domingo, 9 de fevereiro de 2025

O livro escrito com IA que deixa profissionais criativos 'aterrorizados'

 

A jornalista da BBC Zoe Kleinman ganhou de presente de Natal seu próprio livro, escrito por inteligência artificial

  • Zoe Kleinman
  • Role,Editora de tecnologia da BBC News
  • Twitter,

Recebi de uma amiga no Natal um presente bastante curioso: meu próprio best-seller.

Tech-Splaining for Dummies (algo como "Explicando a Tecnologia para Leigos", em tradução livre) traz meu nome e minha foto na capa, além do ótimo título e elogiosas resenhas.

Mas ele foi inteiramente escrito por inteligência artificial (IA), baseado em algumas informações simples sobre mim, fornecidas pela minha amiga Janet.

A leitura é interessante e inclui algumas partes muito engraçadas.

Mas o texto também inclui muitos rodeios. Ele parece uma mistura de um livro de autoajuda e uma série de episódios curiosos.

O livro imita meu estilo tagarela de escrever, mas também é um pouco repetitivo e muito prolixo.

A IA pode ter ido além das informações de Janet e coletado outros dados sobre mim.

Diversas frases começam com "como uma das principais jornalistas especializadas em tecnologia..." Pobre de mim! Aquilo pode ter sido copiado de alguma biografia online.

O livro também inclui repetidamente uma misteriosa alucinação sobre meu gato (na verdade, não tenho animais de estimação). E quase todas as páginas trazem uma metáfora — algumas são mais aleatórias do que outras.

Dezenas de empresas online oferecem serviços de redação de livros com IA. Meu livro veio da BookByAnyone.

Entrei em contato com o CEO (diretor-executivo) da empresa, Adir Mashiach, que vive em Israel.

Ele conta que já vendeu cerca de 150 mil livros personalizados, principalmente para os Estados Unidos, desde junho de 2024. Até então, ele compilava guias de viagem gerados por IA.

Uma cópia impressa do seu próprio best-seller com 240 páginas custa 26 libras (cerca de R$ 188). A empresa usa ferramentas próprias de IA para gerar os livros, baseados em um grande modelo de linguagem de código aberto.

Não vou pedir a você que compre meu livro. Na verdade, você não pode. Apenas Janet, sua criadora, pode encomendar outras cópias.

Atualmente, não existem limitações para que qualquer pessoa possa criar um livro em nome de alguém, incluindo celebridades — embora Mashiach afirme que existam proteções contra conteúdos abusivos.

Todos os livros contêm um aviso impresso, para esclarecer que aquela é uma obra de ficção, criada por IA, projetada "apenas para trazer humor e alegria".

Legalmente, os direitos autorais pertencem à empresa, mas Mashiach destaca que o produto pretende ser um "presente engraçado personalizado" e os livros não são vendidos para outros clientes.

Ele espera ampliar a oferta, ao gerar outros gêneros, como ficção científica e, talvez, um serviço autobiográfico.

A ideia é ser uma forma irreverente de IA de consumo, ao vender produtos gerados pelas máquinas para clientes humanos.

Mas ela também serve para deixar aterrorizadas pessoas como eu, que escrevem para viver.

Até porque o livro provavelmente levou menos de um minuto para ser produzido e, em algumas partes, certamente soa muito parecido comigo mesma.

Os cantores Drake e The Weeknd

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Uma canção criada por inteligência artificial utilizou as vozes dos cantores Drake e The Weeknd sem autorização

Músicos, escritores, artistas e atores de todo o mundo já manifestaram preocupação com o uso do seu trabalho para treinar ferramentas de IA generativa, destinadas a produzir conteúdos similares criados por eles próprios.

"Devemos falar abertamente — quando falamos sobre dados, aqui, na verdade queremos dizer trabalhos da vida de criadores humanos", destaca Ed Newton-Rex, fundador da organização Fairly Trained, que defende o respeito aos direitos autorais pelas empresas de inteligência artificial.

"São livros, artigos, fotos, obras de arte, discos... O principal objetivo do treinamento da IA é aprender como fazer alguma coisa e, depois fazer mais daquilo."

Em 2023, uma canção com as vozes dos cantores canadenses Drake e The Weeknd, geradas por IA, viralizou nas redes sociais até ser retirada das plataformas de streaming. Ela não foi criada por eles, nem tinha o consentimento dos artistas.

Mas a medida não impediu que o criador da faixa tentasse obter uma indicação para um prêmio Grammy. E, mesmo com os artistas falsos, a música continuou a ser extremamente popular.

"Não acho que deva ser proibido o uso de IA generativa para fins criativos, mas acredito que a IA generativa para estes propósitos que tenha sido treinada com base no trabalho das pessoas sem uma permissão deveria ser proibida", destaca Newton-Rex.

"A IA pode ser muito poderosa, mas vamos construí-la de forma ética e justa."

Algumas organizações do Reino Unido — incluindo a BBC — decidiram proibir os desenvolvedores de IA de coletar seu conteúdo online para fins de treinamento.

Outras preferiram colaborar. O jornal Financial Times, por exemplo, firmou parceria com a OpenAI, criadora do ChatGPT.

O governo britânico estuda reformular a legislação em voga, para permitir que os desenvolvedores de IA façam uso do conteúdo de criadores na internet para ajudar a treinar seus modelos, a menos que os donos dos direitos autorais decidam o contrário.

Ed Newton-Rex qualifica esta medida de "insanidade".

Ele destaca que a IA pode fazer avanços em áreas como a defesaassistência médica e logística, sem se apropriar do trabalho de artistas, escritores e jornalistas.

"Tudo isso funciona automaticamente, sem alterar as leis de direitos autorais e sem destruir o sustento das pessoas criativas do país", defende ele.

A baronesa Beeban Kidron, membro independente da Câmara dos Lordes (a câmara alta do parlamento britânico), também é totalmente contrária à não aplicação da lei de direitos autorais para a inteligência artificial.

"As indústrias criativas são criadoras de riqueza, responsáveis por 2,4 milhões de empregos e muita alegria", declarou ela.

"O governo está prejudicando uma das suas indústrias mais ativas com base em uma vaga promessa de crescimento."

Kidron também atua como consultora do Instituto para a Ética em IA, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Um porta-voz do governo britânico declarou que "não será tomada nenhuma medida até que haja total confiança de que temos um plano prático que atenda a todos os nossos objetivos: aumentar o controle para os donos de direitos autorais e ajudá-los a licenciar seu conteúdo, oferecer acesso a material de alta qualidade para treinar os principais modelos de IA do Reino Unido e criar maior transparência para os donos de direitos autorais, por parte dos desenvolvedores de IA".

Segundo o novo plano de IA do governo britânico, será disponibilizada uma biblioteca nacional de dados, com dados públicos de uma ampla variedade de fontes, para os pesquisadores da inteligência artificial.

Capa do livro que foi escrito por IA
Legenda da foto,A empresa fornecedora do livro criado por inteligência artificial afirma que o único objetivo do projeto é criar produtos personalizados para 'trazer humor e alegria'

Nos Estados Unidos, o futuro das normas federais de controle da IA, no momento, é incerto, após o retorno de Donald Trump à presidência do país.

Em 2023, o ex-presidente Joe Biden assinou uma ordem executiva, destinada a ampliar a segurança da inteligência artificial.

Entre outros pontos, as empresas do setor foram obrigadas a informar ao governo americano os detalhes dos trabalhos dos seus sistemas antes da publicação.

Mas Trump revogou esta medida e ainda não está claro o que ele irá fazer para substituí-la. O que se afirma é que Trump deseja menos regulamentação para o setor de IA.

Esta incerteza surge em um momento em que existem diversas ações judiciais contra as empresas de inteligência artificial, particularmente a OpenAI.

Elas vêm de diversas partes, como o jornal The New York Times, escritores, gravadoras e até um comediante.

Eles defendem que as empresas de IA desrespeitaram a lei quando retiraram seu conteúdo da internet sem autorização e o usaram para treinar seus sistemas.

As empresas de IA argumentam que suas ações se enquadram dentro do conceito de fair use (uso aceitável) e, portanto, são legais.

Existem diversos fatores que podem constituir fair use e não há uma definição precisa. Mas o setor de inteligência artificial está sob vigilância cada vez maior em relação à forma de coleta dos dados de treinamento — e se as empresas deveriam pagar por esses dados.

E, como se tudo isso já não bastasse, veio a empresa chinesa de IA DeepSeek e abalou completamente o setor no final de janeiro. Seu aplicativo passou a ser o mais baixado da loja americana da Apple.

A DeepSeek declarou que desenvolveu sua tecnologia com uma fração do investimento usado pelas ferramentas semelhantes da OpenAI. Seu sucesso gerou preocupações de segurança nos Estados Unidos e temores sobre a atual dominação americana do setor.

Quanto a mim e à minha carreira de escritora, acho que, no momento, se eu realmente quisesse ter um best-seller, precisaria escrevê-lo eu mesma.

De qualquer forma, Tech-Splaining for Dummies destaca a fraqueza atual das ferramentas de IA generativa para projetos maiores.

O livro é repleto de imprecisões e alucinações — e sua leitura pode ser bastante difícil em alguns trechos, já que ele é muito prolixo.

Mas, considerando a rapidez da evolução tecnológica, não sei ao certo por quanto tempo posso manter a confiança de que meus conhecimentos humanos de redação e edição, mesmo que consideravelmente mais lentos, ainda são melhores do que a inteligência artificial.


O metal raro e essencial para o seu celular que está por trás de sangrenta guerra na África

 

O M23 é suspeito de usar o dinheiro que arrecada com o controle das minas de coltan para pagar guerrilheiros e financiar armas
  • Author,Redação
  • Role,BBC News Mundo

É muito provável que dentro do seu celular haja uma pequena quantidade de um metal que começou sua jornada enterrado no subsolo do leste da República Democrática do Congo, onde atualmente está sendo travada uma guerra brutal.

É possível, inclusive, que esteja diretamente ligado ao grupo rebelde M23, que foi destaque no noticiário do mundo todo.

O tântalo presente no seu dispositivo tem menos da metade do peso de uma ervilha, mas é essencial para a operação eficiente de um smartphone — e de quase todos os outros dispositivos eletrônicos sofisticados.

As propriedades únicas deste metal raro, azul-acinzentado e brilhante, como a capacidade de manter uma carga alta em comparação com seu tamanho e operar em diferentes temperaturas, fazem dele um material ideal para capacitores minúsculos que armazenam energia temporariamente.

Ele também é extraído em Ruanda, no Brasil e na Nigéria, mas pelo menos 40% — e talvez mais — do fornecimento mundial deste metal vem da República Democrática do Congo, e algumas das principais áreas de mineração estão agora sob o controle do M23.

Esta milícia é liderada por membros da etnia tutsi, vítimas do genocídio ruandês de 1994, que afirmam ter pegado em armas para proteger os direitos desta minoria.

A atual onda de combates vem ocorrendo há meses, mas os rebeldes ganharam os holofotes com o ataque no dia 2 de fevereiro a Goma, um importante centro comercial e de transporte. A cidade, que faz fronteira com Ruanda e tem uma população de um milhão de habitantes, é um centro regional para o setor de mineração.

Os confrontos entre a milícia e as forças do governo deixaram um cenário de horror, com milhares de mortos e corpos espalhados pelas ruas.

O caos que tomou conta da cidade quando ela foi tomada pelo M23 levou a uma fuga em massa da prisão de Munzenze, na qual mais de 100 mulheres foram estupradas na ala feminina da prisão e, posteriormente, queimadas vivas quando a prisão foi incendiada, de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

No último ano, o M23 avançou rapidamente pelo leste da República Democrática do Congo, uma área rica em minerais, ocupando territórios onde é extraído coltan, o minério do qual é extraído o tântalo.

Assim como muitos outros grupos armados que operam na região, o M23, criado em 2012, começou defendendo os direitos de um grupo étnico que se considerava ameaçado. Mas, à medida que seu território se expandiu, a mineração se tornou uma fonte crucial de renda para pagar combatentes e armas.

De acordo com a ONU e grupos como o International Crisis Group, Ruanda apoia os milicianos do M23, oferecendo treinamento e armamento sofisticado, além de soldados em campo.

"Não há dúvida de que há tropas ruandesas em Goma apoiando o M23", disse o chefe das forças de manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix.

Em abril do ano passado, o M23 tomou Rubaya, uma cidade localizada no coração do setor de coltan do país.

A extração de minerais nesta região não está nas mãos de conglomerados multinacionais — milhares de pessoas trabalham nas minas a céu aberto que se estendem pelo território, ou no subsolo, em condições extremamente inseguras e insalubres.

Vista aérea de uma mina de coltan

Crédito,Monusco

Legenda da foto,A exploração de uma mina de coltan, em Rubaya, em 2014

Elas fazem parte de uma complexa rede informal que extrai rochas do solo com pás, leva para a superfície, tritura, lava, brita, vende e exporta para posterior purificação e fundição.

Quando o M23 se instalou em Rubaya, os rebeldes estabeleceram o que um grupo de especialistas da ONU descreveu como uma "administração semelhante à do Estado", emitindo licenças para mineradores e comerciantes e exigindo uma taxa anual de US$ 25 e US$ 250, respectivamente. O M23 dobrou o salário dos mineradores para garantir que eles continuassem trabalhando.

O grupo administra a área como um monopólio e garante — com a ameaça de prisões e detenções — que somente os comerciantes autorizados tenham permissão para exercer a atividade.

O M23 também cobra uma taxa de US$ 7 por quilo de coltan. O grupo de especialistas da ONU estimou que, como resultado, o M23 recebe cerca de US$ 800 mil por mês de impostos sobre o coltan em Rubaya. É quase certo que esse dinheiro seja usado para financiar a rebelião.

Há um ponto de interrogação sobre como o minério extraído das áreas controladas pelo M23 entra na cadeia de suprimentos global.

A vizinha Ruanda, que se acredita apoiar o M23, está no centro da resposta, segundo especialistas da ONU.

Em teoria, um sistema de rastreabilidade — conhecido como Iniciativa Internacional da Cadeia de Suprimentos de Estanho (ITSCI, na sigla em inglês) — deve garantir que o metal que é usado na fabricação de celulares e outros eletrônicos seja proveniente de fontes responsáveis e evite o financiamento de conflitos e violações de direitos humanos.

Civis com celulares em Goma

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Goma, cidade que faz fronteira com Ruanda, é um centro regional para o setor de mineração

A Lei Dodd-Frank dos EUA, aprovada em 2010, e uma regra semelhante na União Europeia visam garantir que as empresas que compram estanho, tântalo, tungstênio e ouro — os chamados "minerais de conflito"— não financiem inadvertidamente a violência.

Mas a rastreabilidade não é simples, e a ITSCI tem sido alvo de algumas críticas. A natureza dispersa das pequenas minas torna difícil para as autoridades locais monitorá-las com precisão e, de acordo com Ken Matthysen, especialista em segurança e gerenciamento de recursos do grupo de pesquisa independente IPIS, há um problema de corrupção.

A ITSI disse à BBC que cobre 3 mil minas, e que essas comunidades remotas se beneficiaram do seu apoio.

No caso de Rubaya, a ITSCI suspendeu suas operações na região logo após a entrada do M23 na cidade, mas o grupo conseguiu continuar exportando coltan por meio de Ruanda, de acordo com especialistas da ONU.

Ruanda tem suas próprias minas de coltan, mas especialistas afirmam que o minério não certificado é misturado à produção ruandesa, causando "contaminação significativa das cadeias de suprimentos".

"Grande parte do comércio destes minerais passava pela área controlada pelo M23 em direção a Ruanda. Portanto, mesmo naquela época, Ruanda estava se beneficiando da instabilidade no leste da República Democrática do Congo, e vimos que os volumes de exportação para Ruanda já estavam aumentando", disse à BBC.

Mineiros com pás

Crédito,AFP

Legenda da foto,O M23 aumentou os salários dos mineiros em Rubaya, mas garantiu o monopólio do comércio de coltan

Os dados do Serviço Geológico dos EUA mostram que as exportações de coltan de Ruanda aumentaram 50% entre 2022 e 2023. Matthysen afirmou que não é possível que tudo isso venha de Ruanda.

A porta-voz do governo de Ruanda, Yolande Makolo, reiterou à BBC que havia minerais e capacidade de refino em seu país, e que era cínico "pegar o que está acontecendo no leste da República Democrática do Congo, onde uma comunidade perseguida está lutando por seus direitos... e transformar em uma questão de ganho material".

O presidente de Ruanda, Paul Kagame, também rejeitou os relatórios dos especialistas da ONU, desdenhando do seu "profissionalismo".

Grande parte do leste da República Democrática do Congo está em conflito há muitos anos, o que levanta questões sobre quem se beneficiou, e se os grupos armados estão lucrando com o que está sendo extraído da terra.

Para ilustrar o problema e sua relação com a indústria de smartphones, o governo congolês entrou com processos criminais na França e na Bélgica no fim do ano passado contra subsidiárias da gigante da tecnologia Apple, acusando-as de usar "minerais de conflito".

A Apple contestou a alegação, afirmando que, desde o início de 2024, devido à escalada do conflito e dificuldades de certificação, ela parou de adquirir tântalo, entre outros metais, tanto da República Democrática do Congo quanto de Ruanda.

Outras empresas não foram tão claras, o que significa que, à medida que o M23 conquistar mais território, esses pequenos fragmentos de tântalo das minas que eles controlam podem continuar chegando aos dispositivos nos quais passamos a confiar.

*Com reportagem de Damian Zane.


sábado, 25 de janeiro de 2025

Uma novidade para vocês...


 Há alguns meses venho lendo, pesquisando, estudando sobre o "Haicai". Tenho, inclusive, vários já produzidos e alguns publicados. Também já participei de Concursos no Brasil, e ultimamente num Internacional.

"Haicai ou Haiku é conhecido como o menor poema do mundo. De origem japonesa, o haicai é composto por apenas três versos curtos, nos quais se conta uma história.

"Seu nome deriva de dois termos: “hai” - brincadeira - e “kai” - harmonia. Acredita-se que o haicai seja um desdobramento do waka - gênero poético que surgiu no Japão."

A simplicidade é um elemento fundamental de um haicai, cujas palavras difíceis e abstratas não fazem parte da sua proposta poética. Nesse estilo de texto, os temas mais explorados são referentes ao cotidiano e à natureza. A forma direta, objetiva e divertida do haicai se tornou popular em diversos países, ganhando contornos rítmicos e temáticos específicos de acordo com cada lugar."


Foto do Jornal "Nippon Já", 
"Concurso Haicai Brasileiro"
Meu haicai classificado/escolhido pela banca de renomados hacaístas, foi:

brisa marinha
agradável companhia-
mar de primavera

Fiquei bastante surpresa, mas também muito agradecida ao Jornal... e ao grupo "Chá das Cinco" (WhatsApp) inclusive aos mestres hacaístas Maurício de Oliveira e Vanice Zimerman, a eles sou muitíssimo agradecida pelas aulas e por todo incentivo. 

"Para fazer um haicai é preciso entender sua estrutura e características. Como mencionamos anteriormente, os haicais são poemas objetivos, que apresentam uma linguagem simples e podem ou não ter um esquema de rimas e títulos. 


Somado a isso, para fazer um haicai é preciso obedecer à regra de sua estrutura. Ele é composto por três versos formados por 17 sílabas poéticas, no qual o primeiro verso tem cinco sílabas poéticas, o segundo tem sete e o terceiro tem cinco.


Contudo, o haicai pode apresentar formas modificadas em alguns países, visto que alguns escritores não seguem o padrão tradicional de sílabas, trazendo um poema com silabação livre, geralmente com dois versos mais curtos e um mais longo".


Em outra postagem trarei mais informações a respeito deste estilo poético: Haicai/Haikai: menor poema do mundo.


Gratidão pela atenção!

Beijos com poesia.

Graça e paz... sempre!!

Aparecida Ramos


Os hospitais psiquiátricos na China usados para silenciar quem critica o governo

 Zhang Junjie

Legenda da foto,Zhang Junjie segurou um pedaço de papel em branco para simbolizar a censura — e foi enviado para um hospital psiquiátrico
  • Nyima Pratten
  • Role,BBC Eye Investigations

Quando Zhang Junjie tinha 17 anos, ele decidiu protestar do lado de fora da sua universidade contra as regras estabelecidas pelo governo da China. Em poucos dias, ele foi internado em um hospital psiquiátrico para tratamento de esquizofrenia.

Junjie é uma das dezenas de pessoas identificadas pela BBC que foram internadas depois de protestar ou reclamar com as autoridades.

Muitas pessoas com quem conversamos receberam medicamentos antipsicóticos e, em alguns casos, eletroconvulsoterapia (ECT), sem seu consentimento.

Há décadas, há notícias de que a hospitalização estava sendo usada na China como uma forma de deter cidadãos dissidentes sem envolver os tribunais. No entanto, a BBC descobriu que um problema que a legislação procurou resolver voltou à tona recentemente.

Junjie diz que foi contido e agredido pela equipe do hospital antes de ser forçado a tomar medicamentos.

Sua provação começou em 2022, depois que ele protestou contra as duras políticas de lockdown da China em decorrência da pandemia de covid-19. Ele diz que seus professores o identificaram depois de apenas cinco minutos, e entraram em contato com seu pai, que o levou de volta para a casa da família. Ele conta que seu pai chamou a polícia e, no dia seguinte — em seu aniversário de 18 anos —, dois homens o levaram para o que eles diziam ser um centro de testes de covid-19, mas que, na verdade, era um hospital.

"Os médicos me disseram que eu tinha um transtorno mental muito grave... Depois me amarraram em uma cama. Os enfermeiros e os médicos me disseram repetidamente que, por causa das minhas opiniões sobre o partido e o governo, eu devia estar mentalmente doente. Foi aterrorizante", disse ele ao Serviço Mundial da BBC. Ele ficou lá por 12 dias.

Junjie acredita que seu pai se sentiu forçado a entregá-lo às autoridades porque ele trabalhava para o governo local.

Pouco mais de um mês depois de receber alta, Junjie foi preso novamente. Desafiando a proibição de fogos de artifício no Ano Novo Chinês (medida adotada para combater a poluição do ar), ele fez um vídeo de si mesmo soltando fogos. Alguém fez o upload do vídeo online, e a polícia conseguiu vinculá-lo a Junjie.

Junjie com expressão de angústia
Legenda da foto,Junjie, que agora mora na Nova Zelândia, ficou arrasado com a experiência

Ele foi acusado de "provocar brigas e criar problemas", acusação frequentemente usada para silenciar as críticas ao governo chinês. Junjie diz que foi internado à força novamente por mais de dois meses.

Após receber alta, Junjie recebeu uma receita para medicamentos antipsicóticos. Vimos a receita — era de Aripiprazol, usado para tratar esquizofrenia e transtorno bipolar.

"Tomar o medicamento me fazia sentir como se meu cérebro estivesse uma bagunça", diz ele, acrescentando que a polícia ia à sua casa para verificar se ele havia tomado o remédio.

Temendo uma terceira internação, Junjie decidiu deixar a China. Ele disse aos pais que estava voltando para a universidade para arrumar seu quarto — mas, na verdade, ele fugiu para a Nova Zelândia.

Ele não se despediu da família nem dos amigos.

Junjie é uma das 59 pessoas que a BBC confirmou — seja conversando com elas ou com seus parentes, seja consultando documentos judiciais — que foram internadas por motivos de saúde mental depois de protestar ou desafiar as autoridades.

A questão foi reconhecida pelo governo da China — a Lei de Saúde Mental do país, de 2013, teve como objetivo impedir esse abuso, tornando ilegal o tratamento de alguém que não esteja mentalmente doente. Também declara explicitamente que a internação psiquiátrica deve ser voluntária, a menos que o paciente represente um perigo para si mesmo ou para os outros.

De fato, o número de pessoas detidas em hospitais de saúde mental contra a vontade aumentou recentemente, disse um renomado advogado chinês ao Serviço Mundial da BBC. Huang Xuetao, que participou da elaboração da lei, culpa o enfraquecimento da sociedade civil e a falta de freios e contrapesos.

"Já me deparei com muitos casos como este. A polícia quer poder, mas evita a responsabilidade", diz ele.

"Qualquer pessoa que conheça as deficiências deste sistema pode abusar dele."

Um ativista chamado Jie Lijian nos contou que recebeu tratamento para um transtorno mental sem seu consentimento em 2018.

Jie Lijian
Legenda da foto,Jie Lijian tentou processar a polícia para alterar seu histórico de saúde

Lijian diz que foi detido por participar de um protesto exigindo melhores salários em uma fábrica. Ele afirma que a polícia o interrogou por três dias antes de levá-lo a um hospital psiquiátrico.

Assim como Junjie, Lijian conta que receitaram medicamentos antipsicóticos para ele, que prejudicaram seu pensamento crítico.

Após uma semana internado, ele diz que recusou mais medicamentos. Depois de brigar com a equipe e ser informado de que estava causando problemas, Lijian foi enviado para a eletroconvulsoterapia — terapia que envolve a passagem de correntes elétricas pelo cérebro do paciente.

"A dor era da cabeça aos pés. Meu corpo inteiro parecia que não era meu. Foi muito doloroso. Choque elétrico ligado. Depois, desligado. Choque elétrico ligado. Depois, desligado. Desmaiei várias vezes. Achei que estava morrendo", revela.

Ele afirma que recebeu alta depois de 52 dias. Agora, ele tem um emprego de meio período em Los Angeles, nos EUA, e está buscando asilo no país.

Em 2019, um ano após Lijian dizer que foi internado, a Associação Médica Chinesa atualizou suas diretrizes de ECT, afirmando que a terapia só deve ser administrada com consentimento e sob anestesia geral.

Queríamos saber mais sobre o envolvimento dos médicos nesses casos.

Falar com a imprensa estrangeira, como a BBC, sem permissão poderia colocá-los em apuros, portanto, nossa única opção era nos disfarçar.

Marcamos consultas telefônicas com médicos que trabalham em quatro hospitais que, de acordo com nossas evidências, estão envolvidos em internações forçadas.

Usamos uma história inventada sobre um parente que havia sido hospitalizado por postar comentários contra o governo na internet — e perguntamos a cinco médicos se eles já haviam se deparado com casos de pacientes enviados pela polícia.

Quatro confirmaram que sim.

"O departamento de psiquiatria tem um tipo de internação chamado de 'encrenqueiros'", nos contou um médico.

Outro médico, do hospital onde Junjie foi internado, parece confirmar sua história de que a polícia continua a vigiar os pacientes após receber alta.

"A polícia vai verificar você em casa para garantir que você tome seu remédio. Se você não tomar, pode infringir a lei novamente", ele disse.

Entramos em contato com o hospital em questão para comentar o assunto, mas eles não responderam.

Tivemos acesso aos prontuários médicos do ativista pela democracia Song Zaimin, internado pela quinta vez no ano passado, o que deixa claro como as opiniões políticas parecem estar intimamente ligadas a um diagnóstico psiquiátrico.

"Hoje, ele estava... falando muito, falando incoerentemente e criticando o Partido Comunista. Portanto, ele foi enviado ao nosso hospital para tratamento hospitalar pela polícia, pelos médicos e pelo comitê de moradores locais. Esta foi uma internação involuntária", diz o documento.

Trecho de um prontuário médico, em chinês, com algumas partes apagadas por motivos de privacidade

Pedimos a Thomas G. Schulze, presidente eleito da Associação Mundial de Psiquiatria, que analisasse estas anotações. Ele respondeu:

"Pelo que está descrito aqui, ninguém deveria ser internado involuntariamente e tratado contra sua vontade. Isso cheira a abuso político."

Entre 2013 e 2017, mais de 200 pessoas relataram que haviam sido internadas injustamente pelas autoridades, de acordo com um grupo de jornalistas cidadãos na China que documentou abusos da Lei de Saúde Mental.

Suas reportagens terminaram em 2017, porque o fundador do grupo foi detido e posteriormente preso.

Para as vítimas que buscam justiça, o sistema jurídico parece estar contra elas.

Um homem que vamos chamar de Li, que foi internado em 2023 após protestar contra a polícia local, tentou entrar com um processo judicial contra as autoridades por seu encarceramento.

Diferentemente de Junjie, os médicos disseram a Li que ele não estava doente, mas a polícia contratou um psiquiatra externo para avaliá-lo, que o diagnosticou com transtorno bipolar, e ele foi mantido lá por 45 dias.

Após ser liberado, ele decidiu contestar o diagnóstico.

"Se eu não processar a polícia, é como se eu aceitasse estar mentalmente doente. Isso vai ter um grande impacto no meu futuro e na minha liberdade, porque a polícia pode usar isso como motivo para me prender a qualquer momento", diz ele.

Na China, os prontuários de qualquer pessoa diagnosticada com um transtorno grave de saúde mental podem ser compartilhados com a polícia — e até mesmo com os comitês de moradores locais.

Mas Li não foi bem-sucedido — os tribunais rejeitaram seu recurso.

"Ouvimos nossos líderes falarem sobre o Estado de direito", ele nos disse. "Nunca sonhamos que um dia poderíamos ser trancados em um hospital psiquiátrico."

A BBC encontrou 112 pessoas listadas no site oficial de decisões judiciais chinesas que, entre 2013 e 2024, tentaram entrar com processos contra a polícia, governos locais ou hospitais por esse tipo de tratamento.

Cerca de 40% dos autores dos processos estavam envolvidos em reclamações contra as autoridades. Apenas dois ganharam seus casos.

E o site parece ser censurado — cinco outros casos que investigamos não constam no banco de dados.

A questão é que a polícia desfruta de "considerável poder discricionário" para lidar com "encrenqueiros", de acordo com Nicola MacBean, da The Rights Practice, uma organização de direitos humanos de Londres.

"Enviar alguém para um hospital psiquiátrico, contornando os procedimentos, é uma ferramenta muito fácil e muito útil para as autoridades locais."

Li Yixue

Crédito,Mídias sociais na China

Legenda da foto,As postagens da vlogger Li Yixue sobre ser internada depois de acusar a polícia de agressão sexual viralizaram recentemente na China

As atenções agora estão voltadas para o destino da vlogger Li Yixue, que acusou um policial de agressão sexual. Diz-se que Yixue foi internada recentemente pela segunda vez depois que suas postagens nas redes sociais falando sobre a experiência se tornaram virais. Há informações de que ela está agora sob vigilância em um hotel.

Apresentamos as conclusões da nossa investigação à embaixada chinesa no Reino Unido. Eles disseram que, no ano passado, o Partido Comunista Chinês "reafirmou" que precisa "melhorar os mecanismos" em torno da lei, que, segundo ele, "proíbe explicitamente a detenção ilegal e outros métodos para privar ou restringir ilegalmente a liberdade pessoal dos cidadãos".

*Reportagem adicional de Georgina Lam e Betty Knight

Postagem em Destaque

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