Júri dos canibais é retomado em Olinda com depoimentos da defesa


Tereza Joacy, advogada de Jorge Beltrão, presta o primeiro depoimento da tarde (Foto: Katherine Coutinho/G1)
Tereza Joacy, defensora de Jorge Beltrão, é a primeira a falar.
Trio é julgado por uma das três mortes, ocorrida em Olinda em 2008.

              
Foi reaberto às 13h10 (horário local) desta sexta-feira (14) o julgamento dos três acusados de canibalismo em Pernambuco. A previsão é de que os três advogados de defesa levem duas horas e meia para fazer suas explanações. Em seguida, haverá um debate. É o segundo dia de julgamento de Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva pelo homicídio quadruplamente qualificado, violação e ocultação de cadáver de Jéssica Camila da Silva Pereira, de 17 anos, ocorrido em Olinda, em 2008, - ela é uma das três mulheres que teriam sido mortas pelo trio. O júri acontece no Fórum de Olinda, no Grande Recife e a juíza é a titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Olinda, Maria Segunda Gomes de Lima.
               

O trio é acusado de ter esquartejado o corpo da vítima, à época com 17 anos, e guardado pedaços da carne para consumo humano, caracterizando o canibalismo. De acordo com a denúncia do Ministério Público de Pernambuco, os restos mortais da vítima ainda foram ocultados; crime aconteceu em maio de 2008, no Loteamento Boa Fé 1, bairro de Rio Doce, Olinda. De acordo com a polícia, a carne dos corpos das vítimas era fatiada, guardada na geladeira e consumida pelo trio. A criança, inclusive, também teria comido da carne da mãe. Eles teriam até utilizado parte da carne das vítimas para rechear coxinhas e salgadinhos que vendiam em Garanhuns.

O primeiro depoimento da tarde é o da defesa de Jorge Beltrão, a advogada Tereza Joacy. Ela começou a explanação com a oração de São Francisco, dizendo também que "é mais fácil estar na cruz do que estar sentado aqui hoje". "Se ele não tem deficiência, de tudo que mostra o processo aqui, mata que é bicho", aponta Tereza, lembrando o histórico do acusado no Centro de Atendimento Psicossocial (CAPs) de Garanhus.
             
 A advogada leu trechos com relatos de problemas de desequilíbrio e de remédios tomados pelo acusado, inclusive alguns para tratamento de esquizofrenia. A defensora fez críticas ao depoimento do psiquiatra Lamartine Holanda, que deu o laudo de sanidade dos réus. "O psiquiatra aqui fez apenas um discurso. A mesma que ele faz para um, está para os outros". A defensora pública lembrou também a questão do riso de Bruna, questionando se não seria uma reação do nervoso, ao invés de ironia como poderia ser interpretado assim como a apatia de Jorge.

Paulo Sales, defensor de Isabel Cristina, fala em júri dos canibais (Foto: Katherine Coutinho/ G1)
                                              Paulo Sales, à direita, faz defesa de Isabel Cristina

 Já o defensor de Isabel Cristina, Paulo Sales, começou seu discurso falando sobre Jorge Beltrão, relendo trecho do livro escrito pelo acusado. "Infelizmente, quando se analisa esse julgamento, se vai pelo código penal, mas não vê o aspecto do agente criminoso, de como se deu esse fato delitivo", afirma. Paulo pediu ainda a exibição de um vídeo com o depoimento de um dos irmãos de Jorge, em que ele fala sobre o temperamento explosivo do canibal. "Ele diz que a mulher do irmão dele [Jorge] tinha que andar na linha dele, era uma determinação que ele tinha em relação a ela", aponta, sugerindo a inocência de Isabel.
        
O advogado Rômulo Lyra, que defende Bruna Cristina Oliveira, afirma que vai tentar convencer os jurados da tese de menor participação de sua cliente, buscando uma redução da pena. "É inegável o quanto as duas amavam o Jorge e ambas tinham muito medo do que aconteceria se elas não fizessem o que ele mandava", aponta o advogado.
              

  'Canibal feliz'
O recesso para almoço foi anunciado depois de uma manhã de explanações da promotoria. A promotora Eliane Gaia falou por pouco mais de duas horas. Ela destacou a crueldade do trio ao cometer o crime e a frieza na execução. "Nunca tínhamos visto um caso de canibalismo", disse logo no começo da explanação, apontando ainda a frieza de Jorge Beltrão, "esse olhar que não muda nunca".
Eliane Gaia usou toda a manhã para argumentar contra os réus (Foto: Katherine Coutinho/G1)Eliane Gaia usou toda a manhã para argumentar contra os réus 
               
 A promotora defendeu ainda a falta de lógica da seita Cartel, da qual os acusados diziam fazer parte. Para ela, isso serviu apenas como desculpa para a tese da insanidade. "Obviamente eles estavam obedecendo a um ritual que não tinha lógica, você se alimentar de uma pessoa impura para se purificar. Foi disso que Jorge se aproveitou, dizendo 'sou louco, sou louco, sou louco'. A justiça você não vai conseguir manipular", falou. Durante a explanação da promotora, Bruna riu, fazendo Eliane Gaia chamá-la de "Canibal Feliz".
           

Foi exibido um vídeo, sem áudio, da fase de depoimentos. "Você vê dona Isabel ali, nervosa, e ele sempre essa parede. (...) Olha a cara de preocupação,  nenhuma, simplesmente indecente, pervertido, frio calculista, incapaz de sentir pena, é isso que Jorge é, a Bruna e Isabel também", disse a promotora. 

Na conclusão, ela relembrou o livro escrito Jorge que descrevia os crimes e leu trechos em que ele detalhava os homicídios. "Ele aqui diz que planejou, 'plano macabro de destruir a adolescente maldita'. Como pode ser louco?" Cada um tem a sua verdade. Eles mataram porque acreditavam que estavam fazendo a coisa certa", pontuou.

Segundo dia
Jorge Beltrão foi o primeiro dos réus a chegar ao Fórum neste segundo dia, por volta das 9h. Às 9h30 chegaram as outras duas rés, Isabel Cristina e Bruna Cristina. Antes do julgamento começar, Bruna mostrou um papel a Jorge. Isabel estava chorosa e parecia bastante nervosa.
Jorge Beltrão Negromonte da Silveira chega ao Fórum de Olinda para o segundo dia do júri (Foto: Katherine Coutinho/G1)Jorge Beltrão Negromonte da Silveira chega ao Fórum de Olinda para o segundo dia do júri (Foto: Katherine Coutinho/G1)


Primeiro dia
A sessão teve início na quinta-feira (13), e os três trocaram acusações entre si durante os depoimentos. Eles contaram detalhes macabros da ação e uma das rés, Bruna Cristina, disse que “Jogos Mortais perdia” ao descrever o assassinato de Jéssica. A mulher afirmou que chegou a comer a carne da vítima por causa do ritual.
               

 Entenda o caso
O inquérito relata que Jéssica Pereira era moradora de rua, tinha 17 anos, uma filha de um ano e aceitou viver com os acusados. Eles planejaram ficar com a criança depois de matar a mãe. EmGaranhuns, as vítimas foram Giselly Helena da Silva, 31 anos, e Alexandra Falcão da Silva, 20 anos, mortas, respectivamente, em fevereiro e março de 2012.


Os acusados afirmam fazer parte da seita Cartel, que visa a purificação do mundo e o controle populacional. A ingestão da carne faria parte do processo de purificação. O caso veio a público depois que parentes de Giselly Helena da Silva denunciaram o seu desaparecimento. Os acusados usaram o cartão de crédito da vítima em lojas de Garanhuns e foram rastreados pela polícia.

Uma publicação contendo os detalhes dos crimes - registrada em cartório - foi encontrada na casa dos réus. Para a Polícia Civil de Pernambuco, não há possibilidade de outras mortes terem sido praticadas pelo trio no estado.

   http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/11/juri-dos-canibais-e-retomado-em-olinda-com-depoimentos-da-defesa.html

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