Menina que viu mãe ser esfaqueada no RJ tem pesadelos e grita à noite


'Acorda gritando ‘mataram a minha mãe, mataram a minha mãe'', diz tio.
Família diz que maqueiro foi negligente; Hospital vai abrir sindicância.


Cristiane não resistiu às facadas no pescoço e morreu na noite desta quinta (Foto: Reprodução/TV Globo)Cristiane não resistiu às facadas no pescoço e morreu na noite desta quinta (Foto: Reprodução/TV Globo)
Depois de protagonizar cenas de desespero ao tentar socorrer a mãe, morta após ser vítima de facadas no Estácio, no Centro do Rio, a menina de sete anos não consegue apagar da memória as imagens de horror. “Durante o dia ela consegue até brincar e consegue ficar relativamente bem. Mas à noite, ela chora, chama pela mãe e tem pesadelos. Acorda gritando ‘mataram a minha mãe, mataram a minha mãe’”, lamenta o tio Tobias Luiz Silveira, de 68 anos.

Christiane de Souza Andrade, de 46 anos, foi esfaqueada duas vezes no pescoço no início da noite de quinta-feira (14). Após o crime, a filha de Christiane chegou a ser levada para a casa de parentes em Angra dos Reis, na Costa Verde, mas já retornou ao Rio e está na casa de uma tia.
Segundo Tobias, a criança será acompanhada por um psicólogo. "Já recebemos várias ofertas de pessoas que, penalizadas com tudo que viram ela passar, ofereceram ajuda. Muitos psicólogos nos procuraram oferecendo atendimento e acompanhamento gratuito para ela”, ressaltou.
 Ainda segundo ele, a versão de crime passional para a morte da sobrinha revoltou a família. “Essa versão de crime passional é uma forma de tentar lavar a insegurança na cidade do Rio de Janeirocom o sangue da minha sobrinha”, afirmou Tobias. Segundo ele, Christiane tinha uma união estável com um homem que está sendo submetido a um tratamento de câncer no pulmão.

“Minha sobrinha era vendedora de loja, mas estava desempregada e resolveu faturar algum dinheiro vendendo café e sanduíche em frente ao Correio Central. Lá, ela conheceu um senhor que diariamente ia tomar café no ponto [de ônibus]. Depois de um tempo, eles resolveram morar juntos e formaram uma união estável no cartório. Inclusive, eles pretendiam passar da união estável para o casamento. Mas no final de setembro ele foi fazer check-up e descobriu o câncer no pulmão”, afirmou Tobias. Na época em que conheceu o companheiro, Christiane morava com o tio e a esposa dele em um apartamento no Estácio.
Segundo Tobias, Christiane conheceu o suspeito há cerca de quatro anos, quando eles foram vizinhos. "Eles moraram no mesmo prédio coletivo ali no Estácio. Ele faz biscates de pedreiro e eletricista e na ocasião chegou a fazer algumas pequenas obras no quarto que ela ocupava", explicou o tio.
Homem preso por esfaquear mulher já havia sido namorado dela (Foto: Fernanda Rouvenat/G1)Homem preso por esfaquear mulher já havia sido namorado dela (Foto: Fernanda Rouvenat/G1)
Rojelson Santos Baptista alegou, em depoimento, que namorou Christiane há cerca de três anos. Ele foi preso como suspeito da morte de Christiane no sábado, quando era espancado por moradores da região, que estavam revoltados com a morte de Christiane. De acordo com o investigador da Divisão de Homicídios, por pouco ele não foi morto. Rojelson vai responder por homicídio triplamente qualificado, segundo o delegado titular da unidade, Fábio Cardoso.
Para o tio, a polícia não pode se basear no depoimento de Rojelson para confirmar a hipótese de crime passional.

“O delegado dizendo que ouviu no vídeo ele [Rojelson] pedindo a ela que reatasse é um fenômeno. Como ele ouviu isso em um vídeo mudo? Como o delegado ouviu ele pedindo que ela reatasse com ele naquele vídeo?”, indagou Tobias.

‘Minha sobrinha foi assassinada duas vezes’
Para a família da vítima, além do esfaqueamento, Christiane também foi vítima de negligência por parte do hospital.

“A minha sobrinha foi assassinada duas vezes. Primeiro pelas estocadas do assassino e depois pela negligência do Souza Aguiar. Ela com uma faca cravada no pescoço, com a jugular cortada, se esvaindo em sangue, e o maqueiro sem querer tirá-la e com a maca encosta no carro, porque dizia que precisava de ajuda. A tragédia com a minha sobrinha serve para alertar a população. Quantas Christianes morreram pela negligência, pela falta de amor ao próximo dos profissionais do Souza Aguiar?”, questionou Tobias.
A direção do Hospital Municipal Souza Aguiar informou que, quando foram acionados, os profissionais de saúde da unidade socorreram a paciente e a retiraram do carro com os cuidados necessários para não causar mais danos, tendo em vista que até o momento a equipe médica e de enfermagem não sabia que tipo de lesão ela havia sofrido e pelo mesmo motivo não poderia ser retirada de qualquer maneira pelo maqueiro.

"A paciente foi imediatamente levada para o centro cirúrgico e morreu devido à gravidade dos ferimentos. Ainda assim, a direção da unidade abrirá sindicância para melhor apurar todo o processo e tempo de atendimento da paciente", informou o hospital.

De acordo com a família, se não havia ninguém para ajudar a levar a maca, algum médico ou enfermeiro deveriam ter ido socorrer a vítima. “Num caso desse, o enfermeiro ou um médico devia ter ido lá. No Rio de Janeiro não temos segurança nem atendimento médico”, criticou.

Inquérito policial
Segundo o inquérito, Rojelson saberia a rotina de Christiane, que costumava ao mercado à noite. Os policiais acreditam que ele tenha ido ao encontro dela com a intenção de matar, inclusive por portar uma faca. No documento, consta que ele confessou o crime e a motivação. Rojelson é pedreiro e fazia bicos. Ele já tinha passagem na polícia e teria tentado esfaquear uma outra ex-companheira.

Neste domingo, a Polícia já havia pedido a prisão temporária dele, o que foi aceito pelo plantão judiciário. O crime ocorreu no Estácio, onde ele morava. Ele foi encontrado pela polícia pouco depois de ser agredido por pessoas que o acusavam como autor do crime.

De acordo com PMs, após uma denúncia anônima, policiais foram à Rua Paulo de Frontin, onde viram Rojelson Santos Baptista ser agredido. Após conter a violência, eles levaram o homem para o Hospital Souza Aguiar para ser atendido. Por volta das 22h, ele foi conduzido até a Divisão de Homicídios (DH), responsável pela investigação do caso.

Durante a inauguração de mais um trecho da Orla Conde, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, comentou o assassinato. "No Rio, a gente vê coisas que os estudiosos chamam de estado de anomia. Aquela situação mais absurda, mais exdrúxula do mundo, você vê tantas vezes acontecendo que você acha normal. Não é normal numa cidade uma criancinha de 7 anos de idade ver a sua mãe sendo assassinada por alguém aqui pertinho da prefeitura, pertinho do Comitê organizador dos Jogos. São coisas que a gente tem que se indignar, mas tem que se indignar e achar que não é impossível mudar", disse o prefeito ao lembrar do caso.
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Comentários

  1. Cara amiga Aparecida, mais uma monstruosidade! A situação geral fez-me perder o prazer de ler jornais e de assistir noticias televisivas.
    Um abraço daqui do sul do Brasil. Tenhas uma linda semana.

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