a gente acha que aqui vai ter mais debate (do que na Câmara), vai ser mais esclarecedor, e isso pode despertar uma mobilização que pode reverter votos. Segunda já teve uma mobilização grande no Rio, com vinte mil pessoas."
Dentro do Senado, a estratégia é "fomentar o debate" com audiências públicas, disse Lindbergh.
Nesta terça foi realizada uma, a pedido do petista, na Comissão de Assuntos Econômicos. Os economistas convidados defenderam mudanças na estrutura de impostos do país como alternativa à PEC do teto, de modo a aumentar a arrecadação que incide sobre os grupos de maior renda.
Outras duas audiências estão marcadas para as próximas semanas na comissões de Direitos Humanos e de Constituição e Justiça.
Os senadores da oposição também pretendem apresentar propostas de alteração ao texto da PEC, afirmou Lindbergh, com o objetivo de preservar gastos com saúde e educação.
"A gente vai lutar para derrubar a PEC, mas é claro que nós vamos apresentar destaques de partidos e a gente vai tentar escolher aqueles que tenham mais condições de dividir (os senadores)", finalizou.
Brasil levará 95 anos para alcançar igualdade de gênero, diz Fórum Econômico Mundial
Image copyrightGETTY IMAGESImage captionBrasil vem evoluindo em igualdade entre gêneros, mas disparidade ainda é grande, aponta estudos
Com uma população feminina mais educada e saudável que a masculina, o Brasil poderia rapidamente reequilibrar a relação de desigualdade entre homens e mulheres se adotasse "políticas concretas".
Em particular, o país poderia reforçar "uma rede de apoio social que as liberte (as mulheres) para o trabalho", disse uma especialista em entrevista à BBC Brasil.
A constatação é do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que divulgou nesta quarta-feira seu amplo relatório anual examinando as diferenças de oportunidades para homens e mulheres em 144 países.
Segundo o estudo, no ritmo atual seriam necessários 95 anos para que mulheres e homens atingissem situação de plena igualdade no Brasil.
O país ficou na 79ª posição no ranking global de 2016 da igualdade de gêneros. Em 2015, havia ficado na 85ª posição. Mas a pontuação do país subiu apenas marginalmente: 0.687, sendo 1 o desempenho ideal.
As brasileiras têm um desempenho melhor que os brasileiros nos indicadores de saúde e educação, mas ainda enfrentam acentuada discrepância em representatividade política e paridade econômica, destaca o relatório.
O Índice Global de Desigualdade de Gênero leva em consideração estatísticas de 144 países, que avaliam as condições enfrentadas por mulheres nas áreas de saúde, educação, paridade econômica e participação política.
Em 2016, a estimativa é que a lacuna de desigualdade entre homens e mulheres leve 170 anos para ser preenchida no mundo.
A situação mundial piorou de forma geral, mas houve melhora na região da América Latina e do Caribe.
O Brasil, entretanto, é o pior colocado entre as grandes economias do continente, atrás da Argentina (33º), México (66º) e Chile (70º). Ficou, porém, à frente do Uruguai (91º).
Entre os mais bem posicionados, há apenas um representante latino, a Nicarágua, em 10º lugar.
Mais especificamente, as brasileiras sofrem com falta de representação política e salários baixos. Isso apesar de terem desempenho melhor que os homens em saúde e educação.
Para cada estudante homem do ensino superior brasileiro, elas ocupam 1,3 vaga. É uma situação que se reproduz no mundo, já que elas são a maioria dos estudantes universitários em 95 dos 144 países pesquisados.
Na saúde, as brasileiras também têm melhores indicadores: vivem em média cinco anos a mais que os brasileiros. A expectativa de vida feminina é de 68 anos, frente a 63 anos da masculina.
Image copyrightGETTY IMAGESImage captionAinda é grande a diferença nos salários pagos a mulheres e homens no Brasil
Liberação
Mas se os indicadores de base são fundamentalmente bons, por que o Brasil não consegue deslanchar na igualdade de gênero?
Saadia Zahidi, chefe para iniciativas de gênero e emprego do Fórum WEF, explica que é necessário adotar estratégias pragmáticas que promovam a inclusão das mulheres no mercado de trabalho bem remunerado e na política.
"Para mudar isso, é necessário uma abordagem consciente, do ponto de vista econômico, para o aproveitamento desses talentos. Já temos mais mulheres se graduando na universidade do que homens, não se trata do futuro, isso já é o presente. Precisamos agora empregar essa força produtivamente", afirma.
Zahidi explica que a percepção geral é de que as mulheres devem cuidar da família. Nas camadas sociais mais elevadas, há recursos para bancar a ajuda de babás para crianças e enfermeiras para idosos.
No caso das camadas intermediárias e baixas da sociedade, essas responsabilidades recaem sobre as mulheres, o que as impede de trabalhar.
"Também é necessário mudar as percepções. Diversidade precisa ser vista como um motor para crescimento, propiciando investimento maior em infra-estruturas de cuidado. Mulheres de alta renda conseguem pagar para ter ajuda para as crianças e os idosos, mas mulheres de classe média e baixa não conseguem. É necessário oferecer a elas uma rede de apoio social que as liberte para o trabalho", diz.
Política
O ranking do WEF considera em seu cálculo, entre outros fatores, o tempo que uma mulher liderou o país e a porcentagem de representação feminina nas posições políticas mais altas.
Em maio passado, a organização preparou a pedido da BBC Brasil uma simulação do impacto que o novo gabinete do - então interino - governo Temer teria sobre o índice, uma vez que não havia mulheres entre os ministros convocados.
Na simulação, o Brasil chegou a retroceder da 89ª para 139ª posição no sub-índice Empoderamento Político. No índice geral, que inclui saúde, educação e poder econômico, a queda fora da 85ª para a 107ª posição.
Zahidi destaca que o retrocessos previstos não chegaram a se materializar na edição de 2016, porque os dados utilizados como base de cálculo são repassados pela União Inter-Parlamentar, organização que compila estatísticas e políticas de parlamentos no mundo.
Image copyrightABRImage captionFalta de representatividade no primeiro escalão do governo federal afetará o Brasil negativamente no próximo ranking
Essas informações são repassadas com defasagem de cerca de um ano ao WEF. Zahidi estima que a próxima edição do ranking deverá ser mais sombria para o Brasil, por conta desta futura atualização negativa.
Ciente da escassez de lideranças femininas nos altos escalões de poder brasileiro, Zahidi avalia o que acredita ser necessário para mudar essa realidade.
"Em uma democracia é necessário haver representatividade. As mulheres são metade da população e deveriam ter representação política semelhante. A presença de mulheres em posição de liderança tem um impacto expressivo sobre o empoderamento, pois estabelece papéis modelo aos quais novas gerações aspiram."
Esse fenômeno de fomento de inspiração, chamado em inglês de role modelling, serviria para incentivar uma maior atuação engajada de mulheres na política, gerando um ciclo virtuoso na qual o número de lideranças femininas seria multiplicado ao longo das próximas gerações.
"Estudos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostram que mulheres em posições de liderança política influenciam positivamente a distribuição de recursos públicos. Elas tendem a fazer escolhas mais solidárias, alocando orçamento para partes da sociedade anteriormente negligenciadas, o que resulta em redução de desigualdade de renda", diz.
'Desperdício de talentos'
No topo do ranking ficaram Islândia (1º), Finlândia (2º), Noruega (3º), Suécia (4º), Ruanda (5º), Irlanda (6º), Filipinas (7º), Eslovênia (8º) e Nova Zelândia (9º).
Os técnicos do Fórum admitem que pode parecer surpreendente que países em desenvolvimento, como Ruanda e Filipinas, figurem entre os primeiros da lista, mas dizem que muito se deve ao peso econômico que as mulheres exercem em suas sociedades.
No caso das Filipinas, por exemplo, há uma grande massa de trabalhadoras domésticas que vive fora do país e colabora decisivamente para a geração de riqueza, com remessas de dividendos importantes para a economia do país.
Segundo a análise do WEF, o mundo enfrenta um "desperdício agudo de talentos", ao não propiciar às mulheres oportunidades profissionais equivalentes às dos homens.