Disfunção hormonal deixa mulheres com peso excessivo e pelos no rosto
Devido a um estímulo da hipófise, pequenos cistos aparecem nos ovários, e o transtorno impede a ovulação. Assim, a mulher produz menos progesterona e mais hormônios masculinos, principalmente a testosterona.
Quantas mulheres lutam para se livrar de problemas como pêlos no rosto, acne, músculos fortes e obesidade? E quantas imaginam que podem ser causados por um desequilíbrio hormonal? Esse é um transtorno mais comum do que se pensa. Provoca estresse emocional e até infertilidade. Uma em cada dez brasileiras sofre de uma disfunção chamada síndrome dos ovários policísticos. Ela altera o ciclo menstrual e pode transformar a rotina dessas mulheres em um inferno.
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A síndrome costuma se manifestar na adolescência. Por causa de um estímulo indevido e pouco conhecido da hipófise, pequenos cistos aparecem nos ovários, que aumentam de tamanho. Esses cistos são benignos e não causam dor, mas o transtorno impede a ovulação. A mulher produz menos progesterona, o hormônio feminino, e mais hormônios masculinos, principalmente a testosterona.
Claudiane Cristina Ferreira, de 30 anos, sempre teve os braços fortes, de dar inveja a qualquer menina de academia. Ela passou a adolescência enfrentando sintomas desconfortáveis.
A síndrome do ovário policístico não traz para a Claudiane nenhum incômodo físico. Ao contrário, o pouco de hormônio masculino a mais faz dela um tipo de mulher maravilha. Em casa, onde moram três mulheres, o que a Claudiane fecha, as outras duas não abrem. É assim com o vidro de azeitona, com a garrafa de refrigerante. “Tudo que ela fecha, a gente não consegue abrir. Como sou eu e a minha mãe, fica tudo apertado, e a gente sofre”, conta Polyana Nayara Ferreira, irmã de Claudiane.
O equilíbrio hormonal só veio com ajuda de pesquisadores da Iniversidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, que receitaram o uso de anticoncepcionais específicos para o caso dela. Deu resultado. Com o tratamento, Claudiane leva uma vida normal e trabalha em uma loja de roupas. Às vezes, ainda precisa depilar o rosto e sempre usa o bom humor para se divertir com a fama de mulher maravilha. “Eu sei que eles me chamam para ajudar, para pegar o peso, porque eu sou mais forte que as outras”, reconhece a jovem.
Além de Claudiane, outras 150 mulheres já foram beneficiadas pela pesquisa da USP. Como o controle dos hormônios é feito basicamente com o uso de anticoncepcionais, os cientistas brasileiros estudam o que eles chamam de segurança metabólica. Ou seja, procuram saber qual a repercussão de cada terapia no funcionamento do organismo. Com isso, conseguem individualizar o tratamento e indicar o melhor controle para cada caso.
“Esse controle é importante. Por isso, elas não podem sair tomando sozinhas”, afirma o coordenador de pesquisa da USP-RP, Rui Alberto Ferriani.
Outro foco da pesquisa é estudar a ligação entre a síndrome e a facilidade em ganhar peso, principalmente com a gordura localizada. “Uma gordura muito no abdômen, na barriga, que é a gordura do homem, exatamente por conta dos hormônios masculinos”, aponta Rui Alberto Ferriani.
Se o transtorno não for tratado, com o tempo podem aparecer complicações sérias, como diabetes, problemas vasculares, como tromboses, hipertensão e doenças cardíacas. “Se ela conseguir fazer um bom controle, essa paciente fica igual a uma mulher sem a síndrome, do ponto de vista de risco”, destaca o coordenador de pesquisa da USP-RP.
Karina Domingos Rosatto, de 28 anos, é uma batalhadora. Há quatro anos, ela enfrenta as complicações da síndrome. Além do peso elevado, teve hemorragias, anemia e diabetes. A doença fez de Karina uma mulher amarga. O tratamento com os pesquisadores da USP botou a casa em ordem. Ela revela que perdeu 26 quilos em seis meses: “Mudou tudo, tanto o físico quanto o emocional”, declara.
Com dieta controlada e exercícios físicos, Karina recuperou também o que nenhum remédio sozinho consegue: as amizades.
Mas Karina não luta sozinha. A pesquisa conta com nutricionistas. “Tem paciente que perdem 10, 15 ou 20 quilos, fazendo tratamento só com dietas e atividades físicas”, destaca a nutricionista Camila Jabur de Sá, do Hospital das Clínicas da USP.
Tem também terapia de grupo. Joyce Cristina Moretti, de 30 anos, não teve medo e teve força de vontade. Cumpriu o tratamento à risca durante quatro anos. Agora, acaba de suspender o uso de anticoncepcionais. “Meu desejo é ser uma grande mãe, ensinar meus filhos no caminho certo”, comenta.
“Tem muita mulher que, às vezes, não vai ao médico com medo de que ela é infértil e vai virar uma notícia ruim. Mas tem tratamento e é importante. Elas vão conseguir engravidar”, afirma coordenador de pesquisa da USP-RP, Rui Alberto Ferriani.
A ciência ainda não conhece exatamente as causas da síndrome dos ovários policísticos. Mas os médicos sabem que ela é uma doença genética e que pode ser hereditária, passar de mãe para filha. A boa notícia é que os tratamentos disponíveis hoje em dia já conseguem neutralizar totalmente os efeitos desse distúrbio.
Letícia Maria Faustino, de 25 anos, conhece bem as dificuldades que enfrentou. Na adolescência, ela se escondia. “Eu não usava biquíni. Quando eu ia para clube, praia eu usava um shorts. Mesmo depilando, eu tinha vergonha”, lembra.
Com a obesidade, vieram as complicações. “Eu descobri que eu era diabética logo no começo. Eu tinha problema cardíaco. Eu tinha arritmia, na verdade”, revela.
A jovem chegou a pesar 75 kg e, hoje, tem 54 kg, o peso ideal. No rosto bonito, o equilíbrio é um prêmio conquistado. “Hoje, eu me considero uma pessoa bonita”, afirma.
( Do Globo Repórter )
( Do Globo Repórter )
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