Ocupar prédios é preciso. Porque gente vale mais que barata
Mais de 3,5 mil pessoas ligadas a movimentos por moradia ocuparam, na madrugada de
segunda, dez prédios abandonados na capital paulista. A ação foi coordenada por 14
movimentos por moradia, entre eles o Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), a
Unificação das Lutas dos Cortiços (ULC) e o Movimento de Moradia do Centro (MMC).
Eles também denunciam acordos não cumpridos com o poder público.
segunda, dez prédios abandonados na capital paulista. A ação foi coordenada por 14
movimentos por moradia, entre eles o Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), a
Unificação das Lutas dos Cortiços (ULC) e o Movimento de Moradia do Centro (MMC).
Eles também denunciam acordos não cumpridos com o poder público.
Entre as demandas comuns a todas as 14 entidades envolvidas na ocupação, estão
uma solução para os que foram vítimas da desapropriação dos Edifícios São Vito
e Mercúrio, a garantia de 5 mil unidades habitacionais para o atendimento no
Programa de Locação Social e de 5 mil atendimentos no Programa Bolsa Aluguel
para situações emergênciais e o atendimento da demanda dos movimentos de mora
dia que atuam no Centro dos 53 prédios que a Prefeitura afirma estar desapropriando.
uma solução para os que foram vítimas da desapropriação dos Edifícios São Vito
e Mercúrio, a garantia de 5 mil unidades habitacionais para o atendimento no
Programa de Locação Social e de 5 mil atendimentos no Programa Bolsa Aluguel
para situações emergênciais e o atendimento da demanda dos movimentos de mora
dia que atuam no Centro dos 53 prédios que a Prefeitura afirma estar desapropriando.
O déficit qualitativo e quantitativo de habitação poderia ser drasticamente reduzi
do se esses imóveis trancados por portas de tijolos pudessem ser desapropriados
e destinados gratuitamente para quem precisa. Mas, ao invés disso, o governo fede
ral investe em programas que facilitam o financiamento de novos empreendimentos,
como o “Minha Casa, Minha Dívida”, quando poderiam estar entregando às famílias
de baixíssima renda apartamentos existentes que hoje só servem para criar ratos e
baratas.
do se esses imóveis trancados por portas de tijolos pudessem ser desapropriados
e destinados gratuitamente para quem precisa. Mas, ao invés disso, o governo fede
ral investe em programas que facilitam o financiamento de novos empreendimentos,
como o “Minha Casa, Minha Dívida”, quando poderiam estar entregando às famílias
de baixíssima renda apartamentos existentes que hoje só servem para criar ratos e
baratas.
Enquanto isso, Estado e município não têm coragem de enfrentar os grandes latifun
diários urbanos. Há prédios que devem milhões de Imposto Predial e Territorial Ur
bano (IPTU) e poderiam ser alvo do Decreto de Interesse Social, uma vez que perma
necem vagos por anos. Mas em uma sociedade cuja pedra fundamental são a into
cabilidade da propriedade privada e a possibilidade de lucro e não o respeito à vida isso
fica difícil.
diários urbanos. Há prédios que devem milhões de Imposto Predial e Territorial Ur
bano (IPTU) e poderiam ser alvo do Decreto de Interesse Social, uma vez que perma
necem vagos por anos. Mas em uma sociedade cuja pedra fundamental são a into
cabilidade da propriedade privada e a possibilidade de lucro e não o respeito à vida isso
fica difícil.
Por isso, o apoio às ocupações que começaram nesta segunda em São Paulo é a dife
rença entre a civilidade (e a consciência de que o respeito à dignidade huma
na e não a antropofagia é que deveria nos unir) e a barbárie (de pessoas morando
em palafitas sobre córregos de merda, enquanto outras vivem em triplex com mais
de mil metros quadrados).
rença entre a civilidade (e a consciência de que o respeito à dignidade huma
na e não a antropofagia é que deveria nos unir) e a barbárie (de pessoas morando
em palafitas sobre córregos de merda, enquanto outras vivem em triplex com mais
de mil metros quadrados).
Já disse isso aqui antes: a área central de São Paulo é alvo prioritário dos movimen
tos por moradia por uma razão bem simples: porque já tem tudo, transporte,
cultura, lazer, proximidade com o trabalho. Ao longo do tempo, fomos expulsando
os mais pobres para regiões cada vez mais periféricas. Eles, que possuem
menos recursos financeiros, gastam mais tempo e mais de sua renda com trans
porte do que os mais ricos que ficaram nas áreas centrais (com exceção dos
condomínios-bolha espalhados no entorno, com suas dinâmicas de segregacionismo
próprias).
tos por moradia por uma razão bem simples: porque já tem tudo, transporte,
cultura, lazer, proximidade com o trabalho. Ao longo do tempo, fomos expulsando
os mais pobres para regiões cada vez mais periféricas. Eles, que possuem
menos recursos financeiros, gastam mais tempo e mais de sua renda com trans
porte do que os mais ricos que ficaram nas áreas centrais (com exceção dos
condomínios-bolha espalhados no entorno, com suas dinâmicas de segregacionismo
próprias).
Cortiços em regiões retratadas no passado por Alcântara Machado no livro “Brás,
Bexiga e Barra Funda” e também nos antes requintados Campos Elísios abri
gam dezenas de famílias. Sem o mínimo de saneamento básico, às vezes sem água
e sem luz. A maioria dos moradores desses locais prefere continuar assim, pois trans
porte é o que não falta e a casa fica próxima ao trabalho – ao contrário do que
acontece em bairros da periferia, onde o trajeto até o centro chega a levar três ho
ras, dentro de ônibus superlotados.
Bexiga e Barra Funda” e também nos antes requintados Campos Elísios abri
gam dezenas de famílias. Sem o mínimo de saneamento básico, às vezes sem água
e sem luz. A maioria dos moradores desses locais prefere continuar assim, pois trans
porte é o que não falta e a casa fica próxima ao trabalho – ao contrário do que
acontece em bairros da periferia, onde o trajeto até o centro chega a levar três ho
ras, dentro de ônibus superlotados.
Cresci no Campo Limpo, bairro periférico de São Paulo. Fiz o ensino médio técnico no
Pari, perto da Rodoviária Tietê, do outro lado da capital. Mais de duas horas para
cruzar a cidade de transporte público. Depois da faculdade, sem carro, mantive uma
rotina longa até me mudar para o principado paulistano do Sumaré. Contudo, mesmo
os trajetos intermináveis eram fichinha para quem foi lançado às rebarbas da cida
de, como o Jardim Pantanal ou o Grajaú – de onde saem boa parte daquela “gente
diferenciada” que vive para servir.
Pari, perto da Rodoviária Tietê, do outro lado da capital. Mais de duas horas para
cruzar a cidade de transporte público. Depois da faculdade, sem carro, mantive uma
rotina longa até me mudar para o principado paulistano do Sumaré. Contudo, mesmo
os trajetos intermináveis eram fichinha para quem foi lançado às rebarbas da cida
de, como o Jardim Pantanal ou o Grajaú – de onde saem boa parte daquela “gente
diferenciada” que vive para servir.
A carta dos movimentos por moradia endereçada ontem ao governador Geraldo
Alckmin e ao prefeito Gilberto Kassab desabafa: “Realizamos os principais serviços
para o bom funcionamento desta cidade, entretanto nossas famílias estão espre
midas por um conjunto de necessidades. Lutamos e trabalhamos muito para sobre
viver, mas a cidade regida pelas leis do mercado, especialmente imobiliário, impe
de que nossa renda assegure nossos direitos. Sabemos que a situação de nossas
famílias decorre da injustiça histórica. Sabemos também, que nas circunstâncias
atuais, nosso sofrimento não tem razão de continuar.Por isso, nos organizamos e
ocupamos esses imóveis abandonados, sem função social respaldados por
nossas Leis, que assegure nosso direito à moradia e por meio de nosso direito de agir”.
Alckmin e ao prefeito Gilberto Kassab desabafa: “Realizamos os principais serviços
para o bom funcionamento desta cidade, entretanto nossas famílias estão espre
midas por um conjunto de necessidades. Lutamos e trabalhamos muito para sobre
viver, mas a cidade regida pelas leis do mercado, especialmente imobiliário, impe
de que nossa renda assegure nossos direitos. Sabemos que a situação de nossas
famílias decorre da injustiça histórica. Sabemos também, que nas circunstâncias
atuais, nosso sofrimento não tem razão de continuar.Por isso, nos organizamos e
ocupamos esses imóveis abandonados, sem função social respaldados por
nossas Leis, que assegure nosso direito à moradia e por meio de nosso direito de agir”.
José – o nome é fictício, pois o morador não quis se identificar – morava com a
mulher, filhos, cunhado e primos em um velho casarão, semidestruído, então
propriedade da Universidade de São Paulo, na Rua Havaí, localizada no caro bairro
de Perdizes. O local não possuía a mínima segurança, uma vez que as tábuas
caíam ao se caminhar pela casa. Mesmo assim, José não arredava pé de lá. “Se
sair não tenho para onde ir.” Passaram-se os meses e a universidade mandou demolir
a casa. Para onde foram José e o populacho que lá vivia? Ninguém nunca
soube dizer. Provavelmente engrossam a densidade demográfica de outro cortiço. Ou
passaram frio em algum lugar precário. Que logo seria igualmente derrubado.
mulher, filhos, cunhado e primos em um velho casarão, semidestruído, então
propriedade da Universidade de São Paulo, na Rua Havaí, localizada no caro bairro
de Perdizes. O local não possuía a mínima segurança, uma vez que as tábuas
caíam ao se caminhar pela casa. Mesmo assim, José não arredava pé de lá. “Se
sair não tenho para onde ir.” Passaram-se os meses e a universidade mandou demolir
a casa. Para onde foram José e o populacho que lá vivia? Ninguém nunca
soube dizer. Provavelmente engrossam a densidade demográfica de outro cortiço. Ou
passaram frio em algum lugar precário. Que logo seria igualmente derrubado.
A recuperação da área central de São Paulo não se restringe a uma valorização esté
tica das ruas, edifícios e bens culturais. Inclui também o repovoamento do local, tra
zendo vida à região, com incentivos para o estabelecimento das classes média e baixa.
O que tem sido feito até agora é o contrário: expulsa-se o povão e ergue-se mo
numentos à música e às artes.
tica das ruas, edifícios e bens culturais. Inclui também o repovoamento do local, tra
zendo vida à região, com incentivos para o estabelecimento das classes média e baixa.
O que tem sido feito até agora é o contrário: expulsa-se o povão e ergue-se mo
numentos à música e às artes.
Sabe o artigo 6o da Constituição Federal que garante o direito à moradia? Então,
é mentira. Do mesmo tamanho daquela anedota contada no artigo 7º que diz que o
salário mínimo deve ser suficiente para possibilitar “moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”.
é mentira. Do mesmo tamanho daquela anedota contada no artigo 7º que diz que o
salário mínimo deve ser suficiente para possibilitar “moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”.
Função social da propriedade? Por aqui, isso significa garantir que a divisão de clas
ses sociais permaneça acentuada como é hoje. Cada um no seu lugar. Afinal de contas
, viver em São Paulo é lindo – se você pagar bem por isso.
ses sociais permaneça acentuada como é hoje. Cada um no seu lugar. Afinal de contas
, viver em São Paulo é lindo – se você pagar bem por isso.
Da: Folha 13
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