terça-feira, 29 de dezembro de 2015

ACREDITE!! LUTE!! PERSISTA!! NADA PARA DEUS É IMPOSSÍVEL!!



Da crise síria à lama de Mariana: o ano de 2015 em 9 fotos icônicas

Do corpo do menino sírio carregado por um policial numa praia da Turquia à "onda" de resíduos químicos que ainda se espalha por Minas Gerais e Espírito Santo.
O ano de 2015 trouxe imagens fortes - e a internet se encarregou de espalhá-las por todo o planeta.
Nem todas, entretanto, são dramáticas. Neste clima de fim de ano, convidamos você a rever algumas das mais marcantes no Brasil e no mundo:

A garotinha rendida na Síria

Image copyrightOsman Sagirli
Hudea, de 4 anos, confundiu a câmara fotográfica com uma arma e levantou as mãos para o alto, rendida.
A menina foi fotografada no campo de refugiados de Atmeh, na Síria. "Percebi que estava aterrorizada só depois que vi a foto. Ela levantou as mãos e mordeu os lábios. Geralmente crianças saem correndo, escondeu seus rostos ou sorriem quando veem uma câmara", disse o fotógrafo turco Osman Sağırlı, autor do clique.

'Mujica superstar' no Rio

Image copyrightMidia Ninja
Ele deixou a presidência do Uruguai, mas não a vida pública, como se vê na foto abaixo.
A imagem não foi registrada em Montevidéu, mas na concha acústica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em agosto deste ano. O encontro com os estudantes foi ideia do próprio José "Pepe" Mujica, que havia vindo ao Brasil para participar de um seminário da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur).
No aniversário de 80 anos do uruguaio, a BBC Mundo foi até a casa de Mujica e fez perguntas enviadas por milhares de leitores em todo o planeta.

Um 'tsunami' de lama química

Image copyright
AFP
Em 5 de novembro, o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, controlada por Vale e BHP Billiton, liberou o equivalente a quase 25 mil piscinas olímpicas repletas de resíduos de produtos químicos, água e lama.
O rastro de destruição e prejuízos cruzou os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e chegou ao oceano Atlântico. Quase dois meses depois, a empresa ainda não esclareceu as causas do acidente.

As faces de Plutão

Image copyrightNASA JPLJHU SwIR
"Ficamos todos de queixo caído com o que vimos", disse à BBC o astrônomo britânico Nigel Henbest, da Universidade de Leicester.
Sua surpresa é compartilhada pelo restante da comunidade científica que, graças à sonda New Horizons da Nasa (agência espacial americana), pode conferir pela primeira vez imagens em alta resolução deste planeta anão.

Adeus à 'dama da poeira'

Image copyrightAFPSua foto deu a volta ao mundo após o ataque às torres gêmeas em 2001.
Conhecida como "dust lady" (dama da poeira, em tradução livre), Marcy Borders morreu em agosto deste ano, vítima de câncer no estômago aos 42 anos. A foto icônica, que a mostra depois de conseguir se refugiar em um edifício vizinho às torres, voltou a circular desde então.

Cinco jovens, 111 tiros

Image copyrightREUTERS
Cinco amigos comemoravam o primeiro salário com carteira assinada de um deles quando uma rajada de 111 tiros disparados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, atingiu seu carro. Todos morreram.
Não foi o primeiro caso - e, segundo estatísticas, não deve ser o último. De janeiro de 2010 a agosto de 2015, 3.256 homicídios decorrentes de intervenções policiais foram registrados, de acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio. Nos primeiros oito meses de 2015, foram 459 mortes.

Pica-pau dá carona a furão

Image copyrightMartin LeMayA imagem deste furão aproveitando a carona de um pica-pau foi feita em um parque em Londres, pelo fotógrafo amador Martin Le-May.
Acredita-se que o mamífero atacou o pássaro, que decolou no susto, levando consigo o inusitado passageiro. Ambos aterrissaram sãos e salvos a alguns metros do fotógrafo.

Menino símbolo da crise síria

Image copyrightAP
Alan Kurdi, de 3 anos, apareceu afogado em uma praia da Turquia, após uma tentativa frustrada de cruzar o mar até a Grécia.
Sua mãe e seu irmão dois anos mais velho também morreram. A imagem, que mostra um policial turco carregando seu corpo, viralizou no início de setembro, chamando atenção mundial para as mortes de migrantes que fogem de países em guerra rumo à Europa.

Nepaleses que nunca foram ao Nepal

Image copyrightBBC World Service
A imagem causou comoção mundial em torno das vítimas do terremoto que atingiu o Nepal em abril.
O único detalhe é que as crianças da foto não eram nepaleses, nem tinham estado no terremoto. A foto, tampouco, é deste ano.
A imagem foi registrada pelo fotógrafo vietnamita Na Son Nguyen em outubro de 2007 em Can Ty, um povoado isolado na província de Ha Gang, no Vietnã.
bbc brasil

‘Tempestade perfeita’? Quatro fatos que fizeram de 2015 o ano das más notícias econômicas

(AFP)

2015 foi marcado por notícias negativas na economia brasileira
Se ainda restavam dúvidas de que economia e política realmente andam juntas, 2015 serviu para comprovar que a velha máxima faz sentido.
A crise política instalada em Brasília, cujo desfecho ainda não é conhecido, suspendeu decisões importantes, gerou desconfiança entre os investidores e contaminou os mercados.
Em contrapartida, a desaceleração da economia reduziu as receitas do governo que, sem dinheiro em caixa, foi obrigado a cortar gastos e a aumentar impostos, movimento que erodiu ainda mais a popularidade da presidente Dilma Rousseff.
A turbulência econômica também atingiu em cheio o bolso dos brasileiros, que não devem sentir saudades de 2015.
Foram diversas notícias negativas: recessão, inflação alta, taxa de juros elevada, aumento da conta de luz, ondas de demissões e dólar acima de R$ 4 pela primeira vez desde a criação do Plano Real.
Mas não é só. Com um rombo nas contas públicas, o Brasil perdeu o grau de investimento, espécie de selo de bom pagador, conquistado a duras penas durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também deu adeus a um ministro da Fazenda. Há menos de duas semanas, Joaquim Levy ─ um nome desde o princípio associado ao mercado ─ foi substituído por Nelson Barbosa, até então ministro do Planejamento.
A conjuntura externa tampouco foi favorável ao país. Com a economia dando sinais de enfraquecimento, a China, principal parceira comercial do Brasil, comprou menos.
E as previsões para o ano que vem não são otimistas. A inflação deve ficar novamente acima do teto da meta (de 6,5%), os juros devem subir e o PIB (soma dos bens e serviços produzidos pelo país) deve registrar novamente uma retração.
Em meio à tormenta que afeta a economia brasileira, a BBC Brasil listou abaixo quatro fatores que derrubaram o país em 2015, criando uma "tempestade perfeita":

1) Crise política

(Reuters)Image copyrightReuters
Image captionImpasse político em Brasília vem adiando decisões importantes, como ajuste fiscal
Em meio à disputa entre o Executivo e o Legislativo, decisões importantes que poderiam aliviar as contas públicas e retomar o crescimento da economia do país estão suspensas temporariamente ou foram adiadas.
Um dos exemplos mais notórios é a reforma da Previdência, considerado o principal sugadouro fiscal do Brasil.
Segundo o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, a proporção dos gastos do INSS sobre o PIB subiu de 3,4% em 1991 para 7,7% no ano passado.
Atualmente, nove brasileiros em idade ativa trabalham para sustentar um aposentado acima de 65 anos. Se nada for feito, em 2040, essa proporção será de quatro trabalhadores para cada aposentado, aumentando significativamente a pressão sobre as contas públicas.
Também há outros desafios importantes ─ e de curto prazo, como o chamado ajuste fiscal, ou seja, o esforço para equilibrar as contas públicas. Em outras palavras, gastar menos do que se arrecada.
Mas o fracasso na aprovação de algumas medidas, como a volta da CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira), lança dúvidas se o governo terá dinheiro suficiente para fechar no azul.
Quanto menor a certeza, maior a desconfiança dos mercados.
Sem alternativa para financiar seus gastos, o governo acaba tendo de oferecer um retorno maior a quem quer emprestar dinheiro ao país – no caso, na forma de juros mais altos. Em 2016, estima-se que a taxa básica de juros, a Selic, deva subir dos atuais 14,25% para 14,75%.
Só que juros maiores significam menos dinheiro para aplicar em outras áreas, como saúde e educação.

2) Lava Jato

EPAImage copyrightEPA
Image captionSegundo consultoria, impacto da Lava Jato será de 2,5 pontos percentuais no PIB deste ano
A operação que investiga o esquema milionário de desvio de verbas na Petrobras - e que resultou na acusação contra algumas das maiores empreiteiras do país - atingiu em cheio a já combalida economia brasileira.
Segundo cálculos da consultoria Tendências, o impacto foi de 2,5 pontos percentuais no PIB deste ano.
Economistas calculam que a economia brasileira deve encolher 3,7% em 2015. Para o ano que vem, a estimativa é de retração de 2,8%.
Se confirmadas as previsões, será a primeira vez que o país registra dois anos consecutivos de queda no PIB desde o início da série histórica, em 1948.
"A Lava Jato paralisou setores que têm um peso grande nos investimentos totais da economia, então é natural que tenha um impacto negativo expressivo no PIB no curto prazo", explicou Alessandra Ribeiro, da Tendências, à BBC Brasil no início de dezembro.
"O lado positivo dessa história é que as instituições estão funcionando e o risco de os corruptos serem pegos está aumentando - o que tende a limitar a corrupção no longo prazo", acrescentou ela.

3) Cenário externo

(Reuters)Image copyrightReuters
Image captionMenor demanda da China teve impacto negativo na economia brasileira
Fatores externos também tiveram seu peso no mau desempenho da economia brasileira neste ano.
E o principal revés veio da China, maior parceiro comercial do Brasil.
Com a atividade econômica enfraquecida, resultado da queda das exportações e do menor consumo das famílias, o gigante asiático comprou menos, impactando as vendas externas brasileiras.
Paralelamente, caiu o preço das commodities (principais produtos de exportação brasileiros), refletindo uma menor demanda global, especialmente da China.
E, há duas semanas, o Fed, o Banco Central americano, decidiu subir juros pela primeira vez desde a crise financeira de 2008.
Apesar do retorno baixo, os títulos públicos do Tesouro americano são considerados investimentos de confiança (já que o risco de calote dos Estados Unidos, por ser a principal economia do mundo e poder imprimir dólar à vontade, praticamente inexiste). O resultado é uma debandada de investimentos alocados em países emergentes, entre eles o Brasil.

4) Ajuste

(Reuters)Image copyrightReuters
Image captionJoaquim Levy foi substituído por Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda
Na tentativa de fazer as contas públicas voltarem ao azul, o governo lançou mão de algumas medidas de ajuste fiscal no início de 2015.
Além disso, preços há muito tempo represados, como energia e gasolina, subiram e impactaram a inflação que, segundo economistas ouvidos pelo Banco Central, deve terminar o ano em 10,7%. Se a previsão for confirmada, será o maior valor desde 2002 (12,53%).
A Cide, taxa sobre a gasolina e o óleo diesel foi reinstituída, afetando os preços do combustível. E a forte seca que atingiu o país também reduziu a produção de energia hidrelétrica e forçou o uso da termelétrica, mais cara.
Paralelamente, desde maio, o governo vem anunciando seguidos cortes de gastos para reduzir o tamanho do rombo nas contas públicas.
Apesar do arrocho, o Brasil pode fechar 2015 com um déficit (despesas maiores que as receitas) recorde de até R$ 117,9 bilhões. O valor consideraria o abatimento de até R$ 55 bilhões para compensação das chamadas "pedaladas fiscais" (pagamentos atrasados a bancos públicos).
O problema é que, com menos dinheiro para pagar os juros dos empréstimos que toma para se financiar, o governo passa a ser visto com maior desconfiança pelos agentes econômicos.
Em parte em função disso, o Brasil perdeu o "chamado grau de investimento", uma espécie de selo de bom pagador, por duas das maiores agências de classificação de risco do mundo, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings.
Sem esse atestado, o país agora é considerado "grau especulativo", o que, aos olhos do mercado, significa que o país tem menos capacidade de honrar suas dívidas.
bbc brasil

Por que não nascem bebês em Fernando de Noronha?


Foto: Alan Schvarsberg

























Proibição de partos no arquipélago causa indignação em moradores; 
governo estadual diz que faltam recursos, apesar de arrecadação 
da ilha com turismo

"É um pesadelo, você acha que nunca vai acabar. É uma sensação horrível você estar dentro de um quarto presa, às vezes sem dinheiro, longe da minha casa e da minha família."
A frase acima não descreve uma experiência de exílio ou na prisão, mas a espera da noronhense Laisy Francine Costa e Silva, de 19 anos, pelo primeiro filho. Como todas as gestantes do arquipélago pernambucano – que é um dos principais destinos turísticos do Brasil, santuário ecológico e Patrimônio Natural da Humanidade, segundo a Unesco –, ela precisa sair de casa no sétimo mês de gestação para dar à luz em Recife, a 545 km de distância.
Em 2004, foi desativada a única maternidade na ilha, no Hospital São Lucas, sob a justificativa de que o custo de manutenção da estrutura era alto demais para a média de 40 partos por ano realizados na ilha principal, a única habitada. Há 10 anos, no entanto, o impedimento causa indignação entre os moradores, que falam em "violação do direito de nascer".
Agora, o documentário Ninguém nasce no paraíso, do brasiliense Alan Schvarsberg, conta a história de mães insatisfeitas com a situação. Ele descobriu o tema quando ministrava uma oficina de videoativismo em Noronha há dois anos.
"Estávamos falando sobre temas que eles queria abordar e a proibição do parto foi a que mais apareceu. Mulheres e homens diziam que queriam falar sobre isso, mas que tinham receio de falar", diz.
"O ruim é que você sai da sua casa", disse à BBC Brasil Monique Souza, de 27 anos, que teve sua primeira filha em 2013 e é uma das entrevistadas no documentário. "Tenho uma casa em Recife, mas meu marido ficou (em Noronha). Tenho um irmão especial e minha mãe teve que deixá-lo lá. E ainda tivemos que sustentar duas casas durante esse tempo."
Por lei, não há proibição formal para o nascimento de crianças em Fernando de Noronha. No entanto, a Coordenadoria de Saúde do arquipélago, que tem sede em Recife, se encarrega de fazer com que as mães deixem o local a partir da 34ª semana de gestação – mesmo que seja preciso insistir.
"Tinha umas 40 mulheres grávidas aqui na época e umas quatro iam dar à luz no mesmo período que eu. Elas me chamaram para pagar um médico para fazer o parto, mas depois as assistentes sociais me explicaram que não tem UTI, que se acontecesse algo, podia ser um problema", relembra Monique.
"Ouvi falar que chegaram a dizer a outras mães que a culpa seria delas, se o bebê tivesse complicações."

'Olhando para as paredes'



Foto: ThinkstockImage caption Gestantes precisam sair da ilha no sétimo mês de gravidez e retornam cerca de 15 dias após dar à luz os bebês

De acordo com a coordenadoria de saúde da ilha, as gestantes fazem pré-Natal pela rede pública em Noronha até o sétimo mês de gravidez e, depois, são encaminhadas para Recife. Todas têm suas passagens de ida e volta – incluindo um acompanhante – pagas. O voo dura 1 hora e 20 minutos.
Em casos específicos, podem também receber hospedagem no hotel Uzi Praia durante todo o período na capital pernambucana, com três refeições e transporte para as consultas médicas. E seus partos são feitos do IMIP, hospital de referência em pediatria na capital.
Nem todas as mães, no entanto, se dizem satisfeitas com as condições.
Quando teve o primeiro filho, em 2011, Silvia Souza da Silva, de 22 anos, diz não ter recebido assistência apropriada. "Eles só me deram a passagem e marcaram para eu ir numa clínica. O médico entrou mudo e saiu calado. Tive meu filho em outro hospital porque uma amiga da minha família fez meu parto."
"No meu segundo filho (nascido há cerca de três meses), exigi o hotel porque soube que outras pessoas tinham ficado lá. Se você não exigir seus direitos, eles não dão assistência a você."
Uma das queixas mais comuns entre as mães é a solidão e a falta de opções de lazer durante a espera pelo nascimento do bebê – especialmente quando não se tem tanto dinheiro.
"A gente ia do hotel para o hospital e do hospital para o hotel. É difícil ficar dentro de um quarto olhando pra as paredes. Eu levei meu filho de 4 anos, e para ele também foi difícil. Aqui em Noronha ele brinca no quintal, pode correr. Lá, só podia ficar no quarto", relembra Silvia.

'Falta de recursos'

Para Marilde Martins da Costa, de 59 anos, que cumpre seu terceiro mandato no Conselho de Noronha, o "problema é meramente político".
"Não justifica termos uma parturiente ou duas em um mês, termos um voo saindo diariamente para Noronha e não podermos ter um médico que venha fazer um parto aqui e um anestesista. Eles viriam num dia e voltariam no outro", disse à BBC Brasil.
Segundo a coordenadora de saúde de Noronha, Fátima Souza, é inviável reabrir a maternidade em Noronha, principalmente por falta de recursos para sustentar a operação.
"Uma maternidade, para funcionar, precisa de toda uma estrutura. E nós temos, no máximo, 40 partos ano em Noronha. Não teria como manter essa estrutura e não teria pessoal suficiente", disse à BBC Brasil.
"Eu acredito que essas pessoas estão resguardadas de um problema maior. Porque deixar essas pessoas na ilha sem as condições para atendimento de alta complexidade, que a gente sabe que pode acontecer, é um complicador muito maior do que quaisquer transtornos por questões emocionais."


Foto: Emilia Silberstein Copyright (Emilia Silberstein) Mães como Monique (foto) reclamam de solidão e dificuldades financeiras durante período final da gestação, em Recife

Souza diz que, para manter a operação permanente da maternidade do Hospital São Lucas, o único da ilha, seriam necessários pelo menos R$ 150 mil reais mensais. Segundo dados da Coordenadoria de Saúde, a administração gastou cerca de R$ 76 mil só com as passagens de avião de ida e volta das 30 mulheres que tiveram filhos naquele ano e seus acompanhantes. Em 2015, até outubro, o gasto foi de R$ 82 mil.
A pasta ainda informou à reportagem que o distrito de Fernando de Noronha recebeu cerca de R$ 2,7 milhões em repasses dos governos estadual e federal para a saúde em 2014. Nesse ano, a cifra caiu para menos da metade – pouco mais de R$ 1 milhão.
Questionada pela reportagem, o governo de Pernambuco não respondeu se seria possível utilizar, parte da arrecadação da ilha com a Taxa de Preservação Ambiental – cobrada diariamente de todos os visitantes – para reativar a maternidade da ilha. Em 2014, segundo informações obtidas via Lei de Acesso à Informação, a arrecadação com a taxa foi de quase R$ 16 milhões.

'E a fome de madrugada?'

Laisy Francine teve seu primeiro filho há um mês, acompanhada da irmã e do sobrinho de um ano. Ela falou com a reportagem da BBC Brasil pouco antes de dar à luz Arthur. "Não tenho o que falar do hotel, o pessoal é atencioso. Só do que tenho que reclamar é terem me tirado do conforto da minha casa e da minha família. A situação é muito ruim", disse, ansiosa, ao telefone.
Segundo Laisy, que não tem parentes com quem se hospedar em Recife, uma assistente social em Noronha chegou a negar sua solicitação de hospedagem no hotel, com a justificativa de "corte de gastos". "Fiquei logo nervosa, comecei a chorar", lembra.
A Coordenadoria de Assistência Social nega que um corte de gastos tenha sido o motivo da negativa inicial, mas Laisy afirma que teve que insistir para conseguir a hospedagem. "Nunca vi isso. Até no interior mais brabo de Pernambuco tem maternidade. Eu ameacei ir na Justiça, procurar meus direitos. Dias depois me disseram que 'depois de muitos argumentos' conseguiram hotel pra mim."
Com a gravidez, ela teve de deixar o emprego de vendedora de sorvete, em que ganhava R$ 50 por dia. Sua mãe, que tem uma barraca de praia, envia dinheiro semanalmente para as despesas das irmãs.
"Se eu não tivesse minha mãe, como eu ia fazer? Vê só o que eles não estão passando lá pra mandar esse dinheiro pra a gente. Ela manda de pouco em pouco, mas já gastei de R$ 5 mil a R$ 7 mil", afirma.
"Tem vezes que a comida não é boa, então eu vou e boto do meu dinheiro. Tem coisas que não gosto de comer, então não como. E aquela fome de madrugada? Porque mulher grávida come que só a moléstia."


Foto: ThinkstockImage copyrightThinkstock
Image caption'Nó de Noronha' faz com que moradores tenham receio de levar reclamações sobre o tratamento das grávidas às autoridades, segundo cineasta

A assistente social que se encarrega da assistência às mães em Recife, Talita Lima, diz que não é comum receber queixas relativas à angústia das gestantes.
"Algumas delas já colocaram questões no hotel, como lençóis que precisam trocar mais vezes, a comida que acham que pode estar mais gordurosa. Procuramos o pessoal do hotel para conversar e resolver as situações", disse à BBC Brasil.
Todas as mães com quem a reportagem conversou, no entanto, reclamaram do custo emocional de serem separadas de suas famílias, com pouco dinheiro e poucas opções de lazer no último período da gestação.
"Se a pessoa não for forte, ela entra em uma depressão muito profunda, porque para sair aqui tem que ter muito dinheiro. Eu não sei andar aqui, tenho que sair de táxi", disse Laisy.

'Nó de Noronha'

Alan Schvarsberg, diretor do filme Ninguém nasce no Paraíso, acredita que a expressão "nó de Noronha", que aprendeu na ilha, pode ajudar a explicar o porquê de as reclamações das mulheres nem sempre chegarem às autoridades.
"O 'nó de Noronha' expressa a relação de interdependência da comunidade diante da realidade de viver numa ilha. Pelo fato de tudo vir do continente, até a água potável, as pessoas todas se conhecem e dependem umas das outras e da administração. Então há o receio de falar alguma coisa e sofrer represálias", afirma.
"A meu ver, esta é uma forma de extermínio muito perversa da população local. As mulheres podem registrar seus filhos, nascidos em Recife, como noronhenses, mas a gestação está se tornando algo muito traumático. Isso está fazendo com que, pouco a pouco, menos mulheres queiram engravidar", afirma.
Mesmo animada com a chegada do bebê, Laisy afirma que vai pensar duas vezes antes de dar a ele um irmão ou irmã.
"Eu gosto muito de criança, mas para passar isso de novo eu não quer ter filho mais não, Deus me livre. Só se vier morar aqui fora", diz.
bbc brasil