Drauzio Varella prevê 'tragédia nacional' por coronavírus: 'Brasil vai pagar o preço da desigualdade'
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Prestes a completar
77 anos em maio, o médico cancerologista Drauzio Varella diz que se
arrepende de já ter sido otimista a respeito do novo coronavírus.
Na
época em que começaram a surgir as primeiras informações sobre o vírus
na China, em dezembro do ano passado, ele diz que, como muitos,
considerou que se tratava de uma doença de baixa letalidade, como
pareciam indicar os dados disponíveis. "Eu participei desse otimismo e
me recrimino por isso hoje."
Considerado parte do grupo de risco
para a covid-19 pela faixa etária, o médico, escritor e comunicador tem
vivido uma rotina profissional intensa nas últimas semanas, mesmo sem
sair de casa. Concilia as reuniões matinais diárias do recém-criado
grupo "Todos pela Saúde", que ele integra como sete técnicos que
trabalham para direcionar uma doação de R$ 1 bilhão feita pelo Itaú
Unibanco ao combate do coronavírus, com as demandas que recebe como
médico, tirando dúvidas e enviando orientações a respeito da doença.
Vencer
o avanço da pandemia no Brasil, pondera, exigirá estratégias e
obstáculos diferentes do que foi observado em países da Europa e da
Ásia. A principal peculiaridade brasileira é a imensa desigualdade
social, que impõe condições de vidas muito distintas para ricos e
pobres, limitando o acesso de grande parte da população às práticas que
previnem o contágio, como lavar as mãos, comprar álcool gel e praticar o
isolamento social.
Há no país 35 milhões de brasileiros sem acesso à rede de água
potável, segundo dados do Instituto Trata Brasil de 2017. Em 2018, antes
da crise do coronavírus, chegou a 13,5 milhões o número de brasileiros
vivendo abaixo da linha da extrema pobreza, com menos de R$ 145 por mês.
É esse contexto que, na previsão de Varella, levará o país sem dúvida a uma "tragédia nacional" durante a pandemia. Eu acho que nós vamos ter um número muito grande de mortes, vamos ter
um impacto na economia enorme, uma duração prolongada", prevê,
destacando que a naturalização histórica das mazelas sociais do país
será o principal determinante de tal tragédia. "Agora é que nós
vamos pagar o preço por essa desigualdade social com a qual nós
convivemos por décadas e décadas, aceitando como uma coisa praticamente
natural. Agora vem a conta a pagar. Porque é a primeira vez que nós
vamos ter a epidemia se disseminando em larga escala em um país de
dimensões continentais e com tanta desigualdade", diz, em entrevista à
BBC News Brasil, concedida por meio de teleconferência.
Na
pandemia, fica mais evidente a ameaça da desigualdade social a todos os
segmentos da sociedade, na visão do médico. "Enquanto tivermos essa
disseminação em lugares impróprios para a vida humana, você não se livra
do vírus. E é esse vírus que ameaça a todos, o tempo inteiro", afirma
Varella, que prevê que a pandemia também deixará mudanças profundas na
sociedade.
"Acho que o sofrimento é uma pressão para o
aprendizado. Todos nós vamos perder amigos, muitos vão perder pessoas da
família, e isso vai nos ensinar que não é possível viver como nós
vivíamos até aqui."
Ferrenho defensor do isolamento social, uma
das únicas medidas comprovadamente eficazes contra o vírus (além da
higiene frequente das mãos, por exemplo), ele alerta para as possíveis
consequências terríveis para os pacientes graves que, por falta de
infraestrutura, eventualmente ficarem sem atendimento em meio a
problemas respiratórios progressivos. "Não é que você volta para casa,
sofre um pouco e passa. Não, falta de ar é o pior sintoma que existe.
Porque se você tem dor, toma analgésico, você tem tosse, tem jeito de
bloquear. Agora ter falta de ar é uma morte horrível. Horrível."
Leia os principais trechos da entrevista: BBC
News Brasil - Atualmente existem pelo menos duas versões de quarentena
no Brasil. Há pessoas que estão em casa, com a família, conseguindo
fazer esse home office, tendo até um momento de paz, de conviver com a
família. E muita gente que está ou sem casa, ou em casas muito lotadas,
sem comida, sem dinheiro. Como o senhor acha que essa situação
influencia o combate brasileiro ao coronavírus? Drauzio Varella -
Nós vamos saber agora. Agora é que nós vamos pagar o preço por essa
desigualdade social com a qual nós convivemos por décadas e décadas,
aceitando como uma coisa praticamente natural. Agora vem a conta a
pagar. Porque é a primeira vez que nós vamos ter a epidemia se
disseminando em larga escala em um país de dimensões continentais e com
tanta desigualdade. Na Europa, estamos vendo os problemas que eles estão
enfrentando, mas são países que têm uma estrutura social relativamente
bem organizada, fica mais fácil dessa maneira. Direito de imagemReproduçãoImage caption
'Agora é que nós vamos pagar o preço por essa desigualdade social', diz Drauzio
Agora estamos tendo este início de epidemia que
aconteceu entre as pessoas que introduziram o vírus ao país, que vieram
de fora, de viagens internacionais, e trouxeram o vírus para cá. E aí
estamos vendo o que acontece nas cidades que tiveram um afluxo maior
desses brasileiros que viajaram. São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza,
Manaus também, estamos tendo esse primeiro impacto.
Vamos ter,
forçosamente, a disseminação dessa epidemia para as camadas sociais mais
desfavorecidas. É assim que está acontecendo em Nova York hoje, onde os
negros são representados em muito maior proporção nas mortes que
acontecem nas cidades. Nós não sabemos ainda o que vai acontecer quando
esses 13 milhões de brasileiros que vivem em condições precárias de
habitação e que têm condições precárias de saúde também vão se infectar.
Não sabemos o que vai acontecer, vamos aprender agora a duras penas. Eu
rodo muito pelo país, já gravei em periferias de quase todas as grandes
cidades brasileiras. E você entra nessas casas, é uma pobreza em um
nível... BBC News Brasil - Não tem condições de higiene? Varella -
Nenhuma. E você tem um cômodo em que moram quatro adultos e três,
quatro crianças. De dia aquele cômodo é a sala de refeições, de noite a
mesa vai para o canto e os colchões saem da parede e vão para o chão, e
as pessoas dormem ali. Você não tem condição mínima de separação. Vão
dizer 'fica em casa, não vão para a rua'. Como é que essas pessoas não
vão para a rua?
E além do que é um nível de pobreza, que você vê o
que está acontecendo: em dois, três dias essas pessoas não têm o que
comer. Porque a luta é sair, e conseguir passar no supermercado e levar
alguma coisa para casa, diariamente. Imagina você o dinheiro que você
tem não dá para aguentar dois, três dias isolada, porque não vai ter o
que comer. E a ajuda do governo, lógico que é importante, mas é difícil
organizar também. As pessoas falam também 'ah, mas devia ter chegado o
dinheiro'. É, vai lá organizar para ver como é, não é fácil. BBC
News Brasil - Alguns dos países que tiveram mais problemas com a doença
tinham suas peculiaridades. Por exemplo, a Itália tinha muitos idosos. E
os Estados Unidos, a falta de um sistema público de saúde. O senhor
acha que essas questões da desigualdade e da pobreza serão as nossas
principais fragilidades? Varella - Eu
acho que vai ser. Acho que vai ser a grande dificuldade que o Brasil vai
enfrentar. Porque o vírus é democrático, ele atinge qualquer pessoa.
Então eu disse que a gente vai pagar o preço dessa desigualdade social
toda porque enquanto tiver gente vivendo nessas condições, se infectando
e transmitindo o vírus uns para os outros, esse vírus vai atingir todo
mundo, porque as pessoas se interconectam de uma forma ou de outra, ou
dividem espaços comunitários de um jeito ou de outro.
Enquanto
tivermos essa disseminação em lugares impróprios para a vida humana,
como são esses, você não se livra do vírus. E é esse vírus que ameaça a
todos, o tempo inteiro.
Eu, sinceramente, eu já fui otimista,
sabe? Acho que no início todos nós fomos, o mundo foi otimista. E eu
participei desse otimismo e me recrimino por isso hoje. Porque nós
recebíamos as notícias da China e essas notícias eram muito ocasionais, e
não davam ideia de como eram realmente a epidemia. Isso foi durante o
fim de dezembro, que eles relataram os primeiros casos, embora a doença
já tivesse se espalhando lá. Daí em janeiro, as notícias que nós
tínhamos eram da mortalidade. E os dados que eles apregoavam não eram
tão preocupantes. BBC News Brasil - Se falava muito, então, da baixa letalidade... Varella -
Baixa letalidade. Ficava alta depois dos 80 anos, que chegava aí perto
de uns 15%. Quando a epidemia chegou na Itália, que é um país
democrático, com livre circulação de informação, nós vimos aí pelo
começo de fevereiro, ao redor do dia 12, 15 de fevereiro.
Aí nós
tomamos consciência da gravidade do problema. E você veja que os países
não tiveram tempo de se organizar. Os Estados Unidos, com todo o
dinheiro que eles têm, todos os recursos e tudo, foram pegos de
surpresa. BBC News Brasil - E o senhor acha que essa
precariedade em que uma parcela muito expressiva da população vive - não
estamos falando de um nicho - sendo uma condição muito antiga,
histórica, o senhor acha que isso é contornável? Ou estamos fadados a
uma tragédia social? Varella - Dá para
fazer muita coisa, lógico. E acho que os governos federal, estadual,
estão se movimentando para isso. Na hora que você sente a dimensão do
problema, todo mundo fica assustado, todo mundo pensa que tem que fazer
alguma coisa. Tenho visto a movimentação em todos os cantos, mas o
problema é que a transmissão é muito rápida. Eu acho que vai acontecer
uma tragédia nacional, eu não tenho dúvida disso. Eu acho que nós vamos
ter um número muito grande de mortes, vamos ter um impacto na economia
enorme, vamos ter uma duração prolongada.
Você vê que até hoje a
gente não conseguiu definir a partir de quanto tempo nós podemos
relaxar. Quanto tempo? Dois meses? Três meses? Seis meses? Ninguém sabe.
Ninguém arrisca dizer por ter responsabilidade. Nós não sabemos. Isso é
um vírus novo, nunca existiu uma situação como essa.
Mas 'ah, a
gripe espanhola'. Não compare, são situações diferentes, o mundo era
diferente há cento e tantos anos atrás. Não sabemos, estamos aprendendo
agora, vendo o que está acontecendo em diversos países. Mas a realidade
que vale para um país não vale para todos. BBC News Brasil
- Quando o senhor fala de muitos mortos, claro que não dá para fazer
uma projeção, mas quando o senhor pensa nesse cenário ruim ou provável, o
que o senhor vê? Varella - Pensa como é
a doença. Você pega com vírus, que se transmite com muita facilidade,
isso está provado no mundo inteiro. Começa e não para mais. Ele tem uma
fase que é muito tranquila, um pouquinho de dor de garganta, uma
tossezinha irritativa, a pessoa perde o olfato, uma febre baixa, nada
muito importante. Esse período dura mais ou menos uns cinco dias, de
cinco a dez dias, mais ou menos. E aí você tem uma divergência. Tem
gente que se recupera, tiveram sintomas mínimos, às vezes até ausentes,
mínimos.
Depois desses cinco a dez dias você divide os infectados
em dois grupos: aqueles que vão se recuperar, mais uma semana, vai
melhorando aquele cansaço, passa, ficam bons. E tem aqueles que
desenvolvem falta de ar. Esses que desenvolvem falta de ar são os que
têm pneumonia associada ao coronavírus. Essa pneumonia tem várias
explicações fisiopatológicas, mas enfim: aí você tem os doentes que vão
parar nos hospitais. Esses que vão parar, uma parte se recupera
recebendo oxigênio por máscaras. E tem os que vão para insuficiência
respiratória progressiva. Esses têm que ser entubados.
Então por
que se defende o isolamento? Primeiro porque ele é a única evidência de
medida que reduziu o número de pessoas que procuram os hospitais. A
gente diz que [existe o risco de que] o sistema de saúde entre em
colapso. As pessoas estão acostumadas com essa coisa de ir ao pronto
socorro e demora para atender, você não é atendido às vezes, ou é mal
atendido e volta para casa.
Só que agora é uma situação diferente.
Você só vai para o hospital quando você tem falta de ar. E essa falta
de ar é progressiva, você tem que ter os recursos de ventilação mecânica
à disposição. Se você não tiver esses recursos, o que vai acontecer?
Não é que você volta para casa, sofre um pouco e passa. Não, falta de ar
é o pior sintoma que existe. Porque se você tem dor, toma analgésico,
você tem tosse, tem jeito de bloquear. Agora ter falta de ar é uma morte
horrível. Horrível.
Quando você ouve dizer na Itália os médicos
que têm que decidir quais são os que vão para a UTI, quem vai ter
entubação ou não, quer dizer que os outros morrem de falta de ar. Essa é
a situação real e isso que tem que ser colocado para a população. Não é
que vai morrer gente. Vai morrer gente com um enorme sofrimento. Por
isso que os médicos defendem: vamos segurar, para que as pessoas não
tenham que morrer desse jeito, que é um jeito inaceitável. BBC
News Brasil - O isolamento, no Brasil, também tem algumas
peculiaridades. Há protestos contra o isolamento, até por medo do
impacto econômico, há ruído nas mensagens do governo, em que um fala uma
coisa e o outro fala outra. O nosso nível de isolamento é preocupante? Direito de imagemGetty ImagesImage caption
Para Drauzio Varella, vencer o avanço da pandemia no
Brasil exigirá estratégias e obstáculos diferentes do que foi observado
em países da Europa e da Ásia
Varella - Em alguns lugares está
indo bem. Aí voltamos à questão social. Você pega quem mora em um cômodo
com três, quatro crianças, como você mantém essas crianças? Você vê as
palafitas, que são os piores lugares que eu conheci no Brasil, como você
mantém aquelas crianças em um barracão de madeira, no Norte ou Nordeste
do país, em uma temperatura que durante o dia chega a 40 graus, 45, 50
graus lá dentro. Como é que as pessoas vão ficar lá dentro? Sem água
tratada, muitas vezes, que vão buscar de balde em alguns lugares. E a
gente diz lave as mãos, olha como você lava, faz tudo direitinho. É
bonito para quem tem pia em casa. BBC News Brasil - Desde o
começo da pandemia os representantes das favelas têm batido muito na
tecla de que é preciso ter um plano específico para as favelas. E até
agora eles reclamam que não houve medida direcionada a essas
localidades. O senhor acha que medidas específicas são necessárias?' Varella -
Eu acho que sim. Há iniciativas, o que não há são iniciativas que
partam de órgãos governamentais direcionadas a esse público. Eu tenho
confiado mais até na organização que eles estabelecem. Você vê
Paraisópolis, em São Paulo, que é um exemplo maravilhoso. Puseram
praticamente um inspetor ou inspetora em cada quarteirão da favela para
fazer esse monitoramento. A própria sociedade tem condições de se
articular. O que as autoridades têm que fazer é ter planos diretivos,
que apontem o que a gente pretende com esse determinado plano.
Esse
pessoal que diz que não, 'vamos fazer as crianças voltarem para a
escola, os jovens que não vão ter doença grave podem se movimentar na
cidade'. Primeiro: isso não foi feito em lugar nenhum do mundo, esse
chamado isolamento vertical: separa os mais velhos, os frágeis, e deixa
os mais jovens irem ao trabalho. Não foi feito em lugar nenhum por
alguma razão, não é verdade? A Europa inteira, todos os países
desenvolvidos, inclusive nos EUA em que o governo federal de início foi
contra, acabaram forçados pelas circunstâncias a adotar o isolamento.
Não
há prova de que esse isolamento funcione, e provavelmente não vai
funcionar mesmo, porque você pode ser jovem mas os brasileiros são
gregários, moram muito próximos, você pode pegar o vírus na rua e trazer
para a sua casa. Nesse momento o que nós sabemos fazer é isolar. Aí as
pessoas dizem: vai dar uma crise econômica. A crise econômica já está
estabelecida. quando você tem uma epidemia desse jeito, se você deixar
as pessoas saírem, se infectarem pela rua, à vontade, a crise econômica
vai acontecer da mesma maneira. Isso é irreversível. Nós vamos ter a
crise. O que os médicos defendem, e muitos economistas defendem: a crise
nós vamos enfrentar de qualquer jeito. Então vamos tentar reduzir o
número de doentes para abreviar duração da crise. BBC News
Brasil - O senhor citou esse projeto do Itaú, que causou muito
burburinho esta semana. O que vai dar para fazer, qual o foco desse R$ 1
bilhão? Varella - Esse projeto está na
fase inicial e correndo com toda pressa do mundo porque não temos tempo
para ficar fazendo grandes planejamentos, temos que adotar medidas
práticas. Temos nos reunidos todos os dias, nos dividimos em áreas que o
dia todo ficamos em discussões, a parte executiva é tocada pelo doutor
Maurício Ceschin (ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde).
Nós
estamos focando em alguns aspectos: o primeiro é a proteção dos
profissionais de saúde. E isso não é uma coisa corporativa, ao
contrário, porque sem os profissionais de saúde não temos condição de
dar atendimento à população. Se muitos se infectarem, não vamos ter como
substituí-los. Uma coisa fundamental neste momento é que todo mundo use
máscara quando está na rua.
Faltam máscaras no mundo inteiro.
Estamos focando em um projeto conseguindo formas de produção nacional
por empresas brasileiras do maior número de máscaras possível. O governo
tem dinheiro para isso, as secretarias estaduais têm dinheiro, mas não
conseguem comprar nessa fase. Estamos buscando criar um estoque
regulador nosso e ajudando as secretarias estaduais a conseguirem
máscara pelo preço mais baixo possível.
O outro caminho é
verificar quais são os problemas que nós temos neste momento nos
hospitais e nas secretarias estaduais, criando gabinetes de crise. Como
são: primeiro, nas secretarias de saúde ajudar a monitorar a quantidade
de casos locais e os recursos hospitalares. Por exemplo: você tem uma
coisa na engenharia hospitalar que diz o seguinte: em média, cada
hospital você consegue aumentar em 20% o número de leitos pelo simples
remanejamento da estrutura hospitalar, sem construir nada. Sem investir
nada em instalações você consegue fazer esse aumento.
Quando a
gente fala em R$ 1 bilhão, fala nossa, é muito dinheiro. Seria muito
dinheiro nas nossas vidas pessoais. Mas se pensar que o SUS investe R$
240 bilhões por ano, é uma grande ajuda, mas não é um dinheiro ilimitado
também. BBC News Brasil - O SUS é um ponto forte do
Brasil, temos um sistema de saúde gratuito. O que o senhor diria que são
os maiores gargalos? Varella - É a
desigualdade. O SUS é o maior programa de saúde pública do mundo. Os
brasileiros desvalorizam o SUS. Quando eu vejo os ingleses, que põem
aquela sigla NHS (National Health Service, sistema nacional de saúde em
tradução livre) em tudo que é lugar, o NHS deles é uma brincadeira perto
do SUS. Tem dinheiro, uma população de alto nível educacional, um país
com 66 milhões de habitantes. Quero ver você dar saúde gratuita para 209
milhões em um país desigual e pobre como o nosso. Quero ver.
Imagina
se nesse momento nós não tivéssemos o SUS. Então você tem um bom seguro
saúde, te dá acesso aos melhores hospitais, ótimo, você pode ficar
tranquila. Não, não pode. Por quê? Porque pode acontecer de o hospital
maravilhoso ao qual você tem direito não tenha vaga para você. Olha o
que está acontecendo nos EUA. Por que estão morrendo muito mais negros
lá do que brancos? Porque os negros são mais pobres. E eles evitam ir
para o hospital porque eles sabem que isso pode ser a falência da
família inteira. porque não tem SUS. Você vai ter que pagar pelo menos
uma parte do atendimento que ele vai receber. E ele no fim diz bom, eu
vou morrer no hospital e deixar minha família endividada? Então ele
segura, só vai em última consequência, como último recurso.
O
SUS, na verdade, é um sistema perfeito. O problema qual foi, desde
sempre? A falta de recursos. O governo federal vem há anos diminuindo
sua participação no SUS. Teoricamente teria que cobrir 50% dos gastos do
SUS, os municípios 25% e o Estado outros 25%. O governo federal vem
diminuindo e está dando agora cerca de 44%. E os municípios, porque o
prefeito está em contato com outros prefeitos, estão elevando o
investimento no SUS e não têm tantos recursos, Mantivemos o SUS com
problema de baixo financiamento e má gestão.
Por que o Brasil
chegou nessa situação? Nos últimos dez anos, nós tivemos 13 ministros da
Saúde. A média de permanência no cargo foi de dez meses, porque o
Ministério da Saúde foi usado como troca política, o partido tal, para
apoiar o governo, quer o Ministério da Saúde, dá para ele. O que você
faz em dez meses em um país desse tamanho? O ministério tem um corpo
técnico muito bom, com gente preparada que é o que tem segurado nessa
questão política toda. Agora temos que nos organizar muito depressa e
isso é problema. BBC News Brasil - É preocupante trocar o ministro nesta altura do campeonato? Direito de imagemGetty ImagesVarella - É claro que é. O
ministério [sob a gestão de Luiz Henrique Mandetta] tem se comportado
muito bem, tem obedecido as orientações da Organização Mundial da Saúde,
tem respeitado as medidas que foram tomadas em outros países com
sistemas de saúde muito mais organizados que o nosso, como é o caso da
Alemanha, do Reino Unido, da França.
Eu acho que nessa hora você
tirar um ministro que está fazendo um bom trabalho... Porque não é um
ministro, é a equipe dele inclusive. Você tirar uma equipe que está
fazendo um trabalho muito bem feito, tirar por razões políticas, é muito
duro isso. BBC News Brasil - O senhor está no grupo de
risco, vivendo em quarentena e trabalhando. Como o senhor está lidando
com a ansiedade? Varella - É difícil
porque eu, desde que realizei que ia acontecer uma tragédia no Brasil,
eu já acordo de manhã com uma angústia, é uma angústia permanente. Pelo
trabalho em educação, em saúde, que eu venho realizando há muitos anos,
eu me sinto responsável, sabe. Como sei lá, como se eu fosse o ministro
da Saúde. Vendo que tem que fazer, o que podemos fazer para ajudar, de
que maneira o meu trabalho pode ser mais útil para as populações.
Então
me liga lá no Rio Negro, uma região que eu conheço pouco, que é São
Gabriel da Cachoeira. 'Ah, o senhor faz umas mensagens para a gente,
para os indígenas ficarem em casa', nas comunidades. Eu não tenho como
dizer não, então preparo as mensagens, leva tempo. Vem vindo as coisas
de todos os lugares e eu tento selecionar para ver onde a minha atuação
pode ter um impacto maior. Mas é muito difícil essa situação.
Eu
lembro quando a epidemia de Aids, que a minha geração viveu bem de
perto. Eu estava fazendo um estágio em um hospital em Nova York e
percebi que isso ia acontecer no Brasil. E eu fiquei muito angustiado
também.
Falei essa doença vai se espalhar pelo Brasil, na época
não havia remédio, nem se sabia qual era o agente, o HIV não tinha sido
descoberto ainda. E eu lembro que tive a mesma sensação. Mas ali havia
um problema, porque você tinha que atacar o comportamento sexual. Que
tudo bem, é dificílimo também, mas era um ponto específico. Aqui não, é
um vírus que se espalha pelo ar, pode atingir todos. Eu de fato não
consigo ficar tranquilo. BBC News Brasil - O senhor tem algum cuidado com a sua saúde mental? Alguma rotina nesse sentido? Varella -
Olha, para meditação não tenho essa sabedoria (risos). Porque se eu
parar e ficar meditando eu só vou pensar nos problemas, onde está agora,
estou preocupado com o Amapá, lá não tem estrutura, não tem UTI. Aí não
dá certo para mim não. O que eu tento fazer é estudar, acompanhar bem o
que está acontecendo.
Pela primeira vez na vida, acho que eu
parei de estudar oncologia, que é minha especialidade, e estou estudando
só a epidemia. Eu às vezes leio alguma coisinha de oncologia, mas não
consigo manter a atenção por muito tempo. Eu procuro ler bastante, vejo
tudo o que está sendo publicado nas revistas internacionais, que agora
abriram, você não precisa mais ser assinante da revista em tudo o que se
refere ao coronavírus.
E eu procuro me manter calmo em relação a
isso, escrever um pouco nos intervalos. E agir, da forma que eu consigo
interferir, isolado desse jeito. BBC News Brasil -
Voltando à questão da desigualdade com que começamos a entrevista, o
senhor acha que com esse problema evidenciado na quarentena, quando a
pandemia passar, o senhor acha que, do ponto de vista de sociedade vai
mudar alguma coisa? Como isso vai influenciar a sociedade? Varella -
Acho que sim, acho que vamos sair dessa experiência de maneira
diferente. Acho que o sofrimento é uma pressão para o aprendizado. Todos
nós vamos perder amigos, muitos vão perder pessoas da família, e isso
vai nos ensinar que não é possível viver como nós vivíamos até aqui.
Você
vê, anos atrás, nós decidimos sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada no
Brasil. Bonito, né. Daí construímos esses elefantes brancos que hoje são
um problema para os governos estaduais, que os mantêm com dificuldade.
Na época a gente dizia pô, mas esse dinheiro tem que ir para saúde,
educação, não tem sentido fazer estádios. E o que eles diziam? Que nós
éramos parte da elite, que queria negar aos pobres as alegrias do
futebol. Muito bom. Agora estamos pegando esses estádios e transformando
em quê? Em hospitais.
Essa irresponsabilidade social que nós
temos tido no decorrer de tantos anos está nos levando a uma situação
muito difícil agora, e isso vai deixar um aprendizado. Primeiro: o SUS
nunca mais vai ser o mesmo, porque nós agora estamos conscientes da
importância dele. Há quanto tempo a gente escreve e fala que o SUS é
fundamental. Eu sempre cito uma frase do Gonzalo Vecina Neto
(ex-presidente da Anvisa), que é um sanitarista muito respeitado por
todos nós, que é; sem o SUS, é o caos. Imagina agora o que seria se não
tivéssemos o SUS?
Não pode ser relegado a terceiro, quarto plano
nas preocupações governamentais. Ele tem que ter prioridade. A saúde tem
que ter prioridade porque nós não vamos conseguir construir um país
civilizado com esse desnível de acesso, onde alguns têm acesso à melhor
tecnologia, aos melhores médicos, aos melhores hospitais, e outros ficam
relegados ao que é possível dar para eles. E o que é possível dar para
eles não é grande coisa, porque o investimento é pequeno e a gestão é
precária. Eu acho que vamos sair disso diferentes. BBC News Brasil - Tem mais alguma coisa que o senhor gostaria de abordar que eu não perguntei? Varella - Olha,
eu acho que nesse momento a gente tem que dar uma importância muito
grande às máscaras. As crianças têm que usar máscaras. porque ensinando
as crianças nós vamos ensinar os adultos. Não foi assim com o cinto de
segurança? A criança entrava no carro, puxava o cinto de segurança e
olhava para o pai: pai, põe o cinto. O pai ficava sem graça de o filho
pequeno estar mandando ele colocar o cinto e passou a usar o cinto Foi
assim com o cigarro também, não foi? Ensina as crianças que não pode
fumar, que você vai morrer, vai ter doenças graves, a criança chegava em
casa ô pai, você vai morrer, para de fumar, eu não quero ficar sem
você. Um estímulo forte, uma criança que diz uma coisa dessas. A mesma
coisa tem que ser com as máscaras. Nós não temos dinheiro, não
encontramos máscara no mercado, faz em casa. BBC News Brasil - E é uma coisa que vamos ter que usar por muito tempo? Varella - Muito
tempo. Porque esse vírus vai ficar um bom tempo entre nós. Não com
essas características que está tendo agora, promovendo essa mortalidade
absurda, mas ele vai levar muito tempo para desaparecer do contato com a
humanidade.
'Desligo os respiradores e os ajudo a morrer em paz': relatos de uma UTI com pacientes de covid-19
INA FASSBENDER / AFP Image caption
As equipes médicas de cuidados críticos enfrentam
decisões difíceis, como na hora de desligar um respirador para um
paciente gravemente doente
O acesso a um respirador pode ser a diferença entre a vida e a morte de alguns pacientes mais graves com covid-19.
Os
respiradores os ajudam a obter oxigênio para os pulmões e liberar o
dióxido de carbono quando já não conseguem fazer isso sozinhos.
Mas
quando essas máquinas respiratórias não podem salvá-los, as equipes
médicas de todo o mundo enfrentam algumas decisões difíceis quanto à
interrupção do tratamento de pacientes.
"Desligar o respirador é
um momento muito traumático e doloroso. Às vezes, sinto que sou um
pouco responsável pela morte de alguém", diz Juanita Nittla.
Ela é a enfermeira-chefe da UTI (unidade de terapia intensiva) do hospital Royal Free, em Londres.
Getty Images Image caption
Os respiradores (a máquina à esquerda da foto)
ajudam pacientes com covid-19 em situação mais grave a respirar
Nascida no sul da Índia, Nittla trabalha no NHS (o serviço público de
saúde do Reino Unido) há 16 anos, como enfermeira especialista em
terapia intensiva.
"O desligamento dos respiradores faz parte do meu trabalho", disse a enfermeira de 42 anos à BBC durante seu dia de folga.
Último desejo
Durante
a segunda semana de abril, assim que Nittla entrou no trabalho em seu
turno da manhã, o assistente da UTI disse que ela teria que interromper o
tratamento para uma paciente com covid-19.
Essa paciente também era enfermeira, na casa dos 50 anos. Nittla falou com a filha da paciente sobre o processo.
"Eu
assegurei a ela que sua mãe não estava sofrendo e parecia muito
confortável. Também perguntei sobre os desejos e necessidades religiosas
de sua mãe."
Na UTI, os leitos são colocados um ao lado do outro.
Sua paciente terminal estava cercada por outros que também estavam
inconscientes.
"Ela estava em um compartimento com 8 camas. Todos
os pacientes estavam muito doentes. Fechei as cortinas e desliguei os
alarmes dos equipamentos. Direito de imagemJuanita NittlaImage caption
Devido à pandemia, enfermeiros de UTI como Nittla dificilmente ficam inativos durante os turnos
A equipe médica também ficou em silêncio.
"As enfermeiras pararam de falar. A dignidade e o conforto de nossos pacientes é nossa prioridade", diz Nittla.
Ela então colocou o telefone ao lado do ouvido da paciente e pediu para a filha dela falar.
"Para
mim, foi apenas um telefonema, mas fez uma enorme diferença para a
família. Eles queriam uma videochamada, mas infelizmente os celulares
não são permitidos dentro da UTI".
Desligar
Após o pedido da família da paciente, Nittla reproduziu um vídeo de um computador. Então ela desligou o respirador.
"Sentei-me ao lado dela segurando as mãos dela até que ela faleceu." Direito de imagemJuanita NittlaImage caption
Para lidar com o aumento maciço no número de
pacientes, muitos hospitais - como o Royal Free em Londres - aumentaram
sua capacidade de UTI
A decisão de interromper todo auxílio e tratamento
respiratório é tomada somente pelas equipes médicas após uma análise
cuidadosa, que leva em consideração fatores como a idade do paciente,
condições de saúde subjacentes, resposta e chances de recuperação.
A paciente morreu cinco minutos após Nittla desligar o suporte do respirador.
"Vi luzes piscando no monitor e a frequência cardíaca atingir zero. Linha plana na tela".
Morrendo sozinho
Ela então desconectou os tubos que forneciam medicamentos para sedação.
Sem
saber disso, a filha da paciente ainda estava conversando com a mãe e
fazendo algumas orações por telefone. Com o coração pesado, Nittla pegou
o telefone para dizer que a mãe dela tinha partido. Direito de imagemSILVIO AVILA/AFPImage caption
Muitos pacientes na UTI morrem sozinhos, porque os parentes não podem visitar
Como enfermeira, diz ela, seu dever de cuidado não para quando um paciente morre.
"Com
a ajuda de uma colega, dei-lhe um banho na cama e a envolvi em uma
mortalha branca, depois a coloquei em uma bolsa para corpos. Fiz um
sinal da cruz na testa antes de fechar a bolsa", disse ela à BBC.
Nos dias pré-coronavírus, a família conversava cara a cara com os médicos sobre o término do tratamento.
Parentes
próximos também eram permitidos dentro de uma UTI antes de desligar
equipamentos que mantinham as pessoas vivas. Mas isso não tem mais
acontecido na maior parte do mundo.
"É triste ver alguém morrer
sozinho assim", diz Nittla, que acha que ajudar aqueles que morrem sob
seu cuidado é a melhor forma de lidar com o peso disso.
Ela chegou a ver pacientes ofegando e agonizando, o que foi "muito estressante de testemunhar". Direito de imagemGetty ImagesImage caption
Com um aumento nas admissões por coronavírus, as
UTIs se expandiram para adicionar o maior número possível de leitos
Sem leitos
Devido
a um aumento maciço no número de internações, a UTI do hospital foi
ampliada de 34 para 60 leitos. Todos eles estão agora ocupados.
A UTI tem um exército de 175 enfermeiros trabalhando constantemente.
"Normalmente,
nos cuidados intensivos, mantemos uma proporção de um para um (uma
enfermeira por paciente). Agora é uma enfermeira para cada três. Se a
situação continuar a piorar, será uma para cada seis pacientes."
Algumas
enfermeiras de sua equipe estavam apresentando sintomas e agora estão
em isolamento. O hospital está treinando outros enfermeiros de apoio
para trabalhar em cuidados intensivos.
"Antes do início do turno,
mantemos as mãos juntas e dizemos 'se proteja'. Ficamos um de olho no
outro. Garantimos que todos usem luvas, máscaras e equipamentos de
proteção adequadamente", diz Nittla.
Faltam respiradores,
cilindros de oxigênio e muitos medicamentos. Mas o hospital dela possui
equipamentos de proteção individual suficientes para toda a equipe.
A UTI registra uma morte por dia, bem acima da média que tinham antes da pandemia.
"É assustador." Direito de imagemJuanita NittlaImage caption
Os enfermeiros contam com o apoio uns dos outros para lidar com o estresse
Como enfermeira-chefe, às vezes ela precisa reprimir seus próprios medos.
"Tenho pesadelos. Não consigo dormir. Me preocupo com o vírus. Converso com meus colegas e todos estão assustados."
No
ano passado, Nittla ficou longe do trabalho por meses devido à
tuberculose. Ela sabe que sua capacidade pulmonar está comprometida.
"As
pessoas me dizem que eu não deveria estar trabalhando. Mas é uma
pandemia; deixo tudo de lado e faço o meu trabalho", afirma.
"No final do meu turno, penso nos pacientes que morreram sob meus cuidados. Mas tento desligar quando saio do hospital."
Coronavírus: O vilarejo argentino isolado por um churrasco 'fatal'
Getty Images
Um grupo de moradores da cidade patagônica de Loncopué violou a
quarentena obrigatória para comemorar um aniversário. O resultado: dois
mortos (incluindo o aniversariante), dezenas de infectados e uma cidade
de 6.000 habitantes totalmente isolada
Em 19 de março, o presidente argentino, Alberto Fernández, anunciou
em sua residência oficial em Buenos Aires que no final do dia a
Argentina se tornaria um dos primeiros países da região a entrar em
quarentena obrigatória.
No entanto, a centenas de quilômetros de
distância, em uma pequena cidade da Patagônia, um grupo de vizinhos
decidiu que o decreto presidencial não iria atrapalhar seus planos de
desfrutar de um churrasco de domingo.
Os pesquisadores ainda não foram capazes de determinar quem foi o "paciente zero" que levou o coronavírus para Loncopué.
Provavelmente,
acreditam eles, um vizinho contraiu o vírus durante uma visita a uma
cidade vizinha, onde outras infecções foram registradas.
Eles
estão convencidos de que o fatídico churrasco teria sido uma das
principais fontes de propagação. Vários dos participantes estão entre os
casos que deram positivo para a covid-19.
Mas os primeiros que morreram como resultado desse contágio nem participaram da celebração.
O
filho da vítima, Claudio, disse que seu pai provavelmente contraiu o
vírus de um vizinho, um jovem gasista, que o ajudou a limpar seu
aquecedor.
O jovem era um dos filhos do aniversariante, o homem de 64 anos que acabaria morrendo um dia depois do pai de Claudio.
A partir desses dados, as autoridades concluíram que o provável foco inicial de contágio havia sido o churrasco em 22 de março.
Eles
imediatamente rastrearam e isolaram os outros participantes daquele
evento, vários dos quais foram diagnosticados positivo para a covid-19
(embora muitos sem sintomas). 'Falta de consciência'
Apesar
do drama que está gerando, o coronavírus não conseguiu dividir esta
cidade, principalmente dedicada à pecuária, mineração e comércio.
Um
símbolo disso foram as palavras de Cláudio, que apesar de ter perdido o
pai, garantiu que não guarda rancor contra as pessoas que participaram
do churrasco.
"O que aconteceu foi resultado da falta de consciência, mas não havia intenção maliciosa", disse ele ao canal de notícias da TN.
Ele
também enfatizou que seu pai, que estava em uma cadeira de rodas, tinha
um relacionamento "muito agradável" com seu vizinho gasista e que ele e
sua família eram muito gratos ao jovem por todas as vezes que ele o
ajudara.
As duas famílias até falaram ao telefone e lhe ofereceram suas condolências pelas perdas. 'Muito longe'
O
Ministério Público informou que abriu uma investigação para determinar
as responsabilidades criminais dos moradores que participaram do
churrasco.
No entanto, a imprensa local garante que eles não foram os únicos que violaram a quarentena obrigatória em Loncopué.
Presidente Alberto Fernández decretou uma quarentena obrigatória em 20 de março, que foi prorrogada até o final de abril.
Nas últimas semanas também houve outros eventos, como churrascos e casamentos, dizem eles.
Daniel,
outro filho do aniversariante que morreu, admitiu no jornal "La Nación"
que uma certa "mentalidade de cidade pequena" estava jogando contra
eles.
"Foi algo que havia acontecido muito longe dali", disse ele. "Pensamos que (o vírus) nunca chegaria aqui."
"Agora o temos entre nós, na cidade", lamentou.
MSN
4 pontos sobre o discurso de Bolsonaro em ato a favor de 'intervenção militar'
EVARISTO SA/AFP e Getty Images Não queremos negociar nada', disse o presidente Jair Bolsonaro em ato
Em meio à crise do
novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro fez um discurso em ato que
pedia "intervenção militar" e o fechamento do Congresso e do Supremo
Tribunal Federal (STF) em frente ao Quartel General do Exército, em
Brasília.
A atitude do presidente no domingo (19/04), no mesmo dia
em que o Brasil chegava a um total de mais de 2.400 mortes confirmadas
devido ao coronavírus, despertou críticas de ministros do STF,
governadores e parlamentares.
O professor de relações
internacionais na Fundação Getulio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel afirmou
que Bolsonaro alcançou o objetivo de desviar o foco da discussão sobre a
pandemia e as medidas necessárias para contê-la.
"Conseguiu
pautar a agenda do debate público e desviar o foco. Diferentemente do
resto do mundo, que discute como melhor responder à pandemia, nós
estamos discutindo se haverá golpe militar ou não", escreveu Stuenkel no
Twitter.
Leia, a seguir, os principais pontos sobre o discurso do presidente e as reações (ou silêncios) que ele gerou:
1. 'Não queremos negociar nada'
Bolsonaro
foi até o QG do Exército, em Brasília, e discursou em cima da caçamba
de uma caminhonete a manifestantes que pediam "intervenção militar".
"Nós
não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil", disse o
presidente, em discurso que foi transmitido ao vivo em rede social.
Ele
voltou a usar frases como "chega da velha política" e disse aos
manifestantes: "eu estou aqui porque acredito em vocês e vocês estão
aqui porque acreditam no Brasil".
Próximo a faixas que pediam que
os militares agissem contra STF e Congresso, Bolsonaro falou em manter a
democracia. "Contem com o seu presidente para fazer tudo aquilo que for
necessário para manter a democracia e garantir o que há de mais
sagrado, a nossa liberdade."
O protesto, no entanto, estava
repleto de cartazes contra a democracia. Eles diziam diziam "fora STF",
"fora Maia" e pediam o retorno do AI-5, que foi o ato institucional que endureceu o regime militar
e autorizou uma série de medidas de exceção, permitindo o fechamento do
Congresso, a cassação de mandatos parlamentares, intervenções do
governo federal nos Estados, prisões até então consideradas ilegais e
suspensão dos direitos políticos dos cidadãos sem necessidade de
justificativa.
Um dos cartazes pedia "intervenção militar com Bolsonaro no poder".
Nesta segunda-feira (20), ao deixar o Palácio da Alvorada,
Bolsonaro foi falar com a imprensa e defendeu Supremo e Congresso
"abertos e transparentes".
"Sem essa conversa de fechar. Aqui não
tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, é respeito à
Constituição Brasileira", respondeu a um apoiador que pediu o fechamento
do STF.
Bolsonaro disse que "falta inteligência" para quem o
acusa de ser ditatorial. "O pessoal geralmente conspira para chegar ao
poder. Eu já sou o presidente da República."
Afirmou, ainda, que o
povo estava nas ruas, em grande parte, "pedindo a volta ao trabalho" e
que a situação econômica do Brasil está se agravando.
Bolsonaro
disse que todo e qualquer movimento tem "infiltrados" e que as pessoas
têm liberdade de expressão. "Queremos voltar ao trabalho, o povo quer
isso. Estavam lá saudando o Exército brasileiro, é isso e mais nada.
Fora isso, é invencionice."
2. Tosse e aglomeração
A
aglomeração de manifestações, como a que Bolsonaro participou, vai
contra as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial
da Saúde (OMS).
Durante a participação, o presidente chegou a
tossir e passar as mãos no nariz. Em determinado momento, ele também
cumprimentou um policial com aperto de mãos.
Não é novidade,
contudo, que o presidente não está cumprindo recomendações de
distanciamento social. Ele tem feito saídas em Brasília e no entorno da
capital - em uma delas, foi a uma padaria, tirou fotos com funcionários,
bebeu refrigerante e comeu.
Ele reforçou o discurso contra o
isolamento social e disse que todas as atividades econômicas são
essenciais. O presidente vem defendendo que é necessário "preservar a
economia" durante a pandemia.Direito de imagemSERGIO LIMA/AFP e Getty ImagesImage caption
Bolsonaro tossiu durante discurso em ato
A OMS, porém, afirma que o distanciamento social é
importante para reduzir o número de mortes. Diante dessa necessidade de
redução da atividade, economistas e entidades recomendam que os governos
promovam medidas de apoio à população que pode ficar sem renda ou com
renda reduzida.
3. Reação
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse ontem que repudia atos em defesa da ditadura.
"O
mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de
lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas
venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer
ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição", escreveu
no Twitter.
No momento em que o governo e o Congresso devem
apresentar medidas para responder à crise gerada pelo coronavírus, Maia e
Bolsonaro vêm travando briga pública.
Mais um político com quem Bolsonaro vem trocando críticas, o
governador de São Paulo, João Doria, também reagiu à atitude do
presidente no domingo.
"Lamentável que o presidente da República
apoie um ato antidemocrático, que afronta a democracia e exalta o AI-5.
Repudio também os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal
Federal. O Brasil precisa vencer a pandemia e deve preservar sua
democracia."
Ministros do STF também reagiram. O ministro Luís
Roberto Barroso escreveu que "é assustador ver manifestações pela volta
do regime militar, após 30 anos de democracia".
"Defender a
Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do
meu dever. Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons (Martin
Luther King)", escreveu.
"Só pode desejar intervenção militar
quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve.
Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e
intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso."
O ministro Gilmar Mendes disse que "invocar o AI-5 e a volta da Ditadura
é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática".
4. Silêncio nas Forças Armadas
Direito de imagemSERGIO LIMA/AFP e Getty ImagesImage caption
Ato na capital federal estava repleto de cartazes contra a democracia
Considerando que o presidente discursou em frente ao
QG do Exército e em uma manifestação pró-intervenção militar, os
pronunciamentos das autoridades militares, como o ministro da Defesa e o
comandante do Exército, Edson Pujol, são muito aguardados. A data
também marcava o Dia do Exército, comemorado em 19 de abril.
A Defesa e o Exército, no entanto, não se pronunciaram sobre o assunto até a manhã desta segunda-feira (20).
Um mês antes do episódio, o
ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, disse à BBC News
Brasil que "manifestações em frente a quartéis não ajudam".
"O
momento é de união para juntos vencermos o desafio do coronavírus.
Manifestações em frente a quartéis não ajudam", disse o ministro,
naquela ocasião. "Vivemos em um ambiente democrático e de liberdade. As
Forças Armadas, por outro lado, são instituições de Estado e devem
sempre permanecer fortemente arraigadas nos pilares básicos da
hierarquia e da disciplina."
O ex-ministro da Secretaria de
Governo general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido no ano passado,
escreveu no Twitter na manhã desta segunda que "o Exército é
instituição do Estado. Não participa das disputas de rotina. Democracia
se faz com disputas civilizadas, equilíbrio de Poderes e aperfeiçoamento
das instituições. O EB (@exercitooficial) tem prestígio porque é
exemplar, honrado e um dos pilares da democracia."
Posso ver e contemplar sem pressa o Sol ressurgindo todas as manhãs
E me banhar sob seus feixes doirados à cada entardecer...
Posso intensificar mais minha espiritualidade através do exercício da oração diária, sem cansaço, sem estresse, sem sono...
Posso ver Filmes, como antes eu não via...
Posso ler meus livros preferidos e ouvir música de qualidade...
Posso ligar... ou conversar (através do Whatsapp) com meus filhos(as), com familiares, amigos, vizinhos, ou conhecidos reais ou virtuais, próximos ou distantes, agora com muito mais tempo, inclusive, para jogar conversa fora...
Posso organizar gavetas e armários;
escolher roupas, calçados ou outros objetos para doar a quem necessita...
Posso organizar melhor, repensar e
mudar o layout de minha casa...
Cuidar mais das minhas plantas...
Posso fazer a comida de minha preferência,
inventar ou pesquisar algumas receitas e fazer melhores pratos...
Posso escrever, dispondo de tempo à vontade, palavras, pensamentos ou versos, que é algo para mim muito prazeroso...
Posso refletir muito mais sobre o atual momento, sobre minha vida, sobre esse mundo... sobre o pretérito e o presente, porque o futuro é apenas expectativa...
Posso tudo isso e muito mais, sem esquecer das pessoas que já perderam seus entes queridos...sem esquecer das pessoas que sequer podem ficar em casa porque lhes faltam comida, produtos de limpeza e muito mais...
Posso tudo isso e muito mais, sem esquecer os irmãos e irmãs desempregados, prestadores de serviços, deficientes, pessoas "especiais" e doentes acometidos por comorbidades, entre outras, esses que estão entre os mais vulneráveis ao vírus Covid-19.
Mas o pior de tudo é que não sabemos de nada!
Cientistas estão preocupados em encontrar o quanto antes a solução.
Há muitas informações "desencontradas". E isso tem gerado insegurança na população. As mídias tem propagado notícias, onde muitas mais desinformam do que informam. Às vezes, alguns desses veículos nos dão a impressão de que apostam no "quanto pior, melhor".
É notório que há muita especulação... Que a politicagem tenta se sobressair em meio à crise... E isso é por demais lamentável e revoltante!!
A pandemia existe, está aí, e apesar da existência de "grupos de riscos" qualquer pessoa pode ser contaminada, e qualquer um/a pode morrer. O Coronavírus não escolhe grupos, classe social, nem idade. Estamos todos/as do mesmo tamanho e dentro do mesmo pé de igualdade...Somente o inimigo invisível, o Covid-19 para tornar os "desiguais em iguais"!
Oremos para que a ciência indique a cura desse mal tenebroso, e até mesmo a vacina! Para que a humanidade volte à sua normalidade, dessa vez mais fortalecida, mais amadurecida e vendo o mundo através de um olhar mais humano, amoroso, e acima de tudo, transformado! Meu repúdio veemente a todos(as) aqueles(as) que em nome da politicagem e de interesses mesquinhos colocam a saúde e a vida da população em segundo, terceiro ou quarto plano!!