Pandemia
do novo coronavírus mergulhou Cuba em sua pior crise econômica em 30
anos. Manifestantes gritaram "Liberdade", "Pátria e vida", "Abaixo a
ditadura" e "Não temos medo". Há corte de eletricidade, longas filas
para conseguir alimentos e escassez de medicamentos. Presidente de Cuba
diz que manifestantes são de setores ligados aos EUA.
Manifestantes gritam "liberdade" e "pátria livre" em protestos em Cuba
Manifestantes foram às ruas em Cuba aos gritos de "Liberdade" e "Abaixo
a ditadura" neste domingo (11). A piora da pandemia da Covid-19, assim
como a situação econômica do país – a pior em 30 anos –, agravada pela
redução do turismo, são alguns dos motivos para o ato contra o governo
cubano. Os moradores de Cuba tambêm têm relatado cortes de eletricidade
na ilha.
Os protestos, divulgados nas redes sociais, começaram de forma
espontânea pela manhã. Trata-se de um fato incomum no país governado
pelo Partido Comunista, onde as únicas concentrações autorizadas
costumam ser as do partido. As informações são da Agência France Presse.
Manifestantes protestam contra o governo em Cuba
Protestos em Havana, capital de Cuba, neste domingo (11) — Foto: Reuters/Stringer
Gritando principalmente "Pátria e vida", título de uma canção polêmica,
mas também "Abaixo a ditadura" e "Não temos medo", milhares de
manifestantes marcharam pelas ruas de San Antonio de los Baños, uma
pequena cidade de 50 mil habitantes a cerca de 30 km da capital Havana.
"Liberdade", entoavam outras centenas em Malecón, na costa de Havana.
Outros protestos foram relatados e transmitidos ao vivo pelo Facebook
ou Twitter, em todo o país, onde a internet móvel só chegou no fim de
2018.
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, também se dirigiu à cidade
acompanhado de militantes do partido, que desfilaram gritando "Viva
Cuba" e "Viva Fidel".
"Não
vamos admitir que nenhum contrarrevolucionário, mercenário, vendido ao
governo dos EUA, vendido ao império, recebendo dinheiro das agências,
deixando-se levar por todas essas estratégias de subversão ideológica,
provoquem desestabilização em nosso povo", disse o presidente de Cuba.
"Haverá uma resposta revolucionária. Estamos convocando a todos os
revolucionários do país, a todos os comunistas, para que saiam às ruas
em todos os lugares onde ocorram essas provocações."
O presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, dá entrevista neste domingo
(11), dia de protestos em Havana — Foto: Reuters/Alexandre Meneghini
'Máfia cubano-americana'
A pandemia do novo coronavírus, cujos primeiros casos na ilha foram
detectados em março de 2020, mergulhou Cuba em sua pior crise econômica
em três décadas.
Todos os dias, os cubanos têm que esperar longas horas em filas para
conseguir alimentos e também enfrentam a escassez de medicamentos, o que
tem gerado um forte mal-estar social.
Dificuldades econômicas também levaram as autoridades a aplicar cortes
de eletricidade de várias horas por dia em grandes áreas do país.
#SOSCuba
Cuba registrou neste domingo mais um recorde de infecções pela Covid-19
em 24 horas, com 6.923 casos, em um total de 238.491, e de óbitos, com
47, totalizando 1.537.
"São
números alarmantes, que aumentam a cada dia", comentou Francisco Durán,
chefe de epidemiologia do Ministério da Saúde, durante sua coletiva
diária na televisão.
Sob hashtags como #SOSCuba, #SOSMatanzas e #SalvemosCuba, os pedidos de
ajuda se multiplicam nas redes sociais, inclusive por artistas e
famosos, além dos apelos ao governo para que o envio de doações do
exterior seja facilitado.
No sábado, um grupo de oposição pediu a criação de "um corredor humanitário", iniciativa que o governo rapidamente descartou.
"Conceitos ligados a corredor humanitário e ajuda humanitária estão
associados a zonas de conflito e não se aplicam a Cuba", disse o diretor
de Assuntos Consulares e Atenção aos Cubanos Residentes no Exterior,
Ernesto Soberón, em entrevista coletiva.
Soberón também denunciou "uma campanha" que visa "apresentar uma imagem
de caos total no país que não corresponde à situação atual".
No entanto, a autoridade anunciou que o governo abrirá uma conta de
e-mail na segunda-feira para agilizar as doações do exterior.
Em fevereiro de 2021, Cuba teve apagão nos serviços de telefone e interne.
Moradores de rua enfrentam dia mais frio do ano em SP: 'A gente se esquenta com os cachorros'
Osvaldo Pereira (touca) e o amigo Claudinei França Cruz na calçada onde dormem no centro de São Paulo
Três cobertores formam uma manta no chão. Por cima, apenas um cobertor para se cobrir.
É
assim que Osvaldo Pereira, de 57 anos, se protege das baixas
temperaturas nos dias mais frios do ano em São Paulo. Ele dorme com
amigos ao lado da igreja Nossa Senhora da Boa Morte, na Sé, marco zero
de "Quando acordo, está tudo molhado. O chão tem muita umidade e se a gente
dormir direto nele o frio é maior. Tem pessoas que passam e dão sopa, e
a gente vai se aquecendo. Mas, quando está ventando, a gente sofre
muito", afirma."Quando acordo, está tudo molhado. O chão tem muita umidade e se a gente
dormir direto nele o frio é maior. Tem pessoas que passam e dão sopa, e
a gente vai se aquecendo. Mas, quando está ventando, a gente sofre
muito", afirma.São Paulo.
A
reportagem da BBC News Brasil conversou com diversos moradores de rua
que vivem na região para entender como eles enfrentam a temporada de
inverno. Nesta semana, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)
registrou 6,3ºC, a temperatura mais baixa dos últimos cinco anos na
cidade de São Paulo.
Além
das mantas, Osvaldo disse que coloca um papelão no chão antes de dormir
sob uma estreita marquise, mas exposto ao vento cortante na madrugada.
Há
mais de 30 anos nas ruas, Claudinei França Cruz, de 52 anos, conta que
soube de dois moradores de rua que morreram de frio nesta semana a
poucos metros de onde ele dorme. "Eu conhecia um deles. A gente fica com
medo", conta sem muitos detalhes.
A
Secretaria da Segurança Pública afirmou que não registrou nenhum caso
de morte suspeita de frio nesta semana em São Paulo. O padre Júlio
Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, afirmou à reportagem que
percorreu IMLs, delegacias e também não encontrou nenhum caso de morte
suspeita por frio.
No
entanto, mesmo sob o risco de ter uma hipotermia e morrer de frio, o
companheiro dele de rua, Osvaldo Pereira disse que prefere dormir na rua
a pernoitar num abrigo oferecido pela prefeitura.
"Lá
(abrigo) é muita treta. Essa molecada de hoje é muito desenfreada e eu
evito. Prefiro ficar na calçada porque lá você não dorme direito, é
muita bagunça. Molecada folgada que não deixa dormir direito", afirmou.
Banho gelado
O chuveiro é aberto, a contagem regressiva é acionada e, cinco minutos
depois, a água gelada despenca sobre a cabeça de quem está tomando
banho.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil
Legenda da foto,
Irani Benedita de Araújo ao lado do marido (de frente) na calçada onde dormem na praça da Sé, no centro de São Paulo
Claudinei
da Cruz afirma que um dos momentos mais incômodos durante no inverno é
tomar banho. Ele conta que há locais na região onde os moradores de rua
conseguem fazer a higiene diária, como o conhecido Chá do Padre, no
centro, e as tendas erguidas pela prefeitura.
"No Chá do Padre, eles dão uma senha. Na tenda, tem um tempo de cinco minutos e o chuveiro esfria quando ele acaba", afirmou.
Na rua, ele diz que ameniza o frio bebendo "umas cachaças" e com a ajuda de "umas cobertinhas".
Osvaldo
Pereira disse que passou por momentos difíceis, como quando a filha
dele morreu, e ele disse ter "se jogado" nas ruas. Desde então, ele
prefere ficar sozinho.
Ele conta que tem familiares que moram em Atibaia, no interior de São Paulo.
"Mas
não vou ficar na casa dos outros. Eles (irmãos) querem que eu fique lá,
mas eu não quero. Sabe por que? Na hora que você entra em casa, no
banheiro, já tem gente batendo. Você senta no sofá e ele diz que aquele é
o lugar dele. Você tira a privacidade das pessoas e eu não quero dar
trabalho pra ninguém", conta chorando.
Ao ser questionado sobre seus sonhos, ele diz que não sabe responder.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News BrasilLegenda da foto,
Natália ao lado dos cães que dormem na mesma barraca que ela na praça da Sé
"Eu
não sei responder essa pergunta. Querer sair dessa situação, todo mundo
quer. Estou com as costas todas machucadas porque dói. Olha esse chão
duro, mas eu não tenho casa para morar. Vou fazer o quê?".
Mulher no frio
Cobertores,
mochilas e sacolas fazem as vezes de travesseiros para Irani Benedita
de Araújo, de 59 anos. Vinda do Mato Grosso do Sul há cinco meses, ela
divide um espaço de cerca de 2 metros quadrados na praça da Sé com o
marido, que morava em Santana de Parnaíba antes de ir para as ruas.
"Estou
passando por um momento difícil. Eu morava de aluguel, hoje estou
dormindo na rua, procurando uma melhora, um emprego, uma oportunidade. É
muito sofrimento, de verdade. É muita friagem e minha idade também não
ajuda. O que a gente tem é o que as pessoas doam. Sacos plásticos. Não
tem banheiro e eu sendo mulher para mim é mais dificultoso. Preciso de
ajuda para sair da rua", conta.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil
Legenda da foto,
Equipes da prefeitura são protegidas por guardas municipais enquanto fazem limpeza na praça da Sé.
Ela conta que o sonho dela é conseguir uma oportunidade de trabalho para sair das ruas e ser independente.
"Eu
cuido de idosos, sei cozinhar, trabalhei em restaurante, mas não tem
emprego. Mataram um filho meu, tenho um filho preso e um filho nas
drogas. É uma família destruída e eu acabei sem nada e sem ninguém. Se
eu ficar muito tempo, não vou resistir às ruas", conta.
Ela
conta que não gosta de pedir esmolas, mesmo com a necessidade constante
de comprar remédios para tratar de problemas respiratórios e até mesmo
doenças mais comuns, como dor de cabeça.
"Meu
rosto fica doendo de friagem. Me deu muita dor de cabeça essa noite. Eu
queria ter uma casa, uma cama e um travesseiro onde eu pudesse
descansar fora desse sofrimento. Eu não sei pedir. Isso é muito
humilhante. A gente dá bom dia e os outros viram a cara", relata.
Cães que aquecem
Natália,
de 34 anos, e Paula, de 30, são trans e dividem uma barraca com ao
menos dez cães na frente da Catedral da Sé. Elas contam à reportagem que
não conseguem dormir nas noites mais frias e que se aquecem com o calor
gerado pelos cães.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil. Legenda da foto, Homem dormindo em calçada na rua Tabatinguera, no centro de São Paulo
"A
pessoa quando está com frio, ela não dorme. A gente passa a noite toda
acordada. A gente não morre porque tem os cachorros. A gente dorme com
os cachorros. A gente se esquenta com os cachorros. Todos os dias a
gente vê alguns morrendo aí, amanhece morto de frio. Falta cobertor para
as pessoas. Uma barraca já ajudaria bastante essas pessoas", diz Paula.
Ela
conta que escolheram ficar no centro, pois é uma região mais segura,
com policiamento e com um sistema de monitoramento com câmeras. Elas
dizem que os cães são os melhores amigos delas.
"O
cachorro não vê como uma pessoa vê a gente. O cachorro não te julga,
não te trapaceira, não te rouba. Ele é a companhia mais segura para você
passar a noite na rua", afirma Paula.
Ela
sonha em conseguir um emprego, ter uma casa e conquistar autonomia para
realizar seus desejos. Ao serem questionadas sobre como foram parar nas
ruas, elas dizem que são alvo de preconceito por diversos motivos.
"Deixa
eu te explicar. Tem o marginal, não tem? A gente é a margem da margem
do marginal. Nós somos pretas, trans e índias. Já tem essa resistência
na gente. Aqui no Brasil, a maioria das pessoas são aculturadas com TV e
conversa fiada. A música só fala de sacanagem, só traição, e a gente
não se enquadra nisso. A gente está na sarjeta, mas prefere ter a
consciência tranquila do que estar por aí por dentro e ser forçado a
tomar algumas atitudes que não compensam".
'Se eu morrer, denunciem': a mulher que morreu sem remédio na gestão do investigado Ricardo Barros
Crédito, Arquivo pessoaLegenda da foto,
Ruth
Mendes segura quadro com foto da irmã, Margareth, que morreu em 2018
após passar meses sem remédio para tratar a doença rara HPN — mesmo com
uma ordem judicial para ter o remédio
Na
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o deputado federal
Luis Claudio Miranda (DEM-DF) afirmou que, ao avisar o presidente Jair
Bolsonaro sobre a suspeita de irregularidades na venda da vacina indiana
Covaxin, o mandatário disse que a denúncia parecia ser um "rolo" do
deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e ministro
da Saúde entre 2016 e 2018.
Luis
Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde e irmão de Luis
Claudio, também prestou depoimento à CPI no final de junho. Lá, ele
afirmou que o suposto esquema na venda da Covaxin se refletiu, no
ministério, em uma "pressão atípica e excessiva" pela compra do
imunizante — e também pelo pagamento antecipado.
Assistindo
à TV na sua casa em Ouro Branco (MG), a ex-policial militar Ruth Helena
Mendes, 52 anos, diz que as notícias envolvendo Barros, hoje
parlamentar, soaram para ela como a repetição de uma história de quando
este foi ministro da Saúde, durante a presidência de Michel Temer (MDB).
Daquele
tempo, o político do PP carrega uma ação civil pública por improbidade
administrativa, aberta no final de 2018 e atualmente tramitando na
primeira instância da Justiça Federal de Brasília.
Segundo
acusação do Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal,
Barros e quatro servidores em sua gestão "aproveitaram-se das posições
que ocupavam para cometer atos ilícitos em benefício de terceiros" — as
empresas Global e Oncolabor/Tuttopharma —, causando "prejuízos ao
erário" e "a morte de pelo menos 14 pacientes".
Uma
dessas vítimas foi Margareth Maria Mendes, irmã de Ruth, que morreu em
26 de fevereiro de 2018 após ficar meses sem o medicamento Soliris para
tratar a doença rara que tinha, a hemoglobinúria paroxística noturna
(HPN).
Crédito, Arquivo pessoal. Legenda da foto, Ruth
com a irmã no hospital;
Margareth deixou para a família texto com um
pedido: 'Se eu morrer pela falta de medicamentos por atraso, desejo que
denunciem ao Ministério Público esse descaso com a vida'
A ação
do MPF denuncia improbidade na venda do Soliris pela
Oncolabor/Tuttopharma; e também no contrato fechado com a empresa Global
para aquisição dos medicamentos Aldurazyme, Fabrazyme, Myozyme e
Elaprase.
Ouvidos
na investigação da procuradoria, funcionários do ministério relataram
pressão de Barros, enquanto ministro, para liberar o pagamento
antecipado à Global. Logo que o contrato com a empresa foi firmado,
concorrentes escreveram formalmente ao Ministério da Saúde informando
que a empresa brasileira não tinha aval das fabricantes nem autorização
da Anvisa para importar os remédios. A partir daí, foram meses sem que
os remédios fossem efetivamente entregues, levando ao desabastecimento,
adoecimento e morte de pacientes.
"A
sensação é que a história se repete, né? Ver essas notícias (denúncias
de envolvimento de Barros em irregularidades na compra da Covaxin) traz
um sentimento de impotência e indignação, uma revolta tamanha da nossa
família toda", diz Ruth, para quem a ação aberta pelo MPF caminha na
Justiça Federal de Brasília com "lentidão".
Os
contratos do ministério com a Global e a Oncolabor/Tuttopharma visavam
atender a demandas judiciais vencidas por pessoas com doenças raras,
obrigando o Estado a fornecer os medicamentos. Margareth era uma delas
e, além de buscar tratamento para si mesma, era representante nacional
da Associação dos Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves
(AFAG).
Por
esta atuação, Margareth, que era socióloga, participou de reuniões e
audiências públicas em Brasília, inclusive confrontando Barros sobre a
falta daqueles cinco remédios no segundo semestre de 2017, segundo conta
a irmã.
Crédito, Agência Senado. Legenda da foto, O
deputado Luis Miranda colocou o nome de Ricardo Barros novamente no
noticiário, ao acusar pressão pela compra da Covaxin; Barros diz não ter
participado de 'qualquer negociação' referente à vacina
"Eu
gostaria que ele (Barros) soubesse que aquela que esteve à frente dele
ali, faleceu por responsabilidade dele, sabe?", diz Ruth à BBC News
Brasil por videoconferência. "Ela tinha medida judicial, e o ministro
descumpriu as ordens judiciais. Não só dela."
"As
empresas Global e Oncolabor não estavam habilitadas para a compra de
medicamentos, e estava sendo feito um trabalho ali (no ministério) para
favorecer essas empresas."
Procuradas
pela reportagem, a Global e a Oncolabor (representante no Brasil da
Tuttopharma) não responderam a pedidos de posicionamento feitos por
telefone e email. As empresas têm sede, respectivamente, em Barueri (SP)
e Montes Claros (MG).
A
assessoria de imprensa do MPF-DF afirmou que a procuradora Luciana
Loureiro Oliveira, responsável pela ação civil pública, não poderia
conceder entrevista por estar de férias.
Já
o deputado federal e ex-ministro Ricardo Barros afirmou em nota que
"não se comprovará qualquer irregularidade" na ação do MPF, que o
imbróglio envolvendo a Global e a Oncolabor/Tuttopharma "não tem relação
com as mortes citadas" e que sua gestão promoveu "uma economia superior
a R$ 5 bilhões ao sistema de saúde que puderam ser reinvestidos,
implementando novos sistemas de compra" de medicamentos (leia mais
trechos do posicionamento de Barros abaixo).
Meses sem remédios
Crédito, Arquivo pessoal. Legenda da foto, Com
desabastecimento de remédios em 2017, Margareth sofreu duplamente: como
paciente e representante da Associação dos Familiares, Amigos e
Portadores de Doenças Graves (AFAG)
Ruth
relata que sua irmã foi diagnosticada com HPN em 2012, e morreu em 2018
no hospital, aos 45 anos de idade, por complicações da doença — e pela
falta de tratamento. A doença rara é causada por uma alteração genética
nas células-tronco que leva a distúrbios no sangue, como a destruição de
glóbulos vermelhos. Com isso, os pacientes podem sentir muito cansaço,
apresentar palidez e desenvolver consequências mais graves, como
trombose.
"Desde
que recebeu diagnóstico, minha irmã não ficou sem medicamentos", conta
Ruth. "Mas, em junho de 2017, começou a ter atrasos e a partir daí ela
não recebeu mais. Em novembro, ela recebeu uma dose emergencial com
muita luta, mas foi só por um mês. Os sintomas foram avançando, as
plaquetas foram caindo, e quando ela se internou, já não resistiu."
"Ela
já sabia que, se continuasse sem medicamento, a perspectiva de vida era
curta. Então, ela escreveu um e-mail e falou: 'Se me acontecer alguma
coisa, eu mandei um e-mail, mas não é para abrir. Só se me acontecer
alguma coisa'."
Depois que Margareth faleceu, suas irmãs abriram o e-mail.
Ruth
enviou à reportagem um trecho do texto escrito por Margareth: "Se eu
morrer pela falta de medicamentos por atraso, desejo que denunciem ao
Ministério Público esse descaso com a vida".
A partida da irmã deixa Ruth até hoje "muito prostrada" e "com um remorso muito grande", segundo ela mesma descreve.
"Ao
todo, éramos dez irmãos. Nossa família é muito, muito unida, graças a
Deus. Ela (Margareth) é um pedaço que nos falta", diz a policial,
emocionada.
Em
dezembro de 2018, a procuradora Luciana Loureiro apresentou uma ação
civil pública contra Barros, quatro ex-servidores do Ministério da Saúde
e a Global.
A
ação pede ressarcimento pelos danos causados à administração pública,
no valor de R$ 19,9 milhões; e de R$ 100 milhões pelos danos morais às
vítimas. A Oncolabor/Tuttopharma é citada diversas vezes na acusação,
mas não foi acionada.
As
14 vítimas fatais da falta de medicamentos para doenças raras são
listadas no documento: Alan Santos; Antônia Lucinda; Claudio Danilo;
Diego Wallace; Henrique Rodrigues da Costa; Jucilene Pedrosa; Kyuken
Kanashiro; Margareth Mendes; Maria das Neves; Maria de Lourdes; Matheus
de Queirós; Thainá Cabral; Valdomiro; e Wellinton Gross.
Além
da HPN, os remédios que passaram por desabastecimento e problemas nos
contratos entre 2017 e 2018 serviam também para condições raras como a
mucopolissacaridose tipos I e II, a doença de Fabry e a doença de Pompe.
De acordo com Ruth, ver tantos pacientes sofrendo sem remédios agravou o próprio quadro de saúde de Margareth.
"O
emocional diminui a questão da imunidade, e às vezes ela ficava muito
abalada, principalmente quando começou a ver a morte de pacientes por
falta de medicamentos. Isso mexeu muito com ela, ela esqueceu até dela
mesma."
"Em
janeiro (de 2018), ela já estava num período assim de muita, muita,
muita fraqueza, muito cansaço, sabe? Teve audiências, reuniões, que ela
já não conseguiu participar, mas mesmo de longe ela tava dando todo o
suporte", conta Ruth, que diz conhecer pacientes que conseguiram
sobreviver à falta dos remédios, mas até hoje sofrem com consequências
do desabastecimento neste período.
"Ela
era a voz dos portadores de doenças raras no Brasil. Tanto que
recebemos muitas mensagens de pessoas dizendo que se sentiram órfãs com a
morte dela."
O que denuncia o MPF — e como responde Ricardo Barros
Crédito, Getty Images. Legenda da foto, MPF
acusa improbidade administrativa na compra de cinco remédios para
doenças raras durante gestão de Ricardo Barros no Ministério da Saúde
Em
outubro de 2017, o Ministério da Saúde firmou com a Global um contrato
para compra emergencial de Aldurazyme, Fabrazyme e Myozyme.
Logo
depois, a própria fabricante destes remédios, a empresa americana
Genzyme (subsidiária da multinacional francesa Sanofi-Aventis), informou
ao ministério que a ganhadora do edital não possuía os lotes informados
e tampouco tinha a Declaração do Detentor da Regularização do Produto
(DDR) exigida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na
importação. A DDR implica na autorização, pelo fabricante do
medicamento, da venda e importação por terceiros; e responsabiliza a
empresa detentora pela qualidade, eficácia e segurança dos lotes
importados.
Durante
a cotação de preços, o ministério exigiu das empresas proponentes que
tivessem a DDR e que fornecessem informações sobre os lotes disponíveis.
"Nenhuma
medida acerca das graves denúncias da GENZYME foi adotada pelos réus.
Os procedimentos de compra não foram suspensos e as denúncias não foram
apuradas. Ao contrário, nos bastidores, era negociado o pagamento
antecipado à GLOBAL", diz um trecho da ação civil pública.
Segundo
o documento do MPF, um pagamento antecipado de R$ 19,9 milhões foi
efetivamente realizado, mas os medicamentos nunca chegavam. A Global
prometeu entregar os remédios em dezembro de 2017, depois em janeiro de
2018, chegando então a junho de 2018 sem fornecer as doses. Naquele mês,
a empresa firmou um acordo com a União para entregar os medicamentos de
forma parcelada. A essa altura, a Anvisa foi obrigada a conceder a DDR
por ordem judicial.
"A
uma empresa que prestou informações falsas sobre os lotes dos
medicamentos em sua proposta de fornecimento, que não apresentou a
documentação exigida por lei e pelo edital (DDR), que atrasou
sistematicamente a entrega destes e de outros fármacos ao Ministério da
Saúde, a quem foram efetuados ao menos três pagamentos antecipados, no
valor de quase R$ 20 milhões, foi dada mais uma chance, inédita, de
cumprir parceladamente os acordos para fornecimento de fármacos em
regime de extrema urgência", afirma Loureiro na ação.
De
outubro de 2017 a junho de 2018, a Global culpou a fabricante dos
remédios e a Anvisa pela demora na liberação de suas pendências — e o
próprio Ricardo Barros, em entrevistas, atribuiu a lentidão à agência
sanitária.
Na
venda do medicamento Elaprase, a Global tampouco apresentou a DDR. A
fabricante do remédio, a Shire, informou ao ministério que ela detinha a
exclusividade para comercialização e conseguiu na Justiça que o
processo de aquisição fosse suspenso.
Já
no contrato para compra do Soliris, a história foi parecida: a
Tuttopharma/Oncolabor tampouco tinha DDR e autorização da fabricante
para comercializar o produto, descumprindo por meses seu compromisso de
entregar os remédios, o que culminou com a suspensão do contrato apenas
em meados de 2018.
Em
um comunicado do MPF, a procuradora Luciana Loureiro afirmou que as
investigações revelaram que Ricardo Barros havia ordenado que todas as
compras de remédios e afins determinadas por ordem judicial passassem
por seu "crivo direto".
"Ele
colocou-se nitidamente em confronto com a legislação de regência
(regulação sanitária), como forma de justificar a opção pela aquisição
dos medicamentos de empresas sem nenhuma capacidade de fornecê-los",
disse a procuradora.
Em
nota enviada por sua assessoria de imprensa, o ex-ministro Ricardo
Barros afirmou que a contratação de empresas que não tinham histórico de
fornecimento dos cinco remédios, e posterior contestação de suas
fabricantes, têm a ver com "um processo de gestão e de enfrentamento aos
monopólios do setor farmacêutico" no seu mandato, "especialmente na
compra de medicamentos para atendimento de doenças raras em cumprimento a
decisões judiciais".
"A
política de quebra de monopólios consistia em buscar a proposta mais
vantajosa aos cofres públicos, de menor preço, independente de quem
fosse o vendedor do medicamento", defendeu o ex-ministro.
Barros
acrescentou que sua gestão tornou mais eficiente o Departamento de
Compras do ministério, economizando "bilhões aos cofres públicos" —
"valores que foram reinvestidos na saúde da população".
"No
caso da empresa Global, foram adotadas todas as providências pelo
Ministério da Saúde para penalização da empresa e para o ressarcimento
ao erário. A Global já confessou a dívida e ressarciu até agora cerca de
R$ 2,8 milhões", concluiu o parlamentar, acrescentando que "não houve
favorecimento ou qualquer ato de improbidade".
Conexões com o caso Covaxin
Crédito, Alan Santos/Presidência da República Legenda da foto, Bolsonaro
olha para o líder de seu governo na Câmara, Ricardo Barros; deputado
diz que 'há quase 10 dias' é 'acusado por ilações e especulações
levianas'
Além
da menção ao nome de Barros na CPI da Covid por seu colega na Câmara,
Luis Claudio Miranda, há mais pontos conectando a acusação de 2018 sobre
os remédios para doenças raras com as denúncias de 2021 sobre a vacina
indiana contra a covid-19.
Uma
dessas conexões é o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa
Medicamentos, companhia brasileira que intermediou a venda de doses da
empresa indiana Bharat Biotech ao Ministério da Saúde no primeiro
semestre de 2021.
Ele
também é sócio da Global, acusada na ação civil pública de 2018 por
irregularidades no fornecimento dos medicamentos Aldurazyme, Fabrazyme,
Myozyme e Elaprase.
Em
outra parte da acusação dos irmãos Miranda, o ex-diretor de logística
do Ministério da Saúde Roberto Dias foi apontado como um dos autores da
pressão pela compra da Covaxin. Dias ocupou cargos na gestão de Cida
Borghetti, esposa de Ricardo Barros, no governo estadual do Paraná, e
afirmou que já teve alguns encontros com o ex-ministro em Brasília — mas
negou que tenha sido indicado por Barros à diretoria do ministério na
gestão atual.
Outro ponto que aproxima Barros da Covaxin é uma emenda
que ele apresentou em fevereiro à Medida Provisória 1.026, abrindo
caminho para que vacinas aprovadas por algumas agências sanitárias do
exterior fossem automaticamente permitidas no Brasil. A emenda do
deputado pediu especificamente que a agência indiana fosse incluída.
"Apresento
esta emenda para que os insumos e vacinas aprovadas pela agência de
saúde indiana (CDSCO) também obtenham aprovação emergencial pela
ANVISA", diz o texto da emenda assinado por Barros.
Por estas conexões, o deputado e ex-ministro foi convocado à CPI da Covid, mas seu depoimento foi adiado.
Agora,
Barros recorreu até o Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir que
seu testemunho à CPI ocorra logo, argumentando estar "há quase 10 dias
sendo acusado por ilações e especulações levianas".
"Desde
o início me coloquei à disposição da CPI para prestar os
esclarecimentos, quantas vezes forem necessárias. Estão impedindo a
minha a garantia do direito constitucional de ampla defesa", disse
Barros em nota.
Já
em posicionamento enviado à BBC News Brasil, o deputado e líder do
governo afirmou não ter participado "de qualquer negociação para a
compra da Covaxin" e disse, em nota, que a menção de seu nome por Jair
Bolsonaro, relatada por Luis Claudio Miranda, "é uma citação não
confirmada do meu nome em diálogo de terceiros".
Barros
também afirmou que a ação civil de 2018 à qual responde "em nada se
relaciona com a aquisição de vacinas" contra a covid-19.
"O
proprietário da Global já informou que a última vez que nos encontramos
foi quando eu era Ministro da Saúde, em 2016, em uma agenda oficial e
registrada nas redes do ministério", concluiu o parlamentar.
"Aqueles
que não conseguem mudar de ideia não conseguem mudar nada", disse o
dramaturgo, crítico e polemista irlandês George Bernard Shaw.
A mudança não é apenas indispensável, mas também inevitável, uma vez que a vida não é estática ou imutável, mas fluida.
Portanto,
convém ter uma mente elástica, ou o que os especialistas chamam de
flexibilidade cognitiva, a capacidade de adaptar nossos comportamentos,
pensamentos e sentimentos de acordo com as circunstâncias.
Poucas
vezes isso foi necessário de forma tão dramática e urgente como no
período que vivemos desde o início de 2020. Diante da pandemia global,
governos, instituições, empresas e pessoas foram forçados a fazer
adaptações necessárias e criativas para enfrentar uma situação incerta e
em rápida evolução.
Mas,
desde muito antes de a covid-19 aparecer nas nossas vidas, sua
importância era amplamente reconhecida: várias pesquisas sobre
desenvolvimento e tempo de vida mostram que a flexibilidade colabora
para o bom desempenho acadêmico, o sucesso no trabalho, a transição
bem-sucedida para a idade adulta e, mesmo na velhice, pode mitigar os
efeitos do declínio cognitivo.
Uma prova
Tudo indica então que vale a pena ter uma mente elástica. Mas como saber se você tem uma?
"Quando
seu cérebro não pode prever algo, ou quando você tem que assimilar
novas informações que você não previu, seu cérebro pode se atualizar -
isso é o que chamamos de aprendizado - ou pode ignorar os dados dos
sentidos e simplesmente insistir com suas próprias previsões ", explicou
à BBC Ideas a neurocientista e psicóloga Lisa Feldman Barrett.
"Há uma demonstração bem conhecida de flexibilidade chamada teste de Stroop", observou o psicólogo Volker Patent.
Nele, eles mostram os nomes das cores escritas com tintas que não combinam...
...e você tem que pressionar os botões coloridos que correspondem ao que diz a palavra, não sua aparência.
"A
ideia por trás disso é que, para fazer isso, você tem que mudar
diferentes pedaços de informação em sua mente. Em termos simples, o que
acontece é que quando você visualiza a cor da palavra, os processos
automáticos de leitura da palavra interferem com a capacidade de indicar
cores em voz alta. Quanto mais difícil for para uma pessoa, menos
flexíveis cognitivamente ela será. "
Ser
psicologicamente flexível permite que você faça o melhor uso dos
recursos de que dispõe para lidar com o estresse, por exemplo.
Aqueles
que sofrem de inflexibilidade psicológica tendem a usar uma gama muito
pequena de seus recursos para se adaptar, explica Patent.
"A
ideia da flexibilidade psicológica é tirar as pessoas de um estado que
os psicólogos chamam de languidez, para um estado em que possam realizar
mais do seu potencial."
"O
que os impede de mudar suas vidas de um estado de baixa satisfação para
um de maior satisfação geralmente tem a ver com a inflexibilidade na
maneira como abordam os problemas que enfrentam."
Crédito, Getty Images. Legenda da foto, A ideia é viver, não apenas sobreviver.
Para a doutora Feldman Barrett, há uma lição muito profunda nisso.
"Você pode ter mais controle sobre o seu ambiente. Você não é apenas um receptor passivo do que o mundo lhe dá."
Um, dois e...
A
ideia é ser proativo: passar o tempo cultivando experiências e buscando
novas informações. "São oportunidades de se expor a erros de previsão
para que seu cérebro possa resolver problemas com mais flexibilidade no
futuro."
"Expor-se
a coisas que você não conhece, e talvez até a ideias de que não gosta,
pode fazer você se sentir mal no momento, mas acaba sendo um
investimento muito bom para o seu bem-estar", afirma a especialista.
Se você não sabe por onde começar, não se preocupe: aqui estão alguns exercícios, cortesia do físico Leonard Mlodinow, autor de Elastic: Flexible Thinking in a Constant Changing World (Elástico: Pensamento Flexível em um Mundo em Constante Mutação, em tradução livre).
Crédito, Getty Images
1. Escolha uma ideia na qual você não acredita
Chamo isso de "ideia do dia".
Não
me refiro a fingir. Refiro-me a, sinceramente, tentar imaginar como
alguém que pensa diferente de você, mas alguém que você respeita, pode
aceitar essa ideia e tentar convencer você disso.
2. Reflita sobre seus erros
Quando cometemos erros, muitas vezes tentamos esquecê-los
Bem,
neste exercício, você vai pensar sobre quando cometeu um erro.
Lembre-se de um momento em que você estava errado - quanto mais errado e
mais importante, melhor - e concentre-se nisso.
Perceba que você nem sempre está certo.
Uma
das barreiras para o pensamento elástico é nossa tendência de sempre
pensar que estamos certos e continuar nos movendo na mesma direção.
Este exercício ajudará você a se libertar disso.
3. Experimente novos alimentos
Isto é divertido.
Escolha um restaurante ao acaso ou um que você normalmente não iria e peça algo que você normalmente não pediria.
Certifique-se de que não é o prato mais popular, e sim o menos popular.
Ou compre ingredientes que ainda não experimentou, aprenda a cozinhá-los e experimente-os.
Estudos indicam que se testar de forma simples como essa aumenta sua criatividade e imaginação.
4. Fale com estranhos
Seus pais lhe ensinaram: "Não fale com estranhos".
Bem, seu quarto exercício é desobedecê-los.
Na
verdade, converse com pessoas que são tão diferentes de você quanto
possível, pessoas que acreditam em coisas diferentes, ou apenas pessoas
aleatórias. Tente entender como elas pensam.
Quanto mais você estiver exposto à forma como outras pessoas pensam, mais amplo será o seu pensamento.
5. Veja arte
Não me refiro a um Rembrandt, quero dizer arte que é diferente, mesmo que você não goste.
Veja
uma exposição que te exponha a uma arte diferente da que você
normalmente vê (você pode fazer isso online). Isso o ajudará a pensar de
forma diferente.
A
pesquisa mostra que, se você fizer exercícios como esses cinco, sua
mente ficará mais elástica, será mais fácil para você se adaptar às
mudanças e você poderá ser aquele ou aquela a mudar tudo, como diz
Mlodinow.
Enem 2021: 6 pontos para não errar na inscrição e datas para ficar de olho
Enem é uma das principais portas de entrada para o ensino superior
As inscrições estão abertas para a edição 2021 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porta de entrada para grande parte dos cursos universitários do Brasil e até alguns do exterior.
Listamos
a seguir seis pontos-chave para ter em mente na inscrição e nos
preparativos para as provas, bem como datas das quais você não pode
esquecer:
14 de julho
É a data final, até às 23h59, para as inscrições ao Enem 2021, pelo site do Inep, órgão do Ministério da Educação responsável pelo Enem.
O
prazo vale para quem quer se inscrever tanto ao Enem impresso (em
papel) ou digital (aplicada em computador especial no local da prova).
Pela primeira vez, as provas em papel e digital serão iguais e aplicadas nos mesmos dias.
Neste
ano, há um número limitado de vagas por Estado e município (totalizando
101.100 vagas) para o Enem digital, mas o objetivo é que, até 2026,
todas as provas do exame sejam aplicadas nesse formato - que é
considerado de logística mais fácil.
Um ponto importante: o Enem digital só está disponível para quem já concluiu o ensino médio ou vai concluir em 2021.
Treineiros, portanto, têm necessariamente de prestar o Enem impresso.
Crédito, Marcello Casal Jr/ Ag Brasil
Legenda da foto,
Pela primeira vez, provas digitais e impressa serão no mesmo dia e iguais no Enem 2021
O que ter em mãos (e em mente) na inscrição
Documentos: Para se inscrever (eis novamente o link de inscrição aqui)
, o participante coloca seu número de CPF, data de nascimento e
preenche seus dados pessoais e socioeconômicos. Também escolhe se
prefere prestar prova de Inglês ou Espanhol como Língua Estrangeira.
O
participante vai precisar também de uma cópia digitalizada (frente e
verso) de um documento oficial que tenha foto (CNH, RG, passaporte, por
exemplo).
Foto:
A inscrição exige uma foto atual, nítida, colorida, de fundo claro e
individual do participante. A foto deve ser da cabeça aos ombros e o
participante não pode estar de óculos escuros nem boné.
Muitos
alunos ficam inseguros com suas fotos e acabam deixando esse ponto para
a última hora ou esquecendo dele, explica Vinicius de Andrade, criador
do Projeto Salvaguarda, que ajuda jovens de escolas públicas no acesso a cursos superiores.
A
dica, então, é não deixar isso para última hora, nem esquecer - sob
risco de não conseguir concluir o cadastro. "Digo aos alunos que não tem
segredo: é só uma foto básica, com fundo claro, para provar que você é
você", explica Andrade.
Criar cadastro:
o participante vai precisar criar um cadastro e senha para a Página do
Participante do Enem, no site sso.acesso.gov.br. É com esse cadastro que
o inscrito vai poder acompanhar sua inscrição, local de prova etc. E
também fazer eventuais alterações de dados cadastrais - além de checar
os resultados do exame, quando for a hora.
19 de julho
É
a data final para pagar os R$ 85 da taxa de inscrição, no caso de
alunos que não são isentos (quem tem direito à isenção: alunos que
fizeram todo o ensino médio na rede pública, que cursam o último ano do
ensino médio na rede pública, que são ou foram bolsistas em escolas
particulares ou que são inscritos no CadÚnico do governo federal).
Vale
lembrar que o período para pedir isenção da taxa já passou, e os
resultados foram divulgados em 25 de junho (estão disponíveis na Página
do Participante).
Crédito, Marcello Casal Jr/ Ag BrasiLegenda da foto,
Participantes usando máscaras no Enem 2020; equipamento de proteção será obrigatório também em 2021
Quem precisa pagar a taxa deve ter em mente que só depois do pagamento a inscrição no Enem é, de fato, finalizada.
Cartão de Confirmação da Inscrição
Após
fazer seu cadastro e concluir sua inscrição, o participante vai receber
(em data ainda a ser definida) o Cartão de Confirmação de Inscrição,
com os detalhes da prova, hora e local etc.
A
recomendação do Inep (órgão do Ministério da Educação responsável pelo
Enem) é que o participante imprima esse cartão e leve ele consigo no dia
da prova.
21 e 28 de novembro
São as datas previstas para o Enem 2021 (como dito acima, tanto para a versão impressa quanto para a digital).
O primeiro dia será dedicado a Linguagens, Redação e Ciências Humanas (História, Geografia, Filosofia e Sociologia).
O segundo dia será das provas de Matemática e Ciências da Natureza (Química, Física e Biologia).
Cada uma dessas provas vai ter 45 perguntas de múltipla escolha.
Proteção contra a covid-19
Até
o momento, a determinação prevista no edital do Enem 2021 é de que será
obrigatório o uso de máscaras nas provas do exame, igual à edição de
2020. Ainda não está claro se haverá restrições à ocupação das salas,
como houve no ano passado.
Moradores de rua enfrentam dia mais frio do ano em SP: 'A gente se esquenta com os cachorros'
Osvaldo Pereira (touca) e o amigo Claudinei França Cruz na calçada onde dormem no centro de São Paulo
Três cobertores formam uma manta no chão. Por cima, apenas um cobertor para se cobrir.
É
assim que Osvaldo Pereira, de 57 anos, se protege das baixas
temperaturas nos dias mais frios do ano em São Paulo. Ele dorme com
amigos ao lado da igreja Nossa Senhora da Boa Morte, na Sé, marco zero
de São Paulo.
A
reportagem da BBC News Brasil conversou com diversos moradores de rua
que vivem na região para entender como eles enfrentam a temporada de
inverno. Nesta semana, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)
registrou 6,3ºC, a temperatura mais baixa dos últimos cinco anos na
cidade de São Paulo.
Além
das mantas, Osvaldo disse que coloca um papelão no chão antes de dormir
sob uma estreita marquise, mas exposto ao vento cortante na madrugada.
"Quando
acordo, está tudo molhado. O chão tem muita umidade e se a gente dormir
direto nele o frio é maior. Tem pessoas que passam e dão sopa, e a
gente vai se aquecendo. Mas, quando está ventando, a gente sofre muito",
afirma.
Há
mais de 30 anos nas ruas, Claudinei França Cruz, de 52 anos, conta que
soube de dois moradores de rua que morreram de frio nesta semana a
poucos metros de onde ele dorme. "Eu conhecia um deles. A gente fica com
medo", conta sem muitos detalhes.
A
Secretaria da Segurança Pública afirmou que não registrou nenhum caso
de morte suspeita de frio nesta semana em São Paulo. O padre Júlio
Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, afirmou à reportagem que
percorreu IMLs, delegacias e também não encontrou nenhum caso de morte
suspeita por frio.
No
entanto, mesmo sob o risco de ter uma hipotermia e morrer de frio, o
companheiro dele de rua, Osvaldo Pereira disse que prefere dormir na rua
a pernoitar num abrigo oferecido pela prefeitura.
"Lá
(abrigo) é muita treta. Essa molecada de hoje é muito desenfreada e eu
evito. Prefiro ficar na calçada porque lá você não dorme direito, é
muita bagunça. Molecada folgada que não deixa dormir direito", afirmou.
Banho gelado
O chuveiro é aberto, a contagem regressiva é acionada e, cinco minutos
depois, a água gelada despenca sobre a cabeça de quem está tomando
banho.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil
Legenda da foto,
Irani Benedita de Araújo ao lado do marido (de frente) na calçada onde dormem na praça da Sé, no centro de São Paulo
Claudinei
da Cruz afirma que um dos momentos mais incômodos durante no inverno é
tomar banho. Ele conta que há locais na região onde os moradores de rua
conseguem fazer a higiene diária, como o conhecido Chá do Padre, no
centro, e as tendas erguidas pela prefeitura.
"No Chá do Padre, eles dão uma senha. Na tenda, tem um tempo de cinco minutos e o chuveiro esfria quando ele acaba", afirmou.
Na rua, ele diz que ameniza o frio bebendo "umas cachaças" e com a ajuda de "umas cobertinhas".
Osvaldo
Pereira disse que passou por momentos difíceis, como quando a filha
dele morreu, e ele disse ter "se jogado" nas ruas. Desde então, ele
prefere ficar sozinho.
Ele conta que tem familiares que moram em Atibaia, no interior de São Paulo.
"Mas
não vou ficar na casa dos outros. Eles (irmãos) querem que eu fique lá,
mas eu não quero. Sabe por que? Na hora que você entra em casa, no
banheiro, já tem gente batendo. Você senta no sofá e ele diz que aquele é
o lugar dele. Você tira a privacidade das pessoas e eu não quero dar
trabalho pra ninguém", conta chorando.
Ao ser questionado sobre seus sonhos, ele diz que não sabe responder.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil
Legenda da foto,
Natália ao lado dos cães que dormem na mesma barraca que ela na praça da Sé
"Eu
não sei responder essa pergunta. Querer sair dessa situação, todo mundo
quer. Estou com as costas todas machucadas porque dói. Olha esse chão
duro, mas eu não tenho casa para morar. Vou fazer o quê?".
Mulher no frio
Cobertores,
mochilas e sacolas fazem as vezes de travesseiros para Irani Benedita
de Araújo, de 59 anos. Vinda do Mato Grosso do Sul há cinco meses, ela
divide um espaço de cerca de 2 metros quadrados na praça da Sé com o
marido, que morava em Santana de Parnaíba antes de ir para as ruas.
"Estou
passando por um momento difícil. Eu morava de aluguel, hoje estou
dormindo na rua, procurando uma melhora, um emprego, uma oportunidade. É
muito sofrimento, de verdade. É muita friagem e minha idade também não
ajuda. O que a gente tem é o que as pessoas doam. Sacos plásticos. Não
tem banheiro e eu sendo mulher para mim é mais dificultoso. Preciso de
ajuda para sair da rua", conta.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News BrasilLegenda da foto,
Equipes da prefeitura são protegidas por guardas municipais enquanto fazem limpeza na praça da Sé
Ela conta que o sonho dela é conseguir uma oportunidade de trabalho para sair das ruas e ser independente.
"Eu
cuido de idosos, sei cozinhar, trabalhei em restaurante, mas não tem
emprego. Mataram um filho meu, tenho um filho preso e um filho nas
drogas. É uma família destruída e eu acabei sem nada e sem ninguém. Se
eu ficar muito tempo, não vou resistir às ruas", conta.
Ela
conta que não gosta de pedir esmolas, mesmo com a necessidade constante
de comprar remédios para tratar de problemas respiratórios e até mesmo
doenças mais comuns, como dor de cabeça.
"Meu
rosto fica doendo de friagem. Me deu muita dor de cabeça essa noite. Eu
queria ter uma casa, uma cama e um travesseiro onde eu pudesse
descansar fora desse sofrimento. Eu não sei pedir. Isso é muito
humilhante. A gente dá bom dia e os outros viram a cara", relata.
Cães que aquecem
Natália,
de 34 anos, e Paula, de 30, são trans e dividem uma barraca com ao
menos dez cães na frente da Catedral da Sé. Elas contam à reportagem que
não conseguem dormir nas noites mais frias e que se aquecem com o calor
gerado pelos cães.
Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil. Legenda da foto, Homem dormindo em calçada na rua Tabatinguera, no centro de São Paulo
"A
pessoa quando está com frio, ela não dorme. A gente passa a noite toda
acordada. A gente não morre porque tem os cachorros. A gente dorme com
os cachorros. A gente se esquenta com os cachorros. Todos os dias a
gente vê alguns morrendo aí, amanhece morto de frio. Falta cobertor para
as pessoas. Uma barraca já ajudaria bastante essas pessoas", diz Paula.
Ela
conta que escolheram ficar no centro, pois é uma região mais segura,
com policiamento e com um sistema de monitoramento com câmeras. Elas
dizem que os cães são os melhores amigos delas.
"O
cachorro não vê como uma pessoa vê a gente. O cachorro não te julga,
não te trapaceira, não te rouba. Ele é a companhia mais segura para você
passar a noite na rua", afirma Paula.
Ela
sonha em conseguir um emprego, ter uma casa e conquistar autonomia para
realizar seus desejos. Ao serem questionadas sobre como foram parar nas
ruas, elas dizem que são alvo de preconceito por diversos motivos.
"Deixa
eu te explicar. Tem o marginal, não tem? A gente é a margem da margem
do marginal. Nós somos pretas, trans e índias. Já tem essa resistência
na gente. Aqui no Brasil, a maioria das pessoas são aculturadas com TV e
conversa fiada. A música só fala de sacanagem, só traição, e a gente
não se enquadra nisso. A gente está na sarjeta, mas prefere ter a
consciência tranquila do que estar por aí por dentro e ser forçado a
tomar algumas atitudes que não compensam".