Não duvide. O inverno não irá atrapalhar. A Praça já foi escolhida. É a mesma onde nos vimos pela primeira vez... Primeira vez? Ah, esqueci amor, que nunca nos vimos. Por este motivo é que as palavras... ah, as palavras estarão tão ansiosas, talvez nem sairão, não passarão pelas cordas vocais. Nessa hora o silêncio falará por mim! E ficar te olhando sem dizer nada, sei que será maravilhoso! Esse momento se eternizará em nossas almas. Mas... e você o que irá me falar? Ficará também sem palavras? Talvez sim ou não... se tu existisses. Ao contrário de Caio, penso que sonhei demais. Aparecida Ramos (autora) www.isisdumont.prosaeverso.net
"eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada, um tempo enorme só olhando você sem dizer nada." Caio Fernando Abreu
Como o bullying no trabalho migrou para o ambiente remoto
Joyce trabalha no setor de comunicações de uma empresa no leste da Inglaterra. Ela demorou para identificar que estava sendo vítima de bullying no seu local de trabalho.
A maior parte do trabalho na companhia já era feito remotamente muito antes da pandemia e ela não se sentia atacada por colegas.
"Eu realmente não pensava nisso", afirma Joyce — cujo sobrenome é omitido por questão de privacidade. "Eu ainda tinha em mente a ideia tradicional do bullying como alguém me desrespeitando pessoalmente."
Até que, ao longo do tempo, aumentou a sensação de que a sua chefe (que tinha pouco tempo de empresa) a estava isolando constantemente e de formas desconfortáveis. "Era um e-mail em grupo em que eu dizia uma coisa e ela respondia com outra, ou ela começava a falar sobre mim em uma reunião no Zoom sem me avisar com antecedência", ela conta.
Isoladamente, muitos daqueles incidentes pareciam pequenos. Em um dia, a chefe mudava todas as senhas das redes sociais do trabalho e Joyce não tinha mais acesso às contas. Em outro, Joyce recebia um e-mail a repreendendo por "resistir" às ideias da chefia.
Os incidentes se acumulavam. E, mesmo depois de trabalhar na empresa há anos, seis meses foram suficientes para fazer com que Joyce deixasse de amar o seu trabalho e chegasse ao ponto de querer pedir demissão.
"Foi uma experiência traumática", ela conta. "Isso me abalou muito e fiquei muito triste."
É claro que o bullying é um problema no ambiente de trabalho há muito tempo. Ele engloba um amplo espectro de comportamento e é tipicamente associado ao trabalho presencial.
Um cenário conhecido ocorre quando um chefe dominador desvaloriza um funcionário em público para humilhá-lo ou quando um grupo sai do escritório para almoçar juntos, deixando deliberadamente um colega para trás.
Para alguns funcionários, o trabalho remoto forneceu alívio e distância da tensão diária de ter que lidar com esses incidentes. Mas ainda há evidências de que, à medida que as empresas adotam cada vez mais modelos de trabalho remoto e híbrido, o bullying no ambiente de trabalho não só permaneceu, mas desenvolveu-se, muitas vezes de formas mais sutis — especialmente porque a tecnologia abriu novos caminhos para a falta de gentileza.
Bullying remoto
O bullying remoto não é um fenômeno totalmente novo. Existem dados que indicam que ele já vinha crescendo antes mesmo da mudança generalizada para o trabalho remoto.
Um estudo de janeiro de 2020, conduzido pela associação de recursos humanos Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), com sede em Londres, demonstrou que 10% dos profissionais relatavam sofrer bullying por e-mail, telefone ou redes sociais.
"Nós já vínhamos observando casos de bullying acontecendo fora do ambiente físico de trabalho", afirma Rachel Suff, consultora de políticas sobre relações do trabalho do CIPD.
Por isso, a expansão do bullying remoto com a chegada da pandemia não foi surpreendente para Suff. Ela acredita que a enorme quantidade de canais digitais disponíveis "fornece mais caminhos para que as pessoas sofram bullying ou sintam que estão sendo tratadas de forma inadequada".
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Especialistas afirmam que as novas tecnologias abriram outros canais para o bullying
De fato, em muitos casos, esses novos caminhos deram início aos incidentes de bullying na era da pandemia.
Uma pesquisa da entidade americana Workplace Bullying Institute demonstrou em 2021 que, de 1.215 trabalhadores remotos americanos consultados, 43% relataram que foram objeto de bullying no ambiente de trabalho, a maior parte por chamadas de vídeo e por e-mail.
E um quarto dos participantes concluiu que o trabalho remoto durante a pandemia de covid-19 fez com que os colegas ficassem mais propensos a maltratar os demais.
Em 2022, o número de casos de bullying apresentados à Justiça do Trabalho do Reino Unido bateu o recorde anual de todos os tempos — um aumento de 44% em relação ao ano anterior.
Os incidentes mais comuns incluíram comentários maldosos durante chamadas de vídeo, exclusão deliberada de colegas em reuniões remotas e o uso de aplicativos de mensagens para fofocas durante apresentações de colegas.
No caso de Joyce, as ferramentas de colaboração digital possibilitaram parte do bullying que ela recebeu da sua chefe.
Uma noite, após o horário de trabalho, Joyce recebeu uma mensagem perguntando se ela poderia entrar em uma chamada de vídeo naquele momento. Na chamada, a chefe pediu que ela abrisse um novo e-mail que, para surpresa de Joyce, era uma advertência formal, por escrito, da sua chefe — que a leu em voz alta.
"Eu queria simplesmente sair da chamada", Joyce conta. "Por que ela precisava fazer aquilo de forma tão dramática e observar minha expressão?"
Por mais que se sentisse mal, dados do Workplace Bullying Institute indicam que Joyce foi poupada de parte da humilhação, já que somente ela e a sua chefe estavam na chamada.
Nas pesquisas do instituto, 35% dos participantes indicaram que seu bullying remoto aconteceu em chamadas de vídeo na frente de outras pessoas "em tempo real, com as expressões faciais sendo mais destacadas pela tecnologia".
O bullying remoto em frente aos colegas pode não só ser humilhante, mas também intensificar o sentimento de desconexão da equipe como um todo.
Presencialmente, os colegas podem intervir para interromper o bullying, demonstrando seu apoio pelo funcionário que é alvo da humilhação ou discordando do autor do bullying, segundo Kara Ng, professora de psicologia organizacional da Universidade de Manchester, no Reino Unido. Mas isso fica mais difícil em um ambiente virtual.
De fato, pela via remota, alguns colegas podem nem mesmo perceber o problema. "É muito mais difícil identificar o comportamento de bullying no ambiente de trabalho digital", afirma Priyanka Sharma, psicóloga organizacional e fundadora da consultoria de aprendizado do ambiente de trabalho Mindtrail, com sede em Londres.
"É muito mais fácil excluir alguém intencionalmente das reuniões importantes ou reter informações significativas e mais difícil perceber quando um colega está preocupado", afirma ela.
A falta de intervenção pode deixar o funcionário alvo com o sentimento de que seus colegas aprovam o comportamento de bullying, mesmo se não for o caso. E, depois que há um incidente, os ambientes de trabalho remotos oferecem menos oportunidade de conversas informais com os colegas para discutir o que aconteceu.
"Não ter a possibilidade de esclarecer socialmente a questão com alguém e compreender as normas do grupo pode ser muito prejudicial", afirma Ng. "Você acaba simplesmente se sentindo cada vez mais isolado."
Problema que se alastra
É possível que o isolamento do trabalho remoto possa também mudar a forma como os profissionais interpretam o comportamento dos seus colegas, aumentando sua propensão a sentir que estão sofrendo bullying.
Um estudo de 2017 com 1.100 trabalhadores remotos demonstrou que esses funcionários tinham maior possibilidade de relatar que seus colegas os isolaram, fizeram fofocas sobre eles pelas costas e até influenciaram outros contra eles enquanto trabalhavam em casa.
Eles também afirmaram que, quando surgia um conflito entre colegas, o trabalho remoto dificultava a sua resolução.
Sem as indicações físicas e o contexto da comunicação presencial, o trabalho remoto realmente abre espaço para diferentes leituras de mensagens que, às vezes, são simples.
"No contexto digital, muitas vezes nós precisamos interpretar o tom de voz, o que é difícil", afirma Sharma. "Por isso, as pessoas podem começar a questionar seu senso de pertencimento, se eles realmente estão sofrendo bullying e se é intencional."
Essa zona cinzenta pode ser preocupante para os profissionais, mas também fornece um "álibi" plausível para os próprios praticantes de bullying. Com isso, o mau tratamento, de baixo nível, pode aumentar.
Quando incidentes aparentemente pequenos, como comentários bruscos ou pequenos menosprezos, são ignorados, as consequências podem ser sérias para os funcionários individualmente e para a empresa como um todo.
"O terreno fértil para os tipos mais sérios de assédio e bullying é o comportamento inadequado de baixo nível, que muitas vezes poderia ser simplesmente eliminado", afirma Suff. "E, se o bullying não for combatido, é como uma ferida que se alastra. Ele nunca fica restrito aos indivíduos que foram sua fonte original."
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No escritório, os funcionários podem conversar com um colega para resolver um problema - o que é mais difícil no mundo do trabalho remoto
"É importante que o bullying não seja considerado apenas uma questão entre o seu autor e a vítima; é um problema coletivo", acrescenta Ng.
Estudos indicam que as pessoas que testemunham o bullying podem sofrer o mesmo impacto negativo sobre o seu bem-estar que as pessoas que sofrem o assédio.
"Isso realmente afeta a motivação do grupo. As pessoas podem ter medo de compartilhar suas opiniões, sentir-se mais estressadas e isso pode gerar queda do desempenho e do comprometimento, o que acaba afetando a companhia", explica Ng.
De forma geral, sabe-se que o bullying no ambiente de trabalho causa ansiedade, depressão e piora o desempenho profissional. E ainda "existem certas características do ciberbullying que o tornam mais prejudicial que o bullying presencial comum", segundo Ng.
"Especialmente a disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por semana, e a onipresença da tecnologia e das redes sociais. Antes, você podia sair do ambiente de trabalho e talvez sentir-se um pouco mais seguro, mas agora essa divisão não existe mais", afirma ela.
A solução do problema
Antes da pandemia, o grupo provavelmente mais responsável pelo bullying no ambiente de trabalho era o dos gerentes, que eram responsáveis por 40% dos incidentes, segundo o estudo do CIPD. E, em 2021, o Workplace Bullying Institute concluiu que o mesmo era válido para o trabalho remoto, com os gerentes responsáveis por 47% dos relatos de bullying.
Os chefes de todos os níveis detêm enorme influência sobre o comportamento relativo ao bullying em todas as organizações.
"Um dos principais pontos enfatizados pelas pesquisas é o papel do líder para modelar o que é o bom comportamento", afirma Ng. Sem um forte exemplo de liderança inclusiva, "os funcionários podem ter a sensação de que comportamentos de bullying podem passar impunes ou ser aceitáveis".
Além dos gerentes, é obrigação das empresas garantir que tenham estruturas estabelecidas para lidar com o bullying remoto, incluindo processos claros para que os funcionários relatem incidentes com a garantia de que eles serão adequadamente tratados — especialmente quando os gerentes são os responsáveis pelo bullying.
Isso exige abordagem proativa e, em muitos casos, compreensão mais profunda das formas sutis de manifestação do bullying remoto.
Para os funcionários remotos presos em ambientes de trabalho onde o bullying é um problema, uma opção é levar a questão para o RH, especialmente se for cometido por um chefe.
É preciso coragem para falar sobre o problema, mas Priyanka Sharma aconselha as pessoas a fazer isso o mais cedo possível, "para que os assuntos possam ser tratados com sentido de urgência, sem causar impacto ao seu bem-estar mental de longo prazo".
E as pessoas que denunciam o bullying no trabalho remoto podem também fazer algo que as vítimas presenciais muitas vezes não conseguem: fornecer provas como mensagens, e-mails e logs de chamadas.
"O bullying é um comportamento repetitivo e, se você puder mostrar que a experiência é frequente, você tem um argumento mais forte", afirma Kara Ng. "Uma das principais diferenças entre o ciberbullying e o bullying tradicional é que normalmente existe um rastro de provas."
A fuga 'milagrosa' de uma menina que foi sequestrada há 9 anos e conseguiu encontrar sua família
Pooja Gaud foi sequestrada por um casal do lado de fora de sua escola, na cidade indiana de Bombaim.
A mãe de Pooja havia perdido toda esperança de encontrar sua filha — Foto: BBC / Polícia de Bombay
Depois de nove longos anos, Pooja Gaud pode finalmente descansar no colo de sua mãe.
Pooja desapareceu em 22 de janeiro de 2013, quando tinha sete anos. Ela diz que um casal a pegou do lado de fora de sua escola na cidade de Mumbai, no estado indiano de Maharashtra, no oeste da Índia.
Em 4 de agosto, ela foi encontrada após o episódio que sua mãe descreve como "uma fuga milagrosa". Agora ela tem 16 anos.
"Perdi a esperança de encontrar minha filha. Mas os deuses foram gentis comigo", diz a mãe, Poonam Gaud.
A polícia alegou que a menina foi sequestrada por Harry D'Souza e sua esposa, Soni D'Souza, porque o casal não tinha filhos. Harry D'Souza foi preso.
Antes de desaparecer, Pooja morava com seus dois irmãos e seus pais em uma pequena casa em uma favela suburbana.
No dia em que ela desapareceu, ela tinha ido para a escola com seu irmão mais velho, mas eles brigaram e seu irmão entrou na escola e a deixou para trás porque estava atrasado. Foi quando o casal prometeu comprar um sorvete para ela e a levou embora.
Desde que Pooja voltou, seus vizinhos a visitam frequentemente.
Pooja diz que o casal inicialmente a levou para Goa e depois para Karnataka, estados no oeste e sul da Índia, e ameaçou machucá-la se ela chorasse ou chamasse atenção.
Ela diz que foi autorizada a frequentar a escola por um curto período de tempo. No entanto, depois que o casal teve um filho, eles a tiraram e todos se mudaram para Bombaim.
Pooja diz que o abuso piorou depois que o bebê nasceu.
"Eles me batiam com um cinto, me chutavam e davam socos. Uma vez me bateram com um rolo com tanta força que minhas costas começaram a sangrar. Também me obrigaram a fazer trabalhos domésticos e trabalhar de 12 a 24 horas fora de casa."
A casa onde moravam os sequestradores era perto da família de Pooja, mas ela não conhecia as estradas, estava sempre sendo vigiada, não tinha dinheiro nem telefone, e por isso, pedir ajuda era difícil.
Uma fuga milagrosa
Um dia, Pooja pegou o celular do casal enquanto eles dormiam e escreveu seu nome no YouTube. Ela encontrou vídeos e pôsteres mencionando seu sequestro e números para os quais ela poderia pedir ajuda.
"Foi quando decidi pedir ajuda e fugir", diz ela.
Mas levou sete meses para ela criar coragem para discutir o assunto com Pramila Devendra, 35, uma empregada doméstica que trabalhava na mesma casa onde Pooja trabalhava como babá.
Pramila Devendra tomou medidas imediatas para ajudar Pooja.
Devendra imediatamente concordou em ajudá-la. Um dos números no pôster desaparecido pertencia a Rafiq, um vizinho da mãe de Pooja. Primeiro, mãe e filha conversaram por videochamada e depois foi marcada uma reunião.
Sua mãe diz que procurou uma marca de nascença que só ela sabia que existia em sua filha e, ao encontrá-la, se encheu de emoção.
"Todas as minhas dúvidas desapareceram imediatamente. Eu sabia que havia encontrado minha filha", disse.
Devendra está feliz por ter feito parte dessa reunião. "Toda mãe deve ajudar uma criança que vem pedir ajuda. Podemos não ser suas mães biológicas, mas ainda somos mães."
Uma vez reunidos, Pooja, alguns parentes e Devendra foram à delegacia para registrar uma queixa.
"Contei tudo à polícia. Até contei onde moravam meus sequestradores", disse a adolescente.
Graças à sua história, a polícia conseguiu identificar e prender o acusado.
Milind Kurde, inspetor-chefe da delegacia de polícia DN Nagar de Mumbai, disse à BBC que vários casos foram registrados contra os acusados - de sequestro, ameaças, violência física e violação das leis de trabalho infantil.
O amor pode tudo
O retorno de Pooja para casa trouxe alegria não apenas para sua família, mas para todos que a conheciam. Os vizinhos que a viram quando ela era pequena agora vão visitá-la.
Enquanto isso, sua mãe está tentando recuperar o tempo perdido com sua filha cozinhando sua refeição favorita e penteando seu cabelo. A família tenta passar o máximo de tempo possível juntos, mas a vida no momento é difícil para eles.
A mãe de Pooja diz que a situação financeira de sua família é difícil.
O pai de Pooja, que era o único sustento da família, morreu por causa de um câncer há quatro meses. Então, sua mãe começou a vender sanduíches em uma estação de trem para sustentar seus três filhos. Mas os lucros são escassos e ela luta para sobreviver.
"Agora também tenho despesas legais. Nossa condição é tão precária que se eu faltar um dia de trabalho, não teremos dinheiro para comer no dia seguinte."
Pooja ainda está processando seu trauma. Ela tem pesadelos e se sente triste por nunca mais poder ver seu pai novamente. Para sua segurança, ela passa a maior parte do tempo em casa ou é acompanhada por um familiar quando sai.
"Quero ajudar minha mãe financeiramente, mas eles não me deixam. Também quero estudar", diz.
Apesar desses problemas, a mãe afirma que não poderia estar mais feliz. "O trabalho é exaustivo, mas cada vez que vejo Pooja, encontro forças novamente. Estou tão feliz que ela está de volta."
BRASIL- Celular explode enquanto criança assistia a vídeo, no Ceará
Segundo a mãe do menino, o aparelho não estava carregando no momento do acidente
O celular teve perda total e foi descartado pela família Reprodução/G1
Ceará- Um celular explodiu enquanto um menino de 6 anos assistia a um vídeo no aparelho, nesta terça-feira (16), em Quiterianópolis, interior do estado do Ceará. A criança, que tem diagnóstico de autismo, não sofreu ferimentos no acidente e passa bem.
Ao G1, a mãe do garoto, a professora Maria Eugênia, explicou que o filho, Bernardo, percebeu que o aparelho começou a soltar fumaça. Ela então retirou o menino de perto do celular, que começou a inchar e explodiu. O pai da criança chutou e jogou água no aparelho até que a fumaça parasse.
A Engenheira de Software, Louise Melo, alerta para os cuidados com o celular e como evitar que situações como esta ocorram. "As explosões são ocasionadas pelo superaquecimento do aparelho e quase sempre à bateria, então o principal é evitar a utilização de carregadores que não sejam homologados pela Anatel e nem utilizar o aparelho durante o carregamento", explica. De acordo com ela, também é bom evitar deixar o aparelho carregando sem supervisão, como por exemplo, ao sair de casa.
Segundo Maria Eugênia, o aparelho tinha apenas um ano de uso, e nunca havia tido problemas deste tipo. A mãe informou ainda que o celular não estava conectado ao carregador no momento do ocorrido. O aparelho teve perda total e foi descartado pela família.
Louise chamou atenção ainda para outros cuidados, como nãoo deixar o aparelho exposto à altas temperaturas; não utilizar "benjamins", se possível, pois podem aumentar a corrente elétrica, ocasionando superaquecimento; e informou que o ideal é fechar os aplicativos que não estejam sendo utilizados para não ficar em segundo plano, exigindo mais sobrecarga no aparelho.
O ar ao meu redor se enche de uma espécie de pó de diamante a cada respiração. Está frio, mas claro, nesta encosta da montanha, no meio do que é essencialmente um deserto ártico.
O ar extremamente seco e gelado transforma quase instantaneamente a névoa de umidade que sai da minha boca e nariz em minúsculos cristais de gelo cintilantes.
Estou logo abaixo do pico do Zeppelinfjellet, uma montanha de 556 metros na península Brøggerhalvøya, na costa da ilha de Spitsbergen, em Svalbard, o arquipélago norueguês no Oceano Ártico.
É o agrupamento de moradias permanentes mais ao norte do mundo, situado a cerca de 1.231 km do Polo Norte.uês no Oceano Ártico.
Abaixo de mim, está a cidade de Ny-Ålesund, um pequeno povoado com uma população de 45 habitantes em pleno inverno e até 150 no auge do verão.
Com a montanha se erguendo de um lado, e um fiorde do outro, é um lugar de tirar o fôlego.
É talvez também um dos melhores lugares do planeta para respirar — longe das principais fontes de poluição no ambiente quase intocado do Ártico, o ar aqui é puríssimo.
Os moradores da cidade são em grande parte cientistas que vêm até aqui justamente por este motivo.
Em 1989, uma estação de pesquisa foi construída no Zeppelinfjellet, a uma altitude de 472 metros, para ajudar os pesquisadores a monitorar a poluição atmosférica.
Mais recentemente, o Observatório Zeppelin, como a estação de pesquisa é chamada, se tornou um local crucial para medir os níveis de gases de efeito estufa que estão impulsionando as mudanças climáticas.
Mudanças à vista?
Mas também há sinais de que a qualidade do ar aqui pode estar mudando.
Às vezes, correntes atmosféricas levam ar da Europa e da América do Norte para esta parte de Svalbard, trazendo consigo a poluição destas regiões.
Não só os pesquisadores estão vendo os níveis de certos poluentes aumentar, como também há sinais de novos tipos de poluição sendo trazidos pelo vento que preocupam os cientistas.
"O Observatório Zeppelin está localizado em um ambiente remoto e intocado, longe das principais fontes de poluição", diz Ove Hermansen, cientista sênior do Observatório Zeppelin e do Instituto Norueguês de Pesquisa do Ar.
"Se você conseguir medir isso aqui, você já sabe que tem uma prevalência global. Este é um bom local para estudar as mudanças na atmosfera."
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Ny-Ålesund é o povoado civil mais setentrional do mundo
A pesquisa em Ny-Ålesund é parte crucial de um esforço internacional para mapear o impacto da humanidade na atmosfera.
As medições que eles fazem ajudam a "detectar a linha de base da poluição e calcular a tendência global ao longo do tempo", explica Hermansen.
Cinco dias por semana, um funcionário do Instituto Polar Norueguês sobe de teleférico até o observatório, onde realiza manutenção, coleta amostras do ar e troca os filtros do equipamento.
Devido à sua localização remota e altitude acima das camadas atmosféricas que podem capturar a pouca poluição produzida localmente pela cidade, o Observatório Zeppelin é o lugar ideal para ajudar a consolidar um panorama do que está acontecendo na atmosfera da Terra.
Os sensores do observatório medem não apenas gases de efeito estufa, como também componentes clorados, como CFCs, metais pesados transportados pelo ar, poluentes organofosforados, como pesticidas, e poluição normalmente associada à queima de combustíveis fósseis, como óxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e partículas como fuligem.
Os dados coletados são então adicionados a medições feitas em outros lugares por uma rede internacional de estações para criar um "panorama" global de gases atmosféricos, aerossóis e partículas na atmosfera, oferecendo uma referência a partir da qual a poluição é medida.
"O monitoramento aqui no observatório abrange uma grande variedade de questões", diz Hermansen, que trabalha no Observatório Zeppelin há duas décadas.
"As toxinas ambientais são particularmente interessantes por seus efeitos biológicos e pelo estado do ambiente ártico, enquanto as medições de gases de efeito estufa e aerossóis são especialmente importantes em um contexto global por seu impacto nas mudanças climáticas."
Mas o Observatório Zeppelin também pode fornecer um alerta antecipado de mudanças que estão acontecendo na atmosfera.
Sinais de Fukushima
Os níveis de metano no ar ao redor do Zeppelin, por exemplo, vêm aumentando desde aproximadamente 2005 — e atingiram níveis recordes em 2019.
Há agora uma preocupação crescente de que os níveis de emissões de metano causadas pelo homem estão ameaçando as tentativas de limitar o aquecimento global a um aumento de temperatura de 1,5°C.
Dez dias após o acidente da usina nuclear de Fukushima em 2011, radionuclídeos — produzidos pelo reator de fissão da usina — foram detectados na atmosfera em Zeppelinfjellet.
Isso mostrou que estas partículas radioativas estavam sendo transportadas por milhares de quilômetros pela atmosfera em apenas alguns dias.
Os pesquisadores do Zeppelin também observaram picos nos níveis de sulfato, partículas e metais, como níquel e vanádio, no ar ao redor de Ny-Ålesund durante os meses de verão devido ao crescente número de navios de cruzeiro que visitam a área.
Eles também detectaram altas concentrações de partículas "envelhecidas" entre março e maio de cada ano, já que os padrões climáticos carregam poluição de outras partes da Europa e da Ásia.
À medida que a fuligem se move pela atmosfera, por exemplo, ela sofre uma reação química que torna as partículas mais reativas e aumenta sua toxicidade.
Fundições industriais na península de Kola, na Rússia, também produzem picos ocasionais de metais como níquel, cobre, zinco e cobalto no ar, quando o vento sopra na direção errada durante o inverno e a primavera.
Mas nem tudo é má notícia.
Eles também observaram a redução de níveis de metais pesados, como chumbo e mercúrio, em grande parte devido ao endurecimento das regras sobre a queima de resíduos e na indústria.
Esforços para reduzir o uso de pesticidas organofosforados — que podem ser levados pelo ar quando são pulverizados nos campos — também provocaram um declínio gradual na quantidade destes produtos químicos detectada na atmosfera ao redor do Ártico.
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Os pesquisadores precisam pegar um teleférico para chegar ao observatório na montanha, mas têm como recompensa uma vista deslumbrante durante a viagem
Mais recentemente, pesquisadores notaram níveis crescentes de microplásticos em amostras de neve de regiões remotas do Ártico, sugerindo que podem ter sido transportados até lá pelo ar.
Isso levou os pesquisadores do Zeppelin a monitorar a atmosfera — e a neve que cai lá — em busca de microplásticos.
"Partículas de microplástico muito pequenas podem viajar distâncias consideráveis pelo ar, semelhante a outras partículas que já medimos no Zeppelin", explica Dorte Herzke, pesquisadora sênior do Instituto Norueguês de Pesquisa do Ar.
"O que é diferente no caso dos microplásticos é que eles são completamente feitos pelo homem, consistem em polímeros bastante duráveis e contêm uma ampla mistura de substâncias químicas, muitas das quais são tóxicas. Estamos preocupados que as partículas de microplástico sejam capazes de transportar substâncias químicas para o Ártico que de outra forma não seriam capazes de chegar lá, potencialmente causando danos aos ecossistemas frágeis."
No entanto, embora essas "intromissões" de outras partes do mundo contaminem de vez em quando o ar neste recanto do Ártico, permanece muito distante da pior poluição que os humanos liberam na atmosfera.
Existem outros lugares com ar que poderiam sem dúvida ser mais limpos — em 2020, pesquisadores descobriram uma camada de ar extremamente pura sobre o Oceano Antártico, diretamente ao sul da Austrália.
Ny-Ålesund é, no entanto, um dos poucos lugares do tipo que as pessoas podem realmente visitar e viver por um tempo, mesmo que o acesso seja limitado em sua maioria a cientistas pesquisadores.
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Ove Hermansen estuda a poluição do ar há mais de 20 anos no observatório Zeppelin, onde os pesquisadores também devem ficar atentos a ursos polares
Surpreendentemente, nem sempre foi tão limpo.
Entre 1916 e 1962, era uma cidade de mineração de carvão, até que uma explosão matou 21 mineiros, levando a cidade a ser esvaziada, e a mina fechada.
Desde então, foi transformada em um local em que dados são extraídos do meio ambiente, e não carvão.
"Limpezas são realizadas regularmente desde a década de 1960, quando as minas foram fechadas, mas infelizmente ainda resta alguma poluição na área de mineração e na cidade", diz Hanne Karin Tollan, consultora de pesquisa da base de Ny-Ålesund, que é operada por uma empresa que pertence ao ministério norueguês do clima e meio ambiente chamada Kings Bay AS.
"A Kings Bay, que opera todo o assentamento de Ny-Ålesund, realizou pesquisas ambientais para mapear a poluição no solo no período 2019-2022 para descobrir a extensão e como base para outras medidas de limpeza. Todo o lixo, resíduo e solo poluído é enviado para centros aprovados na Noruega continental."
Mas enquanto aqueles que trabalham em Ny-Ålesund passam a maior parte do tempo olhando para o alto para ver o que está no ar acima de suas cabeças, a vida na cidade é atípica.
Os moradores são provenientes de toda parte do mundo, incluindo França, Alemanha, Reino Unido, Itália, Noruega, Japão, Coreia do Sul e China, entre outros.
Há apenas dois voos semanais para a cidade de Longyearbyen, em Svalbard, que são feitos em um avião a hélice.
A cidade em si é composta por cerca de 30 construções semelhantes a cabanas com nomes de grandes centros urbanos globais: Amsterdã, Londres, México, Itália — para citar alguns.
Eles servem como um lembrete da necessidade de relações diplomáticas neste lugar distante do alvoroço das aglomerações.
Outras formas de conectividade, no entanto, estão disponíveis de forma menos imediata — todos os telefones celulares e Wi-Fi devem ser desligados.
A cidade é uma zona livre de rádio na tentativa de manter as ondas de rádio na área o mais silenciosas possível, e é necessária uma permissão especial para pesquisadores que desejam operar qualquer equipamentos que usem transmissões de rádio.
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Pulsos de laser do instrumento Lidar ajudam a monitorar os níveis de aerossóis e outros poluentes na atmosfera acima de Ny-Ålesund
Entre aqueles que aproveitam os céus claros e o ambiente livre de rádio, está a Autoridade Norueguesa de Mapeamento, que construiu um observatório de rádio de 20 metros para ajudar a monitorar os movimentos da Terra e o campo gravitacional.
Tempestades violentas costumam sacudir as casas da cidade e, à noite, o vento entra sorrateiramente para roubar o aquecimento dos moradores.
Durante minhas visitas à cidade, na maioria das noites eu usava todas as minhas roupas — jaqueta de expedição, calça, segunda pele e camada intermediária, além do cobertor — quando estava dentro das cabanas.
O clima extremo é um risco para todos aqueles que vivem e trabalham aqui. As temperaturas ficam muitas vezes abaixo de zero, e a mais fria já registrada foi de -37,2 °C no inverno.
Em março deste ano, durante uma de minhas visitas a Ny-Ålesund, as temperaturas bateram um recorde de 5,5 °C para o mês.
O recorde anterior era de 5,0 °C, registrado em 1976.
Só um espírito estoico é capaz de lidar com o acesso remoto, a natureza em estado bruto e as condições adversas, somados a longos períodos de escuridão ou luz solar contínua.
Eu estava na estação científica durante a época mais dura do ano, a estação da noite polar, quando há escuridão por 24 horas durante meses. Se locomover significava usar lanternas de cabeça e a luz do luar.
Uma jovem estudante de doutorado italiana que conheci caminhava sozinha pela escuridão selvagem com apenas 2-3m de visibilidade, enfrentando ventos fortes e neve, apenas para poder trocar os filtros de alguns instrumentos.
Mas a escuridão também oferece uma vista fantástica da aurora boreal, que se move como um fantasma pelo céu acima da cidade.
Há outros perigos além da escuridão e do frio para os pesquisadores que se aventuram nesta época do ano.
Svalbard é o habitat natural do urso polar e, ao longo dos anos, estes animais foram vistos perto do assentamento, até mesmo passando por ele.
Como resultado, a comunidade tem uma regra que ninguém pode trancar as portas de qualquer prédio, caso um urso apareça dentro do assentamento e haja uma necessidade urgente de refúgio.
"Você tem que se adaptar e trabalhar em torno dos ursos polares, não o contrário", diz Christelle Guesnon, uma das pesquisadoras que trabalham no Observatório Zeppelin para o Instituto Polar Norueguês.
"Os ursos gostam de seguir o rio e muitas vezes pegam a estrada entre o assentamento de Ny-Ålesund e o observatório Zeppelin. Acontece com bastante frequência — estamos no observatório, e um urso polar está passando. Nós esperamos então até que o urso vá embora."
Depois das 16h30, quando termina o expediente, a pequena comunidade tende a se recolher dentro de casa.
Estar desprovido de comunicação instantânea e contato via celular, significa que você depende de combinar previamente qualquer tipo de socialização.
A cantina da cidade é o único lugar onde as pessoas se encontram espontaneamente para socializar durante o almoço e jantar, trocando histórias sobre a aurora boreal e a vida selvagem que encontraram.
Muitas dessas histórias compartilhadas atestam as mudanças que estão acontecendo neste remoto ecossistema do Ártico.
Leif-Arild Hahjem, que trabalhou por muitos anos em Ny-Ålesund como engenheiro do Instituto Polar Norueguês, me disse que está na região desde 1984 e observou mudanças dramáticas na paisagem circundante.
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Instrumentos espalhados pela estação de pesquisa são usados para fazer medições frequentes — e seus filtros precisam ser trocados
"O fiorde próximo ao assentamento estava congelado naquela época, você poderia ir até lá com uma moto de neve, mas desde 2006/2007 não está mais congelado", ele conta.
"O assentamento é cercado por muitas geleiras que estão ficando menores, e a maior parte disso se deve ao aumento das temperaturas."
Rune Jensen, chefe do Instituto Polar Norueguês em Ny-Ålesund, acrescenta, com alguma tristeza, que na década de 1980 uma área conhecida como Blomstrandhalvoya, perto de Ny-Ålesund, ainda era considerada uma península — mas como a geleira recuou ao longo da última uma década mais ou menos, virou uma ilha, isolada do continente.
"Hoje, sentimos os efeitos de um Ártico mais quente em várias áreas", diz ele.
"Por exemplo, o aumento do fluxo de água mais quente do Atlântico que altera todo o ecossistema no fiorde nos arredores de Ny-Ålesund. Afeta até os ursos polares, que são forçados a adaptar sua dieta. Anteriormente, eles costumavam capturar focas-aneladas no gelo marinho. Agora vemos um grande aumento no número de ursos polares se alimentando de ovos de ninhos de aves marinhas e capturando focas da terra."
No céu e na paisagem, os moradores de Ny-Ålesund estão testemunhando as marcas deixadas por nosso mundo em mudança.
Por enquanto, no entanto, eles ainda podem respirar profundamente sabendo que o ar que estão inalando é um recurso raro e precioso..